sábado, 5 de novembro de 2011

Capítulo 5: Separação dos Cristãos do Oriente dos do Ocidente

Preâmbulo
1- Os Judaizantes (séc. I)
2- Simão Mago (séc. I)
3- Os Nicolaítas (no final do séc. I)
4- Gnosticismo (séculos I e II)
5- Monarquismo (ou Monarquianismo à maneira brasileira)? (Começado por volta do ano 170)
· O Adopcionismo
· O Modalismo
6- Os Montanistas (séc. II - cerca do ano 172
7- O Ebionismo (séc. II)
8- O Maniqueísmo
9- O Milenarismo ou Quiliasmo
10- A caminho da cisão definitiva
· 1º- O amanhecer da cisão - o Arianismo
· 2ª Cisão – o Macedonianismo
· 3ª Cisão – o Nestorianismo
· 4ª Cisão – o Monofisismo
· 5ª Cisão – o Monotelismo
· 6ª Cisão – os Iconoclastas
· 7ª Cisão – o Grande Cisma Cristão
5- Divisões na Igreja Romana
11- Bibliografia






Preâmbulo
Pergunta-se, por vezes quando é que se deu a separação entre as Igrejas Orientais e a Igreja Católica. Pois bem, se a separação definitiva teve lugar em 1054 (séc. XI), ficando a ser conhecido pelo nome de “Grande Cisma”, os seus começos remontam a tempos muito anteriores.
Talvez não esteja demasiado desajustada a afirmação de que a separação entre Cristãos do Oriente e Cristãos do Ocidente tenha começado verdadeiramente no século IV, por três razões que passo a apontar:
1ª Basear-se no aparecimento de heresias que foram condenadas em Concílios Ecuménicos[1], ou seja, em Concílios nos quais tomaram parte Bispos de Roma e do Patriarcado de Constantinopla;
2ª Motivar a consolidação de uma nova igreja de cariz cristão que se separou, passando a organizar-se e a promover-se separadamente das Igrejas de Roma e de Constantinopla;
3ª Basear-se na efectiva divisão do Império de Constantino em dois impérios: o do Oriente e o do Ocidente que ocorreu em 395, durante o governo do Imperador Teodósio, ficando Bizâncio (com o novo nome de Constantinopla) capital do império do Oriente e Roma como Capital do Império do Ocidente.
Antes de tratar o tema da separação entre Cristãos Orientais e Cristãos Ocidentais convém recordar que, ainda antes da separação definitiva, iniciada no século IV, já tinham existido outras muitas heresias, atribuídas a líderes que fundaram e dirigiram grupos de cristãos que vieram a causar dissidências no seio do Cristianismo Prmitivo, mas que, nem por isso, as considero causadoras de verdadeiros cismas entre esses dois principais blocos cristãos (Oriente e Ocidente), mas tão somente divisões dentro do Cristianismo dos três primeiros séculos. São elas as seguintes:
1- Os Judaizantes (séc. I)
Trata-se de uma corrente, originada entre os primeiros discípulos de Cristo. Como era sabido, os cristãos de Jerusalém, cujo chefe era o Apóstolo Tiago, opinavam que os convertidos por Paulo em Antioquia e Ásia Menor deveriam ser obrigados a circuncidarem-se e a sujeitarem-se aos preceitos mosaicos. Os Cristãos de Jerusalém quiseram exigir de Tiago que tais obrigações fossem impostas a esses e a todos os convertidos vindos do paganismo. Contra estas exigências, apadrinhadas pelo próprio Pedro, insurgiu-se Paulo. Reuniram-se os Apóstolos em Jerusalém, entre os anos 49-50 e aí ficou determinado aquilo que Tiago expôs numa Carta Apostólica a qual foi enviada aos Cristãos da Síria e da Cilícia pelos seus enviados, Barnabé e Paulo, com os quais seguiram também Judas e Silas tendo estes a incumbência de a comunicarem de viva voz:

Os apóstolos e os anciãos, vossos irmãos, aos irmãos dentre os gentios que moram em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saudações! Tendo sabido que alguns dos nossos, sem mandato de nossa parte, saindo até vós, perturbaram-vos, transtornando vossas almas com suas palavras, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, escolher alguns representantes e enviá-los a vós junto com nossos dilectos Barnabé e Paulo, homens que expuseram suas vidas pelo nome de nosso Senhor, Jesus Cristo. Nós vos enviamos, pois, Judas e Silas, os quais vos transmitirão, de viva voz, esta mesma mensagem. De fato, pareceu bem ao Espírito Santo, e a nós, não vos impor nenhum outro peso além destas coisas necessárias: que vos abstenhais das carnes imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas, e das uniões ilegítimas. Fareis bem preservando-vos destas coisas. Passai bem. (Act., 15, 23:29, cf. Soares, 1964, p. 1333).
2- Simão Mago (séc. I)
Um Mago da Samaria (possivelmente o iniciador do Gnosticismo cristão) e referido nos Actos dos Apóstolos (cap. 8, 9-24). Para os Gnósticos, o mago da Samaria era um "rival" de Cristo e fundou uma seita que se proclamava representante da Gnose, juntamente com a sua companheira Helena, uma ex-prostituta, que, segundo o mago, era a encarnação de Sophia e de Helena (Ἑλένη) de Tróia[2].
3- Os Nicolaítas (no final do séc. I).
O seu nome significa "vitória sobre o povo" ou "os que dominam o povo". Deixavam-se levar por uma liberdade exagerada e, movidos pelo instinto carnal de DOMÍNIO, pela soberba e pela torpe ganância de posição e riquezas, acabavam por degenerar nos excessos da carne;
4- Gnosticismo (séculos I e II)
“Era formado por diferentes agrupamentos sincréticos, os quais resultavam da união de diversas ideias helenísticas e orientais, com ideias cristãs” (Llorca, 1960, Vol. I, p. 69): Da Filosofia grega tiraram o Mundo das Ideias Platónicas; do neopitagorismo e neoplatonismo provieram princípios ascéticos, ou seja: uma espécie de mística exagerada, ou panteísmo; outras ideias vieram das religiões orientais, como do Egipto, Pérsia e Caldeia; ideias cosmogónicas dos Persas e dos Hindus; finalmente vários princípios cristãos, sobretudo a ideia de Redenção (Llorca, Ibidem). Portanto, é um conjunto de doutrinas que pretende alcançar a redenção através de um conhecimento de Deus, do universo e da finalidade da vida humana. Tal conhecimento, contudo, passa eminentemente pela via da revelação mística e extática, antes de possuir carácter.
5- Monarquismo (ou Monarquianismo)? (Começado por volta do ano 170)
Embora admitisse a divindade de Cristo e a unidade da divindade, errava quanto ao modo de unir estes dogmas. Partia do fundamento da unicidade de Deus: Monarquiam tenemus. Como, por outro lado, admitia a divindade de Cristo e não concebia a unidade de Deus com a distinção de pessoas, afirmava que Cristo não era senão o mesmo que o Pai, mas sim com uma forma ou modalidade especial e diferente. Portanto o Pai, com modalidade de Filho, foi quem sofreu no Calvário: modalistas (de modalidade) (ou Modistas, de Modos. O Monarquismo por si mesmo não constitui um sistema teológico fechado, pois que se dividiu em duas correntes ou modelos diferentes e contraditórios, como:
· O Adopcionismo
que, por defender que Deus é superior a tudo e indivisível, o Filho não poderia, de maneira nenhuma, ser coeterno com o Pai. O máximo que poderia ter acontecido seria a sua adopção por parte de Deus-Pai para que, com ele, pudesse alcançar os seus planos relativos à salvação dos homens. Quanto ao momento desta adopção os próprios adopcionistas, entre os quais esteve Teodósio de Bizâncio, não concordam, pois segundo uns teria sido no momento do seu baptismo e segundo outros teria sido no momento da sua Ascensão aos céus. Esta heresia viria a ser renovada, em meados do séc. III, por Paulo de Samosata, segundo o qual “Cristo era um simples homem, em que habitava o Logos impessoal, virtude de Deus, duma maneira mais especial que nos Profetas. Cristo, portanto, sofreu segundo a sua natureza, mas por virtude desta força, operou milagres. Portanto, Jesus Cristo não foi senão um puro homem” (Llorca, Idem, p. 79).
· O Modalismo

Este pode confundir-se ou identificar-se com o Sabelianismo. Considera que Deus seja uma única pessoa, mas que se manifesta em três modos ou modalidades diferentes: como Pai, como Filho e como Espírito Santo. Esta vertente do Monarquismo, identifica-se ou toma o nome também de Sabelianismo por ter sido proposto, defendido e propagado, em Roma, por Sabélio, embora seja oriundo possivelmente da Líbia ou do Egipto. No ano 220 a sua doutrina foi condenada e ele excomungado pelo Papa Calixto, passando a ser alcunhados de Patripassionistas, visto que se não existissem a segunda e a terceira pessoas na Trindade, quem sofreu a Paixão e a morte na Cruz, teria sido o Pai, o que vai contra a doutrina da Trindade e da União Hipostática que é indissolúvel e que é a característica principal desta mesma Trindade, “Inseparabiliter, axoristo” como foi definida, de fé, e se encontra exarada no Símbolo do Concílio de Calcedónia, na Secção V, realizada a 22 de Outubro do ano 451: (Denz. 148 ou 302; cf. 283)[3].
6- Os Montanistas (séc. II - cerca do ano 172
Montano começa a pregar a sua heresia). Declarava-se possuído pelo Espírito Santo e, por isso, profetizava. Segundo as suas profecias iniciava-se, com a sua chegada, uma nova revelação, revelação esta que lhe era revelada a si próprio. A 1ª era cristã terminaria brevemente. Montano apresentava-se como se fosse o Espírito Paráclito. Pretendia provar tudo isto com os seus êxtases e inspiração imediata do céu e com o seu rigor de costumes, que afirmava estarem baseados na doutrina primitiva da Igreja. Ensinava, ainda, que a direcção das igrejas pertencia apenas ao Espírito Santo, pelo que se opunha à gerência dos bispos. As igrejas deveriam deixar-se guiar pela acção do Espírito Santo e não ser governadas pelos bispos. Essas igrejas, guiadas pelos bispos, separaram-se da verdadeira Igreja, a partir da data em que Igreja que vigorava na altura de Montano se aliou ao imperador romano, Constantino (século IV – 313 Edito de Milão). Embora existissem alguns seguidores nos século IV, atestado por Epifânio (Adversus Haereses 49,1,2-4) ao referir o episódio dos seus sequazes estarem reunidos numa igreja à espera da inauguração da nova fase da revelação divina, além da neotestamentária e ainda por Eusébio, Bispo de Cesareia, na sua obra Historia Ecclesiastica (V, 14-16), referindo-se a essa heresia como Heresia Frígia.
7- O Ebionismo (séc. II)
Esta heresia negava a divindade de Jesus Cristo e, embora aceitasse o Antigo Testamento, rejeitava o Novo, substituindo-o pelo “Evangelho dos Ebionitas”. O termo deriva do vocábulo hebraico do אביונים, Evyonim (ou Ebionim), "pobres". Esta heresia originou uma nova igreja no Cristianismo Primitivo, segundo a qual os cristãos e gentios, assim como os judeus deveriam seguir os mandamentos da Torah e não os ensinamentos de Jesus e de Paulo. Na verdade, os mandamentos daquela foram substituídos pelos mandamentos da Nova Aliança, segundo a doutrina de Cristo e de Paulo.
8- O Maniqueísmo
Doutrina do persa Mani ou Manes (séc. III), (prolongamento do Gnosticismo) que fundou um movimento baseado numa fusão do dualismo persa com algumas ideias budistas e uma boa parte de princípios Cristãos. Os princípios básicos da sua doutrina eram: Oposição eterna entre os dois princípios: a Luz e as Trevas; o Bem e o Mal, ou seja, entre Ormuzd e Ahariman. O primeiro é rodeado pelos elementos puros, luz, fogo, agia[4] e terra; o segundo (Ahariman) é rodeado por trevas, barro, vento, fogo e fumo. Tão sedutora s apresentava esta doutrina que o próprio Santo Agostinho, nos seus inícios, se deixou influenciar por ela, mas, depois, de bem estudada, terminaria por vir a combatê-la.
9- O Milenarismo ou Quiliasmo
Este nome vem de Xília etei – mil anos. Entre os primeiros Cristãos, o Milenarismo difundiu-se pela Ásia Menor, Egipto, a partir do século III. Consistia esta doutrina na esperança de que, no fim do mundo, Cristo, depois de vencer o Anticristo, aparecerá corporalmente e instaurará na terra um reinado de mil anos com todos os justos ressuscitados. Depois destes mil anos de triunfo, dar-se-á a ressurreição. Esta doutrina baseava-se no capítulo 20, versículo 1-10 do Livro do Apocalipse de São João, onde se diz que antes da ressurreição dos mortos haverá um reinado de Cristo com os seus eleitos durante mil anos: “Os outros mortos não tornarão à vida até se completarem os mil anos” (v. 5).
10- A caminho da cisão definitiva
· 1º- O amanhecer da cisão definitiva - o Arianismo
O amanhecer da separação entre ocidentais orientais, ocorreu em 325 (séc. IV). Ário, sacerdote líbio, radicado em Alexandria negava que Jesus tivesse a mesma natureza que Deus Pai. A sua pessoa, doutrina e seus seguidores foram condenados no Concílio de Niceia (o Primeiro Concílio Ecuménico), saindo dessa condenação o Arianismo, o Igreja Ariana que se propagou por várias regiões, chegando, inclusive, à Península Ibérica com os Visigodos.
· 2ª Cisão – o Macedonianismo
A 1ª Cisão: foi originada em 381 (séc. IV) pela doutrina de Macedónio I, Arcebispo e Patriarca de Constantinopla o qual defendia e ensinava que o Espírito Santo era apenas uma criatura de Deus, praticamente como os anjos. Foi condenado no Segundo Concílio Ecuménico realizado na mesma cidade de Constantinopla na cidade. Desta condenação surgiu uma nova Igreja chamada Macedoniana ou Macedonianismo a que correspondem os Macedonianos (Os seus adeptos ou seguidores), defendendo que nós não herdámos o pecado de Adão, mas nos tornamos pecadores pela solidariedade que, ao nascermos, formamos com ao comunidade pecadora e contra os quais combateu Santo Agostinho, propondo uma doutrina contrária.
Entre os anos 379-392, o imperador Teodósio I (379-395) procedeu a uma remodelação intensa no que respeita à implantação do Cristianismo, promovendo a sua doutrina “contra o Arianismo muito pujante, então, e contra outras heresias”. Em 381 publicou uma lei que dizia ser de sua vontade “que todos os súbditos abraçassem a fé Católica, pregada por S. Pedro e defendida pelo bispo Dâmaso em Roma”, vindo a terminar esta vontade com o Concílio de Constantinopla a que já nos referimos contra o Arianismo. Em 383 publicou nova lei pela qual se retirava “aos apóstatas cristãos o direito de fazer testamento e se lhes proibia toda a espécie de sacrifícios”. Em 386 mandou encerrar todos os templos pagãos e em 1m 392 o culto pagão é considerado crime de lesa-majestade pelo que todo o adorador será punido por isso (Llorca, 1960, Vol. I, pp. 121-122).
Em 402, começam as primeiras invasões dos Visigodos, Suevos, Vândalos e Alanos. Os Vândalos (de igreja Ariana), foram os primeiros a tentar invadir o Império Romano, sendo comandados por Alarico, mas foram vencidos em Verona, pelo general Estilicão que, embora vândalo de origem, se encontrava ao serviço do Imperador Honório. Mais tarde, Wália, sucessor de Alarico viria a instalar-se e a fundar o Reino Visigótico em Espanha, introduzindo, aqui, o Arianismo que viria a difundir-se por toda a Península Ibérica, “apesar de nela predominarem as igrejas ortodoxas” (Llorca, idem, p. 132).
· 3ª Cisão – o Nestorianismo
A 2ª Cisão teve lugar no ano 431 (séc. V), sendo a razão desta a doutrina de Nestório que negava que a Virgem Maria, mãe de Jesus pudesse ser chamada “Mãe de Deus (Θεοτόκος, Theotokos – Theos, “Deus” + tokos “portadora”. Ela só poderia ser “Mãe de Cristo” (Chistotokos) - Χριστός (Khristós) que significa "Ungido". Realizou-se o Terceiro Concílio Ecuménico realizado em Éfeso condenou essas doutrina e definiu que Maria era “Mãe de Deus”. Daqui surgiu um novo cisma e uma nova Igreja dissidente se estabeleceu, chamada Igreja Nestoriana. A fórmula utilizada no Concílio em forma de anátema foi a seguinte:

Si quis non confitetur, Deum esse secundum veritatem Emmanuel et propter hoc Dei genitricem sanctam Virginem (genuit enim carnaliter carnem factum qui est ex Deo Verebum), anathema sit, sendo a fórmula grega a seguinte: kaì dia touto theotókon tèn ‘agían parthénon… (cf. Dez., 1965, nº 252 =113, p. 93).
O Nestorianismo chegou à China, como se depreende de uma inscrição (parte em chinês, parte em siríaco) que foi erigida no ano 781 e na qual se relata o progresso do cristianismo nestoriano ali introduzido, segundo consta, pelo monge A-lo-pên, vindo de Ta-chin que provavelmente se deve referir à Síria já no século VI.

O Nestorianismo chegou à China, como se depreende de uma inscrição (parte em chinês, parte em siríaco) que foi erigida no ano 781 e relata a progressão do cristianismo nestoriano e que, segundo consta, foi introduzido pelo monge A-lo-pên, vindo de Ta-chin que, provavelmente, se deve referir à Síria, já no século VI[5].
· 4ª Cisão – o Monofisismo
A 3ª Cisão deu-se em 451 (séc. V). Neste ano reuniu-se, na cidade de Calcedónia, o quarto concílio ecuménico para condenar a doutrina de Eutiques, superior de um Convento próximo de Constantinopla que ensinava existir em Cristo apenas uma natureza, a divina, e que Jesus, portanto, não era uma pessoa humana e não possuía uma alma como os outros homens. Pelo facto de defender, em Jesus, um única natureza (Mono + physis) veio a chamar-se a essa heresia Monofisismo e aos seus seguidores Monofisitas, donde a Igreja Monofisita. Esta mesma heresia viria a ser novamente condenada no 5º Consílio Ecuménico, no ano de 553 (séc. VI).
No período que vai do ano 622 (ano em que Maomé saiu de Meca (Hégira) até ao ano 711, ano em que o Muçulmanos entraram na Península Ibérica (comandados por Alkaman) esta nova religião passou a ser a maior concorrente e inimiga do Cristianismo, tanto no Ocidente, como no Oriente. Porém, os exércitos maometanos, sofreram a primeira derrota em 718 que lhes foi infligida pelas tropas cristãs, em Covalonga, sob o comando de Pelaio. De seguida dirigiram-se às Gálias, sendo, de novo, derrotados em Poitiers, por Carlos Martel, em 732. Daí em diante, o Cristianismo teve sempre de se preocupar com o seu avanço, pois vieram rapidamente a conquistar a Arábia, várias províncias do império bizantino, assim como os patriarcados de Jerusalém, de Antioquia e de Alexandria, e, bem assim todo o norte de África (Llorca 1960, Vol. I, pp. 143-144).
· 5ª Cisão – o Monotelismo
A 4ª Cisão foi levada a cabo pelo Monotelismo. Esta heresia foi condenada no 6º Concílio Ecuménico que se realizou anos de 680-681 em Constantinopla. Monotelismo ("monos" = uma, "thelema" = vontade uma só vontade) foi ensinado e defendido pelo Patriarca Sérgio de Constantinopla e acolitado pelo Imperador do Oriente, Heráclio. Desta condenação surgiu a Igreja Monotelita.

· 6ª Cisão – os Iconoclastas
A 5ª Cisão ocorreu em 787 (séc. VIII) devido à heresia dos “Iconoclastas” (ou “destruidores das imagens”), que, entre os anos 754-843 proibiam o culto das imagens (Ícones), martirizaram quem não acatasse tal proibição e, por conseguinte, defendiam e praticavam a destruição das imagens sacras. Veio a ser reintroduzido após a condenação dessa heresia no 7º concílio ecuménico, realizado em Niceia no ano de 787, no qual se legitimou o uso e veneração das imagens dos Santos. Esta decisão conciliar ficou sendo conhecida nas Igrejas Ortodoxas como o “Dia da Ortodoxia” ou “Dia da Vitória”. Surgiu, no entanto, uma nova igreja, chamada “Igreja Iconoclasta”.

· 7ª Cisão – o Grande Cisma Cristão
A 7ª ou derradeira cisão ficou a ser conhecida pelo nome de "Grande Cisma Cristão”. Teve lugar em 1054 (séc. XI) e teve origem em diversos factores: culturais, políticos, doutrinários, eclesiásticos.
Não houve propriamente um Concílio Ecuménico, mas, pelo contrário, um malfadado encontro entre representantes do Papa Romano, Leão IX e o Patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário e seus acompanhantes.
Efectivamente, em 1054, o Papa Leão IX[6] fez-se representar pelo seu Legado, o Cardeal Humberto de Moyenmoutier. Este de espírito intempestivo, dia 16 de Julho de 1054, colocou em cima do altar da Hagia Sofia uma Bula com a qual excomungava o Patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, por este não se sujeitar à vontade do Papa Romano.
Do lado do Ocidente estavam os interesses dos imperadores Carolíngios que coincidiam com as pretensões teocráticas do papado romano (Cesaro-papismo); do outro lado estavam em jogo o brio do Oriente, a pátria dos grandes “Padres do Deserto” ou dos primeiros monges do Cristianismo; dos primeiros 7 primeiros e grandes Concílios ecuménicos (Niceia, em 325; Constantinopla, em 381; Éfeso, em 431; Calcedónia, em 451; Constantinopla II, em 553; III Constantinopla, em 680 e o II de Niceia, em 787) nos quais se solidificou a doutrina da Igreja Universal.
A igreja de Roma não contente com a possessão das tumbas de Pedro e Paulo, reclama a obediência de Constantinopla. Duas concepções de Igreja se defrontavam: em Roma a concepção piramidal, enquanto em Constantinopla vigorava a concepção colegial do poder episcopal. Duas concepções que vigorarão até ao século XX: o sistema católico romano e o sistema Ortodoxo do Oriente.
Curiosamente, nesta e noutras questões Roma estava em pé de desigualdade e de inferioridade, uma vez que as questões eram debatidas entre os principais do Oriente, enquanto Roma era apenas representado por Legados Pontifícios.
Assim em 1054, Leão IX fez-se representar pelo seu Legado, o Cardeal Humberto de Moyenmoutier. Este de espírito intempestivo, dia 16 de Julho de 1054, colocou em cima do altar da Hagia Sofia uma Bula com a qual excomungava o Patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, por este não se sujeitar à vontade do papa. Miguel Cerulário, por sua vez, convocou rapidamente um concílio constituído por vinte bispos e responderam com excomunhão semelhante atingindo com esta o papa de Roma. Assim se consumou o cisma entre Oriente e Ocidente, cisma que perdura ainda hoje, embora se tenham mostrado atitudes mais compreensivas ultimamente (Tincq, 2010, p. 102-103).
A partir daí, a Igreja de Constantinopla ficou a chamar-se “Igreja Ortodoxa”, nome que lhe adveio do grego "orthos" = recto, correcto e "doxa" = louvor, significando com ele “Igreja que presta a Deus o correcto louvor”. Por seu lado, a Igreja de Roma ficou com o nome de “Igreja Católica” do grego καθολικός (katholikos), no sentido de "universal" ou "geral"), dependendo da única autoridade do Papa Romano.
5- Divisões na Igreja Romana
A Igreja Romana viria a sofrer nova divisão no século XVI, com os Reformadores que constituiriam, pelo menos as seguintes Igrejas: Luterana, Calvinista, Wicclefista, Anglicana que, por sua vez se iriam subdividir em muitas outras, por exemplo:



1519 e + : Igreja Luterana (1ª) (Alemanha), seguida da Igreja Calvinista (Suiça) separam-se da Igreja Católica[7].
1534: Igreja da Inglaterra (2ª) separa-se da Igreja Católica;
1581: Igreja Congregacional separa-se da Igreja da Inglaterra (a)
1559 A Igreja Presbiteriana (3ª) separa-se da Igreja Católica;
1608 Igreja Baptista separa-se da Igreja Congregacional (i)
1650 a Sociedade dos Amigos separa-se da Igreja Congregacional (ii);
1784: A Igreja Metodista separa-se da Igreja da Inglaterra (b);
1820: A Igreja Exclusiva dos Irmãos e a Igreja dos Irmãos separam-se da Igreja da Inglaterra (c)
1865: A Salvation Army separa-se da Igreja Metodista;
1900: A Igreja Pentecostal e a Igreja Carismática Independente separam-se da Igreja Metodista;
1972 A U.R.C. (United Reformed Church) nasce das Igrejas Presbiteriana e Congregacional
Por outras palavras:
1- Da Igreja Católica separaram-se:
A Igreja Luterana[8], em 1519;
A Igreja Calvinista, depois de 1519;
A Igreja da Inglaterra, em 1534;
A Igreja Presbietriana, em 1559;
2- Da Igreja da Inglaterra separaram-se:
A Igreja Congregacional, em 1581;
A Igreja Metodista, em, em 1784;
A Igreja Exclusiva dos Irmãos e a Igreja dos Irmãos, em 1820;
3- Da Igreja Congregacional separaram-se:
A Igreja Baptista, em 1608;
A Igreja da Sociedade dos Amigos, em 1650;
4- Da Igreja Metodista separaram-se:
A Igreja “Salvation Army”, em 1865;
A Igreja Pentecostal e a Igreja Carismática Independente, em 1900;
5- Das Igrejas Presbiteriana e Congregacional nasce a U.R.C, em 1972.
NOTAS
[1] O vocábulo Ecuménico procede da palavra grega "οἰκουμένη", que se aplicou primeiramente ao Império Romano e, em seguida, a todo o mundo habitado. No Mundo Cristão e por analogia foi aplicado às Reuniões dos Bispos pertencentes às Igrejas do Império do Oriente e do Império do Ocidente cuja finalidade era a de dirimir questões cristológicas, ou seja, para averiguar e condenar certas heresias que discordavam da doutrina, dita “ortodoxa” (correcta) da Igreja Universal de Cristo, denominada Cristianismo. Até ao século XI, altura da separação definitiva das Igrejas de Constantinopla e de Roma realizaram-se sete Concílios Ecuménicos.
[2] Esta Helena foi aquela bela mulher de Menelau, irmão de Agameon, filhos de Atreu, rei de Micenas que, depois de casada e ter uma filha, chamada Hermíone, os abandonou para fugir com Páris para Tróia. Foi devido a este episódio que os gregos Menelau, Agameon, Aquiles e outros se juntaram e declararam guerra aos habitantes de Tróia.
[3] Batmann, 1962, p.65.
[4] Agia (Αγία), palavra grega que significa “santo” (a forma feminina), por exemplo, Agia Varvara que é a versão cirílica do grego Варвара (Βαρβάρα).
[5] José Coelho Matias, 2010). Capítulo 23: “Cristianismo na China”. In História das Religiões. (Apontamentos para os Ouvintes da Universidade Sénior, Pólo de Sacavém).
[6] Nasceu a 21 de Junho de 1002 em Eguisheim (Alsácia); foi designado sucessor de Dâmaso II pelo imperador Henrique III ( o que revela a ingerência política na eleição do papa). Foi, depois eleito, em Dezembro de 1048, e, finalmente, aclamado unanimemente em Roma e consagrado em Fevereiro de 1049 e veio a falecer a 19 de Abril de 1054, igualmente em Roma. Foi o 153º papa da Igreja Católica. Tornou-se um grande reformador da Igreja, abolindo: a taxa eclesiástica (a Simonia)); o casamento bem como a concubinagem dos padres (o Nicolaísmo); os cargos principescos e políticos dos bispos no âmbito do Império, exigindo que eles fossem apenas simples teólogos; e pugnou pelo retorno dos valores do cristianismo primitivo.



[7] O percursor desta separação foi inglês John Wiclef (1330-1384), cuja doutrina herética negava a transubstanciação e afirmava ser a Bíblia a única e verdadeira fonte da fé, a qual cada um podia estudar por si mesmo. F. Wiclef, n. pr.
[8 A Religião oficial da Noruega chama-se “Igreja Luterana Evangelista da Noruega”, à qual pertencem, pelo menos nominalmente, 83% dos noruegueses.
11- Bibliografia
Bartmann, Bernardo (1962). Teologia Dogmática, A Redenção – A Graça – A Igreja. Vol II. São Paulo: Edições Paulinas. Título original: Leherbuch der Dogmatik. Verlag Herder Und Co. Freiburg Im Br. – Deutsc. Achte Auflage, 1932;




Carreira das Neves, Joaquim. "A Mãe e os irmãos de Jesus". [on line][Consult. 16-01-2012] Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4422.pdf;
Denz.= Denzinger Heinrich Joseph Dominicus. Enchiridion Symbolorum et Definitionum et Declarationum de Rebus Fidei et Morum. (Manual de credos e definições), cuja primeira edição teve lugar em Würzburg, 1854). Mais tarde a sua edição teve melhoramentos que foram introduzidos pelo jesuíta Adolf Schönmetzer, facto que a dita obra passou a ser conhecida pela sigla "DS" (para "Denzinger-Schönmetzer"). A edição que utilizamos é a XXXIV de 1967, Barcelona: Editora Herder (p. 93);



Dodd, Charles Harold (1971). The Founder of Christianity. London: Collins St James’s Palace.
Eliade, Mircea (2004). Tratado de História das Religiões. Porto: Edições ASA.
Ling, Trevor (2005). (2ªed.). História das Religiões. Lisboa: Editorial Presença.
Llorca, Bernardino (1960). Manual de História Eclesiástica (Vols. I e II). Porto: Edições ASA.

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