quinta-feira, 7 de junho de 2012

Capítulo 12. Zoroastrismo

1- Nome e Origem e local de nascimento


O nome “Zoroastrismo” procede do nome do fundador da religião que ficou conhecida sob esse nome. Trata-se do profeta e reformador iraniano Zoroastro cujo nome de família era Zarath ao qual foi adicionado o sufixo ustra que significa “domador de cavalos”, o seu ofício na juventude, ficando a chamar-se Zaratustra.

O seu pai chamava-se Pourushaspa e a sua mãe Dughdhova, fazendo parte da 45ª geração da linha genealógica real de Gayomart, o Adão da Mitologia Iraniana.

Zaratustra foi o terceiro dos cinco irmãos e casou com três mulheres que conseguiram vestir todas de luto por ele. Da primeira teve um filho e três filhas; da segunda, que era já viúva, teve dois filhos e da terceira, Hvovi, a sua favorita, não teve descendência alguma.

Quanto ao lugar de nascença, não há concordância absoluta. Há quem diga ter nascido em Rhages que se situa perto do Teerão, no Iraque, mas também há quem diga (Filoramo, G; M. Massenzio; M. Raveni; e P. Scarpi, 2000) situar-se a sua terra natal no Afeganistão ou mesmo no Kazakistão.

ais tarde, em vez de Zaratustra foi-lhe dado o nome grego Zoroastres (Ζωροάστρης, Zōroastrēs), Zoroastro em português, por se adaptar melhor ao ouvido dos ocidentais. Foi este, pois, o nome que melhor se adaptou à história religiosa, dele procedendo o adjectivo Zoroastrismo, pelo qual ficou conhecida a religião por ele fundada (Potter, p. 82-83). Viveu entre os anos 660-583 (a.C.), isto é, 272 anos antes da morte de Alexandra Magno e no tempo do profeta Jeremias (626 ou 627 a. C[1]


Este mesmo autor (Idem, p. 81) observa que Zoroastro foi um homem da raça indo-europeia branca, raça esta que, no início, se tinha dividido em dois grandes grupos, espalhando-se um deles para Oeste para ocupar a Europa, enquanto o outro, os Arianos, se subdividiram noutros dois grupos, indo um habitar o que hoje chamamos Índia e o outro a terra que se chamava Pérsia e que, presentemente, é conhecida por Irão.

2- Infância e Juventude de Zoroastro


Segundo reza a história, quando chegou à idade de sete anos, Zoroastro foi entregue a um mestre com o qual muito cedo mostrou uma precocidade incrível e um espírito de revolta contra a situação política, social e religiosa, do seu tempo, ao mesmo tempo que se mostrou chocado com a crueldade, falsidade, necromancia e superstição que então reinavam nos locais por ele conhecidos.

Seguindo os usos e costumes da sua tribo, aos quinze anos atingiu a maioridade, o que lhe garantiu parte da herança paterna. Essa herança constou do cinto do seu pai que, mais tarde, viria a constituir um dos símbolos da religião que viria a fundar.

Desde a idade dos quinze anos até à idade dos trinta pouco fala a história, sendo chamado o período da vida oculta, silenciosa ou privada, que pode recordar-nos o período da vida oculta e silenciosa de Jesus Cristo que, vai da idade dos 12 anos (em que foi apresentado no Templo de Jerusalém) até ao início da vida pública (ou do ministério) quando atingiu os trinta anos. Em ambos os casos é muito provável que esse período tenha sido dedicado ao estudo e à preparação para a vida do ministério público.

A crueldade por ele mostrada para com os cavalos quando era domador soube compensá-la, mais tarde, com a dedicação aos animais, dando-lhes de comer e prescrevendo na sua religião graves penas para quem os maltratasse.

3- Vivência numa caverna no deserto

Antes de chegar à idade dos trinta anos retirou-se para o deserto e passou a viver durante dez anos[2] numa caverna, tendo por alimento apenas um queijo que se renovava milagrosamente e sendo visitado pelo céu através do fogo celeste. Estas duas particularidades admitidas pelos seus discípulos podem não passar de puras lendas, mas, de certa são bem significativas quanto à importância da sacralidade da sua futura missão acerca dos problemas da humanidade.

Esta descrição apresenta Zoroastro como um estudioso ou cientista à procura da verdade, fazendo experiências com a luz e o com o fogo que depois mistificou. Alguns escritores gregos falam dele como tendo sido um estudioso dos segredos da natureza, possuindo na sua caverna miniaturas representativas do sistema solar e planetário. Tais estudos vieram a preparar a arte dos Magos, ou seja, dos astrólogos do Oriente que bem podem ser considerados os precursores dos astrónomos modernos (Potter, idem, pp. 84-85).

4- Chamamento para a pregação


O seu chamamento para pregar à gente agrícola é descrito por ele próprio como o “choro ou lamento das vacas” (“the wail of the kine”). Como Moisés, argumentou que não tinha habilidade para essa tarefa. Quem seria ele para pelejar a favor da manada de vacas que sofria em condições infra humanas da sua tribo? Ele diria que as próprias vacas se ririam da sua debilidade. Mas deus faria dele (assim como de Moisés) o condutor do seu povo através de uma nova religião.

O chamamento de Zoroastro não tinha por objecto a liderança política, mas sim religiosa e este chamamento foi considerado como uma exaltação mística e uma verdadeira visão de Deus em ordem a libertar a humanidade do sofrimento que lhe era imposto pelo Espírito Maligno, ou Príncipe da Mentira, o Demónio da Dúvida e do Desespero. Porém, antes de se lançar na pregação, sentiu a tentação vinda do espírito do mal.

Depois de viver na solidão do deserto e de aí ter experimentado a tentação acerca da sua própria pequenez, renasceu um novo homem conhecedor do mal, do paraíso, da último juízo e da ressurreição dos mortos, experiência essa que ele próprio descreveu nas suas memórias e à sombra das quais criou uma religião que veio a denominar-se Zoroastrismo e que se propagou entre as gentes da sua tribo, correspondendo às suas ansiedades religiosas.

O seu adversário maligno transformar-se-ia gradualmente no Ariman dos seus seguidores Persas, o mesmo que entre os judeus seria Satanás e para Jesus seria o “Príncipe do Mundo” e para Paulo de Tarso o “Príncipe dos Poderes do Ar” e para o Cristianismo da Idade Média seria o “Demónio” ou “diabo”.

Zoroastro seria, pois, aquele que daria corpo e nome ao adversário comum da humanidade e instituiria aquela contínua luta que o homem sempre sentiu dentro de si próprio, frente às adversidades de todo o género, ao ponto de lhe prestar culto paralelo à própria divindade.

A convicção de Zoroastro, no entanto, era a de que, no fim de tudo, o Espírito do Mal, Angra Mainyu (seria vencido, para dar lugar à vitória definitiva do Espírito do Bem,  (Ariman) ou Ahuramazda, o Deus supremo da Luz e da Verdade.

5- Data da Visão do chamamento


Esta visão é colocada no 31º ano do Rei Vistaspa e tornou-se o primeiro ano da nova Religião. Deu-se durante a aurora do 15º dia do mês Artavahisto (= 5 de Maio do ano 630 a.C.

O ambiente desta visão foi o seguinte: estando Zoroastro de pé no bano do terceiro canal do rio Daiti e levantando um pouco de água viu aproximar-se de si uma figura brilhante. Era o Arcanjo Vohu Mana (Potter, p. 86) que o conduziu ao quarto de audiências do Deus Ahuramazda e dos seus anjos. Aqui foi-lhes mostrado o essencial dos princípios da nova religião.

Depois desta visão, Zoroastro voltou a si, retomou o seu corpo e, seguindo as instruções que recebera de Ahurmazda (Senhor da Sabedoria) pregou durante dois anos aos chefes

Esta pregação, porém, não deu grande resultado e passaram vários anos até conseguir a primeira conversão.

Durante este período de aridez missionária, teve outras seis visões que vieram enriquecê-lo de muitas mais informações sobre as realidades sobrenaturais, sendo todas essas visões presididas por seis Arcanjos diferentes, conforme a especialidade que cada um deles dominava. Diz-se que tal foi a convivência com cada um deles que Zoroastro os reconhecia pela aparência.

6- Conteúdo das seis visões

Na primeira destas seis visões, o Arcanjo Vohu Manah (Bom Pensamento) convenceu-a a cuidar bem de todos os animais úteis ao homem;
Na segunda visão, o Arcanjo Asha (Justiça) encarregou-o do cuidado de todo tipo de fogo;
Na terceira, o Arcanjo Kshathra (Poder) concedeu-lhe a perícia sobre os metais e minas;
Na quarta, o Arcanjo Armaiti (Piedade/devoção) deu-lhe o poder de conhecer as fronteiras e os distritos;
Na quinta visão, o Arcanjo Haurvatat (Saúde) ensinou-lhe como lidar com a água;
Na sexta visão, o Arcanjo Ameretat (Imortalidade) informou-o sobre o modo de tratar as plantas.
Todas estas seis visões, tidas durante os cinco meses de Inverno, viriam não só a marcar a estrutura do seu primitivo programa no período dos seus primeiros trinta anos da sua vida, mas também a dar cobertura e ânimo à sua pregação que era inspirada nos problemas que afectavam diariamente os seus concidadãos.

Mais uma vez, ele foi advertido que viria a ser tentado pelo mal. Chegaria à idade dos quarenta sem ter alcançado nenhuma conversão, o que seria natural sentir-se desanimado e cansado.

Esta tentação sobreveio-lhe quando regressara a casa do seu pai, Pourushaspa. O astuto Angra Maiyu, o Senhor do Mal e das Trevas fez-lhe lembrar a sua ascendência e o culto que a sua mãe lhe prestara com estas palavras”Tu és o filho de Pourushaspa; eu fui adorado por tua mãe”, no intuito de o fazer regressar a esses tempos e a essa adoração, desviando-o do seu destino já traçado o Deus da Verdade e da Luz.

Vencida a tentação e depois de ter convertido à sua fé Matyomah, o seu primeiro discípulo, procurou converter o rei Vishtaspa, então o grande monarca do Irão. Após várias tentativas e dificuldades conseguiu pôr em prática o imperativo de Ahuramazda e pôde convencer o rei através de gestos manuais, de palavras, milagres, vencendo inclusive as magias dos seus magos. Convertido este, outros mais se seguiram.

7- Historicidade de Zoroastro


Hoje é praticamente aceite que tenha sido uma figura histórica. No entanto, sobre as datas do seu nascimento e da sua morte e sobre as secções das escrituras Zend-Avesta que lhe pertencem os autores nem sempre estão de acordo.

Efectivamente se para Potter (Potter, p. 82-83) a existência de Zoroastro se deva colocar entre os anos 660-583 (a.C.), isto é, 272 anos antes da morte de Alexandra Magno e no tempo do profeta Jeremias (626 ou 627 a. C), para outros ele teria vivido muitíssimos séculos antes. Teria vivido cerca do ano 6.400 a.C., ou mesmo 6.300[3] o que se deseja comprovar a partir de recentes descobertas arqueológicas, estudos da linguagem e a utilização do carbono 14[4].

Relativamente à Escritura da Zend-Avesta, a Escritura Sagrada do Zoroastrismo, admitem os entendidos que talvez só alguns hinos ou cantos lhe pertençam verdadeiramente, sendo compostos para a liturgia do Fogo e parecidos aos hinos védicos da Índia. As restantes partes desta Escritura Zend-Avesta devem ser mais recentes[5].

Os ensinamentos de Zoroastro, segundo autores modernos[6] conservam-se fundamentalmente em dezassete Hinos, conhecidos sob o nome de “Gathas” que aparecem no “Yasna” que constitui a parte mais extensa do Avesta e que está dividido em 72 capítulos, sobrevivendo apenas a sexta parte de todo o complexo escriturístico.

 Os-“Gathas” isto é, os 17 hinos, escritos em língua poética religiosa muito antiga, são constituídos por 238 versos, e constituem o capítulo 72 do Yasna do Avesta, sendo identificados pelo número do capítulo que está dividido em cinco secções:

Cap. 28-34 Ahuvasti Gatha (3 versos)
Cap. 43-45 Ushatavati Gatha (5 versos, tendo felicidade)
Cap. 47-50 Spente Maynu Gatha (4 versos, álcool generoso)
Cap. 51-52 Vohu Khshattura Gatha (3 versos, bom domínio)
Cap. 53 Vashto Islet Gatha (4 versos)[7].
Parece pertencer mais à lenda do que à verdadeira história que a sua mãe Dughodva tenha tido um sonho no qual lhe foi revelado a missão do seu. Por outro lado a fixação da morte de Zoroastro aos 77 anos poderá oferecer-nos dúvidas.

8- Propagação da nova religião à base de curas


O cavalo do rei, chamado Beleza Negra caiu doente, ficando com as quatro patas imobilizadas. O rei recorreu ao poder milagroso de Zoroastro. Este prometeu-lhe curar o cavalo em troca de quatro prémios: um por cada pata.

Curado o cavalo, o rei aceitou a nova religião (1); o seu filho, Isfendiar, tornou-se um cruzado ou propagador da nova fé (2); a rainha converteu-se (3); os sacerdotes que se tinham oposto a Zoroastro foram mortos (4). Pode mesmo dizer-se que a nova religião se impôs a troco de um cavalo. A partir de então, a nova fé propagou-se por todo o Irão com uma rapidez espantosa e transpôs as suas fronteiras para chegar à Índia, à península grega e ao Industão e outras regiões do globo.

Hoje, esta religião possui à volta de 200,000  fiéis que se distribuem principalmente pela Índia Ocidental, Irão central e pelas antigas colónias britânicas[8].  

Será útil notarmos que a cruz suástica, frequentemente ligada ao Nazismo, parece ter a sua origem no seio destes povos indo-iranianos. Em 1894, o conservador do Departamento de Antropologia do Museu Nacional dos EUA (USA) expôs a sua convicção sobre este caso desta maneira: "crê-se que a suástica é um dos símbolos mais antigo do Arianos; estimando-se que representa Brahma, Vishnu e Siva".

Este colar indo-ariano foi encontrado em Kaluraz, Gilán, Irão e encontra-se, hoje, no Museu Nacional de Ião (cerca de 1000 d. C, e encontra-se actualmente no Museu Nacional do Irão.

Esta nova religião surgiu como uma reforma da religião das tribos de língua iraniana que se instalaram no Turquestão. Esta tribo estava intimamente ligada com os Indo-Iranios que trouxeram o sânscrito e algumas das suas religiões[9].

9- A Mensagem – Ahura Mazda (Ohrmaz) vs Angra Maingu (Ahoriman)

9.1- Existência de dois Princípios


O Zoroastrismo admite e adora Ahura Mazda  (Ohrmaz) como sendo o Não Criado ou auto-existente, o Criador de tudo, o Princípio e o Fim, o Invisível, o Eterno e a Única Verdade.

Por outro lado, ensina que a criação de Ahura Mazda é a antítese do Caos. Por isso, existe, na tradição seguida por Zoroastro, um segundo princípio – o do mal – denominado Angra Maingu, isto é, Ahoriman.

9.2- O problema da dualidade


Sempre ouvi dizer que Zoroastro acreditava e ensinava o dualismo_ Bem vs Mal. Mas, parece que a verdade é bem diferente. Eis como os teólogos actuais e discípulos deste fundador se referem a este problema:

“Afirmar que o Zoroastrismo é uma religião dualista é um erro. Existe um Ser único ou Deus; Ahura Mazda. O Bem e o Mal são relacionadas às  eleições éticas dos mortais. O Mal só mora dentro das mentes e se produz por eleições erradas, retrógradas, más. Por outro lado o Bem também é um produto das decisões retas da mentalidade Progressista ou Pura.
No primeiro verso do Yasna 30, Zaratustra se refere a estas duas “mentalidades” (Mainyus) criadas por Ahura Mazda, entre as quais o homem deve discernir. A mentalidade boa, progressista, é aquela moralmente edificante ou “Spenta Mainyu”. O gémeo oposto é "Aka o Angra Mainyu": a mentalidade má, injusta, retrógrada. Ele diz que estes dois 'Mainyus' são gémeos "… o 'bom' e o 'mau' em pensamentos, palavras e fatos". Zaratustra põe ênfase na necessidade de eleição e na importância de eleger o bem, que está em harmonia com a Ordem Cósmica (Asha) e  conduz à  União com Deus ou Perfeita bem-aventurança. Para conseguir isso, propõe a tríade ética de bons pensamentos, boas palavras e boas acções”[10].

9.3- Doação da Lei Eterna


Foi-lhe revelado que existe uma Lei Eterna (a Daena) que superintende à organização do universo e que se tornou o caminho sagrado em ordem a alcançar a salvação eterna. Esta Lei, porém, não se deve confundir com a Lei ou princípio de Asha que é a lei que rege o universo físico, por exemplo a rotação dos astros[11].

Eis alguns dos principais pontos doutrinais do Zoroastrismo ou Mazdaismo[12]:

1-      Culto a Ahura Mazda;
2-      Reverência aos Arcanjos;
3-      Condenação dos demónios;
4-      Matrimónio entre os familiares mais próximos;
5-      Igualdade de todos os homens sem fazer diferença entre género, raça ou religião;
6-      Respeito por todas as formas de vida;
7-      Ecologia;
8-      Trabalho duro e caridade;
9-      Fidelidade e lealdade à família, à comunidade e ao país.

9.4- Outras características


A força do Criador é representada pelo Fogo. Por isso os zoroastristas rezam perante o fogo enquanto este representa a energia criativa mas não como sendo divino.

Os ritos funerários visam não o corpo morto, mas a sua alma e é crença geral de que ao quarto dia a alma abandona o corpo que se torna uma carcaça oca. Tradicionalmente os cadáveres eram depositados no topo de alguma torre fechada (chamada a Torre do silêncio) para serem comidos pelos abutres, sendo posteriormente recolhidos os ossos para serem depositados em ossários[13]
9.5- Conceito dos Amesha Spentas[14]
Outro conceito religioso original por ele apresentado foi o dos Amesha Spentas ("Imortais Sagrados"), que não são outra coisa do que as emanações ou aspectos de Ahura Mazda. Estes Amesha Spentas são apresentados nos Gathas de uma forma bastante abstrata.

Mas muito mais tarde foram transformados e elevados ao estatuto de divindades e cada Amesha Spenta foi associado a um aspecto da criação divina, chegando-se a um politeísmo que Zoroastro não previu.
Os Amesha Spentas são:
  • Vohu Manah ("Bom Pensamento"): os animais;
  • Asha Vahishta ("Verdade Perfeita"): o fogo;
  • Spenta Ameraiti - ("Devoção Benfeitora"): a terra;
  • Khashathra Vairya - ("Governo Desejável"): o céu e os metais;
  • Hauravatat ("Plenitude"): a água;
  • Ameretat ("Imortalidade"): as plantas.

10- A cerimónia de iniciação ou Navazote[15]


À cerimónia de iniciação à religião de Zoroastro dá-se-lhe o nome de Navazote, e tem lugar entre os sete e os quinze anos de idade. Esse nome é um nome composto de “Nava” (novo) e “Zaotar” (devoto) ou “novo nascimento “renascimento” “Nascido pela segunda vez”.

O hábito talar para esta cerimónia é uma camisa branca, chamada Sudrah, feita de puro algodão, a simbolizar a Mente Benevolente e um cinto (ou faixa) sagrado de lã de cordeiro, chamado Kusti simbolizando a inocência e amabilidade. Este cinto (ou faixa) é confeccionado com 72 fios de lã, correspondentes aos 72 capítulos do Yasna[16]. Ata-se o iniciado com este cinto, dando três voltas à cintura para simbolizar a tríade dos bons pensamentos, das boas palavras e das boas acções. Todos os assistentes usam também vestes brancas.

No fim o iniciado repete a oração chamada Ahuna Vairya ou Ahunavar que é a Oração mestra do Zoroastrismo[17] que resume toda a sua doutrina religiosa e assim se apresenta:

         “Tal como o Governante do Universo é Absoluto em Sua vontade,
assim é o supremo Mestre através de sua Rectidão.
Qualquer um que dedique suas boas acções a Deus
         receberá o dom de uma Mente Pura,
         Qualquer um que ajude e proteja o necessitado,
         receberá o Poder e a Força de Deus."

Após a iniciação o neófito é investido com a Yagnopavitam[18] nome que provém de Upa + Nayanam, isto é: visão através do conhecimento.

Esta cerimónia compõe-se de duas partes distintas: a primeira é constituída pela investidura da tríplice faixa ou cinto, chamada Yagnopavitam; a segunda consiste na que é a recitação no ouvido direito do iniciado, a Gayathri mantra cuja recitação cabe normalmente ao pai que, assim se torna o seu primeiro Guru, ou Mestre[19].

11- Influências do Zoroastrismo no Judaísmo[20]


Não é de admirar que o Judaísmo, tenha sofrido influências do Zoroastrismo:

1-      Os judeus foram deportados para Babilónia após a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, rei de Babilónia, no ano 586 a.C., isto é, três anos antes da morte de Zoroastro;
2-      Antes do cativeiro de Babilónia a teologia do judaísmo não tinha a figura nem a teologia do demónio;
3-      Cinquenta anos depois o rei zoroastrista persa Ciro conquistou Babilónia e restaurou a liberdade aos judeus, decretando o seu regresso à sua Terra de origem;
4-      Durante dois séculos, os judeus foram governados por reis zoroastristas até à chegada de Alexandre Magno, em 332 a.C., vindo a ser governada, após a sua morte, pelos ptolomeus do Egipto e mais tarde pelos selêucidas da Síria que lhe impôs uma dura helenização que culminou com a profanação do templos de Jerusalém, originando uma sangrenta revolta liderada por Judas Macabeu, após a qual foi estabelecida a “independência judaica sob a dinastia dos hasmoneus, que se conservou no poder durante mais de 100 anos, até que Pompeu impôs a lei romana a Jerusalém”[21].
5-      A teologia post-exílica passou a ter o demónio a que chamavam “o Adversário”, “Satanás”.
6-      Para verificar esta última mudança basta ler dois textos da Bíblia Judaica II Samuel (Cap. 24) que foi escrito antes do exílio de Babilónia e o I Crónicas, Cap. 21, escrito depois do mesmo exílio. Enquanto no primeiro se diz que foi Jeová que induziu David a realizar o Censo do povo, pelo que castigou o povo, matando vários milhares de populares por meio da peste, no segundo texto o censo foi atribuído à tentação de Satanás.

12- Influência do Zoroastrismo no Cristianismo[22]


1-      No Evangelho de S. Mateus encontramos a história dos Reis Magos que vieram do Oriente prestar homenagem a Jesus. O texto fala-nos de “homens sábios” que significa o mesmo que “Magos” que são identificados possivelmente com sacerdotes zoroastristas. Este é o mesmo termo que se usa no livre de Ester ao falar-se de sete homens sábios persas que se sentaram no reino de Assuero (ou Xerxes) Etiópia…, o rei zoroastrista que reinou desde a Índia até às terras da Etiópia. Estes magos teriam vindo das terras de Zoroastro para oferecerem presentes a Jesus … 
2-      Antes de morrer na cruz Jesus dirigiu ao bom ladrão as palavras: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Ora esta expressão faz parte da teologia de Zoroastro, sendo o lugar da habitação dos bons depois de morrerem. Entre os judeus em vez de “paraíso” usava-se a palavra “jardim” ou “Éden”. Também os judeus herdaram de Zoroastro a palavra “paraíso”.
3-      O livro de Enoch que durante três séculos pertenceu à Bíblia Cristã, foi lido por Jesus, Apóstolos e por Paulo e foi suplantado pelo Apocalipse de S. João está cheio de imagens e teologia zoroastrianas.
4-      Algumas das ideias sobre a vida futura ensinadas pelo cristianismo ortodoxo são provenientes da teologia de Zoroastro que adorava o Senhor da Luz e da Sabedoria, Ahuramazda e ao qual dedicou entre outros salmos, hinos chamados Gathas este que aqui deixamos na nossa tradução a partir do inglês de Potter[23]:

a.       “Com a Verdade que move o meu coração,
b.      Com o melhor Pensamento que inspira a minha mente,
c.       Com toda a mais alta força espiritual dentro de mim,
d.      Eu ajoelho em homenagem perante Ti, meu Mestre, com o Cântico do Teu amado louvor sobre os meus lábios.
e.       Por fim, quando eu tiver que me apresentar perante a Tua Porta como um suplicante,
f.       Possa eu ouvir distintamente o amoroso eco das minhas preces ressoando na habitação dos hinos sacros”.

13- Zoroastrismo e o Islamismo

No século VII a dinastia sasánida da Pérsia[24] foi destroçada pelo Islão. Muitos dos Zoroastristas deixaram-se submeter à religião muçulmana, enquanto muitos, cerca de 100.000, abandonaram o território e foram estabelecer-se na Índia, vindo a receber o nome de “Parsas”. Nos séculos seguintes o Zoroastrismo recuperou a sua forma original monoteísta que tinha recebido com o contacto com povos vizinhos.

14- Dicionário do Zoroastrismo[25]


Ahuna-Vairya: Oração sagrada.
Ahura Mazda: Deus.
Amesha-spenta: Sagrados imortais. Passos ou dons no caminho espiritual. Aspectos de Deus.
Aryanamvaejo: nome do antigo Irã, que significa “Entrada dos Arianos”.
Asha: Princípio ordenador da realidade. Retidão; adesão à verdade em pensamento, palavra  ação.
Atar: Fogo, filho de Ahura Mazda.
Atash-Behram: Fogo Sagrado.
Avesta: Língua do Zoroastrismo. Sagradas Escrituras.
Gazas (Gathas): Hinos sagrados de Zaratustra.Khordad Sal: Nascimento de Zaratustra.
Kusti: Faixa sagrada.
Mazdayasnidin: Nome da religião que significa “Adorar a Deus”.
Nasks: .21 volumes dos ensinamentos de Zaratustra.
Navazote: Rito de Iniciação.
Pahalvi: Tradução tardia e distorcida das escrituras sagradas do Zoroastrismo.
Parsi: Zoroastriano de Índia (persa).
Pateti: Ano Novo Parsi.
Sudrah: Camisa blanca sagrada.
Ushtana: fogo do sol.
Yasna: os textos litúrgico-sacros do Avesta  (Escrituras de Zoroastrismo) que incluem os Gatas ou Hinos sacros de Zarathusthra
Zaratustra: Nome do profeta, também chamado Zoroastro pelos gregos.

15- Conclusão

Podemos resumir a história de Zoroastro em três grandes períodos:
O primeiro inclui os anos do próprio Zoroastro, vindo a terminar no século IV a.C. com a conquista do antigo império persa por Alexandre Magno da Macedónia;
O segundo corresponde ao império Sasánida no qual o Zoroastrismo se tornou religião de estado e termina com a conquista muçulmana no século VII d. C.;
O terceiro período teve o seu início com a migração dos Zoroastrianos para a Índia, especialmente para a região de Bombaim, onde passaram a ser conhecidos por “Parsas” (isto é, “gente da Pérsia”).

Actualmente entre os “Parsas” ou “Parsis” existem várias associações zoroastrianas em
França, Inglaterra, Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, Kenya, Singapura e Hong Kong[26].

Se não me engano, recordo-me que entre os anos 1953-1973 ainda era costume, em Macau, falar-se do “Cemitério dos Parsas” (nº 17) que se situava entre o Hospital Conde de São Januário (nº 15), Infantário “Ave Maria” (nº 101) e o Monte da Guia (nº 18) (em cujo topo se encontra uma pequena Fortaleza, uma Capela e um Farol). Pois teria sido nesse cemitério que eram sepultados os “indianos” de uma certa religião relacionada com os Persas.

Subindo a Estrada de São Francisco e um pouco antes de atingir a Colina encontramos esse cemitério do lado direito, fazendo ângulo com a Estrada de Cacilhas que é a continuação da Calçada do Paiol.

Segundo John Clemens (1972, p. 96-97) os Parsas que se encontravam sepultados nesse cemitério, construído em 1829 como se lê numa placa colocada no topo da porta de entrada, tinham vindo de Bombaim e pertenciam aos “indianos” que desempenhavam um papel muito importante no comércio entre o oriente e o Ocidente, sobretudo no comércio do chá, ópio, algodão de Bengala, tabaco e seda. Ao fixarem-se em Macau ali criaram várias Agências, tornando-se os grandes competidores e aliados dos Ingleses.


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Rustom, C. Chothia (2002). Zoroastrian Religion Most Frequently Asked Questions.
Taraporewala, Dr. Irach J. S.: Zoroastrian Daily Prayers.
Taraporewala, I.J.S.: The Religion of Zarathushtra.
Tavadia, J. C. (1999).  The Zoroastrian Religion in the Avesta.
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Watson, P.: Ideas. Historia intelectual de la humanidad (capítulo 5: «El sacrificio, el alma, el salvador: el gran avance espiritual», pág. 178-181). España: Crítica, 2006. ISBN 84-8432-724-8.
Wilson, Thomas (1894). The Swastika: the earliest known symbol, and its migration, Report of the U. S. National Museum.


Notas:

[1] Alguns marcos da história do Povo Hebreu:
·         Em 1800 a.C., Abraão recebeu uma sinal de Deus para abandonar o politeísmo;
  • Por volta de 1700 a.C, o povo judeu migra para o Egito,
  • Por volta de 1300 a.C. A fuga do Egito foi comandada por Moisés, que recebe as tábuas dos Dez Mandamentos no monte Sinai,
  • Entre os anos 874 e 852 a . C. o profeta Elias exerceu seu ministério no Reino do Norte (Reino da Samaria) durante o reinado de Acabe, seguindo-se-lhe e o profeta Eliseu,
  • O profeta Isaías, teria vivido entre 765 AC e 681 a.C., durante os reinados de
    Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, sendo contemporâneo da destruição de Samaria;
  • Em 721 a.C começa a diáspora judaica com a invasão babilónica
  • Jeremias profetizou entre os anos de 626 ou 627.
[2] [On-line] [Cônsul 07-06-2012] Disponível em http://verbumvincet.blogspot.pt/2010/06/zoroastrismo.html

[3] [On-line] [Cônsul 07-06-2012] Disponível em: http://verbumvincet.blogspot.pt/2010/06/zoroastrismo.html
[4] [On-line] [Cônsul 07-06-2012] Disponível em: http://www.lumendelumine.com/articulos/2011/zoroastro.html
[5] Potter, 1929, p. 79-81 e cf. também [On-line] [Cônsul 31-05-2012] Disponível em: [On-line] [Cônsul 04-06-2012] Disponível em: http://es.catholic.net/ecumenismoydialogointerreligioso/398/857/articulo.php?id=26176
[6] [On-line] [Cônsul 07-06-202] Disponível em: http://www.lumendelumine.com/articulos/2011/zoroastro.html
[7] [On-line] [Cônsul 07-06-2012] Disponível em: http://www.lumendelumine.com/articulos/2011/zoroastro.html.

[8] [On-line] [Cônsul 31-05-2012] Disponível em: http://www.zoroastrismo.com/.
[9] Ibidem.
[10] Ibidem.
[11] [On-line] [Cônsul 31-05-2012] Disponível em: http://www.zoroastrismo.com/
[12] Ibidem e Potter, 1929, p. 88.
[13] [On-line] [Cônsul 31-05-2012] Disponível em: http://www.zoroastrismo.com/
[14] [On-line] [Cônsul 04-06-2012] Disponível em:  http://www.h2hlatino.org/articulos.php?id=85 e ainda em
[15][On-line] [Cônsul 04-06-2012] Disponível em http://www.h2hlatino.org/articulos.php?id=85

[16]Yasna: Parte principal do Avesta de 72 capítulos inclui os Gazas
[17] [On-line] [Cônsul 04-06-2012] Disponível em: http://www.h2hlatino.org/articulos.php?id=85
[20] Potter, 1929, pp. 96s.
[21] [On-line] [Cônsul 04-06-2012] Disponível em:  http://www.beth-shalom.com.br/artigos/jerusalem_seculos.html.
[22] Potter, 1929, pp. 97-99.
[23] Idem, p. 99.
[24] Esta dinastia foi fundada na Pérsia por Ardacher I após ter vencido o último rei arsácida, Artabão IV da Párcia e veio a terminar quando o último rei, Shahanhah (Rei dos Reis) sasánida,Yazdegerd III (632-651 perdeu uma prolongada guerra de 14 anos contra o primeiro dos califados islâmicos. O território do império persa sassánida compreendia os actuais países do Irão, Iraque, Arménia, Afeganistão e partes da Turquia e Síria e ainda parte do Paquistão, o Cáucaso, Ásia Central e Arábia. A sua capital era a cidade de Ctesifonte que se situava nas margens do Rio Tigris, no actual Iraque a cerca de 35 km de Bagdad. Hoje apenas restam ruínas, apesar de ter sido uma das maiores cidades da antiga Mesopotâmia (entre os rios Tigris e Eufrates).
[25] Ibidem.
[26] [On-line] [Cônsul 01-06-2012] Disponível em: http://es.catholic.net/ecumenismoydialogointerreligioso/398/857/articulo.php?id=26176