terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Capítulo 6: Ateísmo

Conteúdo

1- Definição de ateísmo
2- Fundamento da Negação de Deus e tipos de ateísmo
2.1- Há vários tipos de ateísmo
2.1.1- Ateísmo lógico
2.1.2- Ateísmo semântico
2.1.3- Um ateísmo explícito
2.1.4- Um ateísmo implícito (fraco, passivo ou agnóstico
2.1.5- Ateísmo Militante
2.2- Ateus confessos
2.2.1- Na antiguidade
2.2.2- Na Idade Média
2.2.3- No século XVIII
2.2.4- No século XIX
2.2.5- No século XIX


3- Ateísmo na Bíblia
4- Bibliografia


1- Definição de ateísmo
“Ateísmo” é uma palavra composta que deriva do grego άθεος, àtheos, e é formada, pelo prefixo α– privativo, (sem) e pelo substantivo θεός, «deus», vindo a significar, literalmente, “Sem Deus”. Aparece, por exemplo na Epístola de São Paulo aos Efésios (cap. 2, 11-12)[1], no início do século III, num belíssimo texto que opõe a vivência cristã à vivência pagã e que pode comparar-se ao texto da carta aos Romanos (Rom. cp. 3, vv. 9, 10, 22).
Eis o texto grego da carta aos Efésios, cap. 2,11-12[2]
2:11 Δίο μνημονεύετε ότι υμείς ποτέ τα έθνη εν σάρκα οι λεγόμενοι ακροβυστία υπό της λεγόμενης περιτομής εν σάρκα χειροποίητου 2:12 ότι ηίτε (eíte) εν τω καιρώ εκείνω χωρίς χριστού απαλλοτριωμένοι της πολιτείας του Ισραήλ και ξένοι των διαθηκών της επαγγελίας ελπίδα μη έχοντες και άθεοι ...
2,11: Por isso recordai-vos que vós anteriormente éreis gentios na carne, assim dito pelos incircuncisos (de prepúcio incircuncisos) …2,12: que estáveis nesse tempo sem Cristo, separados da assembleia de Israel e estranhos aos testamentos, sem esperança da promessa, e sem Deus neste mundo.
• εθνη εν σαρκι - "Gentios na carne" — v. 11;
• οι λεγομενοι ακροβυστια υπο της λεγομενης περιτομης - "Chamados de prepúcio cortado em circo” (= circuncisão) — v. 11;
• εν σαρκι χειροποιητου – “Na carne feita à mão”;
• οτι ητε εν τω καιρω – Que em tempos;• ητε εκεινω "Estáveis";
• χωρις χριστου - "sem Cristo" — v. 12;• απηλλοτριωμενοι της πολιτειας του ισραηλ - "Excluídos da Cidade de Israel" — v. 12;• ξενοι των διαθηκων της επαγγελιας ελπιδα - "Estranhos aos concertos da promessa ou testamento" — v. 12;
• μη εχοντες - "Não tendo esperança" — v. 12;• αθεοι εν τω κοσμω - "Sem Deus no mundo" — v. 12.
Em sentido alargado, “Ateísmo” é a rejeição ou ausência da crença em qualquer deus ou seres sobrenaturais. O ateísmo contrasta com o teísmo, que, em sua forma mais geral, acredita na existência, pelo menos, de uma divindade. Num sentido mais restrito, o ateísmo é precisamente a posição de quem nega a existência da divindade, seja ela qual for, e vive como tal[3]. 2- Fundamento da Negação de Deus e tipos de ateísmo
Os ateístas crêem que se admitirmos a existência de Deus teríamos de admitir que a sua existência seria uma “barreira ao exercício da liberdade humana”[4] e tornaria incompreensível a existência do mal. Na verdade, se Deus existe, como se explica a existência do mal, sobretudo aquele que atinge os inocentes e indefesos?
Esta definição, porém, foi-se modificando no decorrer dos tempos e consoante as religiões professadas. Na verdade, na antiga Roma dava-se o nome de “ateus” a todos aqueles que não acreditavam e não aceitavam a adoração prestada aos deuses do Panteão Romano, sendo aplicada especialmente aos Cristãos.
Se para os teístas é fácil explicar a existência do mal, baseando essa realidade no facto da liberdade humana pela qual o homem pode escolher entre o bem e o mal, para os ateístas é completamente incompreensível o facto da existência do mal em crianças que nascem devido a deformações genéticas a que elas são alheias e em pessoas que sofrem violência física e moral de outras pessoas às quais não podem resistir de maneira nenhuma. Segundo os ateístas, pelo menos nestes casos, parece que é mais lógico admitir a não existência de Deus.
Uma outra dificuldade que contrapõem os ateus relaciona-se com a “Omnisciência” e “Omnipotência de Deus”. Será difícil compreender como é que “Deus omnisciente” pode ser, ao mesmo tempo, “todo misericordioso” e como é que poderá ser “omnisciente” sem ter um “corpo físico”.
2.1- Outros tipos de ateísmo
2.1.1- Ateísmo lógico: é aquele que defende que a ideia de Deus é contraditória em si;
2.1.2- Ateísmo semântico: defende que o conceito de Deus é simplesmente vazio, ou seja, não tem qualquer referente que lhe possa corresponder.
2.1.3- Um ateísmo explícito
Neste ateísmo, o homem rejeita consciente e voluntariamente a crença na existência de um deus. Aqui pressupõe-se um conhecimento das crenças teístas, que são deliberadamente rejeitadas. Este ateísmo identifica-se com ateísmo “activo” ou “forte”.
2.1.4- Um ateísmo implícito (fraco, passivo ou agnóstico
É o ateísmo professado por uma pessoa que não acredita em um deus, embora não rejeite nem negue, explicitamente, a verdade do teísmo. Isto é: consiste apenas na “simples descrença” em relação à existência de Deus ou da multiplicidade de divindades[5]. Estaremos, portanto, diante de um ateísmo antropomórfico, cósmico seja, perante o ateísmo de Espinosa, segundo Smith em “Atheism - The Case Against God”[6]. Estaremos, neste caso, portanto, perante um ateísmo “passivo” ou “fraco”.
2.1.5- Ateísmo Militante
O ateísmo na acepção dos números precedentes pode ser englobado no nome genérico de “Ateísmo Teórico” que, normalmente é “tolerante”. Mas esse ateísmo pode tornar-se “militante” quando a sua doutrina “é propagada como sendo um meio de salvação do Género Humano e quando ela combate acerrimamente todas as formas de religião, apresentando-as como uma aberração”[7].
2.2- Ateus confessos[8]
Vários foram os homens de ciência que professaram o ateísmo, tanto na antiguidade, quanto na idade contemporânea.
2.2.1- Na antiguidade
O melhor representante desta época é Lucrécio, poeta e filósofo latino que viveu no século I a.C.. Foi um dos Padres da Igreja do primeiro século, porém, a sua doutrina nem sempre correspondeu ao sentir da Igreja. No seu célebre poema De Natura Rerum (Sobre a Natureza das Coisas)[9] expõe a filosofia de Epicuro de Samos, onde ele defende que o epicurismo poderia desvendar os segredos do universo e proporcionar a felicidade da alma humana, que, segundo ele próprio, era mortal.
2.2.2- Na Idade Média
Na Idade Média (do V ao XV século) houve várias correntes de pensamento contrárias aos teístas, como por exemplo, o cepticismo cuja doutrina defende a impossibilidade de se alcançar o “verdadeiro conhecimento” e o naturalismo, segundo o qual quem governa o mundo são apenas as forças naturais.
2.2.3- No século XVIII
Vários pensadores Iluministas (1700-1789) eram ateus militantes, incluindo o escritor dinamarquês Baron Holbach (1723 – 1789) e o enciclopedista francês Denis Diderot (1713 – 1784).
Literatos ingleses como: os poetas Percy Shelley (1792-1822), Lord Byron (1788 – 1824) e o novelista Thomas Hardy (1840 – 1928).
Filósofos franceses, como Voltaire (François-Marie Arouet (1694 –1778).
2.2.4- No século XIX
A este século pertencem os filósofos alemães : Ludwig Feuerbach (1804– 1872), Karl Marx (1818 –1883), Arthur Schopenhauer (1788–1860) e Friedrich Nietzsche (1844 –1900).
Escritores, como o novelista russo, Ivan Sergeyevich Turgenev (1818 – 1883;
Escritores americanos, como Mark Twain (1835 – 1910) e Upton Sinclair (1878 – 1968):
2.2.5- No século XIX
Do século XX são: o filósofo britânico, Bertrand Russel (1872 – 1970), o psicanalista austríaco, Sigmund Freud (1856 – 1939), o filósofo e escritor francês, Jean-Paul Sartre (1905-1980).
2.2.6- No século XXI
Na China hodierna os militantes do Partido Comunista chinês têm de ser ateus, como se depreende da notícia que foi publicada nos jornais portugueses (Público e Diário de Notícias[10], de 20 de Dezembro de 2011, como aqui retransmitimos:
“Os militantes do Partido Comunista Chinês estão proibidos de seguir qualquer religião, devendo pelo contrário promover o marxismo e o ateísmo[11] proclamou um responsável da organização citado hoje na imprensa oficial.
"Se o Partido levantasse a proibição (de seguir uma religião), como algumas sugerem, isso teria perniciosas consequências", escreveu Zhu Weiqun, vice-ministro do departamento do Comité Central do PCC encarregue dos contactos com sectores exteriores ao Partido (a chamada Frente Unida).
"Os organizações do Partido ficariam altamente enfraquecidas na luta contra o separatismo" se os seus membros se convertessem a uma religião, argumentou o responsável.
Zhu Weiquan referia-se em particular ao Tibete e a Xinjiang, duas regiões maioritariamente habitadas por etnias de religião budista ou muçulmana, e onde "as forças hostis, internas e externas, fazem tudo o que podem para usar a religião para atividades separatistas".
"Não é por acaso que as organizações do Partido em Xinjiang e no Tibete, onde a luta anti-secessão é mais aguda, advoguem tão nitidamente que os seus membros não devem acreditar em nenhuma religião", acrescentou.
A liberdade de religião está consagrada na Constituição chinesa, mas os membros do PCC - mais de 80 milhões - têm de seguir "a visão marxista do mundo" e "não podem participar em actividades religiosas", realçou Zhu Weiqun, num artigo publicado no quinzenário Procurar a Verdade, o nome da revista teórica do Comité Central do PCC”.
No entanto, a Constituição da República Popular da China, de 4 de Dezembro de 1982 garante a liberdade religiosa aos seus cidadãos, como se lê no seu Artigo 36º:
Artigo 36.º da Cosntituição da República Chinesa de 1982
"Os cidadãos da República Popular da China gozam de liberdade de crença religiosa.
Nenhum órgão do Estado, organização pública ou indivíduo pode obrigar os cidadãos a acreditar ou a não acreditar em qualquer religião; nem pode exercer discriminação contra cidadãos por estes pertencerem ou não a qualquer religião.
O Estado protege as actividades religiosas normais. Ninguém pode servir-se da religião para se dedicar a actividades que alterem a ordem pública, ponham em perigo a saúde do cidadão ou interfiram no sistema educativo do Estado.
As instituições religiosas e os assuntos religiosos não estão subordinados a qualquer domínio estrangeiro”. (cf. http://bo.io.gov.mo/bo/i/1999/constituicao/index.asp)[12].
3- Ateísmo na Bíblia
A Bíblia[13 refere-se também ao Ateísmo, advertindo claramente em, pelo menos seis passagens bíblicas, que admiti-lo equivale a demonstrar uma incongruência.

1º Texto: Salmo 10, 4:
“Diz o ímpio na arrogância do seu espírito: “Não castigará; Deus não existe” (Soares, 1964, p. 612).
2º Texto: Salmo 13,1:
“O insensato diz no seu coração: “Não há Deus”. Os homens corromperam-se, praticaram acções abomináveis; não há quem faça o bem” (Idem, p. 614).
3 º Texto: Salmo 18, 1-6:
“Os céus anunciam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos…” (Idem, p. 617).
4º Texto: Salmo 53,1-2:
“Diz o néscio no seu coração: “Não há Deus”. Perverteram-se os homens, cometeram acções abomináveis; não há quem faça o bem (Idem, p. 636).
5º Texto: Romanos 1,19-28:
“Com efeito a ira de Deus manifesta-se do céu contra toda a impiedade e injustiça daqueles homens que retêm na injustiça a vontade de Deus; porque o que se pode conhecer de Deus, lhes é manifesto, porque Deus lho manifestou…” (Idem, p. 1355).
6º Texto: Efésios 2,12:
“… estáveis nesse tempo sem Cristo, separados da sociedade de Israel, e estranhos aos testamentos, sem esperança da promessa, e sem Deus neste mundo…” (Idem, pp. 1408-1409).

Leitura aconselhada
“Ateísmo, consequência natural do Evolucionismo” Por Fabio Vanini. In Evolucionismo – [Online] [Consult 13-12-2011] Disponível em: http://www.respostacatolica.com.br/index.php?pag=42.




Notas
[1] Possivelmente escrita nos inícios do século III.
[2] Nestlé-Aland,1963, p.492
[3] Rowe, William L. (1998). "Atheism". Routledge Encyclopedia of Philosophy. Ed. Edward Craig. Taylor & Francis.. Consultado em 2011-01-26.
[4] [Online] [Consult 10-12-2011] Disponível em: http://www.infopedia.pt/$ateismo.
[5] [Online] [Consult 10-12-2011] Disponível em: http://ateus.net/artigos/ateismo/ateismo/.
[6] [Online] [Consult 12-12-2011] Disponível em: http://www.mphp.org/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=30 (Filipe Mogan).
[7] Rahner, K., 1968, p. 116.
[8] [Online] [Consult 10-12-2011] Disponível em: http://ateus.net/artigos/ateismo/ateismo/
[9] Esta obra foi traduzida para português pelo latinista, filósofo, ensaísta e escritor e professora da Universidade de Lisboa Agostinho da Silva (George Agostinho Baptista da Silva) e foi publicada no volume V da colecção Os Pensadores da editora Abril Cultural.\
[19][Online] [Consult 20-12-2011] Disponível em: http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?%20content_id=2196667&seccao=%C1sia.
[11] Nota do autor: Desta máxima marxista-comunista surgiu a doutrina católica, segundo a qual “um verdadeiro católico” não poderá seguir a doutrina marxista nem comunista. Na verdade, na base do marxismo e do comunismo está o ateísmo que contradiz qualquer religião.
[12] Uma coisa, no entanto, é a teoria e outra é a prática. Uma coisa é para consumo interno, outra é para exportação.
[13] Soares, 1964, Bíblia Sagrada. São Paulo: Edições Paulistas

4- Bibliografia
Arvon, Henri (1974). O Ateísmo. Europa-América.
Baggini, Julian (2003). Atheism: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press.
Cancian, André Dispore (2005). Ateísmo e Liberdade. São José do Rio Preto: Edição 5.
Eurostat poll on the social and religious beliefs of Europeans (PDF). Disponível em Eurostat poll.
Gabriel, João (2006). "ASBER, organização de ateus que buscam justiça democrática". Rio de Janeiro (Colecção Religiões: Seus Prós e Contras).
Lagrange, Frédéric, A. (1925). History of Materialism and Criticism of Its Present Importance, with an introduction by B. Russell (3rd ed.).
Nestlé-Aland (1963/1969). Novum Testamentum Graece et Latine. London: United Bible Societies.
Rahner, Karl (1968). “Atheism”. In Karl Rahner editor, in Sacramentum Mundi, Vol. 1, pp. 116-122. Burns & Oates.
Rideau, Émile. (1953). Paganisme ou Christianisme. Études sur l’athéisme moderne. Casterman.
Rossi, Mario Manlio. (1942). Alle Fonti del deismo e del materialismo moderno. Firenza: Nuova Italia.
Soares, Matos (1964). Bíblia Sagrada. São Paulo: Edições Paulinas.
Smith George H. (1979). Atheism: The Case against God. [S.l.]: Buffalo, New York: Prometheus. Souza, Draiton Gonzaga de (1994). O ateísmo antropológico de Ludwig Feuerbach. Porto Alegre: EDIPUCRS.
The Cambridge Companion to Atheism (2007). Cambridge: Cambridge University Press.
Thorower, James (1982). Breve história do ateísmo ocidental. São Paulo: Edições 70. (Colecção Saber da Filosofia).
Zdybiska, Zifia, J. (2005). Universal Encyclopedia of Philosophy: Polish Thomas Aquinas Association, vol. 1.

sábado, 5 de novembro de 2011

Capítulo 5: Separação dos Cristãos do Oriente dos do Ocidente

Preâmbulo
1- Os Judaizantes (séc. I)
2- Simão Mago (séc. I)
3- Os Nicolaítas (no final do séc. I)
4- Gnosticismo (séculos I e II)
5- Monarquismo (ou Monarquianismo à maneira brasileira)? (Começado por volta do ano 170)
· O Adopcionismo
· O Modalismo
6- Os Montanistas (séc. II - cerca do ano 172
7- O Ebionismo (séc. II)
8- O Maniqueísmo
9- O Milenarismo ou Quiliasmo
10- A caminho da cisão definitiva
· 1º- O amanhecer da cisão - o Arianismo
· 2ª Cisão – o Macedonianismo
· 3ª Cisão – o Nestorianismo
· 4ª Cisão – o Monofisismo
· 5ª Cisão – o Monotelismo
· 6ª Cisão – os Iconoclastas
· 7ª Cisão – o Grande Cisma Cristão
5- Divisões na Igreja Romana
11- Bibliografia






Preâmbulo
Pergunta-se, por vezes quando é que se deu a separação entre as Igrejas Orientais e a Igreja Católica. Pois bem, se a separação definitiva teve lugar em 1054 (séc. XI), ficando a ser conhecido pelo nome de “Grande Cisma”, os seus começos remontam a tempos muito anteriores.
Talvez não esteja demasiado desajustada a afirmação de que a separação entre Cristãos do Oriente e Cristãos do Ocidente tenha começado verdadeiramente no século IV, por três razões que passo a apontar:
1ª Basear-se no aparecimento de heresias que foram condenadas em Concílios Ecuménicos[1], ou seja, em Concílios nos quais tomaram parte Bispos de Roma e do Patriarcado de Constantinopla;
2ª Motivar a consolidação de uma nova igreja de cariz cristão que se separou, passando a organizar-se e a promover-se separadamente das Igrejas de Roma e de Constantinopla;
3ª Basear-se na efectiva divisão do Império de Constantino em dois impérios: o do Oriente e o do Ocidente que ocorreu em 395, durante o governo do Imperador Teodósio, ficando Bizâncio (com o novo nome de Constantinopla) capital do império do Oriente e Roma como Capital do Império do Ocidente.
Antes de tratar o tema da separação entre Cristãos Orientais e Cristãos Ocidentais convém recordar que, ainda antes da separação definitiva, iniciada no século IV, já tinham existido outras muitas heresias, atribuídas a líderes que fundaram e dirigiram grupos de cristãos que vieram a causar dissidências no seio do Cristianismo Prmitivo, mas que, nem por isso, as considero causadoras de verdadeiros cismas entre esses dois principais blocos cristãos (Oriente e Ocidente), mas tão somente divisões dentro do Cristianismo dos três primeiros séculos. São elas as seguintes:
1- Os Judaizantes (séc. I)
Trata-se de uma corrente, originada entre os primeiros discípulos de Cristo. Como era sabido, os cristãos de Jerusalém, cujo chefe era o Apóstolo Tiago, opinavam que os convertidos por Paulo em Antioquia e Ásia Menor deveriam ser obrigados a circuncidarem-se e a sujeitarem-se aos preceitos mosaicos. Os Cristãos de Jerusalém quiseram exigir de Tiago que tais obrigações fossem impostas a esses e a todos os convertidos vindos do paganismo. Contra estas exigências, apadrinhadas pelo próprio Pedro, insurgiu-se Paulo. Reuniram-se os Apóstolos em Jerusalém, entre os anos 49-50 e aí ficou determinado aquilo que Tiago expôs numa Carta Apostólica a qual foi enviada aos Cristãos da Síria e da Cilícia pelos seus enviados, Barnabé e Paulo, com os quais seguiram também Judas e Silas tendo estes a incumbência de a comunicarem de viva voz:

Os apóstolos e os anciãos, vossos irmãos, aos irmãos dentre os gentios que moram em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saudações! Tendo sabido que alguns dos nossos, sem mandato de nossa parte, saindo até vós, perturbaram-vos, transtornando vossas almas com suas palavras, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, escolher alguns representantes e enviá-los a vós junto com nossos dilectos Barnabé e Paulo, homens que expuseram suas vidas pelo nome de nosso Senhor, Jesus Cristo. Nós vos enviamos, pois, Judas e Silas, os quais vos transmitirão, de viva voz, esta mesma mensagem. De fato, pareceu bem ao Espírito Santo, e a nós, não vos impor nenhum outro peso além destas coisas necessárias: que vos abstenhais das carnes imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas, e das uniões ilegítimas. Fareis bem preservando-vos destas coisas. Passai bem. (Act., 15, 23:29, cf. Soares, 1964, p. 1333).
2- Simão Mago (séc. I)
Um Mago da Samaria (possivelmente o iniciador do Gnosticismo cristão) e referido nos Actos dos Apóstolos (cap. 8, 9-24). Para os Gnósticos, o mago da Samaria era um "rival" de Cristo e fundou uma seita que se proclamava representante da Gnose, juntamente com a sua companheira Helena, uma ex-prostituta, que, segundo o mago, era a encarnação de Sophia e de Helena (Ἑλένη) de Tróia[2].
3- Os Nicolaítas (no final do séc. I).
O seu nome significa "vitória sobre o povo" ou "os que dominam o povo". Deixavam-se levar por uma liberdade exagerada e, movidos pelo instinto carnal de DOMÍNIO, pela soberba e pela torpe ganância de posição e riquezas, acabavam por degenerar nos excessos da carne;
4- Gnosticismo (séculos I e II)
“Era formado por diferentes agrupamentos sincréticos, os quais resultavam da união de diversas ideias helenísticas e orientais, com ideias cristãs” (Llorca, 1960, Vol. I, p. 69): Da Filosofia grega tiraram o Mundo das Ideias Platónicas; do neopitagorismo e neoplatonismo provieram princípios ascéticos, ou seja: uma espécie de mística exagerada, ou panteísmo; outras ideias vieram das religiões orientais, como do Egipto, Pérsia e Caldeia; ideias cosmogónicas dos Persas e dos Hindus; finalmente vários princípios cristãos, sobretudo a ideia de Redenção (Llorca, Ibidem). Portanto, é um conjunto de doutrinas que pretende alcançar a redenção através de um conhecimento de Deus, do universo e da finalidade da vida humana. Tal conhecimento, contudo, passa eminentemente pela via da revelação mística e extática, antes de possuir carácter.
5- Monarquismo (ou Monarquianismo)? (Começado por volta do ano 170)
Embora admitisse a divindade de Cristo e a unidade da divindade, errava quanto ao modo de unir estes dogmas. Partia do fundamento da unicidade de Deus: Monarquiam tenemus. Como, por outro lado, admitia a divindade de Cristo e não concebia a unidade de Deus com a distinção de pessoas, afirmava que Cristo não era senão o mesmo que o Pai, mas sim com uma forma ou modalidade especial e diferente. Portanto o Pai, com modalidade de Filho, foi quem sofreu no Calvário: modalistas (de modalidade) (ou Modistas, de Modos. O Monarquismo por si mesmo não constitui um sistema teológico fechado, pois que se dividiu em duas correntes ou modelos diferentes e contraditórios, como:
· O Adopcionismo
que, por defender que Deus é superior a tudo e indivisível, o Filho não poderia, de maneira nenhuma, ser coeterno com o Pai. O máximo que poderia ter acontecido seria a sua adopção por parte de Deus-Pai para que, com ele, pudesse alcançar os seus planos relativos à salvação dos homens. Quanto ao momento desta adopção os próprios adopcionistas, entre os quais esteve Teodósio de Bizâncio, não concordam, pois segundo uns teria sido no momento do seu baptismo e segundo outros teria sido no momento da sua Ascensão aos céus. Esta heresia viria a ser renovada, em meados do séc. III, por Paulo de Samosata, segundo o qual “Cristo era um simples homem, em que habitava o Logos impessoal, virtude de Deus, duma maneira mais especial que nos Profetas. Cristo, portanto, sofreu segundo a sua natureza, mas por virtude desta força, operou milagres. Portanto, Jesus Cristo não foi senão um puro homem” (Llorca, Idem, p. 79).
· O Modalismo

Este pode confundir-se ou identificar-se com o Sabelianismo. Considera que Deus seja uma única pessoa, mas que se manifesta em três modos ou modalidades diferentes: como Pai, como Filho e como Espírito Santo. Esta vertente do Monarquismo, identifica-se ou toma o nome também de Sabelianismo por ter sido proposto, defendido e propagado, em Roma, por Sabélio, embora seja oriundo possivelmente da Líbia ou do Egipto. No ano 220 a sua doutrina foi condenada e ele excomungado pelo Papa Calixto, passando a ser alcunhados de Patripassionistas, visto que se não existissem a segunda e a terceira pessoas na Trindade, quem sofreu a Paixão e a morte na Cruz, teria sido o Pai, o que vai contra a doutrina da Trindade e da União Hipostática que é indissolúvel e que é a característica principal desta mesma Trindade, “Inseparabiliter, axoristo” como foi definida, de fé, e se encontra exarada no Símbolo do Concílio de Calcedónia, na Secção V, realizada a 22 de Outubro do ano 451: (Denz. 148 ou 302; cf. 283)[3].
6- Os Montanistas (séc. II - cerca do ano 172
Montano começa a pregar a sua heresia). Declarava-se possuído pelo Espírito Santo e, por isso, profetizava. Segundo as suas profecias iniciava-se, com a sua chegada, uma nova revelação, revelação esta que lhe era revelada a si próprio. A 1ª era cristã terminaria brevemente. Montano apresentava-se como se fosse o Espírito Paráclito. Pretendia provar tudo isto com os seus êxtases e inspiração imediata do céu e com o seu rigor de costumes, que afirmava estarem baseados na doutrina primitiva da Igreja. Ensinava, ainda, que a direcção das igrejas pertencia apenas ao Espírito Santo, pelo que se opunha à gerência dos bispos. As igrejas deveriam deixar-se guiar pela acção do Espírito Santo e não ser governadas pelos bispos. Essas igrejas, guiadas pelos bispos, separaram-se da verdadeira Igreja, a partir da data em que Igreja que vigorava na altura de Montano se aliou ao imperador romano, Constantino (século IV – 313 Edito de Milão). Embora existissem alguns seguidores nos século IV, atestado por Epifânio (Adversus Haereses 49,1,2-4) ao referir o episódio dos seus sequazes estarem reunidos numa igreja à espera da inauguração da nova fase da revelação divina, além da neotestamentária e ainda por Eusébio, Bispo de Cesareia, na sua obra Historia Ecclesiastica (V, 14-16), referindo-se a essa heresia como Heresia Frígia.
7- O Ebionismo (séc. II)
Esta heresia negava a divindade de Jesus Cristo e, embora aceitasse o Antigo Testamento, rejeitava o Novo, substituindo-o pelo “Evangelho dos Ebionitas”. O termo deriva do vocábulo hebraico do אביונים, Evyonim (ou Ebionim), "pobres". Esta heresia originou uma nova igreja no Cristianismo Primitivo, segundo a qual os cristãos e gentios, assim como os judeus deveriam seguir os mandamentos da Torah e não os ensinamentos de Jesus e de Paulo. Na verdade, os mandamentos daquela foram substituídos pelos mandamentos da Nova Aliança, segundo a doutrina de Cristo e de Paulo.
8- O Maniqueísmo
Doutrina do persa Mani ou Manes (séc. III), (prolongamento do Gnosticismo) que fundou um movimento baseado numa fusão do dualismo persa com algumas ideias budistas e uma boa parte de princípios Cristãos. Os princípios básicos da sua doutrina eram: Oposição eterna entre os dois princípios: a Luz e as Trevas; o Bem e o Mal, ou seja, entre Ormuzd e Ahariman. O primeiro é rodeado pelos elementos puros, luz, fogo, agia[4] e terra; o segundo (Ahariman) é rodeado por trevas, barro, vento, fogo e fumo. Tão sedutora s apresentava esta doutrina que o próprio Santo Agostinho, nos seus inícios, se deixou influenciar por ela, mas, depois, de bem estudada, terminaria por vir a combatê-la.
9- O Milenarismo ou Quiliasmo
Este nome vem de Xília etei – mil anos. Entre os primeiros Cristãos, o Milenarismo difundiu-se pela Ásia Menor, Egipto, a partir do século III. Consistia esta doutrina na esperança de que, no fim do mundo, Cristo, depois de vencer o Anticristo, aparecerá corporalmente e instaurará na terra um reinado de mil anos com todos os justos ressuscitados. Depois destes mil anos de triunfo, dar-se-á a ressurreição. Esta doutrina baseava-se no capítulo 20, versículo 1-10 do Livro do Apocalipse de São João, onde se diz que antes da ressurreição dos mortos haverá um reinado de Cristo com os seus eleitos durante mil anos: “Os outros mortos não tornarão à vida até se completarem os mil anos” (v. 5).
10- A caminho da cisão definitiva
· 1º- O amanhecer da cisão definitiva - o Arianismo
O amanhecer da separação entre ocidentais orientais, ocorreu em 325 (séc. IV). Ário, sacerdote líbio, radicado em Alexandria negava que Jesus tivesse a mesma natureza que Deus Pai. A sua pessoa, doutrina e seus seguidores foram condenados no Concílio de Niceia (o Primeiro Concílio Ecuménico), saindo dessa condenação o Arianismo, o Igreja Ariana que se propagou por várias regiões, chegando, inclusive, à Península Ibérica com os Visigodos.
· 2ª Cisão – o Macedonianismo
A 1ª Cisão: foi originada em 381 (séc. IV) pela doutrina de Macedónio I, Arcebispo e Patriarca de Constantinopla o qual defendia e ensinava que o Espírito Santo era apenas uma criatura de Deus, praticamente como os anjos. Foi condenado no Segundo Concílio Ecuménico realizado na mesma cidade de Constantinopla na cidade. Desta condenação surgiu uma nova Igreja chamada Macedoniana ou Macedonianismo a que correspondem os Macedonianos (Os seus adeptos ou seguidores), defendendo que nós não herdámos o pecado de Adão, mas nos tornamos pecadores pela solidariedade que, ao nascermos, formamos com ao comunidade pecadora e contra os quais combateu Santo Agostinho, propondo uma doutrina contrária.
Entre os anos 379-392, o imperador Teodósio I (379-395) procedeu a uma remodelação intensa no que respeita à implantação do Cristianismo, promovendo a sua doutrina “contra o Arianismo muito pujante, então, e contra outras heresias”. Em 381 publicou uma lei que dizia ser de sua vontade “que todos os súbditos abraçassem a fé Católica, pregada por S. Pedro e defendida pelo bispo Dâmaso em Roma”, vindo a terminar esta vontade com o Concílio de Constantinopla a que já nos referimos contra o Arianismo. Em 383 publicou nova lei pela qual se retirava “aos apóstatas cristãos o direito de fazer testamento e se lhes proibia toda a espécie de sacrifícios”. Em 386 mandou encerrar todos os templos pagãos e em 1m 392 o culto pagão é considerado crime de lesa-majestade pelo que todo o adorador será punido por isso (Llorca, 1960, Vol. I, pp. 121-122).
Em 402, começam as primeiras invasões dos Visigodos, Suevos, Vândalos e Alanos. Os Vândalos (de igreja Ariana), foram os primeiros a tentar invadir o Império Romano, sendo comandados por Alarico, mas foram vencidos em Verona, pelo general Estilicão que, embora vândalo de origem, se encontrava ao serviço do Imperador Honório. Mais tarde, Wália, sucessor de Alarico viria a instalar-se e a fundar o Reino Visigótico em Espanha, introduzindo, aqui, o Arianismo que viria a difundir-se por toda a Península Ibérica, “apesar de nela predominarem as igrejas ortodoxas” (Llorca, idem, p. 132).
· 3ª Cisão – o Nestorianismo
A 2ª Cisão teve lugar no ano 431 (séc. V), sendo a razão desta a doutrina de Nestório que negava que a Virgem Maria, mãe de Jesus pudesse ser chamada “Mãe de Deus (Θεοτόκος, Theotokos – Theos, “Deus” + tokos “portadora”. Ela só poderia ser “Mãe de Cristo” (Chistotokos) - Χριστός (Khristós) que significa "Ungido". Realizou-se o Terceiro Concílio Ecuménico realizado em Éfeso condenou essas doutrina e definiu que Maria era “Mãe de Deus”. Daqui surgiu um novo cisma e uma nova Igreja dissidente se estabeleceu, chamada Igreja Nestoriana. A fórmula utilizada no Concílio em forma de anátema foi a seguinte:

Si quis non confitetur, Deum esse secundum veritatem Emmanuel et propter hoc Dei genitricem sanctam Virginem (genuit enim carnaliter carnem factum qui est ex Deo Verebum), anathema sit, sendo a fórmula grega a seguinte: kaì dia touto theotókon tèn ‘agían parthénon… (cf. Dez., 1965, nº 252 =113, p. 93).
O Nestorianismo chegou à China, como se depreende de uma inscrição (parte em chinês, parte em siríaco) que foi erigida no ano 781 e na qual se relata o progresso do cristianismo nestoriano ali introduzido, segundo consta, pelo monge A-lo-pên, vindo de Ta-chin que provavelmente se deve referir à Síria já no século VI.

O Nestorianismo chegou à China, como se depreende de uma inscrição (parte em chinês, parte em siríaco) que foi erigida no ano 781 e relata a progressão do cristianismo nestoriano e que, segundo consta, foi introduzido pelo monge A-lo-pên, vindo de Ta-chin que, provavelmente, se deve referir à Síria, já no século VI[5].
· 4ª Cisão – o Monofisismo
A 3ª Cisão deu-se em 451 (séc. V). Neste ano reuniu-se, na cidade de Calcedónia, o quarto concílio ecuménico para condenar a doutrina de Eutiques, superior de um Convento próximo de Constantinopla que ensinava existir em Cristo apenas uma natureza, a divina, e que Jesus, portanto, não era uma pessoa humana e não possuía uma alma como os outros homens. Pelo facto de defender, em Jesus, um única natureza (Mono + physis) veio a chamar-se a essa heresia Monofisismo e aos seus seguidores Monofisitas, donde a Igreja Monofisita. Esta mesma heresia viria a ser novamente condenada no 5º Consílio Ecuménico, no ano de 553 (séc. VI).
No período que vai do ano 622 (ano em que Maomé saiu de Meca (Hégira) até ao ano 711, ano em que o Muçulmanos entraram na Península Ibérica (comandados por Alkaman) esta nova religião passou a ser a maior concorrente e inimiga do Cristianismo, tanto no Ocidente, como no Oriente. Porém, os exércitos maometanos, sofreram a primeira derrota em 718 que lhes foi infligida pelas tropas cristãs, em Covalonga, sob o comando de Pelaio. De seguida dirigiram-se às Gálias, sendo, de novo, derrotados em Poitiers, por Carlos Martel, em 732. Daí em diante, o Cristianismo teve sempre de se preocupar com o seu avanço, pois vieram rapidamente a conquistar a Arábia, várias províncias do império bizantino, assim como os patriarcados de Jerusalém, de Antioquia e de Alexandria, e, bem assim todo o norte de África (Llorca 1960, Vol. I, pp. 143-144).
· 5ª Cisão – o Monotelismo
A 4ª Cisão foi levada a cabo pelo Monotelismo. Esta heresia foi condenada no 6º Concílio Ecuménico que se realizou anos de 680-681 em Constantinopla. Monotelismo ("monos" = uma, "thelema" = vontade uma só vontade) foi ensinado e defendido pelo Patriarca Sérgio de Constantinopla e acolitado pelo Imperador do Oriente, Heráclio. Desta condenação surgiu a Igreja Monotelita.

· 6ª Cisão – os Iconoclastas
A 5ª Cisão ocorreu em 787 (séc. VIII) devido à heresia dos “Iconoclastas” (ou “destruidores das imagens”), que, entre os anos 754-843 proibiam o culto das imagens (Ícones), martirizaram quem não acatasse tal proibição e, por conseguinte, defendiam e praticavam a destruição das imagens sacras. Veio a ser reintroduzido após a condenação dessa heresia no 7º concílio ecuménico, realizado em Niceia no ano de 787, no qual se legitimou o uso e veneração das imagens dos Santos. Esta decisão conciliar ficou sendo conhecida nas Igrejas Ortodoxas como o “Dia da Ortodoxia” ou “Dia da Vitória”. Surgiu, no entanto, uma nova igreja, chamada “Igreja Iconoclasta”.

· 7ª Cisão – o Grande Cisma Cristão
A 7ª ou derradeira cisão ficou a ser conhecida pelo nome de "Grande Cisma Cristão”. Teve lugar em 1054 (séc. XI) e teve origem em diversos factores: culturais, políticos, doutrinários, eclesiásticos.
Não houve propriamente um Concílio Ecuménico, mas, pelo contrário, um malfadado encontro entre representantes do Papa Romano, Leão IX e o Patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário e seus acompanhantes.
Efectivamente, em 1054, o Papa Leão IX[6] fez-se representar pelo seu Legado, o Cardeal Humberto de Moyenmoutier. Este de espírito intempestivo, dia 16 de Julho de 1054, colocou em cima do altar da Hagia Sofia uma Bula com a qual excomungava o Patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, por este não se sujeitar à vontade do Papa Romano.
Do lado do Ocidente estavam os interesses dos imperadores Carolíngios que coincidiam com as pretensões teocráticas do papado romano (Cesaro-papismo); do outro lado estavam em jogo o brio do Oriente, a pátria dos grandes “Padres do Deserto” ou dos primeiros monges do Cristianismo; dos primeiros 7 primeiros e grandes Concílios ecuménicos (Niceia, em 325; Constantinopla, em 381; Éfeso, em 431; Calcedónia, em 451; Constantinopla II, em 553; III Constantinopla, em 680 e o II de Niceia, em 787) nos quais se solidificou a doutrina da Igreja Universal.
A igreja de Roma não contente com a possessão das tumbas de Pedro e Paulo, reclama a obediência de Constantinopla. Duas concepções de Igreja se defrontavam: em Roma a concepção piramidal, enquanto em Constantinopla vigorava a concepção colegial do poder episcopal. Duas concepções que vigorarão até ao século XX: o sistema católico romano e o sistema Ortodoxo do Oriente.
Curiosamente, nesta e noutras questões Roma estava em pé de desigualdade e de inferioridade, uma vez que as questões eram debatidas entre os principais do Oriente, enquanto Roma era apenas representado por Legados Pontifícios.
Assim em 1054, Leão IX fez-se representar pelo seu Legado, o Cardeal Humberto de Moyenmoutier. Este de espírito intempestivo, dia 16 de Julho de 1054, colocou em cima do altar da Hagia Sofia uma Bula com a qual excomungava o Patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, por este não se sujeitar à vontade do papa. Miguel Cerulário, por sua vez, convocou rapidamente um concílio constituído por vinte bispos e responderam com excomunhão semelhante atingindo com esta o papa de Roma. Assim se consumou o cisma entre Oriente e Ocidente, cisma que perdura ainda hoje, embora se tenham mostrado atitudes mais compreensivas ultimamente (Tincq, 2010, p. 102-103).
A partir daí, a Igreja de Constantinopla ficou a chamar-se “Igreja Ortodoxa”, nome que lhe adveio do grego "orthos" = recto, correcto e "doxa" = louvor, significando com ele “Igreja que presta a Deus o correcto louvor”. Por seu lado, a Igreja de Roma ficou com o nome de “Igreja Católica” do grego καθολικός (katholikos), no sentido de "universal" ou "geral"), dependendo da única autoridade do Papa Romano.
5- Divisões na Igreja Romana
A Igreja Romana viria a sofrer nova divisão no século XVI, com os Reformadores que constituiriam, pelo menos as seguintes Igrejas: Luterana, Calvinista, Wicclefista, Anglicana que, por sua vez se iriam subdividir em muitas outras, por exemplo:



1519 e + : Igreja Luterana (1ª) (Alemanha), seguida da Igreja Calvinista (Suiça) separam-se da Igreja Católica[7].
1534: Igreja da Inglaterra (2ª) separa-se da Igreja Católica;
1581: Igreja Congregacional separa-se da Igreja da Inglaterra (a)
1559 A Igreja Presbiteriana (3ª) separa-se da Igreja Católica;
1608 Igreja Baptista separa-se da Igreja Congregacional (i)
1650 a Sociedade dos Amigos separa-se da Igreja Congregacional (ii);
1784: A Igreja Metodista separa-se da Igreja da Inglaterra (b);
1820: A Igreja Exclusiva dos Irmãos e a Igreja dos Irmãos separam-se da Igreja da Inglaterra (c)
1865: A Salvation Army separa-se da Igreja Metodista;
1900: A Igreja Pentecostal e a Igreja Carismática Independente separam-se da Igreja Metodista;
1972 A U.R.C. (United Reformed Church) nasce das Igrejas Presbiteriana e Congregacional
Por outras palavras:
1- Da Igreja Católica separaram-se:
A Igreja Luterana[8], em 1519;
A Igreja Calvinista, depois de 1519;
A Igreja da Inglaterra, em 1534;
A Igreja Presbietriana, em 1559;
2- Da Igreja da Inglaterra separaram-se:
A Igreja Congregacional, em 1581;
A Igreja Metodista, em, em 1784;
A Igreja Exclusiva dos Irmãos e a Igreja dos Irmãos, em 1820;
3- Da Igreja Congregacional separaram-se:
A Igreja Baptista, em 1608;
A Igreja da Sociedade dos Amigos, em 1650;
4- Da Igreja Metodista separaram-se:
A Igreja “Salvation Army”, em 1865;
A Igreja Pentecostal e a Igreja Carismática Independente, em 1900;
5- Das Igrejas Presbiteriana e Congregacional nasce a U.R.C, em 1972.
NOTAS
[1] O vocábulo Ecuménico procede da palavra grega "οἰκουμένη", que se aplicou primeiramente ao Império Romano e, em seguida, a todo o mundo habitado. No Mundo Cristão e por analogia foi aplicado às Reuniões dos Bispos pertencentes às Igrejas do Império do Oriente e do Império do Ocidente cuja finalidade era a de dirimir questões cristológicas, ou seja, para averiguar e condenar certas heresias que discordavam da doutrina, dita “ortodoxa” (correcta) da Igreja Universal de Cristo, denominada Cristianismo. Até ao século XI, altura da separação definitiva das Igrejas de Constantinopla e de Roma realizaram-se sete Concílios Ecuménicos.
[2] Esta Helena foi aquela bela mulher de Menelau, irmão de Agameon, filhos de Atreu, rei de Micenas que, depois de casada e ter uma filha, chamada Hermíone, os abandonou para fugir com Páris para Tróia. Foi devido a este episódio que os gregos Menelau, Agameon, Aquiles e outros se juntaram e declararam guerra aos habitantes de Tróia.
[3] Batmann, 1962, p.65.
[4] Agia (Αγία), palavra grega que significa “santo” (a forma feminina), por exemplo, Agia Varvara que é a versão cirílica do grego Варвара (Βαρβάρα).
[5] José Coelho Matias, 2010). Capítulo 23: “Cristianismo na China”. In História das Religiões. (Apontamentos para os Ouvintes da Universidade Sénior, Pólo de Sacavém).
[6] Nasceu a 21 de Junho de 1002 em Eguisheim (Alsácia); foi designado sucessor de Dâmaso II pelo imperador Henrique III ( o que revela a ingerência política na eleição do papa). Foi, depois eleito, em Dezembro de 1048, e, finalmente, aclamado unanimemente em Roma e consagrado em Fevereiro de 1049 e veio a falecer a 19 de Abril de 1054, igualmente em Roma. Foi o 153º papa da Igreja Católica. Tornou-se um grande reformador da Igreja, abolindo: a taxa eclesiástica (a Simonia)); o casamento bem como a concubinagem dos padres (o Nicolaísmo); os cargos principescos e políticos dos bispos no âmbito do Império, exigindo que eles fossem apenas simples teólogos; e pugnou pelo retorno dos valores do cristianismo primitivo.



[7] O percursor desta separação foi inglês John Wiclef (1330-1384), cuja doutrina herética negava a transubstanciação e afirmava ser a Bíblia a única e verdadeira fonte da fé, a qual cada um podia estudar por si mesmo. F. Wiclef, n. pr.
[8 A Religião oficial da Noruega chama-se “Igreja Luterana Evangelista da Noruega”, à qual pertencem, pelo menos nominalmente, 83% dos noruegueses.
11- Bibliografia
Bartmann, Bernardo (1962). Teologia Dogmática, A Redenção – A Graça – A Igreja. Vol II. São Paulo: Edições Paulinas. Título original: Leherbuch der Dogmatik. Verlag Herder Und Co. Freiburg Im Br. – Deutsc. Achte Auflage, 1932;




Carreira das Neves, Joaquim. "A Mãe e os irmãos de Jesus". [on line][Consult. 16-01-2012] Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4422.pdf;
Denz.= Denzinger Heinrich Joseph Dominicus. Enchiridion Symbolorum et Definitionum et Declarationum de Rebus Fidei et Morum. (Manual de credos e definições), cuja primeira edição teve lugar em Würzburg, 1854). Mais tarde a sua edição teve melhoramentos que foram introduzidos pelo jesuíta Adolf Schönmetzer, facto que a dita obra passou a ser conhecida pela sigla "DS" (para "Denzinger-Schönmetzer"). A edição que utilizamos é a XXXIV de 1967, Barcelona: Editora Herder (p. 93);



Dodd, Charles Harold (1971). The Founder of Christianity. London: Collins St James’s Palace.
Eliade, Mircea (2004). Tratado de História das Religiões. Porto: Edições ASA.
Ling, Trevor (2005). (2ªed.). História das Religiões. Lisboa: Editorial Presença.
Llorca, Bernardino (1960). Manual de História Eclesiástica (Vols. I e II). Porto: Edições ASA.

Capítulo 4: Culto dos Mortos nas várias culturas e nos diferentes PovosCulto dos Fiéis Defuntos (cont.)

5- Na Índia
6- Entre os Gregos
7- Entre os Romanos
8- Na Península Ibérica
9- Entre os Japoneses
10- Entre os Chineses (Confucionismo e Taoísmo)
11- Entre os Mexicanos
12- Entre os Mukulu Bantu (Angola - África)
13- Conclusão geral
14- Bibliografia
Na Índia


Na Índia, o culto prestado aos Antepassados encontra-se atestado nos Hinos do Rig-Veda (os Livros das Leis de Manu), mas é aceite comummente de que tal prática se encontrava presente nas sociedads Hindus anteriores, como, por exemplo, nos grupos que seguiam já a Religião do Brama, considerada muito anterior à redacção desses Hinos.
Nas Leis de Manu (I, 95; III,122, etc.) preceituava-se a oferta da refeição chamada sradha que consistia na oferta de arroz e era dirigida pelo chefe da casa (sraddha).
Esta carinhosa oferta deveria ser feita regularmente, de modo a que todos se sentissem felizes, pois, acreditava-se que os espíritos dos antepassados vinham assistir a esse banquete e que tal participação lhes concedia alegria e paz[1].
À semelhança dos Gregos, os Hindus consideravam os Mortos seres divinizados, mas que necessitavam de oferendas dos Vivos as quais deveriam ser feitas regularmente de modo a sentirem-se felizes e que sem elas sairiam dos túmulos, tornando-se errantes e atormentadores dos Vivos[2].


6- Entre os Gregos
Na Grécia pré-homérica e antes de ali se fixarem os povos indo-europeus, cuja presença teve lugar por volta do século VIII (a. C.) os seus habitantes encontravam-se agrupados em grupos de maior ou menor dimensão aos quais se dava o nome genérico de Genos. Todos esses Genos obedeciam a um chefe ou Patriarca (“Pater famílias”) ao qual cabia a função, não só de administrar a justiça cujas leis se baseavam nos costumes ancestrais, mas também a de dirigir o culto prestado aos antepassados.
Tudo, nesse Genos, era colectivo: propriedades, rebanhos, inclusivamente o trabalho que era feito em prol do grupo. Como a economia grupal se baseava na agricultura e na pastorícia, nenhuma parte dessas duas possessões, ou parte delas, podiam ser alienadas sem razões plausíveis e sem o acordo de todos os seus membros. Se o trabalho a ser realizado era distribuído em iguais condições, o fruto desse era, também, repartido equitativamente, o que impedia diferenças no amontoar de riquezas, por quem quer que fosse ou pertencesse ao grupo (belo exemplo para as nossas sociedades modernas!).
O que sobrava da divisão desses bens era aplicado no enriquecimento geral e colectivo do grupo, sendo aplicado na compra de escravos (mão-de-obra), na contratação de artífices pertencentes a outros Genos e na aquisição de mercadorias que revertiam a favor do tesouro colectivo[3].
No tempo da Tirania, na Grécia, sistema que, proveniente da Ásia, foi introduzido na Grécia a partir do século Vl a.C , o exercício do poder tomou uma forma autocrática, passando a ser exercido por um só indivíduo com poderes absolutos e sobre um ou vários Genos, não tendo a palavra “tirania”, na altura, o sentido pejorativo que viria a tomar mais tarde. Esse sistema tirânico grego representava, também, os interesses colectivos[4].
Posteriormente, a partir do século VIII (a.C.), deu-se a desintegração desses Genos, provocada pelo “crescimento populacional e pelo aumento do consumo”[5], o que veio, consequentemente, a modificar-se a estrutura social. Ao colectivismo, sucedeu a distribuição da propriedade de modo desigual e injusto, porquanto “As melhores parcelas de terra foram tomadas pelos parentes próximos do pater, e por esse motivo, passaram a ser chamados de eupátridas (“bem-nascidos”).



O restante das terras foi dividido entre os georgóis (agricultores), parentes mais distantes do patriarca. Nesse processo de divisão, os mais prejudicados foram os thetas (marginais), para os quais nada restou”. Desta nova sociedade fez surgir a Basliseu (Βασιλεύς) a ideia da formação de do Demos (“Povo” ou “Povoado”) que se desenvolveria até chegar à formação de uma sólida agregação das várias Tribos (Ibidem).
Neste período (tempo de Εὐριπίδης c. 480-406 e de Σωκράτης, 469–399) deu-se um grande incremento do racionalismo filosófico, que foi acompanhado por um crescimento paralelo de uma teologia alimentada por movimentos religiosos que era caracterizada pela crença na imortalidade da alma e pelas ideias escatológicas e que os mais dedicados à espiritualidade apelidaram de "Mistérios" (palavra proveniente do grego mysterion, por sua vez, de do verbo mýein “fechar, calar-se” que passou a significar “fechar a boca” e mýstes “que se fecha” e veio a originar a ideia de algo secreto) o que se apropriava a todo o iniciado que quisesse entrar num determinado movimento religioso ou espiritual.
O culto aos antepassados, porém, nem por isso sofreu qualquer interrupção, antes pelo contrário se arraigou ainda mais nas camadas sociais, surgindo e desenvolvendo-se uma espécie de catecumenato ao qual eram admitidos todos aqueles que desejavam pertencer a essa “irmandade”, emergindo, por isso, o que veio a chamar-se o ritual de “Iniciação”, considerando-se a doutrina ali ensinada e aprendida “Ensinamentos Exotéricos”[6]. Para o desenvolvimento destes ensinamentos muito viriam a contribuir as doutrinas de origem Frígia e Síria com a aceitação da Grande Mãe (Deusa-Terra) que os Gregos vieram a chamar Geia ou Gaia[7] e que, segundo a Teogonia de Hesíodo (126sq.), gerou Urano, que, por sua vez, gerou dela Doze Titãs (Oceano, Keos, Crio, Hiperião, Jápeto, Teia, Reia, Témis, Mnemosine, Febe, Tétis, Knonos) dos quais surgiram outros deuses gregos. Sobre o aparecimento dos deuses gregos existem outras histórias que podem ser lidas no seguinte site: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/MGGaia00 .html.
A denominação que os Gregos davam aos seus Antepassados defuntos estava relacionada com a condição em que se encontravam, ou seja, deuses subterrâneos. Em Ésquilo, um filho invoca deste modo o pai morto: “Tu, que és um deus debaixo da terra, sê-me propício”, enquanto Eurípides, ao falar do túmulo de Alceste[8], diz: “Junto a seu túmulo o viandante há de parar, e dizer: Esta é agora uma divindade feliz[9].
Quanto aos costumes fúnebres[10] mais frequentes ou comuns, tanto entre os Gregos, como entre os Romanos contavam-se os seguintes:
· Escrevia-se um epitáfio (… que ali repousava X…),
· Derramava-se vinho sobre a tumba para matar a sua sede;
· Depositavam-se alimentos para matar a sua fome;
· Sacrificavam-se cavalos e escravos que o tinham servido para continuarem a servi-lo;
· Negar a sepultura a alguém, seria torná-lo miserável.
Acreditava-se entre os Gregos que tais oferendas (sacrifícios, alimentos, libações) faziam com que os espíritos dos antepassados voltassem ao túmulo e, com estas oferendas, encontrassem alívio e se irmanassem nas características[11], passando a receber os nomes ou títulos de demónios ou de heróis[12].
Por sua vez, os Romanos deram-lhe os nomes de Lares, Manes[13] ou Génios. Assim o afirmava o filósofo e escritor satírico romano Lucius Apuleius (125 – 164 d.C.) quando dizia: “Nossos antepassados acreditaram que os manes, quando maus, deviam ser chamados de larvas, e de Lares quando eram benfazejos e propícios”[14], ou, ainda: “Génio ou Lar, trata-se do mesmo ser; assim o creram nossos antepassados”[15]. Esta mesma ideia se encontra em Marcus Tullius Cicero (sɪsɨr/; Classical Latin: [ˈkɪkɛro’] (106-43 a.C.); que, ao concordar com os Gregos, dizia: “Aqueles que os gregos chamam demónios nós chamamos Lares[16]”.



Se, por outro lado, os humanos deixassem de fazer essas oferendas, os Mortos sairia dos túmulos e, como “sombras errantes” gritariam durante a noite assombrada, como que a censurar e castigar essa negligência imperdoável[17].
7- Entre os Romanos



Desde que o morto tinha necessidade de alimento e de bebida, pensou-se que era dever dos vivos satisfazer às suas necessidades. Para isso o próprio Direito Romano consagrou-lhe alguns artigos a serem observados pela comunidade romana[18].
Estabeleceu-se, desse modo, uma verdadeira religião da morte, cujos dogmas logo se reduziram a nada, mas cujos ritos duraram até o triunfo do Cristianismo;
Os mortos eram considerados criaturas sagradas[19]. Os antigos davam-lhes os epítetos mais respeitosos que podiam encontrar; chamavam-nos de bons, de santos, de bem-aventurados[20]. Tinham por eles toda a veneração que o homem pode ter para com a divindade, que ama e teme.



Segundo o seu modo de pensar, cada morto era um deus[21].
Essa espécie de apoteose não era privilégio dos grandes homens; não se faziam distinções entre os mortos. Cícero afirma: “Nossos ancestrais quiseram que os homens que deixaram de viver fossem contados entre os deuses[22].” — Não era necessário ter sido um homem virtuoso; o mau tornava-se deus tanto quanto o homem de bem; apenas continuava, nessa segunda existência, com todas as más inclinações que tinha tido na primeira[23].
Os romanos davam aos mortos o nome de deuses manes: “Prestai aos deuses manes as honras que lhes são devidas — diz Cícero — pois são homens que deixaram de viver; reverenciai-os como criaturas divinas[24].”
Os túmulos eram os templos dessas divindades. Assim exibiam eles, em latim e em grego, a inscrição sacramental: Dis Manibus, theõis ethoníois. — Era lá que o deus permanecia sepultado: Manesque sepulti — diz Virgílio[25]. Diante do túmulo havia um altar para os sacrifícios, como diante do túmulo dos deuses[26].



Um túmulo estava isento da lei do Usucapião, por ser uma morada própria (10ª tábua da Lex Duodecim Tabularum, também conhecida pela forma abreviada de Duodecim Tabulae); estas 12 Tábuas ou Códigos que formavam a essência da Constituição da República Romana e dos Costumes dos Antepassados (Mos Maiorum) foram escritas entre os anos 451 (as dez primeiras) e 450 a.C. (as outras duas).

Estas mesmas viriam a constituir o fundamento do posterior Direito Romano que, por sua vez, serviu de base aos Códigos Jurídicos de todo o Ocidente. Infelizmente estas Tábuas perderam-se durante o incêndio que os Gauleses atearam a Roma no ano 390 a.C.
7.1- Conteúdo genérico das XII Tábuas.

· Tábuas I e II: Organização e procedimento judicial;
· Tábua III - Normas contra os inadimplentes (não cumpridor dos compromissos);
· Tábua IV - Pátrio poder;
· Tábua V - Sucessões e tutela;
· Tábua VI - Propriedade;
· Tábua VII - Servidões;
· Tábua VIII - Dos delitos;
· Tábua IX - Direito público;
· Tábua X - Direito sagrado; Tábuas XI e XII – Complementares.






Raven Luques McMorrigú num artigo denominado “Altares Domésticos…” que publicou na secção Ibéria Aeterna[27] afirma :
Desde os nossos mais remotos Ancestrais, há a noção da importância não só física, como também mágico-psíquica do Fogo....seja a Fogueira, a Lareira, o Altar, o Fogão....ao redor do Fogo, Vida e Morte falaram de suas múltiplas facetas.......ao redor do Fogo, as Artes de preparar alimentos, remédios, artes e artesanatos, metalurgia e escultura se desenvolveram.....assim como também as Artes de criar cantos e contos que alimentam e curam a mente e o espírito.....
Com o passar dos séculos, o Fogo Doméstico, eixo nuclear do Clã, foi cada vez mais envolto em simbolismos e conceitos que remetem ao Sagrado. Tornou-se, entre os Ibéricos antigos, o Altar dos Ancestrais: o ponto focal simbólico da Espiritualidade Tradicional de nossos Ancestrais, e local onde a Tradição era repassada às novas gerações...



Outro exemplo do culto prestado aos mortos na Península Ibérica é a abundância dos monumentos megalíticos que encontramos em toda a parte, nomeadamente no solo português. Ora, é por demais sabido que tais monumentos serviram de sepulturas aos mortos e que era costume utilizarem-se, nos primórdios, tumbas colectivas, que são, hoje apelidadas de Antas ou Dólmenes.
9- Entre os Japoneses



Embora as práticas Xintoístas tenham sido codificadas em “Escrituras Sagradas” (Kojiki e Nihon Shoki) somente entre os séculos VII e VIII d. C., a Religião própria dos Grupos Japoneses primitivos era caracterizada por um culto que acompanhava a mudança das Estações do ano, sobressaindo as festas das colheitas e uma Cosmogonia e Mitologia exclusivamente japonesas que se fundamentavam nas tradições espirituais das culturas Yamato e Izumo, onde se adoravam os Kami (神) que poderemos traduzir na nossa língua por “espíritos” ou “divindades” e que podem ser elementos da natureza, como por exemplo, as “Montanhas Sagradas”(animismo), divindades, onde sobressai a deusa Amaterasu (politeísmo) ou os próprios imperadores, tornados divindades, principalmente depois da morte, como aconteceu com o imperador Hachiman.



Estes espíritos são representados pelos Japoneses através de objectos domésticos (um espelho, um prato, etc.) ou por outra qualquer representação, mais ao gosto das populações (espécie de andores, por exemplo), ou por pinturas como aquela de Morikami (1679-1748)[28].



O Xintoísmo moderno, embora possua um sistema teológico com uma autoridade central, não defende, nem pratica uma “teocracia única e exclusiva” e encontra-se um sincretismo religioso bastante grande, onde se fundem elementos budistas, confucionistas, taoistas e cristãos, à mistura com elementos xintoístas.
Este mesmo sincretismo pode encontrar-se nas comunidades japonesas da diáspora, nomeadamente na pequena cidade de Assai, situada no Paraná, como o atesta ANDRÉ, R. G na sua tese de doutoramento que defendeu em (2008), ilustrando-a com fotografias que foram reutilizadas pelo professor da Universidade Estadual de Maringá, Richard Gonçalves André, no seu trabalho "O Sagrado Evanescente: Análise da Religiosidade Nikkei por Intermédio de Sepulturas no Cemitério de Assaí (1932 – 1950)"[29] no qual analisa as representações e práticas mortuárias entre japoneses e descendentes em Assaí (Paraná) entre os anos 1932 e 1950, tendo, como fontes, sepulturas existentes no cemitério desse município.



10- Entre os Chineses (Confucionismo e Taoísmo)
Além de serem frequentes as práticas dos exorcismos, encontrava-se também muito arraigada a prática do culto prestado aos Antepassados, sendo inculcada, tanto no Confucionismo como no Taoísmo que são os dois exemplos mais claros das filosofias da Antiga China. Também, aqui, se acreditava que os Antepassados (Defuntos) poderiam influenciar, ajudar e iluminar os imperadores, governantes e o povo, tornando-se, por isso, prática comum, tanto entre o Povo como entre os imperadores e ministros imperiais.
Este dever não foi criado por Confúcio[30], mas apenas relembrado e inculcado como sendo uma consequência lógica do dever da “piedade filial”. Esse dever tão acarinhado e praticado entre os chineses, enquanto os pais viviam, deveria ser continuado mesmo depois da morte.
Para que tudo se processasse de acordo com as tradições e as crenças populares e imperiais, deveriam, todos, fazer-lhes as suas oferendas que, normalmente, consistiam em: alimentos, bebidas, armas de guerra e outros utensílios que eram diariamente utilizados por esses Antepassados.
Baseada nesta moral chinesa muito antiga, grandes correntes filosóficas cuja fundação data, mais ou menos, do ano 517 a.C tem sido atribuída a dois grandes homens – Lao-Tsze (-570 - 490 +-) e Confúcio (551 a.C. - 479 a.C+-), a partir dos quais se difundiu por todas as regiões da China e fora desta.
É de notar que Lao-Tszé, embora pertença ao mesmo século, é mais velho do que Confúcio (cerca de 40 anos), mas conheceram-se e discutiram seus próprios pontos de vista (Potter, 1937, p. 193).
Lao-Tszé, que viveu 4 séculos antes de Jesus Cristo, ensinou uma doutrina, semelhante à deste no que diz respeito à máxima: “paga o mal com o bem”.



Lao-Tszé dizia:
“Para aqueles que são bons comigo, eu serei bom.
Para aqueles que não forem bons para comigo,
eu serei bom também.
E, assim, tudo se tornará bom"[31].
“Recompensa a injúria com a gentileza”[32].



Cristo, por seu lado, veio também dizer:



Ouvistes o que foi dito:
Amarás o teu próximo



e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, digo-vos:
Amai os vossos inimigos,
Fazei bem aos que vos odeiam,
Orai pelos que vos perseguem e caluniam,
Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5, 43-449[33].



Contrariamente, Confúcio não concordou com ele e susteve o princípio da reciprocidade, dizendo: “Recompensa a injúria com a justiça,
Recompensa a gentileza com a gentileza”[34].
Datas propícias para as oferendas
A data principal era aquela em que se celebrava a Festa da Pureza que caía por volta do mês de Abril. Nesta Festa celebravam-se os antepassados, fazendo-lhes ofertas de bens materiais, como também se renovavam os seus túmulos. Cada ano, por volta do dia 5 de Abril, celebrava-se a Festa da Pureza e Serenidade. Tratava-se de uma ocasião para oferendas aos antepassados, e também para renovar os túmulos. Era propícia para se realizar essa comemoração vista ser um tempo agradável, brotando verdura e flores e ser um tempo propício para as pessoas darem umas voltas pelos campos verdejante. Por esta razão chamou-se a essa festa a "Festa de Pisar o Verde"[35].
É prática ainda hoje existente, em Macau, Hong Kong e na China continental, contando-se entre essas práticas, o célebre Festival dos Fantasmas, ou Espíritos Famintos. Tais costumes, se por um lado, incutem nos Vivos, um certo respeito e medo, por outro lado dão-lhes um certo consolo e alívio no seu dia-a-dia[36].
11- Entre os Mexicanos



Também no México se celebra o Dia dos Mortos e este costume remonta à Civilização Maia que ocupou esse território cerca de 3.000 anos antes da chegada e conquista dos Espanhóis. Tinha lugar, normalmente, no mês de Agosto, era presidida pela Deusa Mictecacíhuatl, ou “Dama da Morte” e era dedicada às crianças e parentes falecidos.
Os próprios Azetecas, que, à data da chegada dos Espanhóis, se encontravam no poder, embora também ali existissem outros povos, como os Toltecas, Olmecas, Purépechas, Tarahumaras e Tojolabales, viram-se obrigados a adaptar ao Cristianismo, ora introduzido, tanto os seus ritos e a sua maneira de se relacionar com os mortos e com a morte, como também o conjunto das crenças e da doutrina religiosa, na sua própria substância. Não deixaram, porém, de conservar, evidentemente, muitas das formas e crenças ancestrais, procedendo a um certo sincretismo religioso. Assim, permaneceu, sempre entre os “Conquistados” e seus descendentes aquela relação de respeito, alegria, fascínio e de intimidade que inebriava a celebração ancestral do Dia dos Mortos[37].
Por isso, em vez do mês de Agosto, passaram essa Comemoração para os finais de Outubro, princípios de Novembro a fim de se adaptarem aos costumes espanhóis e católicos, mas, não eliminaram as oferendas de comida, nem a música, a luz, as cores, nem tão pouco a crença de que os seus parentes e amigos defuntos devessem voltar à terra[38], ideia que, aliás, se harmonizava com a doutrina católica da Ressurreição.
Verdadeiramente, muitas das oferendas que ainda agora são levadas aos túmulos dos antepassados, tais como: “doces; círios aos pares em forma de cruz para mostrar o caminho às almas; velas que simbolizam a luz do sol; crisântemos amarelos; cruzes de terra que simbolizam o pó em que o defunto se tornará; coroas de flores; velas;pães com formatos, formas e figuras diferentes; alimentos que a pessoa falecida gostava em vida, bem como objectos pessoais e brinquedos no caso de se venerar uma criança”[39] simbolizam realidades bem conhecidas, ensinadas e praticada pelos fiéis católicos, como o poderemos presenciar nas nossas igrejas (onde se lembra que o homem é pó e que em pó se há-de tornar) e nos nossos cemitérios, onde costumamos ir em romaria de saudade no dia 1 de Novembro ou “Dia de Todos os Santos” (que, além de englobar todos os nossos Antepassados que consideramos terem morrido na paz de Deus, tem sido, até este ano, um Dia Feriado), embora o dia próprio dos “Fiéis Defuntos se celebre oficialmente no dia 2 de Novembro.
A grande familiaridade que os Mexicanos nutrem para com os seus mortos é maifestada no seu quotidiano, utilizando caveiras nos seus automóveis e em muitos nomes toponímicos, como por exemplo: Calzada del Hueso, Barranca del Muerto, Calle de la Muerte, como muito bem o notou e descreveu Simone Andréa Carvalho da Silva[40] num artigo que escreveu após uma visita ao México e que intitulou "Festa dos Mortos para Celebrar a Vida".
12- Entre os Mukulu Bantu (Angola - África)



Tata Kiretauã (masc.) diz-nos, num artigo que escreveu e publicou no seu blog Cultura e tradição Kongo – ngola-bantu[41], sob o título "Akua Ukulu – Culto aos Antepassados" que, tal culto não só se encontra atestado nas tradições do Povo Bantu, como também é, actualment, praticado entre esse mesmo Povo.



Para melhor o compreendermos procurarei sintetizar a sua explicação, dividindo-a em cinco diferentes secções ou alíneas (a, b, c, d, e).
a)- Existência do culto prestado aos mortos:
A Comemoração e Culto dos Mortos, encontra-se atestada na cultura Bantu, como uma tradição muito arraigada nesse povo. Nessa tradição não só se acredita que os MUKULU (ancestrais genealógicos) devem ser comemorados e reverenciados, mas também que os “seus espíritos continuam a habitar a aldeia como se vivos estivessem e que por serem reverenciados, se sentem felizes, e os seus TSHIPUPU (fantasmas ou aparições) não surgirão para causar transtornos àqueles que ainda permanecem encarnados. A sua Comemoração é chamada: Kimenga.
b)- Local do culto:
Esse culto é prestado, normalmente, "quase que invariavelmente na parte mais posterior das aldeias, isto é, mais ao fundo, onde em suas KUBATA recebem seus JIMBENGE (assentamentos) que são feitos em troncos rituais secos, que são enterrados no chão…".
c)- Objectos oferecidos:
Os objectos mais comuns são pós, substâncias sagrados (Mafu), folhas (Jinsaba), favas (Jinimo), cascas secas de determinadas árvores que servem de culto às divindades, sacrifícios de animais, que são colocados nos seus JIMBENGE (…) os troncos rituais recebem uma roupagem colorida, são adornados com pequenas cabaças (Jimbinda) e na parte superior do tronco é fixada uma peneira de palha (Oropemba) com a parte côncava voltada para baixo, sendo esta Oropemba também enfeitada com pequenas cabaças que podem ser pintadas com tintas vegetais.
d)- Diferenças nos rituais
Os rituais variam conforme a pessoa defunta que é comemorada. Por exemplo: quando se quer comemorar o espírito (Mukisi//Nkisi) de um sacerdote ou de uma sacerdotisa falecidos, a sua “divindade” será alojada num compartimento denominado NZO KALUNGANGOMBE, e como esse falecido ou falecida era cabeça da casa respectiva, isto é, os seus donos, as suas “divindades” passam a receber o título de MUKISI MUKIDIADIME (divindade mais velha), recebendo reverências e tratamentos idênticos aos demais Minkisi.
Quando se trata de pessoas que, em vida, colaboraram para o desenvolvimento da aldeia, tiveram grande elo de amizade, realizaram grandes ou bons feitos, além daquelas que possuíram grau de parentesco consanguíneo ou não, devem ser reverenciadas dentro do culto, sendo obedecido um sistema hierárquico:
Em primeiro lugar, serão o SOBA, o MULOJI (Rei) ou o feiticeiro, pois que zelaram pelo bem-estar dos aldeões;
De seguida, os KUBAMA, NTABI, NGANGA A NGOMBO, MUZAMBU, isto é, os Sacerdotes dos oráculos que prestaram bons serviços em prol da aldeia;
Depois serão os MUKURUNTU, ou seja, os Espíritos dos curandeiros que zelaram pela saúde comunitária, tanto física como espiritual do povo;
Finalmente, vêm os Espíritos das pessoas anciãs e sábias que, de modo geral, contribuíram para o bem-estar da aldeia.
e)- Aparição dos espíritos dessas pessoas:
Durante a prestação do Culto aos Antepassados pode suceder que, às vezes, "apareçam" os seus espíritos de forma materializada (MUKU, plural JIMUKU). Se esses espíritos pertencem a pessoas defuntas do sexo feminino, então usam-se máscaras denominadas de MWANA PWO; mas se os espíritos pertencem a pessoas do sexo masculino as máscaras recebem o nome de MUKANGE. O uso da máscara é para demonstrar que os seus rostos nunca mais poderão ser vistos pelos vivos.
13- Conclusão geral
Pelo exposto sobre o culto aos mortos dos antepassados em diferentes povos e em várias culturas, ainda que de modo muito sucinto, podemos deduzir quatro ideias mestras, a saber que:
1ª- A tradição comemorativa dos Nossos Defuntos se encontra muito arraigada nas várias culturas e nos diferentes povos;
2ª- Se enraíza num profundo sentimento religioso e místico;
3ª- Esse culto prestado é a manifestação materializada, não só de um verdadeiro respeito, mas também de uma recordação da presença que é sentida como actual e contínua entre nós, seus familiares, amigos e conhecidos;
4ª- Esse mesmo sentimento parece ter acompanhado a Humanidade, quer no tempo, quer no espaço.

Notas




[1]Leis de Manu, I, 95; III, 82, 122, 127, 146, 189, 274.
[2][On line] [Consult 16-10-2011] Disponível em: http://www.historiadomundo.com.br/chinesa/religiao-chinesa.htm. e ainda em: http://ebooksbrasil.org/eLibris/cidadeantiga.html#A2 Esse culto tributado aos mortos exprimia-se em grego pelas palavras enaghízo, enaghismós. Pólux, VIII, 91; Heródoto, I, 167, Aristides, 21; Catão, 15; Pausânias, IX, 13, 3. A palavra enaghízo empregava-se para os sacrifícios oferecidos aos mortos; thyo, para os que se ofereciam aos deuses do céu; essa diferença é bem acentuada por Pausânias, II, 10, 1, e pelo escoliastes de Eurípides, Feníc., 281. Cf. Plutarco, Quest. rom., 34.
[3] [On line] [Consult 15-10-2011] Disponível em: http://tradidiquodaccepi.blogspot.com/2009/03/la-ofrenda-los-muertos-y-su-origen.html e ainda em http://cpantiguidade.com/2009/12/17/a-morte-e-a-religiao-na-grecia-antiga/
[4] [On line] [Consult 27-10-2011] Disponível em: http://principiologia.blogs.sapo.pt/1669.html
[5] [On line] [Consult 27-10-2011] Disponível em: http://faustomoraesjr.sites.uol.com.br/grega1.htm
[6] [On line] [Consult 15-10-2011] Disponível em: http//tradidiquodaccepi.blogspot.com/2009/03/la-ofrenda-los-muertos-y-su-origen.html.
[7] Palavra vinda do grego Γαῖα, Gaîa (possivelmente a contracção de γῆ, gê, "terra" e αἶα, aîa, "mãe", "terra-mãe") ou Gé (γῆ, gê, "terra"),
[8] A tragédia ΛΚΗΣΤΙΣ — Alceste — é, a um tempo, o mais antigo drama de Eurípedes que sobreviveu e o único anterior à Guerra do Peloponeso. A distância entre Aceste e As filhas de Pélias, sua primeira tragédia, é de quase 20 anos; trata-se, indubitavelmente, da obra de um poeta experiente e maduro.
A peça foi apresentada em Atenas nas Dionísias Urbanas[1] de -438 e fazia parte de uma tetralogia, na qual ocupava o quarto lugar, habitualmente reservado aos dramas satíricos. As outras peças eram As Cretenses, Álcmeon em Psófis e Télefo[2]. A tetralogia de Eurípedes foi classificada em segundo lugar, e o primeiro lugar coube a Sófocles.(http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0229).
[9] Eurípides, Alcestes, 1015.
[10] Alberto González:: La Ofrenda a los Muertos y su Origen Pagano. [On line] [Consult 26-10-2011] Disponível em: http://tradidiquodaccepi.blogspot.com/2009/03/la-ofrenda-los-muertos-y-su-origen.html.
[11] Ovídio, Fast., II, 518. Virgílio, En., VI 379. — Comparar com o grego hiláskomai (Pausânias, VI, 6, 8). — Tito Lívio, 1, 20.
[12] ) É possível que o sentido primitivo de héros tenha sido o de homem morto. A linguagem das inscrições, que é a do vulgo, e que é ao mesmo tempo a em que o antigo sentido das palavras se conserva por mais tempo, usa às vezes héros com o mesmo significado de defunto, Boeckh, Corp. ínscr., n.°s 1629, 1723, 1781, 1782, 1784, 1786, 1789, 3398; F. Lebas, Monum. de Moréia, p. 205. Vide Teógnis, ed. Welcker, v. 513, e Pausânias, VI, 6, 9. — Os tebanos usavam uma antiga expressão para significar morrer: héroa ghénes-thai (Aristóteles, Fragmentos, ed. Heitz, t. IV, p. 260; Cf. Plutarco, Proverb. quibus Alex. usi sunt. c. 47). — Os gregos também davam à alma do morto o nome de dáimon. — Eurípides, Alceste, 1140 e Escoliastes. Ésquilo, Persas, 620. Pausânias, VI, 6.
[13] Tito Lívio, III, 58. Virgílio, VI, 119; X, 534; III, 303. Orelli, n.°s 4440, 4441, 4447, 4459, etc. Tito Lívio, III, 19.
[14] Apuleus, De deo Socratis. Sérvio, ad Aeneid., III, 63.
[15] Censorinus, De die natali, 3. Cícero, Timeu, 11. — Dionísio de Halicarnasso traduz lar familiaris por Kat’ okían héros (Antiq. rom., IV, 2).
[16] Cícero, Timeu, 11. — Dionísio de Halicarnasso traduz lar familiaris por Kat’ okían héros (Antiq. rom., IV, 2).
[17] Vide em Heródoto, I, 167, a história das almas dos Fócios (Da cidade de Foceia (grego antigo Φώκαια,Phôkaia) era uma cidade grega da Ásia Menor, onde actualmente se encontra a cidade de Foça ou Eskifoça, no golfo de Esmirna na Turquia ) que assustaram a toda uma região, até que lhes celebraram o aniversário da morte, e vários heróis semelhantes em Heródoto e Pausânias, VI, 6, 7. Do mesmo modo, em Ésquilo, Clitemnestra, advertida de que os manes de Agamenon estão irritados contra ela, apressa-se em mandar alimentos a seu túmulo. Vide também a lenda romana narrada por Ovídio, Fastos, II, 549-556: “Esqueceram-se, um dia, do dever das parentalia, e as almas saíram dos túmulos, e viram-nas correr, gritando pelas ruas da cidade e pelos campos do Lácio, até que ofereceram sacrifícios em seus túmulos.” — Cf. a história que nos conta ainda Plínio, o Jovem, VII, 27.
[18][On line] [Consult 13-10-2011] Disponível em: http://www.ribeirodasilva.pro.br/direitoromanoarcaico-parte1-04.html
[19] Plutarco, Sólon, 21.
[20] Aristóteles, citado por Plutarco, Quest. rom., 52; grecq., 5. Ésquilo, Coéf., 475.
[21] Eurípides, Fenic., 1321. Odisseia., X, 526. Ésquilo, Coéforas., 475: Coéforas “Ó bem-aventurados, que habitais debaixo da terra, ouvi minha invocação; vinde em socorro de vossos filhos, e dai-lhes a vitória.” — É em virtude dessa ideia que Virgílio chama ao pai morto de Sancte parens, divinus parens: Virgílio., En., V, 30; V, 47. Plutarco, Quest. rom., 14. Cornélio Nepos, Fragm., XII.
[22] Cícero, De legibus, II, 22.
[23] Santo Agostinho, Cidade de Deus, VIII, 26, IX, 11.
[24]Cícero, De leg., II, 9. — Varrão, em Santo Agostinho, Cidade de Deus, VIII, 26.
[25] Virgilio, En., IV, 34..
[26] Eurípides, Troyanas, 96; Electra, 505-510. Virgílio, En.. VI, 177; III, 63, 305; V. 48. — O gramático Nónio Marcelo diz que os antigos chamavam ao sepulcro de templo; e, com efeito, Virgílio emprega o vocábulo templum para designar o túmulo ou cenotáfio que Dido constrói para seu esposo (Eneida, IV, 457). — Plutarco, Quest. rom.,
[27] [On line] [Consult 15-10-2011] Disponível em: http://iberiaeterna.blogspot.com/2008/05/altares-domsticos.html
[28] [On line] [Consult 16-10-2011] Disponível em: http://www.bbc.co.uk/religion/religions/shinto/beliefs/kami_1.shtml.
[29] [On line] [Consult 16-10-2011] Disponível em http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/anais/article/view/172/120.
[30] Viveu entre 551-479/8 (a. C.), na mesma época sensivelmente em que na Grécia, Ésquilo e Sócrates propagavam um humanismo ético que viria a ter grande influência nas filosofias morais, políticas e sociais da China e os profetas hebreus e Ageu (522 a486 a.C) e Zacarias (520 e 475), Malaquias e Neemias (cerca de Neemias cerca do ano 450 a.C.). encorajavam os judeus a retornar a Jerusalém, após o exílio Asiro-bebilónico.
[31] Tão-Teh-King, 49:2
[32] Idem, 63:2
[33] Soares, 1964, p. 1183.
[34] Analecta, 14:36.
[35] [On line] [Consult 30-10-2011] Disponível em: http://br2.mofcom.gov.cn/aarticle/aboutchina/publicholiday/200512/20051200995308.html
[36] http://www.comunidadeespirita.com.br/religioes/5%20confucionismo.htm.
[37] [On line] [Consult 14-10-2011] Disponível em: http://www.terra.com.br/revistaplaneta/mat_398.htm
[38]. Ibidem e ainda em (http://www.terra.com.br/revistaplaneta/mat_398.htm)
[39] [On line] [Consult 14-10-2011] Disponível em: http://www.mulherdeclasse.com.br/Historia%20das%20regilioes.htm.
[40] [On line] [Consult 14-10-2011] Disponível em: http://www.terra.com.br/revistaplaneta/mat_398.htm.
[41] [On line] [Consult 14-10-2011] Disponível em: http://tatakiretaua.blogspot.com/2009/02/akua-ukulu-culto-aos-antepassados.html.

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