sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Capítulo 14 A Baixa-Mesopotâmia



Conteúdo

A Baixa Mesopotâmia deve ter começado a ser habitada durante a época da Cultura Tell Hlaf. É, no entanto de salientar, que já antes tenham existido alguns focos habitacionais em Kish, Ur e Girsu, uma vez que ali foram encontrados alguns fragmentos de cerâmica parecida à de Hassuna. Toda esta região fica  delimitada pelos dois grandes rios  Eufrates e Tigris.

O rio Tigris (ou Tigre) nasce nos Montes Taurus da Turquia oriental e percorre cerca de 1.900 km para sudeste, antes de se projectar no rio Eufrates  próximo a Al Qurna no sul do Iraque (http://www.antiguamesopotamia.com/geografia_fisica/rio_tigris.htm).

Por sua vez, o rio Eufrates é formado pela união de dois afluentes: o Kara (Eufrates Ocidental), que nasce nas montanhas orientais da Turquia ao norte de Erzerum e o Murat (Eufrates Oriental), que parte do Lago Van. Medindo cerca de 2.780 km, a sua porção superior escorre por entre canyons e gargantas para o sudoeste através da Síria e depois do Iraque. Existem ainda outros dois afluentes – os rios Khabur e Balikh  – que nascem também na Turquia, e se vão juntar ao Eufrates na parte oriental da Síria. Ao rio Eufrates vai desaguar o rio Tigris logo por baixo de Bassora no Sul do Iraque, passando após esta junção a denominar-se Canal (ou rio) Shatt al-Arab, que vai desaguar no Golfo Pérsico. Assim sendo, ambos os rios (Tigris e Eufrates) nascem nas montanhas orientais da Turquia (Anatólia).

Existem várias referências relativas ao local de nascimento do Rio Tigris. Uns dizem nascer na Arménia, enquanto outros dizem nascer nos Montes Tauro, na Turquia. Esta disparidade provém da confusão que se faz entre Arménia Actual e a Arménia Antiga.

Se nos reportamos à Arménia actual, então o Rio Tigris não nasce nesse país, mas sim nos Montes Tauro, na Turquia Oriental. Mas se, pelo contrário, tivermos em conta a Arménia Antiga, por exemplo a Arménia do reinado de Tigranes, o Grande, também conhecido por Tigranes II (95 a.C. até 55 a.C.), então esse rio nasce, de facto, na Arménia.

As Décadas de João Barros, Vol 7, referem que, segundo o historiador romano Plínio, esses dois rios nascem na Arménia:


“O rio Eufrates nasce naquella parte da Arménia que se chama Turcomani, do monte Pariades, do qual tem também seu nascimento o rio Araxes. Este corre a Levante, e entra no mar Cáspio, e o Eufrates faz seu curso per hum espaço a Ponente, donde volta a Meiodia, atravessando o nomeado Monte Tauro para se ajuntar com o Tigris.
Antes de passar aquelle celebre monte, se chamava antigamente Pyxirato, e depois de passado, Omira, como escreve Plínio no cap. 24 do liv. 5. E no cap. 26 do livro 6 diz, que os Assyrios lhe chamavam Armalchar, ou mais propriamente Naarmalcha, como lhe chama Am. Marcellino, que significa rio Real, que he o mesmo que Basílio, nome, que, pela mesma causa lhe dá Ptolomeu na 4. Taboa da Ásia; e por ella consta ser um braço do mesmo Eufrates, que rega a Província, e a Cîdade de Babylonia, pela qual passa. O nome hebreo, que tem na Sagrada Escritura, he Pharath, que quer dizer Fortificativo; e Josefo no cap. 2 do liv. das Antiguidades lhe chama Phora, e hoje os Arménios Frat e os Turcos Murat.
O Rio Tigris nasce em huma Provincia da Arménia maior, que Ptolomeu chama Gordene, e hoje Curdi, o seu nome antigo foi Sollax, como affirma Plutarco o Moço no tratado dos Rios. No seu nascimento, onde corre vagarosamente, se chamou Diglito, como escreve Plínio no cap. 27, do liv. 6. E quando se apressa, e correm com ímpeto suas aguas, por razão delle lhe puseram os Medos o nome de Tigris, que entre eles quer dizer Setta, e por a mesma causa, e significação em na Sagrada Escritura o nome de Hide Kel, que é Siríaco. Diuglath lhe chama Josefo, e os nomes modernos são vários, segundo as Províncias por que passa, porque lhe chamam Hidecel, Derghele, e Set.
Império Arménio 

  2- Civilizações de Kalaa Hadj Mohammed, de Tell es-Sawwan e de Eridu



Os principais locais do Sul eram, na altura:
Kalaa Hadj Mohammed (um pequeno burgo perto de Uruk, onde foi descoberta cerâmica feita à mão, pintura monocromática (castanho-escuro, arroxeado, verde ou vermelho, com temas geométrico) e, principalmente, Tell es-Sawwan; e Eridu que fica nas margens de uma pequena lagoa do Eufrates e onde foram encontrados 18 níveis de ocupação, sendo o XVI nível preenchido pelo plano completo de um edifício quadrangular, dividido em duas partes por meio de enormes pedras.

Neste edifício  encontrava-se um nicho cujos ângulos apontavam para os pontos cardeais. Devido a este nicho ter um exemplar idêntico no mais recente zigurate de Ur-nammu levou os arqueólogos a pensar tratar-se de um templo. Também a sua cerâmica é monocromática e apresenta-se decorada com motivos geométricos muito simples[1].

3- Civilização de Tell es-Sawwan

Por volta do ano 5000 a. C. as primeiras aldeias começaram a ser construídas aldeias nas orlas das planícies do Sul, como, por exemplo Tel es-Sawwan. Com o objectivo de desenvolver a cultura dos cereais, utilizou-se a construção de sistemas de irrigação com os quais  os habitantes passaram a depender menos da contingência das chuvas.
Tell es Sawwan[2]


Tell es Sawwan fica nas margens do Tigris entre o seu quarto e quinto afluentes, a 110 km a norte de Bagdade e a quase igual distância a sul de Samarra.  Pertencendo ao período da cultura Samarra chegou a albergar cerca de 350 pessoas numa área de cerca de 150m2, sendo os seus utensílios mais comuns confeccionados a partir da pederneira ou sílex, idênticos aos que eram utilizados pela Cultura Hassuna. Foram os habitantes de Tell es Sawwan os primeiros a utilizar os sistemas de irrigação artificial, tais como canais abertos pela mão humana e muros com fossos protectores à volta da aldeia.
Utensílios de pederneira[3]


Nessa altura a Mesopotâmia apresentava-se diferentemente da Mesopotâmia onde a Suméria teve uma importância preponderante. Eis como ela era no tempo em que a Suméria se desenvolveu:
Mesopotâmia e a Suméria destacada 4]


Em Tell es Sawwan produziram-se artefactos belíssimos de terracota, assim como vasos de mármore translúcido e figurinhas de crianças, de mulheres e de homens em alabastro quer sentados, quer de pé, apresentando os olhos em forma de grãos de café, algo parecido ao que foi encontrado no período Ubaid. Alguns desses exemplares encontravam-se em sepulturas escavadas por baixo das habitações.
Figura feminina de barro em Tel es-Sawwan[5]

4- Civilização de Eridu e Tell Obaid

No V milénio surgiram, ainda,  os primeiros povoados na planície meridional (Sul) em sítios como Eridu e Tel el-Ubaid (tell el Obeid) e nos finais deste milénio a cerâmica desta última cultura chegou a estendeer-se, tanto ao Sul, como ao Norte do actual Iraque[6]. São deste período igualmente as civilizações de Gasur, Tepe, Gawra, Nínive Shagar Bazer, Ukair e as regiões circunvizinhas (planicie da Antioquia, Turquia e Irão)[7].


Por exemplo, o templo do nível VI de Eridu (construção de 23m por 12m) possui muros regularmente aparelhados, sendo feitos de tijolos crus, o que implica, necessariamente, moldes apropriados para o efeito. Este templo, que foi construído numa grande plataforma, apresenta um plano complexo, prefigurando o templo sumério, ou seja: uma grande sala central rodeada por uma série de pequenos compartimentos anexos e dotada de um altar numa das suas extremidades.

De igual modo, no nível XIII de Tepe e Gawra foram encontrados três templos construídos numa esplanada de 30m2. Um deles, com um plano semelhante ao de Eridu, é menor, pois mede apenas 20m por 9m. A partir da presença de “um queima-perfumes (cf. Êxodo 30,8) pode se chegar a verificar a forma como estes edifícios foram construídos, pois que nas suas paredes está figurado um edifício que comporta sete portas sobrepujadas (sobressaídas) de janelas triangulares e separadas por caneluras verticais”[8].

Mesopotâmia e os Montes Zagros[9]


Antes da chegada dos sumérios, a baixa mesopotâmia já tinha sido ocupada por grupos humanos não semitas, ficando a ser conhecidos por Ubaidas, devido ao local onde se fixaram. Segundo Carlos Ribeiro[10] estes civilizadores ali se vieram a estabelecer entre os anos 4500 e 4000 a.C., o que se comprova a partir de certos vestígios que ali foram encontrados.

Cidade de Al-Ubaida[11]

Taça e duas tigelas, 4700-4200 a.C. de Tello, Antigo Girsu. Cultura Ubaid. H: 9,5-13,5 cm AO 15337, 15334, 14281
Fonte: http://www.lessing-photo.com/dispimg.asp?i=08021050+&cr=5&cl=1

Corredor Sírio ou Crescente Fértil[12]


Novas tecnologias

Introduz-se a roda do oleiro, passando a utilizar-se a decoração monocromática com desenhos geométricos e a introdução de figuras de animais. Efectivamente a introdução da roda do oleiro significa que essa arte já se encontrava muito desenvolvia pois "a roda do oleiro exigia uma argila melhor de ser trabalhada, que é obtida com a adição de elementos especiais, ou seja, como por exemplo, óxido de ferro, que confere uma cor marrom-avermelhada típica ao produto”[http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/civilizacao-mesopotamica/das-cavernas-para-agricultura-irrigada.php].

Em Tepe, chega-se a utilizar-se a confecção de figuras humanas e figurinhas em terracota, aos quais se lhes confere um aspecto “ofidiano”, fazendo relembrar a história bíblica do Génesis que está baseada no culto à serpente e na dualidade sexual da serpente de fogo (shakti-Kundalini).

Montes Tauro e Monte Zagros[13]
Os utensílios de argila e de pedra continuam a ser os mais utilizados e a arte de gravar em pedras preciosas (a glíptica) é muito abundante, sobretudo no Norte da Mesopotâmia.
No campo da metalurgia implantou-se a fundição do metal e aproveitou-se a força dos ventos na navegação, como se pode constatar através do modelo de barca em terracota encontrado num túmulo de Eridu e que indica o sítio onde era colocado o mastro da vela[14].


Os utensílios de argila e de pedra continuam a ser os mais utilizados e a arte de gravar em pedras preciosas (a glíptica) é muito abundante, sobretudo no Norte da Mesopotâmia.
No campo da metalurgia implantou-se a fundição do metal e aproveitou-se a força dos ventos na navegação, como se pode constatar através do modelo de barca em terracota encontrado num túmulo de Eridu e que indica o sítio onde era colocado o mastro da vela[15].


5- O período de Uruk (4000-2900 a.C.)
Este período é conhecido sob este nome porque foi a partir das descobertas arqueológicas realizadas na cidade-estado de Uruk (o nome bíblico é Erech ou Irech, sendo deste nome que teve origem o nome moderno de Iraque) que se encontraram as primeiras estruturas de uma verdadeira comunidade cujas características se aproximam das estruturas de uma verdadeira cidade, surgindo dela propriamente a vida urbana[15. É, pois, a partir desta civilização que costuma datar-se a Primeira Cidade histórica.

A cultura Uruk, era formada por algumas cidades (ou distritos como por exemplo: o distrito de Anu e o distrito de Eanna), tendo, cada uma, o seu respectivo zigurate dedicado ao deus da cidade, o seu palácio real, o seu templo e as respectivas localidades agrícolas no exterior. Esta cultura chegou a formar, no período 3500-3000 uma espécie de estado que viria a ser a primeira cidade-estado. Mas passou por três grandes etapas: a primeira que vai desde a sua fundação (cerca do ano 5000 a.C.) até ao ano 4000 a.C; a segunda que ocupa os anos 4000-3200 a.C. e que chegou a estender-se por mais de 600 hectares; a terceira que vai do ano 3200 a.C. até ao ano 900 d.C. que foi o ano do seu desaparecimento.

Quadro histórico de Uruk[16]
Pormenorização dessas etapas[17]:



1.      Uruk XVIII, período da preponderância de Eridu, 5000 a.C. e fundação de Uruk por Mesh-Ki-ang-gasher, filho do deus Utu;
2.      Uruk XVIII-XVI, período tardio de Ubaid, 4800-4200 a.C.
3.      Uruk XVI-X, primeiro período da preponderância de Uruk, 4000-3800 a.C.
4.      Uruk IX-VI, período médio de Uruk, 4000-3800 a.C.
5.   Uruk V-IV, período tardio de Uruk, 3400-3000 a.C., caracterizado pela construção dos seus primeiros templos monumentais no distrito de Eanna.
6.     Uruk III, período de Jemdest Nasr, 3000-2900 a.C., tempo em que foi levantado o muro de 9 Km, segundo alguns autores.
7.       Uruk II
8.       Uruk I

A descoberta dos restos de Uruk, feita em 1849 por William Loftus,  foi seguida e aprofundada em 1912-1913 pelos  trabalhos arqueológicos de Julius Jordan e da sua equipa pertencente à Sociedade Alemã Oriental que conseguiram descobrir não só o Templo de Ishtar (feito de ladrilhos de adobe e decorado com mosaicos), mas também o antigo muro que já rodeava a cidade por volta do ano 3000 a.C. e cuja construção era atribuída a Gilgamesh, chegando a  medir mais de 15 metros de altura e 9 quilómetros de cumprimento.


Tais descobertas foram coradas, em 1954, data em que Heinrich Lenzen descobriu algumas tabuinhas escritas em sumério que foram datadas do ano 3300 a.C. aproximadamente, permitindo concluir que Uruk tenha sido um dos primeiros centros urbanos onde se distribuiu e utilizou a Escrita como um método de comunicação quotidiano.

A esta celebridade, foi acrescentada, ainda, a descoberta da célebre Lista Real da Suméria, de vários templos, construídos no topo dos zigurates, de alguns palácios e praças e pôde estimar-se em 80.000 o número de pessoas que ali viviam por volta do ano 2.900 a.C.

 Plano de Uruk[18]
A cidade capital de Uruk foi construída no distrito de Anu, também chamado o Kullaba, numa plataforma, um tanto elevada. À volta da cidade foi feita uma muralha defensiva e dentro desta encontrava-se, edifícios administrativos e religiosos, entre os quais, o templo da deusa Inanna.

Fora desta primeira muralha encontravam-se as oficinas artesanais e as casas dos habitantes artífices de Uruk; fora deste segundo anel estendia-se a zona rural ou agrícola. E, para maior comodidade e fácil acesso aos diversos pontos do estado de Uruke ao Golfo pérsico, existiam vários canais que eram alimentados pelo rio Eufrates, fazendo desse estado uma espécie de Veneza da Mesopotâmia.

[2] ww.google.com/imgres?imgurl=http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/7f/Mesopotamia_Período_6.PNG/220px-Mesopotamia_Período_6.PNG&imgrefurl=http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_Hassuna-Samarra&h=177&w=220&sz=37&tbnid=DM_4t84c1HvvHM:&tbnh=100&tbnw=124&zoom=1&usg=__2RaqmnyaDFKqQZw6B1XobWQFmLs=&docid=WYxepikzvrqRoM&sa=X&ei=fpNlUOigK8uzhAfSl4CgBg&ved=0CDsQ9QEwAw&dur=48
[3] http://www.onlinegalleries.com/antiques/d/three-pre-historic-lower-palaeolithic-flint-stone-tools-/38813
 [6] Atlas de Arqueologia, 199 1, p. 99.
[7] http://www.prehistoria.templodeapolo.net/ver_fato_historico.asp?Cod_periodo=86&value=Proto-Hist%C3%B3ria%20na%20Mesopot%C3%A2mia&periodo=Neol%C3%ADtico.
[8]http://www.prehistoria.templodeapolo.net/ver_fato_historico.asp?Cod_periodo=86&value=Proto-Hist%C3%B3ria%20na%20Mesopot%C3%A2mia&periodo=Neol%C3%ADtico.
[13] http://redescolar.ilce.edu.mx/redescolar/act_permanentes/faro/sobre%20heroes%20tumbas/images/creciente.jpg 
[14] http://www.prehistoria.templodeapolo.net/ver_fato_historico.asp?Cod_periodo=86&value=Proto-Hist%C3%B3ria%20na%20Mesopot%C3%A2mia&periodo=Neol%C3%ADtico.
[15] Uruk: The First City, The Metropolitan Museum of Art". Uruk: Classical History Glossary. Sobre a barrca à vela em Eridu cf.

http://losjuegosdemamerilon.activoforo.com/t1909-embarcaciones-prehistoricas.
[16] http://historiaantigua.es/imagenes/Distrito%20Anu.jpg 
 [7] Ibidem
[18] Gurdjieff.  Modificado y adaptado, historiaantigua.es; http://historiaantigua.es/imagenes/Distrito%20Anu.jpg.

Bibliografia


Kramer, Samuel Noah (1956). From the Tablets of Sumer: Twenty-Five Firsts in Man's Recorded History. Indian Hills: The Falcon's Wing Press.
Kramer, Samuel Noah (1956). History Begins at Sumer: Thirty-Nine "Firsts" in Recorded History : (1956) (trad. port (Portugal): "A história começa na Suméria").
Kramer, Samuel Noah(1963). The Sumerians: Their History, Culture and Character.
Samuel, Noah Kramer, Publisher: Sumerian Mythology: Study of Spiritual and Literary Achievement in the Third Millennium B.C.
Kramer, Samuel Noah (1983).Inanna : Queen of Heaven and Earth, Samuel Noah Kramer and Diane Wolkstein (New York: Harper & Row.
Kramer, Samuel Noah (1961). Sumerian Mythology: Study of Spiritual and Literary Achievement in the Third Millennium B.C. 1944, rev. 1961.
Kramer, Samuel Noah (1956/1e (25 firsts), 1959/2e (27 firsts) 1981/3e). History Begins at Sumer: Thirty-Nine Firsts in Man's Recorded History.University of Pennsylvania Press. 
Kramer, Samuel Noah (1963). The Sumerians: Their History, Culture and Character. Chicago, IL: University of Chicago Press.
Kramer, Samuel Noah and Diane Wolkstein (1983). Inanna : Queen of Heaven and Earth. New York: Harper & Row.
Kramer, Samuel Noah (1988). In the World of Sumer, An Autobiography. Wayne State University Press.






sábado, 15 de setembro de 2012

Capítulo 13: Nome e situação geográfica da Mesopotâmia




Conteúdo

 1- Nome

Mersopotâmia (Μεσοποταμία) é um termo que provém da língua grega por justaposição de μεσο/meso, meio, e ποταμός/potamós, rio, ou seja, "terra entre dois rios", sendo aplicado a uma região de interesse histórico e geográfico, não só bíblico como também profano.

Esta região encontra-se situada no planalto de origem vulcânica que, por sua vez, se encontra na Médio Oriente e se vê circunscrito por dois grandes rios: o Eufrates e Tigris que vão desaguar no Golfo Pérsico. Toda esta região que faz parte do Crescente Fértil, porque muito fértil em produtos agrícolas, fica circundada por desertos.
Mapa da Antiga Mesopotâmia[1]

2- Divisão da Mesopotâmia

A Mesopotâmia divide-se em duas partes bem distintas: o Norte que equivale à Alta Mesopotâmia que corresponde à Síria e ao Sudeste da actual Turquia e se caracteriza pelas suas montanhas, deserto e zonas agrestes com poucas pastagens; o Sul, ou Baixa Mesopotâmia[2] que corresponde, ao actual Iraque e se caracteriza pela sua forte produção agrícola que é devida aos rios que nascem nas montanhas do Norte, hoje pertencentes à Arménia. Esta região sul, frequentemente também conhecida pelo nome de Caldeia[3] foi a pátria dos Sumérios, Acádios e Babiloneses, sendo hoje conhecida pelo nome de Mossul.  
Alta e Baixa Mesopotâmia[4]

3- A Mesopotâmia a caminho da civilização

3.1- Cultura Kalaat Jarmo

Em Maio de 1948, descobriram-se, a leste de Kirkuk, os vestígios de um estabelecimento sedentário que foram considerados os testemunhos a favor do mais antigo estabelecimento sedentário até hoje conhecido. Trata-se da aldeia conhecida pelo nome de Kalaat Jarmo.

Considerou-se o mais antigo povoamento uma vez que pelos dados do Carbono 14 remontaria aos anos 6750, ou seja, ao VII Milénio a. C. Com efeito, as escavações puseram a descoberto umas “vinte casas de paredes de lama, o que albergariam cerca de 150 pessoas. As escavações puseram a descoberto também algumas sepulturas, vasos de pedra, fragmentos de obsediana, figurinhas de animais e de “deusas-mães” em argila”. É de salientar que os utensílios são líticos e nota-se a ausência de cerâmica como serão encontrados nas Culturas Hassuniana e Halfafiana, próprias ao VI e V. milénios a.C., respectivamente.
Primeiras aldeias mesopotâmicas[5]

Outras descobertas encontradas em Kalaat Jarmo foram numerosas ossadas de cabras, carneiros, bois, porcos e cães o que demonstra a técnica já utilizada da domesticação desses animais. O mesmo se diga da descoberta de grãos de trigo e cevada testemunhos do conhecimento e utilização da agricultura[6].

3.2- Cultura Hassuna

No VI Milénio a.C. desenvolveu-se a Cultura Hassuna, nome que lhe adveio da aldeia assim chamada situada no vale do Tigris, a Sul de Mossul e que se situa a 22 milhas ou seja, 35,200km, ao Sul do Iraque.

Localização aproximada das Culturas Samarra, Hassuna e Halaf[7]

 Esta Cultura conheceu e desenvolveu a arte da cerâmica que era feita à mão, de cor vermelha-escura ou preta, utilizando a argila crua ou cozida que era também utilizada para o fabrico de tijolos, esculturas e material de escritura. Com temas decorativos simples, inspiravam-se em objectos não figurativos. As construções eram feitas de taipa.

Os utensílios encontrados, tais como: foices, machados, raspadeiras, buris, essencialmente feitos de osso ou de pedra demonstram a importância dada à agricultura e à arte de criar animais, tanto para os utilizar na agricultura como na sustentabilidade dos próprios habitantes.

3.3- Cultura de Samarra

 Ao mesmo VI Milénio pertence igualmente a civilização de Samarra, nome que lhe advém do local de mesmo nome que se situa a Norte de Bagdad. Esta civilização foi descoberta em 1912, vindo a ser reencontrada igualmente em Ninive, em Baghuz, no Eufrates médio e, inclusive, nas planícies de Antioquia. Este nome Antioquia vem do grego Αντιόχεια, do nome próprio Αντίοχος. Talvez proceda  de αντι: em lugar de, igual a, em comparação de + οχειον: garanhão) e foi uma cidade antiga erguida na margem esquerda do rio Orontes e corresponde à cidade moderna de Antakya, na Turquia.

As construções utilizam tijolos grandes; a cerâmica é monocromática e o tom varia do vermelho ao violáceo. Os seus motivos, ao contrário dos da cerâmica Hassuniana, são figurativos, amando a esquematização e a abstracção[8].

Antakaia / Antioquia
 
Sob o ponto de vista agrícola a Dupla Mesopotâmia seguia as mesmas características do da Dupla Terra do Nilo. Ela era fecundada pelos seus dois grandes rios, o Tigris e o Eufrates que anualmente, de Março a Junho se enchiam e transbordavam, inundado as planícies, sendo necessário, corrigir os seus cursos com diques e canais de irrigação de modo a que as populações não ficassem submersas por catástrofes diluviana[9].

A cerâmica encontrada em Hassuna caracterizava-se por listras vermelhas sobre um creme argiloso colorido. A louça era decorada com a forma de espinha de arenque. Usavam igualmente carimbos a acompanhar a cerâmica para indicar quer os conteúdos, quer os donos desses mesmos.

Segundo Lloyd, Seton, Fuad Safar, and Robert J. Braidwood[10], foram encontrados também outros objectos de olaria de cor cinzento-queimada que talvez tenham origem fora da região de Hassuna e que ali tenham chegado através do comércio. Também foram encontrados em níveis mais antigos de Hassuna contas ou bolinhas de cordões, pendentes e outras pequenas peças de joalharia.

No que concerne à religião, foram encontrados alguns objectos em Tell Hassuna que nos podem indicar a crença na vida para além da morte terrena. Efectivamente, foi encontrada uma dúzia de jarrões funerários reservados aos restos mortais de crianças e ainda outros que continham comida e bebida que se supunham necessárias para o sustento dessas crianças para além desta vida terrena.

Foi também encontrada uma figurinha de argila, representando a deusa-mãe, o que manifesta claramente a crença na divindade[11].

Vaso de Hassuna[12]
 
Estatuetade Hassuna[13]

O vaso com cinzeladura decorativa[14]

3.4- Cultura Halaf

A Cultura Halaf é apanágio de toda a região que ocupa tanto os vales do grande rio Tigre onde sobressaem as cidades Arpatchiya e Ninive, como os vales do afluente Habur, onde se encontram as povoações de Tell Brak, Chagar Bazar e Tell Halaf, estendendo-se ao longo do Eufrates, onde sobressai Karkemish.


Esta cultura influenciou ainda tanto Rãs Shamra no Mediterrâneo e a Cilícia, no Oeste, como o Sudeste do Iraque e toda a região de Lago Van.

Toda esta zona é representativa de uma civilização que, embora se suponha ter começado por volta do 7º Milénio (a. C atingiu o seu desenvolvimento mais complexo e elevado somente no V Milénio (a. C.)[15] .

A Cultura Halaf passou a ser melhor conhecida a partir das escavações que foram feitas em Arpatchiya, perto de Mossul, onde foram encontrados vários edifícios circulares (conhecidos por tholoi), alguns dos quais se encontravam precedidos de vestíbulos rectangulares.



A palavra Tholos (ou tholoi no plural), em grego θόλος ou θόλοi, tinha a forma circular. Em Atenas era a sede do governo cidade, dita Πόλiς que se chamava Πρυτανεiον, Prytaneion como se poder encontrar na New World Encyclopedia, site: http://www.newworldencyclopedia.org/entry/beehive_tomb.
  
Tholoi

 Corte transversal




Em Portugal, encontramos algo parecido, em Citânia de Briteiros, situada no alto do  Monte de São Romão, na freguesia de Salvador de Briteiros, concelho de Guimarães (a pouco mais ou menos 15 km de distância a Noroeste desta cidade). Ali se encontra uma estância arqueológica cujos edifícios datam da Idade do Ferro. 



Bandeja rasa com desenhos florias  das escavações Arpatchiya, Cultura Halaf, 6000-5700 a.C.  [16].


Parte das escavações em Tell Halaf[17]

Embora se tenha pensado que esses ditos tholoi possam ter sido fortalezas, celeiros, fornos, túmulos ou santuários, desconhece-se, até ao presente, qual tenha sido o seu destino verdadeiro. São, no entanto, uma característica particular da Cultura Halaf. Também não é certo que tenham servido de puras habitações a seres humanos vivos.

A arte do barro apresenta um desenvolvimento bastante aperfeiçoado com temas naturalistas ou abstractos. São de salientar também motivos novos como bucrânicos[18] e duplos machados, continuando o tema da deusa-mãe.

Os materiais utilizados são diversificados: campânulas de argila, sinetes de pedra de tipo diversificada, o que revela um comércio variado; continuação do uso do osso para fabricação de utensílios. A grande novidade desta cultura parece ter sido a invenção de processos para a fundição do cobre e do chumbo[19].

Figurinha da Deusa-Mãe da Cultura Halaf[20]

  4- Mesopotâmia na Bíblia

 Existem algumas passagens na Bíblia, referentes à Mesopotâmia[21]
1- Gênesis 24,10: E, tendo tomado dez camelos do rebanho de seu senhor, partiu, levando as mãos cheias das riquezas de Abraão. E pôs-se a caminho, andando para a Mesopotâmia, para a cidade de Nacor.
2- Deuteronômio 23,4: Nem nunca jamais, porque não quiserem sair ao vosso encontro no caminho com pão e água, quando saísses do Egipto, e também porque assalariaram contra ti Balaão, filho de Beor, de Fetor, na Mesopotâmia, para que te amaldiçoasse.
3- Juízes 3,8: A ira do Senhor inflamou-se contra Israel, e ele entregou-os nas mãos de Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, a quem ficaram sujeitos durante oito anos.
4- Juízes 3,10: O Espírito do Senhor desceu sobre ele: ele julgou Israel e saiu para a guerra. O Senhor entregou-lhe Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, e sua mão triunfou sobre ele.
5- I Crônicas 19,6: Viram os amonitas que se tinham tornado odiosos a David. Então Hanon e os filhos de Amon enviaram mil talentos de prata para assalariar carros e cavaleiros entre os sírios da Mesopotâmia, de Maaca e de Soba.
6- Judite 2,14: Passando o Eufrates pela segunda vez, penetrou na Mesopotâmia e arrasou todas as fortalezas do país, desde a torrente de Caboras até o mar.
7- Judite 3,1: Então os reis e os príncipes de todas as cidades e de todas as províncias, da Síria, da Mesopotâmia, da Síria de Sobal, da Líbia e da Cilícia, enviaram seus delegados a Holofernes para lhe dizerem…
8- Judite 3,14: Ele, atravessando a Síria de Sobal, toda a Apameia e toda a Mesopotâmia, chegou aos idumeus, na terra de Gabaa.
 9- Judite 5,7: habitaram primeiramente na Mesopotâmia, porque recusavam seguir os deuses de seus pais que estavam na Caldeia.
10- Salmos 59,2: quando guerreou contra os sírios da Mesopotâmia e os sírios de Soba e quando Joab, voltando, derrotou doze mil edomitas no vale do Sal. ()
11-Atos dos Apóstolos 7,2: Respondeu ele: Irmãos e pais, escutai. O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, quando estava na Mesopotâmia, antes de ir morar em Harã.




 Referências

[1] http://geografiageralebiblica.blogspot.pt/2010/09/mapa-da-antiga-mesopotamia.html
[3]A Caldeia (do latim Chaldaeus, do grego Χαλδαῖος e do acádio kaldû, tgraduzido em Hebraico por. כשדים Kaśdîm) situava-se no Sul da Mesopotâmia, de modo especial na margem oriental do rio Eufrates. Este termo era muitas vezes usado para significar toda a planície mesopotâmica. A Tribo dos Caldeus parece ter vindo da Arábia, viveu no litoral do Golfo Pérsico e pertenceu ao Império Babilónico.
A Bíblia Hebraica (AT) No  cita frequentemente os Caldeus como tendo sido aqueles que sob o império de Nabucodonosor II destruíram Jerusalém e levaram o povo judeu para o cativeiro de Babilónia onde permaneceram durante 70 anos, até à derrota do império babilónico e a instauração do império persa por Ciro, o Grande (550-331).
[4] http://www.escolar.com/avanzado/historia005.htm
[5] http://www.historia.templodeapolo.net/civ.asp?civ=Civilização%20Suméria#topo (18-07-2012)
[8] Ibidem.
[9] Idem, p. 22
[10] "Tell Hassuna Excavations by the Iraq Government." Journal of Near Eastern Studies 4.4 (Oct. 1945): 255-289
[11] Atlas de Arqueologia, 1994, p.99 e ainda: http://wikimapia.org/1877943/Tel-Hassuna
[12] http://www.rudelle.info/images/divers/cours/proche_orient/hassuna5.jp
[13] ttp://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.iianthropology.org/sitebuilder/images/gradeshnitsa2.1-224x267.png&imgrefurl=http://www.iianthropology.org/hassunaandthebalkans.html&h=267&w=224&sz=134&tbnid=uHyM2vHcuQ99dM:&tbnh=113&tbnw=95&prev=/search%3Fq%3DHassuna%26tbm%3Disch%26tbo%3Du&zoom=1&q=Hassuna&usg=__avjTztSxhICfzlNOIszI5po4jxY=&hl=pt-PT&sa=X&ei=ol7jT_iKIrCW0QXyiNm2Aw&ved=0CB8Q9QEwAw  e g
[14] http://www.zazzle.pt/o_vaso_com_cinzeladura_decorativa_de_diz_hassuna_capas_speck-176157568733985800
 [18] Do grego boukránion, «cabeça de boi», pelo latim bucranĭu-, «idem»). Trata-se de figurações de cabeças descarnadas de bois, que serviam de ornato nas construções gregas e romanas.
[21] http://www.bibliacatolica.com.br/busca/01/1/Mesopotamia#.UEtp0K5l-t8
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