sábado, 15 de setembro de 2012

Capítulo 13: Nome e situação geográfica da Mesopotâmia




Conteúdo

 1- Nome

Mersopotâmia (Μεσοποταμία) é um termo que provém da língua grega por justaposição de μεσο/meso, meio, e ποταμός/potamós, rio, ou seja, "terra entre dois rios", sendo aplicado a uma região de interesse histórico e geográfico, não só bíblico como também profano.

Esta região encontra-se situada no planalto de origem vulcânica que, por sua vez, se encontra na Médio Oriente e se vê circunscrito por dois grandes rios: o Eufrates e Tigris que vão desaguar no Golfo Pérsico. Toda esta região que faz parte do Crescente Fértil, porque muito fértil em produtos agrícolas, fica circundada por desertos.
Mapa da Antiga Mesopotâmia[1]

2- Divisão da Mesopotâmia

A Mesopotâmia divide-se em duas partes bem distintas: o Norte que equivale à Alta Mesopotâmia que corresponde à Síria e ao Sudeste da actual Turquia e se caracteriza pelas suas montanhas, deserto e zonas agrestes com poucas pastagens; o Sul, ou Baixa Mesopotâmia[2] que corresponde, ao actual Iraque e se caracteriza pela sua forte produção agrícola que é devida aos rios que nascem nas montanhas do Norte, hoje pertencentes à Arménia. Esta região sul, frequentemente também conhecida pelo nome de Caldeia[3] foi a pátria dos Sumérios, Acádios e Babiloneses, sendo hoje conhecida pelo nome de Mossul.  
Alta e Baixa Mesopotâmia[4]

3- A Mesopotâmia a caminho da civilização

3.1- Cultura Kalaat Jarmo

Em Maio de 1948, descobriram-se, a leste de Kirkuk, os vestígios de um estabelecimento sedentário que foram considerados os testemunhos a favor do mais antigo estabelecimento sedentário até hoje conhecido. Trata-se da aldeia conhecida pelo nome de Kalaat Jarmo.

Considerou-se o mais antigo povoamento uma vez que pelos dados do Carbono 14 remontaria aos anos 6750, ou seja, ao VII Milénio a. C. Com efeito, as escavações puseram a descoberto umas “vinte casas de paredes de lama, o que albergariam cerca de 150 pessoas. As escavações puseram a descoberto também algumas sepulturas, vasos de pedra, fragmentos de obsediana, figurinhas de animais e de “deusas-mães” em argila”. É de salientar que os utensílios são líticos e nota-se a ausência de cerâmica como serão encontrados nas Culturas Hassuniana e Halfafiana, próprias ao VI e V. milénios a.C., respectivamente.
Primeiras aldeias mesopotâmicas[5]

Outras descobertas encontradas em Kalaat Jarmo foram numerosas ossadas de cabras, carneiros, bois, porcos e cães o que demonstra a técnica já utilizada da domesticação desses animais. O mesmo se diga da descoberta de grãos de trigo e cevada testemunhos do conhecimento e utilização da agricultura[6].

3.2- Cultura Hassuna

No VI Milénio a.C. desenvolveu-se a Cultura Hassuna, nome que lhe adveio da aldeia assim chamada situada no vale do Tigris, a Sul de Mossul e que se situa a 22 milhas ou seja, 35,200km, ao Sul do Iraque.

Localização aproximada das Culturas Samarra, Hassuna e Halaf[7]

 Esta Cultura conheceu e desenvolveu a arte da cerâmica que era feita à mão, de cor vermelha-escura ou preta, utilizando a argila crua ou cozida que era também utilizada para o fabrico de tijolos, esculturas e material de escritura. Com temas decorativos simples, inspiravam-se em objectos não figurativos. As construções eram feitas de taipa.

Os utensílios encontrados, tais como: foices, machados, raspadeiras, buris, essencialmente feitos de osso ou de pedra demonstram a importância dada à agricultura e à arte de criar animais, tanto para os utilizar na agricultura como na sustentabilidade dos próprios habitantes.

3.3- Cultura de Samarra

 Ao mesmo VI Milénio pertence igualmente a civilização de Samarra, nome que lhe advém do local de mesmo nome que se situa a Norte de Bagdad. Esta civilização foi descoberta em 1912, vindo a ser reencontrada igualmente em Ninive, em Baghuz, no Eufrates médio e, inclusive, nas planícies de Antioquia. Este nome Antioquia vem do grego Αντιόχεια, do nome próprio Αντίοχος. Talvez proceda  de αντι: em lugar de, igual a, em comparação de + οχειον: garanhão) e foi uma cidade antiga erguida na margem esquerda do rio Orontes e corresponde à cidade moderna de Antakya, na Turquia.

As construções utilizam tijolos grandes; a cerâmica é monocromática e o tom varia do vermelho ao violáceo. Os seus motivos, ao contrário dos da cerâmica Hassuniana, são figurativos, amando a esquematização e a abstracção[8].

Antakaia / Antioquia
 
Sob o ponto de vista agrícola a Dupla Mesopotâmia seguia as mesmas características do da Dupla Terra do Nilo. Ela era fecundada pelos seus dois grandes rios, o Tigris e o Eufrates que anualmente, de Março a Junho se enchiam e transbordavam, inundado as planícies, sendo necessário, corrigir os seus cursos com diques e canais de irrigação de modo a que as populações não ficassem submersas por catástrofes diluviana[9].

A cerâmica encontrada em Hassuna caracterizava-se por listras vermelhas sobre um creme argiloso colorido. A louça era decorada com a forma de espinha de arenque. Usavam igualmente carimbos a acompanhar a cerâmica para indicar quer os conteúdos, quer os donos desses mesmos.

Segundo Lloyd, Seton, Fuad Safar, and Robert J. Braidwood[10], foram encontrados também outros objectos de olaria de cor cinzento-queimada que talvez tenham origem fora da região de Hassuna e que ali tenham chegado através do comércio. Também foram encontrados em níveis mais antigos de Hassuna contas ou bolinhas de cordões, pendentes e outras pequenas peças de joalharia.

No que concerne à religião, foram encontrados alguns objectos em Tell Hassuna que nos podem indicar a crença na vida para além da morte terrena. Efectivamente, foi encontrada uma dúzia de jarrões funerários reservados aos restos mortais de crianças e ainda outros que continham comida e bebida que se supunham necessárias para o sustento dessas crianças para além desta vida terrena.

Foi também encontrada uma figurinha de argila, representando a deusa-mãe, o que manifesta claramente a crença na divindade[11].

Vaso de Hassuna[12]
 
Estatuetade Hassuna[13]

O vaso com cinzeladura decorativa[14]

3.4- Cultura Halaf

A Cultura Halaf é apanágio de toda a região que ocupa tanto os vales do grande rio Tigre onde sobressaem as cidades Arpatchiya e Ninive, como os vales do afluente Habur, onde se encontram as povoações de Tell Brak, Chagar Bazar e Tell Halaf, estendendo-se ao longo do Eufrates, onde sobressai Karkemish.


Esta cultura influenciou ainda tanto Rãs Shamra no Mediterrâneo e a Cilícia, no Oeste, como o Sudeste do Iraque e toda a região de Lago Van.

Toda esta zona é representativa de uma civilização que, embora se suponha ter começado por volta do 7º Milénio (a. C atingiu o seu desenvolvimento mais complexo e elevado somente no V Milénio (a. C.)[15] .

A Cultura Halaf passou a ser melhor conhecida a partir das escavações que foram feitas em Arpatchiya, perto de Mossul, onde foram encontrados vários edifícios circulares (conhecidos por tholoi), alguns dos quais se encontravam precedidos de vestíbulos rectangulares.



A palavra Tholos (ou tholoi no plural), em grego θόλος ou θόλοi, tinha a forma circular. Em Atenas era a sede do governo cidade, dita Πόλiς que se chamava Πρυτανεiον, Prytaneion como se poder encontrar na New World Encyclopedia, site: http://www.newworldencyclopedia.org/entry/beehive_tomb.
  
Tholoi

 Corte transversal




Em Portugal, encontramos algo parecido, em Citânia de Briteiros, situada no alto do  Monte de São Romão, na freguesia de Salvador de Briteiros, concelho de Guimarães (a pouco mais ou menos 15 km de distância a Noroeste desta cidade). Ali se encontra uma estância arqueológica cujos edifícios datam da Idade do Ferro. 



Bandeja rasa com desenhos florias  das escavações Arpatchiya, Cultura Halaf, 6000-5700 a.C.  [16].


Parte das escavações em Tell Halaf[17]

Embora se tenha pensado que esses ditos tholoi possam ter sido fortalezas, celeiros, fornos, túmulos ou santuários, desconhece-se, até ao presente, qual tenha sido o seu destino verdadeiro. São, no entanto, uma característica particular da Cultura Halaf. Também não é certo que tenham servido de puras habitações a seres humanos vivos.

A arte do barro apresenta um desenvolvimento bastante aperfeiçoado com temas naturalistas ou abstractos. São de salientar também motivos novos como bucrânicos[18] e duplos machados, continuando o tema da deusa-mãe.

Os materiais utilizados são diversificados: campânulas de argila, sinetes de pedra de tipo diversificada, o que revela um comércio variado; continuação do uso do osso para fabricação de utensílios. A grande novidade desta cultura parece ter sido a invenção de processos para a fundição do cobre e do chumbo[19].

Figurinha da Deusa-Mãe da Cultura Halaf[20]

  4- Mesopotâmia na Bíblia

 Existem algumas passagens na Bíblia, referentes à Mesopotâmia[21]
1- Gênesis 24,10: E, tendo tomado dez camelos do rebanho de seu senhor, partiu, levando as mãos cheias das riquezas de Abraão. E pôs-se a caminho, andando para a Mesopotâmia, para a cidade de Nacor.
2- Deuteronômio 23,4: Nem nunca jamais, porque não quiserem sair ao vosso encontro no caminho com pão e água, quando saísses do Egipto, e também porque assalariaram contra ti Balaão, filho de Beor, de Fetor, na Mesopotâmia, para que te amaldiçoasse.
3- Juízes 3,8: A ira do Senhor inflamou-se contra Israel, e ele entregou-os nas mãos de Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, a quem ficaram sujeitos durante oito anos.
4- Juízes 3,10: O Espírito do Senhor desceu sobre ele: ele julgou Israel e saiu para a guerra. O Senhor entregou-lhe Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, e sua mão triunfou sobre ele.
5- I Crônicas 19,6: Viram os amonitas que se tinham tornado odiosos a David. Então Hanon e os filhos de Amon enviaram mil talentos de prata para assalariar carros e cavaleiros entre os sírios da Mesopotâmia, de Maaca e de Soba.
6- Judite 2,14: Passando o Eufrates pela segunda vez, penetrou na Mesopotâmia e arrasou todas as fortalezas do país, desde a torrente de Caboras até o mar.
7- Judite 3,1: Então os reis e os príncipes de todas as cidades e de todas as províncias, da Síria, da Mesopotâmia, da Síria de Sobal, da Líbia e da Cilícia, enviaram seus delegados a Holofernes para lhe dizerem…
8- Judite 3,14: Ele, atravessando a Síria de Sobal, toda a Apameia e toda a Mesopotâmia, chegou aos idumeus, na terra de Gabaa.
 9- Judite 5,7: habitaram primeiramente na Mesopotâmia, porque recusavam seguir os deuses de seus pais que estavam na Caldeia.
10- Salmos 59,2: quando guerreou contra os sírios da Mesopotâmia e os sírios de Soba e quando Joab, voltando, derrotou doze mil edomitas no vale do Sal. ()
11-Atos dos Apóstolos 7,2: Respondeu ele: Irmãos e pais, escutai. O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, quando estava na Mesopotâmia, antes de ir morar em Harã.




 Referências

[1] http://geografiageralebiblica.blogspot.pt/2010/09/mapa-da-antiga-mesopotamia.html
[3]A Caldeia (do latim Chaldaeus, do grego Χαλδαῖος e do acádio kaldû, tgraduzido em Hebraico por. כשדים Kaśdîm) situava-se no Sul da Mesopotâmia, de modo especial na margem oriental do rio Eufrates. Este termo era muitas vezes usado para significar toda a planície mesopotâmica. A Tribo dos Caldeus parece ter vindo da Arábia, viveu no litoral do Golfo Pérsico e pertenceu ao Império Babilónico.
A Bíblia Hebraica (AT) No  cita frequentemente os Caldeus como tendo sido aqueles que sob o império de Nabucodonosor II destruíram Jerusalém e levaram o povo judeu para o cativeiro de Babilónia onde permaneceram durante 70 anos, até à derrota do império babilónico e a instauração do império persa por Ciro, o Grande (550-331).
[4] http://www.escolar.com/avanzado/historia005.htm
[5] http://www.historia.templodeapolo.net/civ.asp?civ=Civilização%20Suméria#topo (18-07-2012)
[8] Ibidem.
[9] Idem, p. 22
[10] "Tell Hassuna Excavations by the Iraq Government." Journal of Near Eastern Studies 4.4 (Oct. 1945): 255-289
[11] Atlas de Arqueologia, 1994, p.99 e ainda: http://wikimapia.org/1877943/Tel-Hassuna
[12] http://www.rudelle.info/images/divers/cours/proche_orient/hassuna5.jp
[13] ttp://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.iianthropology.org/sitebuilder/images/gradeshnitsa2.1-224x267.png&imgrefurl=http://www.iianthropology.org/hassunaandthebalkans.html&h=267&w=224&sz=134&tbnid=uHyM2vHcuQ99dM:&tbnh=113&tbnw=95&prev=/search%3Fq%3DHassuna%26tbm%3Disch%26tbo%3Du&zoom=1&q=Hassuna&usg=__avjTztSxhICfzlNOIszI5po4jxY=&hl=pt-PT&sa=X&ei=ol7jT_iKIrCW0QXyiNm2Aw&ved=0CB8Q9QEwAw  e g
[14] http://www.zazzle.pt/o_vaso_com_cinzeladura_decorativa_de_diz_hassuna_capas_speck-176157568733985800
 [18] Do grego boukránion, «cabeça de boi», pelo latim bucranĭu-, «idem»). Trata-se de figurações de cabeças descarnadas de bois, que serviam de ornato nas construções gregas e romanas.
[21] http://www.bibliacatolica.com.br/busca/01/1/Mesopotamia#.UEtp0K5l-t8
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