quinta-feira, 29 de março de 2012

Capítulo 7 Os Druidas e o seu renascimento

Conteúdos
Preâmbulo
1- Druidismo na Antiguidade
1.1- Origem do termo “Druida”
1.2- Habitat e Vida Social dos Druidas
1.3- A Realeza
1.4- Conquistas de Cláudio
1.5- Vestes brancas dos Druidas
1.6- Simbolismo das cores
1.7- Festas principais
1.8- O Rei Artur e Merlin
1.9- Canibalismo e Sacrifícios humanos entre os Druidas
1.10- Ideia druida sobre a morte
2- Druidismo moderno
2.1- Alvores do druidismo moderno
2.2- Verdadeiro ressurgimento do Druidismo moderno
2.3- Base do Druidismo moderno
2.4- Druidismo actual na Inglaterra
2.5- Druidismo nos Estados Unidos da América
2.6- Druidismo em Portugal
Bibliografia


Preâmbulo
Através da história, sobretudo, Romanos, Celta e Bretã, tínhamos algumas noções sobre a existência dos Druidas.
As fontes principais pertenciam aos escritores romanos, Júlio César com a sua De Bello Gallico onde descreve a sua vitória sobre os Bretões no ano 52 a.C.) e a Plínio, o Velho com a sua obra Naturalis Historia[1] composta por 37 livros escritos cerca do ano 77 d.C. onde se podem ler estas palavras acerca dos Druidas: “(…) terminados os preparativos necessários para o sacrifício e o banquete sob a árvore (carvalho), levam ali dois touros brancos” Esse conhecimento, porém, não era muito profundo e valeram algumas descobertas arqueológicas nos últimos tempos para melhor se poder ajuizar da sua existência, doutrina e influências nas sociedades da sua época.
Dessas descobertas ressalta, por exemplo, o Homem de Lindow (Lindow Man), descoberto em Lindow Moss, perto de Wilmslow (Sul de Machester), em Cheshire, no Norte da Inglaterra, a 1 de Agosto de 1986.
Em 1971 encontrou-se numa fonte de Chamalières, perto de Clermont-Ferrand (França) uma placa com uma oração a uma divindade desconhecida mas suposta pertencer aos druidas. Depois, em 1983, encontrou-se na aldeia de Veyssière (Aveyron, França) uma outra placa de 57 linhas, conhecida por Chumbo do Larzayk, onde se inscrevia uma mensagem para o outro mundo que devia levar até ali uma mulher druida defunta.
1- Druidismo na Antiguidade
1.1- Origem do termo “Druida”
Tem sido seguida a opinião de que o termo teria vindo da palavra grega “drus” que significa carvalho, deduzindo-se daí de que esse grupo humano adoraria essa árvore e, por meio dela, simbolicamente a floresta, que se supunha possuir uma alma ou espírito. Daí dizer-se serem animistas.
Chris Travers
[2], porém considera que a sua origem deverá procurar-se, preferencialmente, em raízes Indo-Europeias, por exemplo, em “dru” cujo significado é “forte”, “firme” ou “estável”, sendo seguida do sufixo “Wid” que se relaciona com o conhecimento e a sabedoria. Desta mesma opinião são Edred Thorsson (1987, 1992) e Ph. D. Hence que são, por sua vez seguidos pelo linguista Kenneth H. Jackson[3]. Para confirmar esta derivação Travers propõe a tradução da palavra “Druida”, em três línguas, muito relacionadas entre si e com esse grupo humano:
Em Old Irish: druÌ;
Em Middle Wlsh: Derwydd;
Em Gaulish Druvis (de druvids’)
Verifica-se, com facilidade, que os diferentes sons mudaram ou caíram em cada uma das línguas apresentadas, sugerindo tal facto que a forma antiga treria sido com muita probabilidade, “deruwid”, proveniente de “deru+wid”.
Para melhor podermos perceber esta derivação poderemos aproveitar outra sugestão que nos é fornecida pelo mesmo autor a propósito da mesma raiz (deru+wid) que se encontra também noutras línguas, como por exemplo nas seguintes línguas:
Indo-Europeu: deru;
Grego: Drus;
Latim: Dryad (árvore-ninfa);
Irlandês antigo: Druìm(druid) ou duir (carvalho);
Antigo Norse: Trú (fiel);
Inglês m oderno: door; tree; truth; true;
Médio Galês: Derwydd ….
1.2- Habitat e Vida Social dos Druidas
O local próprio dos Druidas tem sido proposto como sendo as Ilhas Britânicas. No entanto este local não foi o único. Podemos encontrar elementos do druidismo também na Gália, sobretudo nas regiões onde hoje se situam a França, Bélgica e o Luxemburgo e ainda no Norte da Península Ibérica. Por outro lado, a ideia que se tem destes indivíduos é a de que eram considerados como magos, feiticeiros e que possuíam grandes conhecimentos praticamente a todos os níveis. Por exemplo Pomponius Mela num artigo intitulado Druidismo:Alma Celta em Acção escrevia o seguinte:
(…) dominavam toda a área do conhecimento humano, cultivavam a música, a poesia e tinham controle do clima, do conhecimento sobre as ervas, podiam fazer ou parar de chover, controlavam as funções, marés, tremores de terra, etc. Tudo isto era procedido com o uso de cristais e em parte pela acção da mente, graças aos rituais realizados em lugares de força. Preferiam cultuar a divindade em lugares como o campo e florestas, usando vestes brancas em algumas cerimónias ligadas à fecundidade da natureza, os participantes não usavam vestes”.
Sob o ponto de vista político, os Druidas formavam dois grandes grupos ou Instituições bem distintas, sobretudo na Irlanda, senbdo elas a Tribo (Tuathas) e a Aes Dana (ou homens da arte). Se a primeira se dedicava à guerra, a segunda laborava no campo da arte e da magia.
Por sua vez a Aes Dana (artistas e Magos) subdividia-se em os BARDOS (poetas e Músicos viajantes), os FILI (poetas domésticos e historiadores orais) e os METALÚRGICOS e ARTESÃOS (artesãos e poetas estacionários ou das casas senhoriais e palacianas).
Há quem os subdivida em BARDOS (responsáveis pela preservação e transmissão das identidade cultural), os VATES ou OVATES (adivinhos, curandeiros, conhecedores das propriedades das plantas e, por isso, os aplicadores da magia e da cura) e, finalmente, os DRUIDAS (conselheiros dos reis, sacerdotes, Juristas e Legisladores).
Sob o ponto de vista militar, consta, segundo testemunho de Júlio César, que o exército dos celtas tinham um treino muito aperfeiçoado e que seria adestrado pelos Druidas que utilizavam métodos físicos, psicológicos e mágicos, como também a profecia e a adivinhação. Relativamente aos guerreiros druidas (masculinos e femininos), é de notar que não temiam a morte e enfrentavam-na, expondo aguerridamente as próprias vidas. Achavam ignominioso e cobarde cobrirem o corpo com armaduras ou outros trajes, lutando, por isso de tronco nu.
Sob o ponto de vista religioso, os Druidas apesar de cultuarem, como os Celtas, a Deusa-Mãe, admitiam que todas as prerrogativas atribuídas à divindade eram apenas percepções imperfeitas da sua própria constituição. Admitiam, efectivamente, que todos os aspectos da divindade e todas as divindades adoradas não passavam de aspectos de uma única Divindade suprema.
1.3- A Realeza
Entre os guerreiros e os artistas situava-se a Realeza que era considerada agrada. Ao Rei cabia a função e obrigação de se sacrificar pelo bem e salvação do seu povo, visto ele ser considerado casado com a Terra ou Reino. Se não cumprisse com estes seus deveres, seria punido pelos deuses. Conta-se que, devido ao aparecimento de uma peste que dizimou grande número de cidadãos, o Rei foi sacrificado em expiação.
1.4- Conquistas de Cláudio
Sob o império do imperador romano Cláudio, os Romanos conquistaram e anexaram a Grã-Bretanha, no ano 41 d. C., coroando com esta vitória as vitórias alcançadas contra a Trácia, Norico (Noricus Ager) um país ao sul do Rio Danúbio (correspondente à alta e baixa Áustria de hoje, entre Inn e o Danúbio e ainda grande parte da Stíria, Carinthia e partes de Carniola, Bavária, Tirol e Salzburgo), Panfília, Lícia e Judeia.
Dois foram os factos dignos de memória atribuídos a Cláudio. Em primeiro lugar, após a conquista da Bretanha indultou Caractaco, general e líder da resistência bretã, pela sua nobre atitude quando foi capturado no ano 50 d.C. Em vez de o mandar executar como era costume, deixou-o ir viver para uma das províncias romanas. O segundo facto (nada digno) foi o de ordenar a destruição de todos os símbolos relativos à religião celta, isto é, druida. Mesmo assim, após a sua morte, Cláudio seria divinizado pelo Senado Romano.
1.5- Vestes brancas dos Druidas
Quando se fala da indumentária dos Druidas ressalta a cor branca da sua longa túnica, munida de capuz, à semelhança, diz-se, dos monges beneditinos. Foi assim que se apresentaram, em Stonehange, e noutros locais de assembleia dos Druidas modernos.
Haverá alguma verdade histórica que sustente esta apresentação hodierna? De facto tudo leva a crer que o uso das vestes brancas tenha um fundamento histórico. Segundo Plínio, o Velho, os Druidas deslocavam-se à florestas para nela apanharem o visco que se encontrava nos carvalhos para confeccionarem com ele as suas mezinhas (o termo "mezinha" tem a sua origem na palavra latina "medicina" que significa remédio). Segundo a versão inglesa lê-se: “(…) a Gaulish mistletoe-cutting ritual where a druid, in a what is generally translated as 'White robe' climbs an oak tree and cuts the mistletoe (which has white berries) with a golden sickle”. Temos aqui, portanto, a alusão à veste branca e, ao mesmo tempo, ao Visco ou visco (mistletoe) que na Inglaterra é conhecido mais pelo nome de “White Berries) e entre os Romanos era conhecido por “Galho de ouro”, passando a nós sob o nome de “Erva do Passarinho”. Como se sabe, o carvalho é a árvore que mais se adapta ao desenvolvimento desta erva parasita (o visco) que dá umas bagas brancas ou mesmo acastanhadas ou de tom dourado, quando bem maduras), delas se servindo algumas aves.
Os Druidas aproveitavam-nas para confeccionarem as suas mezinhas curativas. Enquanto uns trepavam pela árvore acima para cortar o visgo, outros permaneciam por baio para o recolherem antes de atingirem o solo, para não perderem as propriedades sagras e curativas. Após a colheita procedia-se a uma cerimónia, constituída por orações, fórmulas mágicas e pelo sacrifício de dois touros brancos. Os ramos eram cozidos numa “poção misteriosa com propriedades salutares especiais” vindo a servir como remédio contra os males e feitiços. Assim se justifica o uso das vestes brancas com capuz, usado pelos grupos druidas de hoje.
1.6- Simbolismo das cores
O simbolismo das cores no tempo de Merlin era o mesmo que aquela que encontramos hoje entre nós.
Assim a:



Cor branca significava a pureza, a inocência e a alegria;
Ccor vermelha significava a coragem, o poder, o fervor e o zelo;
Cor azul significava o Céu, a divindade, a piedade, a amizade, a lealdade e a justiça;
Cor verde significava a esperança, a vida, a plenitude.
1.7- Festas principais
Para eles o ano era dividido em quatro períodos de três meses em cujo início havia um grande festival.
Imbolc – celebrada a 1 de Fevereiro (no Hemisfério Norte) e a 2 de Agosto (no Hemisfério Sul).e era associada à deusa Brigit, a Deusa-Mãe, protectora da mulher e do nascimento das crianças;
Beltane – (também chamado de Beltine, Beltain, Beal-tine, Beltan, Bel-tien e Beltein). É celebrada a 1 de Maio (no Hemisfério Norte) e a 1 de Novembro (no Hemisfério Sul) e significa "brilho do fogo". Esta festa, muito bonita, era marcada por milhares de fogueiras;
Lughnasadh – (também conhecida como Festa das Lammas) era dedicada ao Deus Lugh, ou Deus Sol e celebrava-se no Outono, a 1 de Agosto (no Hemisfério Norte) e a 21 de Março (no Hemisfério Sul). Tinha como simbolismo a fartura das colheitas;
Samhain – a mais importante das quatro festas, celebrada a 1 de Novembro no hemisfério Norte e a 1 de Maio no Hemisfério Sul. Hoje associada com o Hallows Day, celebrado na noite anterior ao Hallowen.
1.8- O Rei Artur e Merlin
O pouco que popularmente é dito a respeito dos druidas tem por base diversas lendas, como a do Rei Artur, onde Merlin era um druida.
O que melhor se pode dizer é que os druidas foram membros de uma elevada estirpe de Celtas que ocupavam o lugar de juízes, doutores, sacerdotes, adivinhos, magos, médicos, astrónomos, etc., mas que evidentemente não constituíam um grupo étnico dentro do mundo Celta. Eram grandes conhecedores da ciência dos cristais, radiestesia
(sensibilidade para as radiação e tem como função a activação do subconsciente humano), plantas, etc[4].
Na cultura druida, portanto, a mulher tinha um papel preponderante, pois ela era vista como a imagem da Deusa.
No contexto religioso os druidas eram sacerdotes e sacerdotisas dedicados ao aspecto feminino da divindade, a Deusa Mãe. Embora cultuassem a Deusa Mãe mesmo assim admitiam que todos os aspectos expressos a respeito da Divindade eram ainda percepções imperfeitas do Divino.
No continente europeu, as construções megalíticas mais divulgadas são as de Stonehenge (Inglaterra), local em que por volta do ano 3000 a.C., terá sido criado o primeiro local de culto, o qual foi desenvolvido nos cerca de 1500 anos posteriores.
Em torno disto existem muitos relatos, contos, lendas e mitos, especialmente ligados à Corte do Rei Artur e a Tabula Redonda. São inúmeros os contos, entre eles, aqueles relativos à Corte do Rei Artur, onde vivera Merlin, o mago, e a meio-irmã de Artur, Morgana, e Guinervere que eram Druidas.
1.9- Canibalismo e Sacrifícios humanos entre os Druidas
Os trabalhos de arqueologia da professora Miranda Aldhouse-Green[1] da Universidade de Cardiff confirmam os ditos dos autores clássicos e demonstram a participação crucial dos druidas na realização de sacrifícios humanos e na prática do canibalismo.
Os romanos trouxeram notícias com histórias horríveis sobre os sacerdotes celtas, que se espalhou por toda a Europa durante um período de 2000 anos.
Júlio César afirmava que os druidas sacrificavam presos e prisioneiros aos deuses.
Dando assim, continuidade ao mito de sacrifícios cometido pelos Druidas, cujo verdadeiro erro foi estimular o povo a não aceitar as leis e a suposta 'paz' romanas.
Também Plínio, o velho, sugeriu que os celtas praticavam o canibalismo como ritual, comiam carne de seus inimigos como uma fonte de força espiritual e física
[5].
1.10- Ideia druida sobre a morte
Acreditando na imortalidade da alma, os druidas ensinavam que a alma humana deveria ultrapassar uma dura prova, constituída por três ciclos de reencarnações. Essa prova deveria ser superada com a ajuda dos espíritos protectores. A sequência desses três ciclos era a seguinte:
O ciclo da Imersão na matéria, o seja, o da vivência na terra, sendo este o ciclo mais primitivo e conhecido por “ciclo da animalidade”;
O ciclo das Migrações, sendo constituído pelo período em que a alma circula pelos mundos das experiências e do sofrimento humanos, reencarnando noutros seres;
O ciclo da Chegada ao mundo venturoso: Após a dura luta e o grande sofrimento durante o ciclo das migrações a alma chega, finalmente, ao mundo venturoso e alcança a Essência Divina.
2- Druidismo moderno
2.1- Alvores do druidismo moderno
O Druidismo permaneceu praticamente desconhecido até aos finais do século XVIIII e, se alguma coisa se disse até esta data, foi baseado em alguns antigos documentos referentes às guerras entre Romanos e Celtas e Bretões, como já foi dito anteriormente.
Num belo dia do ano 1717, Henry Hurle
[6], durante uma reunião realizada num bosque de Inglaterra, sentiu a necessidade da irmandade entre os homens e fez esta declaração, em alta voz:
“Ir appears to be that society lacks good fellowship, hilarity and brotherly love” e, ao falar sobre os Druidas, acrescentou:
“(…) they were of old men who undertook to enlighten the people of their day who introduced among de ancient Britons the useful and polite arts, and these were the Druids. My proposition is that we form a society for social feeling and we assume the title of those learned men (the druids), and that we will adopt the endearing name of brothers, universally amongst us”.
A partir de então várias foram as entidades filantrópicas, sociedades secretas e clubes de cavalheiros que foram surgindo na Inglaterra entre os séculos XVIII e XIX, sob a muita influência de ordens semi-macónicas, chegando o número de ordens druidas a cerca de uma centena nos finais do século XIX, no intuito de revitalizarem o fenómeno druida original que se supunha ter existido pelo menos 6.000 anos antes de Cristo. As principais e mais conhecidas dão pelos nomes de: Druid Order (Ordem Druida) e mais tarde as seguintes: Confraternidade Filosófica dos Druidas; Ordem Druida; Fraternidade dos Druidas; Bardos e Poetas ou Igreja Celta Renovada. Todas estas se matem em pleno desenvolvimento, nos nossos dias
[7]. 2.2- Verdadeiro ressurgimento do Druidismo moderno
Foi, porém, na década de 1960, mais precisamente em 1964 que Ross Nichols tratou de pôr em ordem a grande variedade de ordens druídicas que foram surgindo nos séculos XVIII-XIX. Abandonando a A.O.D. (Ancient Order of Druids) passou a criar a Ordem dos Bardos Ovates e Druidas (O.B.O.D) (ou simplesmente OBOD), atribuindo a esta nova Ordem uma grande ênfase aos aspectos mágicos e celtas.
Ajudado pelas recentes descobertas
[8] arqueológicas, filosóficas e religiosas, pôde imaginar quais teriam sido as máximas morais do antigo druidismo, propondo as seguintes:
Crença no Supremo Poder do Universo,
Imortalidade da Alma,
Dignidade de cada homem e mulher,
Respeito pelos direitos humanos de todos os humanos,
Desenvolvimento das faculdades mentais,
Protecção mútua,
Desenvolvimento das virtudes sociais,
Nacionalismo,
Irmandade e fraternidade.
Estes princípios assentam nos preceitos atribuídos a Merlin (considerado o maior de todos os druidas da antiguidade e que se tornou proverbial na história da magia), sendo identificados os seguintes:
1º Labora diligentemente para adquirir o conhecimento, pois este é poder e força;
2º Se estiveres constituído em autoridade, decide racionalmente, pois ela pode cessar;
3º Suporta com fortaleza os altos da vida, e recorda que nenhum infortúnio é perpétuo;
4º Ama a virtude, pois esta traz s paz;
5º Aborrece o vício, pois este traz o mal;
6º Obedece aos que estão constituídos em autoridade para que a virtude seja exaltada;
7º Cultiva as virtudes sociais para que possas ser amado por todos os homens.
2.3- Base do Druidismo moderno
Segundo alguns autores o Druidismo moderno é uma religião heteróclita, porquanto ele é constituído por uma mistura de elementos de diversas proveniências, tais como:
- Crenças originais celtas (6.000-500 anos a.C.) que foram recolhidas por estudos alcançados nos séculos XIX e XX;
- Influências do cristianismo celta que se desenvolveu na Grã- Britânicas e na Irlanda antes da imposição do Cristianismo romano no anos 500-a 1000 d.C.;
- Crenças pagãs dos Normandos após a invasão das Ilhas pelos Wikings (800-1000 d.C.);
- Cristianismo místico ea da Maçonaria que moldaram o Renascimento druídico do século XVIII;
- ocultismo dos finais do século XIX;
- Reconstrucionismo Celta dos finais do século XX.
2.4- Druidismo actual na Inglaterra
Em 2003 Emma Restall Orr criou, na Inglaterra, a Druid Network que é uma Organização neo-pagã druida e que se tornou uma fonte de informação e inspiração das Tradições do druidismo moderno. Esta Organização tomou a seu cargo, em colaboração com British Museum, o tratamento e a dignificação dos objectos e dos restos encontrados nas escavações arqueológicas do Reino Unido, tendo publicado alguns os resultados no “British Archeology” (Issue 77, July 2004) e no The New Statesman (6 de November 2006)[9].
Esta Organização veio a ser reconhecida como Instituição Filantrópica, promotora da Religião Druida, significando praticamente o mesmo que ser reconhecida como uma Religião igual às já existentes na Inglaterra. Efectivamente, é assim que se pode interpretar o comunicado que o Rvd.Philip Ross Nichols Dirigente da Druid Netwrk fez aos seus fiéis:
“É com grande prazer que nós, da Druid Network anunciamos que, em reunião da Comissão da Filantropia, no dia dia 21 de Setembro de 2010, a Druid Netwrk foi reconhecida como Instituição Filantrópica que promove a Religião Druida (…). Esse é o resultado de muitos anos de trabalho, durante os quais a Comissão questionou todos os aspectos da prática, crença e coerência do Druidismo e o carácter de benefício público da Druid Network. Isso significa que o druidismo agora é reconhecido como uma Religião válida de acordo com a Lei de Filantropia da Inglaterra. Isso dá ao Druidismo o mesmo Status de outras Religiões reconhecidas, em todas as áreas, inclusive nos locais de trabalho, um grande passo e motivo de celebração”.
2.5- Druidismo nos Estados Unidos da América
O primeiro Bosque de Druidas nos Estados Unidos foi instituído na cidade de Nova Yorque, em 1830, ramificando-se gradualmente, sendo o da Califórnia instituído em 1858 na velha cidade de Hangtown, hoje conhecida por Placerville, sendo chefiado pelo mesmo fundador do Druidismo californiano P:N:H:A: (Past National Grand Arch)[10].
2.6- Druidismo em Portugal
Também já chegou a Portugal o Druidismo. A notícia dessa chegada, foi dada no dia 27 de Abril de 2011 pelo periódico Sol, nestes termos:
“Sintra foi o local escolhido para acolher a primeira cerimónia do calendário celta, já no primeiro de Maio. É dessa forma que se dá a chegada da Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas a Portugal. Aquele que é um dos mais importantes grupos a nível mundial, dedicado à prática, ao ensino e ao desenvolvimento desta espiritualidade com raízes celtas vai chegar a Portugal. A primeira cerimónia da Ordem em terras lusas será o domingo, data da festividade celta de Beltane (que significa “Fogo de Bel”, uma festividade solar céltica), que está ligada ao redespertar das energias da Terra”
[11].
O nome porque é conhecido o Druidismo em Portugal é OBOD Portugal e já organizou vários eventos de forma a apresentar-se ao público português
[12].
A sede da Ordem situa-se no coração de Sintra; tem o nome de “A Casa do Fauno” e encontra-se “entre Steais e a Quinta da Regaleira, ocupando um terreno que pertenceu, em tempos, ao grão-mestre dos Tem+plários em Portugal e foi passando de mão em mão ao longo dos séculos”.
A Ordem só foi oficializada, a 1 de Maio, numa “cerimónia associada ao Verão, celebrando uma divindade celta chamada Belenus, como o descreve Alexandre, segundo um artigo de Luís Leal Miranda, publicado em 28 de Maio de 2011 intitulado Ordem dos Druidas
[13].
Quanto ao modo de celebrar as cerimónias, em Portugal, o mesmo autor explica:
“Como foi o primeiro ritual organizado, em Portugal, decidimos entreabrir as portas. Os próximos rituais vão ser secretos, limitados a membros para isto não ser visto como um folclore onde as pessoas se vestem de maneira estranha”
Relativamente à indumentária utilizada, acrescenta:
“Os Druidas não têm paramentaria oficial, mas há quem adopte umas vestes brancas iguais às que se crê que eram usadas pelos antigos druidas. 'Serve como uma muleta para enganar o nosso plano mental e despertar a consciência', justifica Alexandre Gabriel”
[14].
Notas
[1] Gaius Plinius Secundus (23-79dC), mais conhecido por Plínio,Velho.
[2] [On-line] [Consult 12-11-2011] Disponível em: http://accessnewage.com/articles/mystic/druids.htm
[3] [On-line] [Consult 12-11-2011] Disponível em: http://www.claudiscrow.com.br/almacelta-busca-relacoes-druidismo.htm
[4] Rediestesia é uma palavra composta, vindo do latim Radium (radiação) e do grego aesthesis (sensibilidade). Costuma definir-se como sendo a “arte de captar e estudar as radiações”. Funciona como o sonar de um navio caçador de minas que emite uma onda, voltando a captá-la, o que permite detectar se existe ou não uma mina no seu trajecto. É utilizado, normalmente, um pêndulo quando se deseja conhecer o que vai acontecer na vida de uma pessoa.
[5] [On-line] [Consult 27-03-2012] Disponível em: (http://news.nationalgeographic.com/news/2009/03/ 090320-druids-sacrifice-cannibalism_2.html National Geographic. (em inglês
[6] http://casadofauno.wordpress.com/casadofaun/ e ainda em http://www.cisionmediapoint.com/Press-Releases/99993088-ordem-dos-druidas-chega-a-portugal
[7] [On-line] [Consult 27-03-2012] Disponível em: http://www.astrologosasttrologia.com.pt/magia­_celta=acerca_dos_druidas.htm.
[8] [On-line] [Consult 27-03-2012] Disponível em: http://legadodecain.wordpress.com/20010/04/30/ wicca-e-druidismo/
[9] [On-line] [Consult 28-03-2012] Disponível em: http://www.obod.com.pt/perguntasfrequentes.htm
[10] [On-line] [Consult 28-03-2012] Disponível em: http://www.neopagan.net/UAODbooklet.html
[11] [On-line] [Consult 28-03-2012] Disponível em: http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=17735
[12] [On-line] [Consult 28-03-2012] Disponível em: http://www.aarffsa.com.br./noricias1/07111047.html.
[13] Ordem dos Druidas. Desde Maio num bosque perto de siJornal i (28 Maio 2011) por Luis Leal Miranda e http://www.obod.com.pt/comunicacaosocial.htm.
[14] [On-line] [Consult 28-03-2012] Disponível em: http://www1.ionline.pt/conteudo/126396-ordem-dos-druidas-maio-num-bosque-perto-si.
Bibliografia
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Jubainville, Henri d'Arbois de (2009). Os Druidas e os Deuses Celtas sob Forma de Animais. Zéfiro. Edição/reimpressão.
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terça-feira, 27 de março de 2012

Capíotulo 8 Os Ovos e os Coelhinhos de Páscoa

Conteúdos
1- Semelhanças e diferenças entre a Páscoa Hebraica e Páscoa Cristã
2- O Ovo como símbolo da Fertilidade e da Renovação
3- O Coelho como símbolo da Páscoa
4- Como se propagaram ambos os símbolos no mundo cristão
4.1- Os ovos pintados
4.2- Dos ovos de galinha pintados aos ovos de Fabergé
4.3- Tradição do Coelho com os seus ovos de Páscoa
Bibliografia




1- Semelhanças e diferenças entre a Páscoa Hebraica e Páscoa Cristã
Embora se diga que a Páscoa Cristã revitaliza a Páscoa Hebraica, será bom esclarecer que nem tudo na segunda corresponde exactamente aos usos e costumes da primeira. Existem, sim, semelhanças, mas essas são ultrapassadas, de longe, pelas diferenças.
Se, por um lado, a Páscoa Cristã se apresenta como a celebração da passagem da escravidão para o estado da libertação, à semelhança da Páscoa Hebraica, o cordeiro imolado desta última foi substituído, por uma única vez, pela sacrifício de Jesus Cristo, constituindo este facto a maior diferença entre ambas essa Páscoas.
Outras semelhanças existem no que respeita à Refeição comemorativa dessa “Passagem”. Enquanto na Páscoa Hebraica a Refeição comemorava a saída, à pressa, do Egipto, a Refeição da Páscoa Cristã chamou-se a Última Ceia por comemorar a última refeição que Jesus tomou com os seus discípulos e que, por sinal, teve lugar no período da comemoração da Páscoa Hebraica. Também aqui existem semelhanças, na fracção do pão e na participação do mesmo cálice de vinho, que foram ultrapassadas pelas diferenças porquanto a Última Ceia foi consagrada onde o pão e o vinho passaram a significar o corpo e o sangue de Cristo na Eucaristia.
Outras semelhanças e diferenças podem encontrar-se entre ambas as Páscoas no que diz respeito à verdade da Renovação da Natureza. Se a Páscoa Hebraica era celebrada por volta do Equinócio da Primavera em comemoração do início da nova Estação –, renascendo com ela a Natureza –, a Páscoa Cristã é igualmente celebrada nessa mesma altura e dá-se-lhe a significação de uma nova vida – a Ressurreição de Cristo.
Perante estas semelhanças e diferenças não é de admirar que também fossem adoptados no Cristianismo, os usos e os símbolos que eram mais comuns na Páscoa Hebraica, como o uso dos Ovo e do coelho, realidades aliás utilizados igualmente noutras civilizações antigas como símbolos da fertilidade e da renovação.
2- O Ovo como símbolo da Fertilidade e da Renovação
Percorrendo a literatura dos povos antigos vamos encontrar o uso do Ovo como símbolo do Renascimento da vida. Vejamos o seu uso nalguns povos anteriores ao Cristianismo.
Começando pela tradição hebraica, podemos dizer que, uma vez que o ovo não perde a sua forma, mesmo depois de cozido, como acontece com os outros alimentos, ele foi escolhido como símbolo do Povo de Israel, sendo por isso, que na Ceia Pascal o chefe da família se levanta em determinado momento e diz esta frase: “"O povo de Israel é como esse
ovo, que, quanto mais cozido na dor e no sofrimento, mais preserva sua unidade e a sua identidade"[1].
Segundo Juan-Eduardo Cirlot
[2], o ovo é o símbolo da imortalidade, sendo usado “na escrita hieroglíficas dos egípcios, por ser considerado como contendo em si o que é potencial, o princípio da geração, o mistério da vida. Por esta mesma razão tem sido utilizado pelos alquimistas. Enfim, o ovo é o símbolo cósmico na maioria das tradições, desde a Índia até aos druidas celtas.
Assim, para os Egípcios, o deus Re, nasceu de um ovo, enquanto para os Indus, Brahma surgiu de um ovo de ouro – Hiranyagarbha, fazendo da casca o Universo. Na Índia considera-se ainda que o ovo cósmico, nascido das águas primordiais, foi chocado pela gansa chamada Hamsa e que o que nasceu desse ovo é o Espírito, ou Sopro divino que se separou em duas metades para formarem o Céu e a Terra, sendo este facto a polarização do Andrógino
[3] ou do Hermafrodita. Por isso, “na tradição tântrica e hindu, Shiva, um ser andrógino, é frequentemente representado abraçado a Shakti, a sua própria potência e essência feminina eleita a divindade” (…), passando o andrógino a ser “sinónimo de totalidade, tanto no princípio como no fim dos tempos, reunindo em si a plenitude, roubada pela divisão dos sexos que a união do casamento volta a reunir”. Exemplo da androginia encontra-se nas antigas mitologias de “Adónis, Castor e Pólux”, assim como de “outras divindades que em geral têm uma natureza bissexual, reproduzindo-se a partir de si mesmas, dado que encerram em si as naturezas feminina e masculina”[4].
O mito grego de Castor e Pólux narra o nascimento estes dois personagens como fruto de ovos "postos" por Leda, rainha de Esparta
[5], ao ser seduzida por Zeus, que lhe apareceu sob a forma de um cisne[6]. Além do nascimento destes dois personagens, outros ovos da mesma Leda “deram origem aos deuses Dióscoros, usando cada um deles um toucado semi-esférico”[7] . O ovo era, na verdade, considerado por diversos povos antigos, como a origem dos humanos[8].
Segundo a mesma fonte
[9], “o Yin-yang chinês, polarização da Unidade primeira, apresenta um símbolo idêntico nas suas duas metades, negra e branca”[10]. Seguindo esta mentalidade muitos heróis chineses foram considerados como gerados a partir de ovos fecundados pelo Sol, ou a partir da ingestão pelas suas mães de ovos de aves[11] e P’an Ku, nasceu de um ovo cósmico[12].
Na antiguidade os ovos, símbolos da renovação da natureza eram enterrados nas terras de cultivo pelos agricultores na esperança de obterem uma boa colheita e existiu igualmente o costume de alguns serem pintados para serem oferecidos entre amigos e familiares
[13].
3- O Coelho como símbolo da Páscoa
Já no antigo Egipto, o coelho (ou a lebre) era símbol da fertilidade devido à sua incrível capacidade de procriação.
Quanto ao coelho da Páscoa, parece ter a sua origem na lebre sagrada da deusa Eastra (Harek), uma deusa germânica da Primavera
[14].
Era ela, a lebre ou coelho, que trazia os ovos. Noutras regiões, como na Westphalia (Alemanha), tal papel era exercido pela "raposa da Páscoa". Na Macedónia (Grécia) essa função cabia à "Paschalia" que significava o "Espírito do dia"
[15].
Efectivamente, em várias regiões, a lebre é considerada uma divindade. Ela está relacionada com a deusa lunar Hécate na Grécia; e, além da deusa Eastra, tem-se o seu equivalente que é a deusa Harek
[16] dos germanos, que era acompanhada por lebres[17], consideradas como símbolos da fertilidade, devido à grande capacidade de se reproduzir. Segundo os anglo-saxões e também os chineses, o coelho ou a lebre encontra-se associada à Primavera, embora segundo a tradição bíblica (Deuteronómio, 14:7), este animal seja considerado um animal imundo[18].
Por essa razão a mitologia egípcia dá “o aspecto de lebre ou coelho ao grande iniciado Osíris que é despedaçado e deitado nas águas do Nilo como garantia da regeneração periódica”. É curioso notar que ainda nos nossos dias os camponeses Xiitas da Anatólia explicam a proibição alimentar em relação à lebre dizendo que este animal é a reencarnação de Ali (o verdadeiro intercessor entre Alá e os Crentes)
[19].
Na Índia “pode citar-se a Sheshajataka onde o Bodhissattva aparece sob a forma duma lebre para se lançar em sacrifício no fogo”
[20].
No Taoismo, a Lua e a lebre morrem para renascerem, tornando-se esta imagem na teologia taoista, a preparadora do o elixir da imortalidade, sendo a “lebre representada a trabalhar à sombra duma figueira, a moer ervas num almofariz”
[21].
4- Como se propagaram ambos os símbolos no mundo cristão
4.1- Os ovos pintados
Como a Páscoa Cristã comemorava a morte e a ressurreição de Cristo, isto é a passagem da morte à vida e calhava mais ou menos no fim do Inverno e princípios da Primavera, tomou-se tanto esse rito, como a festa pagã correspondente e cristianizaram-se, uma vez que o ovo poderia muito bem simbolizar a morte e a ressurreição (vida nova) de Cristo.
O costume de pintar os ovos no cristianismo, à imitação dos Egípcios, começou no Oriente, sendo os Ortodoxos os grandes especialistas dessa arte. Parece ter-se propagado, primeiro na Rússia, passando deste país, depois, para a Grécia, vindo a predominar as cores vermelhas.
4.2- Dos ovos de galinha pintados aos ovos de Fabergé
Na Bulgária existe a luta do ovo. Cada jogador toma ovos nas mãos e luta, tentando chegar ao fim da luta com eles intactos. Quem ganhar será o mais feliz durante o ano que aí começa e finda na Páscoa seguinte.
A tradição da oferta de ovos passou à Inglaterra, onde Eduardo I oferecia aos seus protegidos ovos banhados a ouro
Em França Luís XIV introduziu o costume de oferecer ovos de madeira, porcelana, metal nos quais introduzia surpresas. Por exemplo, Luís XV presenteou a sua amante Madame du Barry com um ovo onde estava pintado a estátua de Cupido.
Estas tradições inspiraram Peter Carl Fabergé a criar os famosos “Ovos Fabergé” que são decorados com desenhos cheio de detalhes e crivados de pedras preciosas, sendo todos eles criados para a família imperial russa, medindo cada um cerca de 13 centímetros.
Os ovos podiam ser feitos de prata, ouro e cobre ou de pedras semi-preciosas encontradas na região, como o quartzo,o jade e a lápis-lázuli. No século XIX, poucas cores eram utilizadas e a esmaltação translúcida era uma técnica muito apreciada.
Fabergé criou mais de 140 tonalidades. Sobre a base do ovo era feito um desenho, que era coberto de muitas pedras preciosas, principalmente diamantes. Eram jóias muito sofisticadas e de enorme valor, feitas em ouro, diamantes e pedras preciosas, aludindo aos tradicionais ovos de Páscoa.
A tradição dos ovos de Fabergé começou em 1885, quando Alexandre III, czar da Rússia, procurou o mais famoso joalheiro da corte, Peter Carl Fabergé
[22] e encomendou um ovo de Páscoa para dar de presente a imperatriz Marie Feodorovna.
No ano seguinte fez a mesma coisa e assim continuou fazendo até sua morte. Fabergé era a mais importante joalheira existente na Rússia ao final do século XIX e início do século XX.
A essa joalheira, os czares russos encomendavam a confecção de ovos de Páscoa para serem oferecidos por ocasião da festa.
Os ovos Fabergé foram todos criados para os czares Alexandre III e seu filho, Nicolau II, no período de 1885 a 1917, sendo oferecidos durante a Páscoa entre os membros da família real. O último dos ovos foi feito em 1917, visto que o imperialismo russo estava a atingir o seu termo. Uma vez que as greves e revoltas populares anunciavam a queda do czar Nicolau II, Fabergé decidiu encerrar a sua joalharia, em 1916, poi que ela era considerada pelos revolucionários como um símbolo da riqueza pervertida do imperialismo czarista. Efectivamente, a 15 de Março de 1917 o Czar Nicolau II abdicou, sendo preso e levado com a família para a Sibéria, deixando encomendados ainda dois ovos cujas temáticas ficaram conhecidas por “Madeira de Karelia” e “Constelação”, mas que nunca vieram a ser terminados
[23].
Actualmente são jóias raríssimas, e quando alguma peça destas aparece num leilão de arte chegaa atingir o belo montante de cinco milhões de dólares americanos, ou seja, cerca de 3.759.398 €
[24]
Actualmente, a Casa Fabergé está representada na França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e Brasil. Mas os artistas de agora reproduzem os desenhos dos originais do século XIX e inícios do século XX, mas em séries limitadas
[25].
4.3- Tradição do Coelho com os seus ovos de Páscoa
Como no antigo Egipto o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida e nalguns povos da antiguidade era símbolo da Lua, do amor e da fertilidade[26] é possível que este animal se tenha tornado símbolo pascal devido ao facto de a Lua determinar a data da Páscoa.
Este animal tornou-se popular na Alemanha, como símbolo da Páscoa. As crianças esperavam que os coelhos lhes trouxessem os ovos da Páscoa e esta convicção propagou-se na América do Norte e no Brasil, através dos alemães que para ali emigraram, entre os finais do século XVII e inícios do século seguinte
[27].
Ao contrário das crianças alemãs, as crianças checas esperam que os presentes pascais lhes sejam trazidos pelas cotovias
[28] (aves muito comum também em Portugal) e as crianças Suíças esperam que os ditos presentes lhes sejam ofertados pelos cucos, não fossem estas aves utilizadas para anunciarem as horas do dia por meio dos célebres “relógios cuco”!
Notas
[1][On-line] [ Consult 26-03-2012] Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/por-que-o-ovo-e-o-coelho-sao-simbolos-da-pascoa.
[2] Dicionário de Símbolos, p. 435
[3] Chevalier et Gheerbrant, 1994, p. 497
[4] [On-line] [ Consult 27-03-2012] Disponível em: http://www.infopedia.pt/$androgino
[5] Fontana, 2004, p. 145
[6] Dicionário de Símbolos, p. 435.
[7] Chevalier et Gheerbrant, 1994, p. 497
[8] "Páscoa: que significa realmente?" in Jornal da Tarde, 7 de Abril de 1982.
[9] Ibidem
[10] Chevalier et Gheerbrant, 1994, p. 497
[11] Ibidem.
[12] "Os ovos" in "Homem Mito e Magia" da Ed. Três, v. III, pag.718.
[13] "PÁSCOA" in Enciclopédia Delta Universal, v.11, pag. 6125 (ed.80).
[14] "Os ovos" in "Homem Mito e Magia"...
[15] Ibidem
[16] “Na mitologia, Hécate era filha dos titãs Perseu (masc.) e Asteria - (fem. Gr.: Ἀστερία, "das estrelas, a estrelada”) (…) Como Diana, a caçadora, Hécate pertence à classe das deidades portadoras de archote (…) Embora os cães fossem os animais mais sagrados para ela, Hécate estava associada às lebres na antiga Grécia, como a sua equivalente germânica, a deusa lunar Harek. Na arte, Hécate é muitas vezes representada como uma mulher com três cabeças, com serpentes sibilantes entrelaçadas em seu pescoço. Por essa razão, ela é chama­da de Triforme — símbolo que pode estar ligado aos três níveis. Nascimento, Vida e Morte (representando o Passa­do, o Presente e o Futuro) e à trindade da Deusa Tripla: Virgem, Mãe e Anciã [http://www.astrologosastrologia.com.pt/hecate_RitualInvocacaoHecate.htm].
[17] "Lebre" in "Dicionário de Símbolos" de Cirlot, pag. 337.
[18] "Páscoa, comemoração universal" in Shopping News-City News-Jornal da Semana, 26 de Março de 1989, pag.43. Cf. [On-line] [ Consult 26-03-2012] Disponível em http://www.angelfire.com/in/zadoque/peschah.html.
[19] Chevalier et Gheerbrant, 1994, p. 403.
[20] Ibidem.
[21] Ibidem.
[22] Peter Karl Fabergé, nasceu em 18/05/1846 em São Petersburgo, Rússia e teria como nome de baptismo Karl Gustavoich Fabergé.
[23] [On-line] [ Consult 26-03-2012] Disponível em: http://virtualia.blogs.sapo.pt/43173.html.
[24] (1€=1.33UsaD cotação de 27 de Março de 2012).
[25] [On-line] [Consult 26-03-2012] Disponível em: http://www.girafamania.com.br/europeu/materia_russia-faberge.html
[26] Fontana, 2004, p. 158.
[27] [On-line] [ Consult 26-03-2012 ] Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Coelhinho_da_P%C3%A1scoa.
[28] “A cotovia-de-poupa é uma espécie que se encontra bem distribuída por toda a Europa. Tem um bico castanho claro, comprido e encurvado e uma cauda curta arruivada na parte exterior. A parte superior do corpo é malhada de castanho e castanho amarelado, sendo o peito e o abdómen mais claros. Chega a medir 17 cm de comprimento, e voa sozinha ou em grupos que não ultrapassam os 10 indivíduos. Alimenta-se de sementes e insectos e nidifica entre Abril e Junho numa cova no chão. Põe entre 3 a 5 ovos de cor branco sujo com manchas castanho avermelhadas, que são incubados pela fêmea durante 12/13 dias” [http://www.bragancanet.pt/patrimonio/faunacotovia.htm].

Bibliografia
Chevalier, Jean et Cheebrant, Alain (1994). Dicionário dos Símbolos. Mitos, Sonhos, Costumes, Gestos, Formas, Figuras, Core, Números. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. Lisboa: Editorial Teorema.
Cirlot, Juan Eduardo (1997). Diccionario de Simbolos. Edição/reimpressão: 1997. Páginas: 480. Editor: SIRUELA. Idioma: Espanhol.
Enciclopédia Delta Universal, 15 volumes, Rio de Janeiro, Editora Delta. SA., 1932.
Fontana, David (2004). A Linguagem dos Símbolos – Uma chave ilustrada para os Símbolos e seus Significados. Lisboa: Editorial Estampa.
Shopping News-City News-Jornal da Semana, 26 de Março de 1989, pag.43.