– AS TRÊS PEDRAS
DO CALVÁRIO DO “SANTO” DE LAMEIRAS
–
“ (…) toda a imagem, gravura ou fotografia refere-se a algo. Conhecer, pois, esse referente (...) é reatar duas culturas: a perdida e agora reencontrada e a que contribui para essa reabilitação” (Rolando Barthes).
CAPÍTULO 1: PEDRA CENTRAL
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
Baseados na
afirmação de Roland Barthes, supra citada, decidimos fotografar e analisar as três
pedras que, respectivamente, servem de base às três cruzes do Calvário, do
“Santo”, sito na Freguesia de Lameiras, concelho de Pinhel, distrito da Guarda.
Nessas três
pedras estão artisticamente esculpidas várias figuras que, apesar de parecerem
enigmáticas, terão, certamente, atrás de si, uma história, que, talvez possa
ser desvendada e transmitida, como sendo testemunhas graníticas vivas da
história milenar dessa aldeia beirã.
A. A pedra
direita do lado direito da cruz central e
que serve de base a uma outra cruz em vez da forma de cubo, apresenta,
uma forma rectangular, medindo as suas faces laterais 0,60m e a da retaguarda e
de frente 0,60m. Ela possui duas gravuras:
· Uma, à frente, com a imagem de uma
mulher em vias de parto, que poderá ser denominada “Pedra da Grande-Mãe”;
·
Outra, à retaguarda, com uma
imagem que pode dar a sensação de ser um peregrino com capuz ou um ankah,
símbolo egípcio pelo qual se representava a deusa Ísis e que exibe a forma do "Tyet", também conhecido por “Nó de Ísis”[1] ou “Sangue de Ísis”:
Tyet ou Nó de Isis
Devido a estas características, eu próprio lhe darei o nome
de Pedra da “Deusa-Mãe”, nome que deverei verificar, mais adiante, se
terá a sua razão de ser.
B- A Pedra central, ou
seja, aquela sobre a qual assenta a Cruz do centro, que apresenta a forma de um
hexaedro[4] e que
se encontra ornada de gravuras em quatro das suas seis faces:
1. Na frontal, com os utensílios de pedreiro ou de carpinteiro
2. Na direita, com uma figura em espiral
3. Na esquerda, com um casal
4. Na superior, com um conjunto de animais e répteis
Também esta
segunda pedra denominarei eu “Pedra Memorial”, termo que irá ser
comprovado ao longo do meu estudo.
C- A pedra do lado esquerdo
(à direita de quem olha para o Calvário) tem uma face apenas com figuras em
relevo, apresentando felizmente uma inscrição grega, mas em letras latinas: LI
GAIAS.
A sua
configuração é, sensivelmente, a de um grande paralelepípedo, sendo as
suas medidas as seguintes: 0m, 55 para as faces da frente e a de
trás; 0m, 47, para as faces laterais e 0m, 60 para a
respectiva altura.
Esta pedra
continuará a ser conhecida pelo nome de “Santos do Forno” devido à tradição popular, devido a ter
feito parte de uma das paredes do antigo forno comunitário.
Ora o trabalho
que me propus fazer nesta segunda parte do estudo sobre a Freguesia de
Lameiras, Concelho de Pinhel tem por objectivo dar uma resposta à figuras que
se encontram nessas três pedras do Calvário, dito do “Santo”, dividindo-o em
três capítulos, consoante as três pedras em questão, seguindo, em cada um, três
momentos distintos, a saber:
- Num primeiro momento e, partindo da apresentação fotográfica de cada uma das respectivas faces, apresentarei as suas respectivas formas e figuras;
- Num segundo momento, dedicarei um estudo, tanto à descrição, como ao significado ou simbologia de cada uma delas, em particular.
- Num terceiro momento, deduzirei as conclusões que me parecerem mais lógicas e verosímeis.
Calvário do Santo de Lameiras, depois de remodelado em
2009
1- Pedra Memorial
A primeira que
analisarei será aquela que serve de supedâneo à cruz central por ser a mais antiga do Calvário do “Santo” de
Lameiras. Na realidade já ali existia quando eu era criança, pois sempre dela
me lembro, enquanto as outras duas só para ali foram colocadas após a
“Revolução dos Cravos” que, foi levada a cabo pelo movimento militar, chamado
Movimento das Forças Armadas (MFA) que era composto por oficiais intermédios da
hierarquia militar e formada, na sua maioria, por capitães das guerras
coloniais, sendo apoiados por oficiais milicianos, estudantes, vindos das
universidades portuguesas. Este movimento, porém, teve os seus inícios em 1973
com base em reivindicações corporativistas como a luta pelo prestígio das
forças armadas.
2- Forma dessa pedra
É um cubo perfeito, com seis faces, quatro das quais possuem figuras esculpidas. Tanto a face que serve de base, como a que se encontra na retaguarda não possuem figuras.
3- Local original deste cubo
Como
este Cubo não possui figuras numa das faces pode supor-se que esta face
originariamente estava encostada a um muro ou fechava a abertura de um
receptáculo à superfície do solo e tão ou mais alto e comprido do que o dito
cubo. Tudo leva a crer tratar-se de um túmulo.
Neste
caso a pessoa ou pessoas recordados por este túmulo não teriam sido simples
trabalhadores da aldeia de Lameiras, mas sim uma ou mais personagens de certa
notoriedade.
1- Face frontal (ferramentas)
1.1- Descrição
Face frontal da pedra central
Foto de 2001
Foto de 2009
Esta face
apresenta um conjunto harmónico formado por vários utensílios que estão
enquadrados:
Primeiro: por
uma moldura exterior em forma de dois “L” invertidos,
Segundo:
estes dois “Ls” invertidos encontram-se ligados um ao outro por meio
das duas extremidades (superiores) duma tenaz ou pinça de
carpinteiro/ferreiro, de eixo ao centro e com duas pegas ou empunhaduras:
Tenaz
Terceiro:
existe uma segunda moldura (a do interior) que é formada por duas colunas que
se unem, mais ou menos, através das outras duas extremidades (inferiores) da
mesma tenaz.
Segunda Moldura
Quatro:
nesta segunda moldura (ou moldura interna) existem os seguintes objectos:
- Uma escada, ou série de degraus, cuja função é, logicamente, a de subir e descer e uma régua, que, sendo um instrumento de superfície plana e de arestas rectilíneas, tem a função de traçar linhas rectas e a de verificar se a superfície de um determinado objecto está ou não regularmente lisa e direita;
Escada e régua
- Um “prumo ou nível”
Prumo ou nível
Entre
os egípcios, o “prumo ou nível”, foi usado, inicialmente, para “marcar ângulos
em terrenos”, mas acabou por ser utilizado, mais tarde, como amuleto nas múmias
para significar e garantir “o equilíbrio” do defunto na outra vida, enquanto
entre os vivos passou a ser se utilizado em forma de pingentes, quer nesse
mesmo sentido, quer como simples adorno.
Hoje
a tarefa de marcação de ângulos encontra-se facilitada pela Suta (ou sutra) se
define como um “Instrumento geralmente de madeira, que serve para marcar
ângulos em terrenos ou como um esquadro de pernas móveis para traçar ângulos de
qualquer número de graus”[5].
Suta ou sutra
- Uma turquês (também denominada turquesa, torquesa ou torquês) que é um instrumento metálico formado por duas peças com as quais se pode apertar ou arrancar um objecto, por exemplo, um prego;
Turquês
- Um camartelo ou picola[6] que é um instrumento de ferro, em forma de cunha ou de martelo de orelhas, com cabo de madeira e que é usado pelos canteiros. Serve para alisar a pedra, escavar (se for em forma de cunha) ou para arrancar pregos (se tiver uma ranhura apropriada para isso).
Camartelo ou picola
1.2- Simbologia/significação da face frontal da Pedra Central
Os
objectos inscritos podem recordar três artistas: pedreiro, marceneiro, ferreiro
ou apenas um que reúna, em si próprio, essas três profissões. Efectivamente, os
três usam alguns desses utensílios, como sejam, por exemplo: a escada, a régua,
a turquesa, a pinça e o arranca-pregos ou martelo de orelhas. Esta imagética
aglutina, numa única configuração, as artes fundamentais da construção
civil. Por isso, em vez de querermos confiná-la ao mestre de uma única
arte, podemos considerá-la própria de um mestre na arte da construção civil.
Devido aos relevos existentes nas quatro
faces (na superior, nas duas laterais e na frontal) e às duas faces lisas (a
inferior e a da retaguarda) sou levado a supor que esta pedra tenha servido de
fecho a um sepulcro, resultando esta num monumento sepulcral comemorativo.
O
sepulcro, um tanto alongado, tanto poderia estar horizontalmente, no interior
de uma parede, como perpendicularmente no interior de solo mas, neste caso, a
pedra de fecho ficaria encostada a um muro. Poderia igualmente estar colocado
horizontalmente à superfície, quer dentro de uma igreja ou capela, quer em
qualquer outro edifício ou ao ar livre, mas também, aqui, estaria encostada a
um muro, como o sugerem a face inferior e a face da retaguarda.
O problema, porém, reside em encontrar,
dentro da freguesia de Lameiras, um local onde essa pedra poderia ter sido utilizada,
pela primeira vez, e a exercer essas funções que acabei de enumerar. É certo
que o adro da Igreja serviu, em tempos, como cemitério e, ainda hoje, lá se vê
uma campa, como esta cuja laje aqui reproduzo e que se supõe pertencer ao meu
avô materno, chamado José Coelho.
Sepultura de
José Coelho (Foto de 2009)
É do conhecimento dos mais antigos,
inclusive, das gerações dos anos 50,que existiam mais algumas sepulturas, por
exemplo: umas debaixo do velho cedro que se encontrava no ângulo esquerdo de
quem sai da Igreja pela porta principal e outras do lado direito, uma das quais
estava circundada por uma vedação ou grade de ferro, e que, segundo indicações do
Padre Paulo Costa Afonso[7], pertencia à família do Sr. Alfredo Beirão.
É, possível, portanto, que esta pedra pertencesse
a alguma sepultura muito mais antiga, visto que nessa época já ela servia de
pedestal à cruz central do Santo. É, pois, legítimo pensar que a pedra central
tenha servido de porta-de-fecho a um sepulcro localizado no adro ou dentro de
um local de culto (uma primitiva capela ou igreja) de Lameiras e que fosse um
monumento artístico a recordar um mestre famoso da arte da construção civil e/ou
da arte de serralharia dessa Povoação.
2- Face esquerda da Pedra central (casal)
2.1- Descrição das figuras
A face esquerda da pedra (à direita de quem
olha para o calvário) é constituída por dois painéis separados, representando
dois indivíduos: um do sexo masculino e outro do sexo feminino. À primeira
vista dão-no a sensação de que ambos estão em idêntica posição frontal, ou seja
a olhar para quem os contempla.
Figura a preto e branco (2001)
A mesmas
imagem a cores (2003)
Por seu lado, o indivíduo do sexo masculino
apresenta uma postura que tanto pode ser a de quem está em pé, como a de quem
está deitado de costas, mas com os braços cruzados abaixo do abdómen. A
estatura deste ultrapassa a estatura da mulher, tanto no que respeita à cabeça,
como no que respeita às pernas que ultrapassam, em ambos os casos, a figura da
mulher.
Finalmente, ambas as figuras apresentam uma iluminação
diferente: mais clara no que se refere à da mulher e mais escura na figura
oposta, o que pode resultar da deterioração temporal ou devido ao fogo que a
tenha atingido, se não quisermos supor que a diferença nessa claridade
represente uma situação moral diversa.
2.2- Significação/simbologia
Podem existir duas hipóteses:
1ª. O indivíduo do sexo masculino está em
posição de defunto deposto no sarcófago e a mulher está ajoelhada em posição de
oração. Neste caso estaríamos perante um defunto comemorado pela pedra
sepulcral e perante uma mulher que dirige a Deus as suas preces pelo descanso
daquele que já tinha partido desta terra.
2ª. Ambos estão ainda vivos, então, neste
caso, ambos estão em posição de recolhimento em honra de uma pessoa de família
que já tinha falecido correspondendo a posição da mulher, à da oração humilde e
reverente, enquanto a posição do indivíduo masculino corresponderia,
preferencialmente, à posição masculina de maior altivez, manifestada na posição
erecta, ao lado da figura feminina, mais submissa e devota.
3- A face direita da pedra central (Espirais, círculo, olho e mão)
Espirais
Foto de 2001
3.1- Descrição desta face
A face esquerda apresenta duas molduras, estando incluída
uma na outra. Na moldura interior encontra-se uma imagem complexa constituída
por várias figuras:
Fazendo a análise a começar pela base, temos
- Uma figura central, em forma de cálice com;
- Uma base cónica;
- Um anel, logo acima da base cónica;
- Duas ramificações: uma que começa num rosto feminino (do lado esquerdo = ao nosso lado direito) e converge para o tronco central da figura; e outra que nasce no local onde a termina a primeira para seguir em direcção ao exterior, dirigindo-se para o interior de si mesma e terminando num ponto fixo que é chamado pólo;
- Duas outras ramificações superiores que servem de suporte a um grosso plano que, embora possa parecer quer o corporal, quer a pala do sacrifício da missa, parece antes uma superfície espessa e pesada, dando-nos a sensação de estarmos perante a representação da superfície da Terra, sustentada por dois fortes braços;
- Um rosto oval, dentro de um círculo um pouco deformado pelo defeituoso paralelismo das ramificações superiores;
- Por baixo das duas ramificações inferiores encontram-se duas imagens ou símbolos:
- Sob o rosto feminino da espiral do lado esquerdo está o símbolo de uma das mãos que dificilmente poderemos ter a certeza se é a direita ou se é a esquerda, mas que mais me parece ser a mão esquerda. Quer seja uma quer seja outra, ou mesmo na sua indefinição, ela tem, certamente, um significado pertinente.
- Sob a espiral do lado direito, vê-se um “globo ocular” no interior de uma figura geométrica hexagonal.
3.2- Significação/simbologia da face com espirais
3.2.1- A Espiral
Por
Espiral pode entender-se:
- Tudo o que tem a forma de uma espira[8]; Tudo o que esteja enroscado em forma de caracol; toda a curva que descreve uma infinidade de voltas em roda de um ponto fixo chamado pólo.
As espirais mais conhecidas são:
- Espiral de Arquimedes: aquela cujo raio vector cresce proporcionalmente ao ângulo polar.
- Espiral hiperbólica, aquela cujo raio vector varia na razão inversa do ângulo polar.
- Espiral logarítmica, aquela cujo logaritmo do raio vector varia proporcionalmente ao ângulo polar[9].
Esta figura (do espiral) por aparecer na
vida campestre praticamente de todos os povos, quer na vinha, sob o nome de
gavinha, quer no reino dos moluscos gastrópodes terrestres de concha espiralada
calcária, chamados caracóis, encontra-se carregada de significações simbólicas.
Uma das significações primordiais é aquela
do movimento, como o referem Champeaux
e Sterckx[10] por meio destas palavras:
“Manifesta
a aparição do movimento circular saindo do ponto original; este movimento
mantém-no e prolonga-o indefinidamente: é o tipo de linhas sem fim que enlaçam
incessantemente as duas extremidades do ‘devenir’ (...) emanação,
extensão, desenvolvimento, continuidade cíclica, porém, em progresso, e rotação
criacional”.
Os próprios chineses acreditam numa
simbologia idêntica, pois que, segundo Chevalier-Gheerbrant[11]:
“A
espiral dupla simboliza simultaneamente, o nascimento e a morte, Kalpa e
Pralaya, ou a morte iniciática e o renascimento num ser transformado.
Indica a acção em sentido inverso da mesma força em volta dos dois pólos, nas
duas metades do ovo do mundo. A dupla espiral é o traçado da linha média do yin-yang,
que separa as duas metades, negra e branca, da figura. O ritmo alternativo do
movimento fica assim expresso nela com mais precisão, o mesmo que no antigo
carácter (letra) chen que representa com a dupla espiral a expansão do yin.yang”.
“A
espiral é o símbolo da fecundidade, aquática e lunar. Marcada sobre os ídolos
femininos paleolíticos homologa todos os centros de vida e fertilidade. Vida
porque indica o movimento numa certa unidade de ordem ou, inversamente, a
permanência do ser sob a sua mobilidade”.
Entre os Índios, o povo de Zuni, na grande
festa do Solstício de Inverno (que é também a festa do Ano Novo, no primeiro
dia e depois de haver sido aceso o fogo do Novo Ano), entoavam-se cantos e
executavam-se danças em espirais, simbolizando, com estas, a permanência do ser
humano através das flutuações da mudança, enquanto entre muitos povos
africanos, a espiral ou a helicoidal simbolizam a dinâmica da vida, o movimento
das almas, na criação e na expansão do mundo (Ibidem).
Entre os povos celtas[13] “A espiral é um motivo que se encontra,
frequentemente, gravado pelos Celtas sobre os Dólmenes ou sobre os monumentos
megalíticos”.
Chevalier-Gheerbrant, depois de concluir que
a espiral simboliza “a viagem da alma após a morte, por caminhos por ela
desconhecidos, porém, conduzindo-a por suas voltas ordenadas até ao foco
central do ser eterno”, termina por fazer suas as palavras de um outro
escritor que diz: “Creio que em todas as civilizações primitivas onde se
encontra, desde o cabo Norte até ao cabo da Boa Esperança, e em muitas civilizações
da América e da Ásia, inclusive na Polinésia, a espiral representa a viagem post
mortem (depois da morte) da alma do defunto, até o seu destino final”[14].
Segundo Fontana[15] “os antigos acreditavam que a energia fluía
em forma de espiral. Por isso, continua o mesmo autor, “a espiral representa as
energias tanto masculina como feminina”.
Para Chetwynd[16] os cornos do carneiro em espiral sugerem um
vórtice[17] (turbilhão) no centro do universo, a fonte
invisível e desconhecida que é a origem de tudo”. Por isso, continua o mesmo
autor: “são dados cornos ao Herói – o Ego consciente que é o Filho da Lua-Mãe –
o Subconsciente”. Por seu lado, a cauda que é tida como trazendo o equilíbrio,
e é considerada a “parte mais nobre do corpo …, será representada, pelo
movimento, representando, por isso mesmo, “as dinâmicas da vida”. Estas duas
imagens são, pois reforçadas pela forma espiral[18].
Falando ainda dos carneiros, ovelhas e
cordeiros, o mesmo autor[19] afirma que “os seus chifres em espiral e
com o Sol a nascer no seu signo na Primavera do ano, o carneiro torna-se um
símbolo maior da força da vida – o centro da fertilidade, o crescimento e a
infindável energia. Esta imagem desempenhou um papel muito importante no culto,
por exemplo, de Amon no Egipto, ou de Baal Hammon na Fenícia”.
Além de ter um caminho ascendente, como no
caso dos ventos, tempestades e trovões, “a espiral também tem um caminho
descendente para o inferno – e o redemoinho é, normalmente, associado aos
dragões”[20] sendo o símbolo, também, do troar do trovão”[21].
Voltando ainda ao
passado longínquo das gerações e civilizações, podemos recordar quanto, nessas
mentes humanas se pensava do modo como a energia circulava. Esta era tida como
fluindo sempre em espiral, uma vez que, também era assim que se acreditava na
forma como girava, não só a energia masculina e feminina, como também a energia
do Sol e da Lua. Aplicando esta imagética à alma o Livro dos Signos e dos
Símbolos[22] diz que “a
espiral simboliza também o movimento circular da alma que acaba de regressar ao
centro, ou seja, à verdade”.
Concluindo, podemos sintetizar tudo sobre a
espiral nesta ideia: A espiral nesta pedra simboliza a linha da vida que começa
na mulher, passa por uma figura central relacionada com o provir e segue em
direcção ao desconhecido, desaparecendo no ponto fulcral da espiral.
3.2.2- A mão
A Mão (em hebraico יָד , iad)
além de ser um emblema real, um instrumento de mestria e um signo de domínio,
exprime, também, a ideia de actividade, significando, por isso, poder
e domínio[23].
Na tradição bíblica e cristã a mão é o símbolo do
poder e da supremacia. No Antigo Testamento, quando se menciona a “mão de Deus”,
simboliza-se “Deus na totalidade do seu poder e eficácia”.
A mão de Deus, em si, é o seu poder que, tanto pode
ser criador e protector, como destruidor e aniquilador. Porém quando se fala da
mão aberta de Yawéh (יָד פּתו∙חָה
– Iad petuhah
Iavéh) significa,
normalmente, “mão que distribui generosidade”.
Existe, porem, uma diferença semântica entre
a mão esquerda e a mão direita. A mão esquerda simboliza a aplicação da justiça,
dando-se-lhe o sinónimo de “Mão de justiça” ou “Mão de severidade”, sendo uma
das qualidades divinas e régias. Foi, por essa razão, utilizada na idade média
como a insígnia da monarquia francesa[24].
Ao inverso, a mão direita está
relacionada com a misericórdia e o perdão. Segundo a Cabala, a Mão
direita da Shekinah, é a mão que benze, vindo a tornar-se, por
isso, o emblema da autoridade sacerdotal.
O termo
hebraico Shekinah (שכינה do
verbo ש-כ-נ (sh-k-n),) era, frequentemente, utilizado
entre os hebreus, em substituição da palavra “Deus”. Tal conexão derivou do
facto de existir, na mente judaica, a ideia de que Deus “habitou” ou
“descansou” entre o Povo de Israel, servindo-se da Arca da Aliança que se
chamava Shekinah. Este termo só aparece na Literatura Rabínica, enquanto
na Torah[25] se encontram apenas
algumas alusões a essa habitação divina entre o Seu Povo, pertencendo:
·
A primeira ao livro do Êxodo (cap.
25, 8), onde se diz: בְּתוֹכָם וְעָשׂוּ לִי מִקְדָּשׁ וְשָׁכַנְתִּי " “e fareis um santuário para Mim e habitarei
no meio deles, isto é dos Israelitas;
·
A segunda ao mesmo livro, cap.
29,45, e diz: “habitarei no meio dos filhos de Israel e ser-lhes-ei o seu Deus
(בְּתוֹךְ בְּנֵי
יִשְׂרָאֵל, וְהָיִיתִי לָהֶם לֵאלֹהִים וְשָׁכַנְתִּי );
·
E a terceira ao Profeta Isaías (cap.
8,18), onde se diz: " בְּהַר צִיּוֹן
יְהֹוָה צְבָאוֹת הַשֹּׁכֵן " - “o Eterno dos exércitos, aquele
que habita em Sião”.
Em hebraico, existe, de facto, uma clara distinção
entre a mão direita (יַד יָמיִן - Iad Iamin) – a mão das bênçãos – e a mão esquerda ( בְיָד שְׂמׄאל- beiad shemol) – a mão das
maldições –, assim como entre a mão fechada (יַד סָגוּר – Iad sagur) “mão que não distribui nada” e a mão aberta
(יָד פּתו∙חָה – Iad petuhah)
ou “mão que distribuidora, e, portanto, generosa”.
No nosso caso, como não é fácil distinguir, na figura
que possuímos na pedra se, na realidade, se trata da mão direita ou da mão
esquerda, ela significará, pelo menos, a “mão aberta”, ou seja “distribuidora”.
Talvez a sua indefinição tenha sido propositada, podendo significar
“distribuição, tanto da justiça, como da misericórdia”. Deus, de facto, sendo
justo, distribuirá a misericórdia e perdão, ou o castigo e condenação ao defunto
que já partiu para a outra vida, consoante as acções boas ou más que tenha
praticado na terra enquanto nesta viveu.
Essa mesma indefinição quanto à mão direita ou
esquerda poderá notar-se na “Mão de Fátima”, utilizada pelos muçulmanos e
conhecida sob o nome de Hamsá[26] para
os quais ela simboliza a acção e a força. Olhando bem para e sua representação,
dificilmente se poderá dizer se se trata da mão direita ou a da mão esquerda.
A Hamsá, usado ainda hoje, por muitos muçulmanos como um
talismã contra os maus-olhados, encontra-se sob as variantes Fatimata, Fatoumata
e Fatou, tendo-se tornado muito comum entre as mulheres muçulmanas da África Negra.
A propósito deste tema, António Rei, num artigo que
publicou na Internet[28],
sobre o significado da “Mão de Fátima”, sustenta que a “palavra yad (mão), soando identicamente em árabe
e em hebraico, transporta igualmente em ambas as línguas o significado de «mão»
e também de «potência», sendo utilizada como talismã e adorno por meninas e mulheres
contra o mau-olhado
Hamsá
tunisina[29]
Baseando-se, ainda em Doutté[30] o
mesmo António Rei acrescenta:
“Uma outra utilização mais vulgar desta figura
é a simples pintura da mão, através de uma forma estética mais ou menos conseguida,
e que aparece geralmente nas portas das casas, mas surge também muitas vezes
nos muros das moradias. Esta utilização ainda mais acessível e vulgar da ‘Mão
de Fátima’, talvez pela facilidade de meios para a conseguir, e sem grandes exigências
técnicas e artísticas, fez com que a mesma figura, tão popular na região do
Magrebe, surgisse não apenas nas portas dos muçulmanos, mas também nas dos
judeus”.
O mesmo autor
observa que esta costume se encontra, igualmente, entre os judeus que habitam
em todo o Magrebe, desde Marrocos até à Tunísia.
Com efeito, um talismã idêntico é usado no judaísmo,
sendo, por vezes, adornado com uma ou mais estrelas de
David. Segundo a tradição judaica, este símbolo representa a mão
de Miriam, irmã de Moisés e de Aarão, personagens que libertaram o povo hebreu da escravidão
que tinha sofrido no Egipto e o conduziram à Terra Prometida.
Às vezes, essa mão é comparada ao órgão
da visão (vista ou olho), vindo esta comparação e
interpretação a ser retida e desenvolvida pela Psicanálise, por se considerar, nesta
disciplina, que a mão vista nos sonhos é o equivalente do olho,
símbolo da percepção intelectual e sobrenatural[31],
como se poderá explicitar melhor, mais à frente.
Devido a esta
interpretação de percepção intelectual e sobrenatural, este Hamsa
adoptou a forma de amuleto com um olho bem aberto na palma:
“Mão
de Miriam, irmã de Moisés e de Arão
Tanto no Budismo como no Hinduísmo, o simbolismo
essencial reside, não tanto na mão aberta ou fechada, mas, sobretudo nos mudra,
ou seja, nos gestos da mão. Nestas duas últimas civilizações, cada
gesto, praticado pelas mãos tem a sua significação particular. Como exemplo
referirei apenas alguns:
O abhaya-mudra (ausência de
temor): a mão levantada, com todos os dedos estendidos e a palma da mão
dirigida para a frente[33].
Esta mudra[34],
atribui-se a Kali, potência do tempo destruidor, que, em si mesma, está mais
além do temor e liberta aqueles que a invocam;
abhaya-mudra
O varada-mudra (dom): mão baixada,
com todos os dedos estendidos e a palma da mão para a frente[35]. Kali
destrói os elementos contingentes do universo; encontra-se, portanto, mais
além da contingência e dispensa assim a felicidade;
varada-mudra
O tarjani-mudra[36]
(ameaça): punho fechado, com o dedo indicador apontando para o ar; Sobre estes
gestos e outros mais encontrarão os leitores mais indicações em Chevalier-Gheerbrant [37].
tarjani-mudra
Ora, tanto no
caso da mão de Fátima (ou de Miriam) como no caso da tradição budista e
hinduista, a mão está aberta, concordando com a mão representada na pedra do
Santo de Lameiras. Portanto sob o ponto de vista de “nada estar oculto”, a mão
da pedra concorda com as tradições anteriores. Por isso, o poder simbolizado,
nessa pedra, pela mão, poderá ser exercido sem perigo de errar nem de
ultrapassar a sua competência quer ela seja de rigor e justiça, quer ela seja
de misericórdia e de benevolência.
3.2.3- Olho – órgão da visão.
É o órgão da
percepção e do conhecimento. “Aquele que tem dois olhos” “designa expressamente
o clarividente (Chaman) entre os Esquimós. Tanto no Bhagavad Gitã
como nos Upanishad, os olhos, identificam-se com os dois
luminares: o Sol e a Lua e são tidos como os dois olhos de Vaishvanara.
Assim, também no Taoismo o Sol e a Lua constituem os dois olhos de P’anku
ou de Lao-Kiun, enquanto no Shinto são os olhos de “Izangui
ou Izanagi”[38], ou
seja, o Varão Majestoso da mitologia japonesa.
Izangui ou
Varão magestoso
Na própria
Bíblia os olhos de Deus simbolizam a Sua clarividência
e omnisciência,
exemplos que vamos encontrar:
- Em Génesis (3,5) a serpente astuta afirma a Eva ela e Adão, se comerem do fruto da árvore proibida abrir-se-vos-ão os olhos, ficando como deuses, conhecendo o bem e o mal;
- Em Job (34,21) diz-se que os olhos de Deus estão sempre sobre os caminhos dos homens;
- No Salmo 138,16 diz-se que os olhos de Deus viram a imperfeição (o pecado) do salmista;
- No Salmo 144,15 confessa o salmista que os olhos de todos os homens esperam em Deus e que Deus lhes dá de comer.
Relativamente à
função particular de cada um dos olhos faz-se uma distinção:
Primeiro:
o olho direito simboliza o Sol, enquanto o esquerdo simboliza
a Lua. Assim, o:
“Olho direito
(Sol) corresponde à actividade e ao futuro, e o olho esquerdo (Lua) corresponde
à passividade e ao passado. A resolução desta dualidade faz passar da percepção
distintiva à percepção unitiva, à visão sintética. O carácter chinês ming
(luz) é a síntese dos caracteres que designam o Sol e a Lua: “Os meus olhos
figuram o carácter ming”, lê-se no ritual de uma sociedade secreta”[39].
Segundo:
para passar desta percepção distintiva à percepção unitiva, o
hinduísmo concebeu um terceiro olho, conhecido pelo olho frontal de Shiva.
Assim, enquanto os dois olhos físicos correspondem ao Sol e à lua,
respectivamente, o terceiro olho corresponde ao fogo, o olhar que
reduz tudo a cinzas.
Segundo o mesmo
autor, “(…) a percepção unitiva é a função do terceiro olho, o olho frontal de Shiva.
Se os dois olhos físicos correspondem ao Sol e à Lua, o terceiro olho
corresponde ao fogo. O seu olhar reduz tudo a cinzas”.
Este terceiro
olhar “corresponde ao Prajnã-chaksus (olho da sabedoria) ou ao Dharma-chaksus
(olho de Dharma) dos Budistas que, situado no limite da
unidade e a multiplicidade, da vacuidade e não-vacuidade permite apreendê-las
simultaneamente. É de facto o órgão da visão interior e, portanto, uma
exteriorização do coração”[40]
Ideia
semelhante se encontra no Islamismo, segundo no qual a ideia de superação dos
dois olhos se encontra na letra árabe há, cujo desenho em árabe
comporta efectivamente dois círculos, símbolos da dualidade e da diferenciação.
E o terceiro olho indica a condição sobre-humana aquela em que a clarividência
atinge a sua perfeição, bem como, mais acima, a participação solar”[41].
“O olho único,
sem pálpebras, é…o símbolo da Essência e do Conhecimento divinos. É curioso
notar que o olho que está inscrito na Pedra de Lameiras, não tem pálpebras e
está inscrito num hexágono imperfeito[42].
Para Silesius,
os olhos representam uma percepção mental, por isso se diz que “a alma
tem dois olhos: “um olha o tempo, o outro está virado para a eternidade” [43].
Existem outras
expressões para significar a visão espiritual, segundo Platão e Escritores
cristãos: “o olho da alma”, utilizada por Platão e por São Clemente de
Alexandria e “o olho do coração”, utilizada por Plotino, Santo Agostinho, São
Paulo, São João Clímaco, Filoteub, São Gregório de Nazianzo e também pelos muçulmanos
que lhe chamam ayn-el-Qalb (o olho do coração ou da
intuição intelectual). De facto, segundo esta espiritualidade, a
expressão “olho do coração” possui um duplo sentido: o de homem ser visto por
Deus e Deus ser visto pelo homem[44]
“No Egipto o
olho pintado era o símbolo sagrado, que se encontra em quase todas as obras de
arte …” e era considerado “uma fonte de fluído mágico, o olho-luz, purificador”.
Por essa razão, na teologia da religião egípcia, “Ra, o deus sol, tinha um olho
flamejante, símbolo da natureza ígnea e era representado por uma cobra erguida,
de olho dilatado, chamada uraeus”. Além do mais esse deus era a “fonte da luz,
do conhecimento e da fecundidade”.
Em galês,
chama-se ao sol metaforicamente “olho do dia” (Ilygad y dydd) e “o olho
divino que vê tudo é figurado também pelo Sol: o ‘olho do mundo’, expressão que
corresponde a Agni e que designa assim mesmo o Buda. O olho do mundo é também o
agulheiro do cimo da cúpula, porta do sol que é a olhadela divina abraçando o
cosmo, porém também a passagem obrigatória para sair do cosmo”.
“Na mística
emprega-se a figura do olho no seu duplo sentido de real e de manancial
para indicar a supra-existência da mais profunda essência de Deus. Este sentido
encontra-se em Avicena, que fala dos que penetram até o ‘ayn, contemplação da
natureza íntima de Deus”[45]
Também na
simbologia utilizada pela Maçonaria, o olho, segundo Jules Boum (1953, p. 91)
simboliza “ no plano físico, o Sol visível do qual emana a Vida, o Logos e a
Luz; no plano intermédio, ou astral, o Verbo, o Logos, o Princípio criador; no
plano espiritual ou divino, o Grande Arquitecto do Universo”[46].
No campo desta
vasta simbologia concorda o olho inscrito na Pedra de Lameiras, enquanto nesta
se recorda um mestre ou arquitecto que se encontra sob a alçada de um olho
semelhante. Acima dele está, de facto, o Grande Arquitecto do Universo. Daqui
se conclui que não deve haver exaltação desmesurada nem da parte do artista que
ali jaz, nem da parte da família que, por meio dessa pedra, o relembra. Por isso,
sempre que a família dessa época, ou relativos mais afastados o relembrem,
devem sempre fazê-lo de maneira subserviente. Ali, não existe nada gravado que
identifique indivíduo algum nem família alguma, em particular. Apenas um
Mestre, um Arquitecto cuja arte servirá, também, para iluminar e guiar os
vindouros no caminho da vida futura.
3.2.4.1- Significação dos círculos
Esta figura
apresenta dois ou três círculos: o que envolve ou circunda a face
central, o que envolve o globo ocular e o olho, propriamente dito.
O círculo, diz
Chevalier-Gheerbrant[47] é,
antes de tudo, um ponto estendido, participando da perfeição deste … e
possuindo “propriedades simbólicas comuns como sejam a perfeição, a
homogeneidade, a ausência de distinção ou de divisão”.
Os mesmos autores
continuam a afirmar que o círculo pode simbolizar também “não as perfeições
ocultas do ponto primordial, mas sim os efeitos criados; dito de outro modo, o
mundo em quanto se distingue do seu princípio”.
Ora, uma vez
que “os círculos concêntricos representam os graus do ser, as hierarquias
criadas e todos eles constituem a manifestação universal do Ser único e não
manifestado”, é legítimo considerar que os círculos que se encontram na figura
das espirais do Cruzeiro do Santo têm subjacente a ideia da divindade e
manifestam Deus, Criador e não criado.
E, uma vez que
o círculo se considera indivisível na sua totalidade, segue-se que o movimento
que nele se gera e processa “é perfeito, imutável, sem começo nem fim, nem
variações, o que o habilita para simbolizar o tempo que se define como uma
sucessão contínua e invariável de instantes, todos idênticos uns aos outros”[48]. Isto quer dizer que os círculos da figura da
pedra com espirais e círculos manifestam que o movimento que afecta os homens
e, sobretudo, aquele que se encontra recordado por essa pedra, é contínuo e
invariável, muito mais, agora, que já se encontra fora da esfera terrestre.
Por ouro lado,
se “o círculo simboliza também o céu de movimento circular e inalterável,
simbolizando o céu cósmico, … particularmente nas suas relações com a terra … e
a actividade do céu, sua inserção dinâmica no cosmo, sua causalidade, sua
exemplaridade, seu papel providente…”[49],
então os círculos da pedra das espirais relacionam a esfera celeste com a
esfera terrestre, sendo da primeira esfera que procede a vida e a força que
animam e fortalecem os seres que habitam e se movem na segunda. O seu termo
será, portanto, um regresso ao ponto de partida que se iniciou na esfera
celeste.
Não é por acaso
que na iconografia cristã, a figura do círculo simboliza a eternidade, enquanto
a figura que aglomera os três círculos ligados numa mesma figura podem lembrar
a Divina Trindade.
Se nos “textos
filosóficos e teológicos, o círculo pode simbolizar a divindade considerada,
não somente na sua imutabilidade, mas também na sua bondade difusiva, como origem,
subsistência e consumação de todas as coisas”, o que se simplifica na tradição
cristão apocalíptica no Alfa e o Ómega (Apoc.1,8; 21,6; 22,13; Chevalier-Gheerbrant,
no mesmo lugar) ele representa, igualmente, segundo Chetwind[50], “o
ciclo dinâmico do ano, do tempo e de toda uma vida” sendo igualmente “a força
que envolve o universo e que o mantém unido (…)”.
“O círculo é
também a figura dos ciclos celestes principalmente das revoluções planetárias,
do ciclo anual representado pelo Zodíaco e caracteriza a tendência expansiva.
Consequentemente é o signo da harmonia, e é por isso que as normas
arquitecturais se estabelecem frequentemente sobre a divisão do círculo”[51].
O círculo simboliza
também o tempo. Daí ser utilizado pelo mundo babilónico como intermediário para
medirem o tempo, dividindo-o em 360º, agrupados em seis segmentos de 60º. O
nome shar designava o universo, o cosmo.
Relativamente
aos Índios da América do Norte, diz-se que também, entre eles, o círculo era
símbolo do tempo, uma vez que, tanto o tempo diurno e nocturno, como as
próprias fases da Lua são círculos que envolvem o mundo, como ainda o próprio
tempo de um ano representa um círculo à volta do perímetro do mundo[52].
3.2.4.2- O Centro
“O centro é,
antes de tudo, o Princípio, o Real absoluto; o centro dos centros só pode ser
Deus. Os pólos das esferas, afirma Nicolau de Cusa, coincidem com o centro que
é Deus. Ele é circunferência e centro, Aquele que está em todos os lados e em
nenhuma parte”.
Como não
recordar, aqui, Pascal que ao citar Hermes Trismegisto: “Deus é uma esfera cujo
centro está em todas as partes e a circunferência em nenhuma parte”[53],
queria significar com essas palavras que a presença de Deus é universal e ilimitada
e que, portanto, está no centro invisível do ser, independentemente do tempo e
do espaço?.
Se o centro é a
imagem da coincidência dos opostos, segundo Nicolau de Cusa, o centro é,
portanto, concebível como uma fogueira de intensidade dinâmica. Ele dizia que o
centro “É o lugar de condensação e de coexistência das forças opostas, o lugar
da energia mais concentrada”.
Para
Chevalier-Gheerbrant[54] “O
centro não é, pois de nenhuma forma concebível, na simbologia, como uma posição
simplesmente estática. É o lugar de onde parte o movimento de um até ao
múltiplo, do interior para o exterior, do não manifestado para o manifestado,
do eterno ao temporal, processos todos de emanação e de divergência onde se
reúnem como num princípio todos os processos de retorno e de convergência na
busca da unidade”.
Cada povo, cada
homem tem o seu centro do mundo, pois concebe-se como o ponto de união entre o
indivíduo e a colectividade.
Esta noção de
centro está ligada ao canal de comunicação. O centro chama-se, efectivamente,
umbigo da terra. Esta ideia encontra-se, consequentemente, nas civilizações
antigas. Por exemplo, na civilização africana (onde as estatuetas têm um umbigo
muito largo) parte-se da ideia de que é do centro da terra que procede a vida.
Assim, o umbigo, entre os africanos, tem mais valor do que propriamente o órgão
masculino.
Na civilização
da Samaria, o sagrado Monte Garizim constituia o umbigo da Terra. Em Israel o
nome do Monte Tabor (em hebraico: תבור הר, har Tabor) derivaria,
possivelmente, do nome Tabur que
significa umbigo. Segundo essa civilização, o centro tem uma
significação tanto espiritual como material. Na verdade, assim como o alimento
biológico vem do sangue materno, assim também o alimento místico provém do
centro. Posteriormente, os Romanos consideravam que o centro da terra se
situava na Gália cisalpina no topónimo Mediolanum (vindo daí o nome de
Milão).
Chevalier-Gheerbrant[55], na
sua reflexão sobre a simbologia do centro considera-o “na sua radiação
horizontal” uma figura do mundo, ou seja, um microcosmo que engloba “todas as
virtualidades do universo”. Dessa forma, o círculo “na sua radiação vertical”
seria um lugar de passagem” ou até, “o cenáculo das iniciações, a vida entre os
planos celestes, terreno e infernal do mundo, o umbral da libertação e, em
consequência, de ruptura”. Relativamente ao “centro crítico” considera este
como o ponto “de máxima intensidade”, porque marca, precisamente “o lugar da
decisão” e a “linha da partição”.
3.3- Conclusão sobre a face esquerda da pedra central.
Da simbologia,
que se encontra na configuração da pedra central (Cubo) e das figuras da face
esquerda (Espirais, Mão e Olho) poderemos concluir, talvez, que o
movimento giratório da dupla espiral que parte da esfera onde se encontra a mão
da divindade, ou seja da esfera da justiça (ou da benevolência) e se dirige à
esfera do Olho que se encontra e pertence ao Círculo Solar, simbolizando a
percepção intelectual quererá dar a entender que a mensagem que nos quer
transmitir o Cubo onde esses símbolos se encontram, é precisamente a de que o
Ser representado pela Mão e por meio do Olho é Justo e aplica a justiça com
equidade, mas não deixa de ser misericordioso para perdoar e abençoar porque
conhece todas as acções dos homens que tendem naturalmente para a esfera da
mesma divindade.
4 - Parte superior da pedra (Animais, etc.)
4.1 – Identificação e Descrição
Um aspecto da face do topo
Foto de 2003
Nesta parte,
nota-se, em primeiro lugar, que foi escavado um apeadouro no centro para que a
haste da cruz pudesse ser cravada na Pedra, o que fez com que fosse destruída
parte de algumas figuras que pertenciam ao conjunto superior do cubo.
Na primeira
fotografia parece-nos descortinar um lagarto deitado, atravessado em frente,
debaixo do qual sobressai a cabeça de um outro, enquanto do lado esquerdo da
figura se vê um corte numa outra cabeça de outro réptil ou de um outro animal
que não pode ser identificado.
Servindo-nos de
uma segunda fotografia, feita de outro ângulo, parece-me existirem dois
outros lagartos: um de cada lado da haste da cruz e, pelo menos um cão
por baixo da sombra negra e ao lado esquerdo de uma outra figura que
me parece ser uma cabeça humana, mas bastante desgastada nos seus contornos.
Outro aspecto ou ângulo da mesma
pedra
Foto de 2003
Por outro lado,
a presença de lagartos (do lat. lacartus, por lacertus) na parte
superior do Cubo, poderá indicar que a pessoa que ali foi enterrada viveu numa
região onde esses répteis se encontravam em abundância. Essa região mais
circunscrita poderia ser Lameiras, onde, de facto, existem, ainda hoje, muitas
dessas espécies, e a região mais alargada seria Portugal e Espanha, países que
se caracterizam pela sua existência.
O Diccionario de la Lengua Española (20ª
edición) da Real Academia Espanhola[56]
diz que o lagarto “Tiene boca grande, con muchos y agudos dientes, cuerpo
prolongado y casi cilíndrico, y cola larga y perfectamente cónica (...). Es
sumamente ágil, inofensivo y muy útil para la agricultura por la gran cantidad
de insectos que devora”.
Este animal é
também chamado “sardão” e pode atingir o comprimento de 30 a 60 centímetros.
Prefere áreas secas com arbustos, olivais, vinhas e sítios rochosos ou de
areia. Excelente trepador, é capaz de subir às árvores para depredar ninhos de
aves. No entanto a sua principal alimentação são os insectos, escaravelhos,
borboletas, gafanhotos, abelhas, aranhas, centopeias, sapos e gosta também de
fruta e pequenas plantas, sobretudo em zonas muito secas, pois é uma maneira de
matar a sede. A sua reprodução ocorre na Primavera.
Por outro lado,
essa pedra ou cubo que na sua origem não teria servido de base a essa ou outra
cruz teria levado muitos tombos desde o seu local de origem até ao local onde
eu a fui encontrar em 2001, e 2003, embora já nos anos da minha meninice lá se
encontrasse dessa forma. Mas, notem bem: Estava só esta cruz e a sua peanha. As
outras duas cruzes com suas respectivas pedras ainda não faziam parte do
Calvário actual, pois que uma se encontrava no Forno público e a outra na Fonte
do Lameiro.
Verifica-se, também, o mau estado de algumas
figuras, sobretudo nesta pedra, facto este que se deve, tanto à erosão do
tempo, como à incúria de quem, desconhecendo o valor delas, teve pouco cuidado
em preservá-las intactas. Tal descuido nota-se, inclusive, no encaixe que foi
escavado no centro e topo da pedra para nele ser cravada a haste da cruz,
ficando irreconhecível o que existia nesse espaço.
4.2 – Simbologia/significação das figuras identificadas
4.2.1- Animais:
Mais uma vez
recorro a Chevalier-Gheerbrant[57])
segundo o qual “O animal enquanto arquétipo representa as capas profundas do
inconsciente e do instinto”. Simbolizam eles, portanto, os princípios e as
forças cósmicas, sejam elas materiais, sejam elas espirituais. Devido a esta
imagética, os signos do Zodíaco, representam as energias cósmicas, sob formas
de animais, enquanto no Egipto algumas divindades são representadas sob a forma
de cabeças de animais. No Cristianismo, por exemplo, representa-se o Espírito
Santo sob a forma de Pomba e os quatro evangelistas por meio de cabeças de
animais ou de aves. Com efeito o Evangelho de São Marcos é simbolizado por meio
de um leão, enquanto o de São Lucas, por meio de um boi, o de São João, por
meio de uma Águia e o de São Mateus por meio de um Anjo, figuras estas que
teriam a sua origem na visão da Glória de Deus, descrita pelo profeta Ezequiel,
no capítulo 1.
No entanto esta
imagética atribuída aos Evangelistas tem a sua razão na substância ou conteúdo
de cada um dos Evangelhos, como passo a expor.
São Marcos é
representado pelo leão, devido ao seu evangelho começar pela pregação de São
João Baptista no deserto da Judeia. Uma vez que o leão vivia no deserto e a
pregação do Baptista foi considerada como um rugido no deserto e como ele
queria mostrar que Jesus era o rei soberano representou-o como um leão que era
o rei dos animais.
São Lucas é
representado pelo boi, uma vez que este era o animal sacrificado no Templo de
Jerusalém. Por outro lado, São Lucas, não fala apenas (logo no início do seu
Evangelho) da apresentação de Jesus no Templo, mas tem em vista demonstrar, por
meio do seu escrito, o carácter sacerdotal de Cristo. Daí a ser simbolizado o
seu Evangelho pelo boi.
A águia é o
símbolo de São João, pelo facto de propor uma teologia muito elevada. Ele fala
do Verbo de Deus, logo no começo do seu Evangelho, preocupando-se em provar a
natureza divina de Cristo. Esta alta teologia foi simbolizada pela Águia que se
eleva muito alto e possui uma visão penetrante.
São Mateus é
simbolizado pelo anjo com rosto de homem, porque se propôs provar no seu
Evangelho, a natureza humana de Jesus.
Muitos são os
animais que entram na mitologia, por ex. a águia, o cordeiro, o cavalo, o crocodilo,
o jaguar, a serpente, tocando todos eles os três níveis do universo: o céu, a
terra e o inferno.
Chevalier-
Gheerbrant[58]adverte que, por exemplo,
no Egipto a zoolatria[59] é
muito antiga. Havia o sentido de cuidar e adorar, inclusivamente, os animais
selvagens: por serem considerados “o receptáculo das formas boas ou temíveis da
potência divina”. Devido a tal mentalidade, em cada cidade o deus tribal
incarnava numa espécie protegida por tabu.
Esta teoria era
confirmada pelo historiador grego, Heródoto, segundo o qual o bom egípcio “deixa
queimar os seus móveis, mas expõe as sua vida para salvar um gato das chamas”.
Tanto é a estima que os egípcios têm pelos animais que “cuidam dos sepulcros
dos animais, como sendo um dever e um orgulho”[60].
Deste modo
Posner[61] dá a
conhecer a oração de um egípcio devoto na qual diz: “Eu dei pão ao faminto,
água ao sedento, veste ao despido. Cuidei dos Íbis”, dos Falcões, dos Gatos e Cães
divinos e inumei-os ritualmente, untando-os de óleos e enfaixando-os em panos”.
De facto os Íbis {m.} (aves pertencentes à família dos Threskiornithidae
e à ordem dos ciconiiformes) eram venerados no Egipto, sendo associadas
ao deus Toth.
Os Ibis[62]
Têm o bico
longo e recurvado, havendo duas espécies: uma tem plumagem castanha com
reflexos dourados, outra possui plumagem branca e negra. Era o Íbis branco e
negro que era tido como sagrado.
O Íbis sagrado[63]
Sobre esta ave, Fernando Pessoa
escreveu o poema do mesmo nome[64]:
O
ÍBIS, ave do Egipto,
Pousa
sempre sobre um pé
(O
que é
Esquisito).
É
uma ave sossegada
Porque
assim não anda nada.
Uma
cegonha parece
Porque
é uma cegonha.
Sonha
E
esquece —
Propriedade
notável
De
toda ave aviável.
Quando
vejo esta Lisboa,
Digo
sempre, Ah quem me dera
(E
essa era
Boa)
Ser
um íbis esquisito,
Ou
p’lo menos ‘star no Egipto.
Fernando Pessoa
No simbolismo
chinês só intervêm os animais selvagens; os animais domésticos não contam, não
desempenham nenhum papel, a não ser, o mais das vezes, nas superstições e
contos. Não têm jamais o poder de se transformar em homens nem de evocar as
qualidades humanas, como pode tê-la a raposa e, algumas vezes, o tigre. São, sobretudo
os animais fabulosos que aparecem na arte chinesa, como por exemplo: “o corvo
solar com três patas (simbolizando o céu, a terra, o homem); a raposa com nove
caudas (as nove regiões do império); os monstros, espécies de centauros com
dois bustos humanos abraçados; feras, cada uma com oito cabeças humanas,
fixadas sobre pescoços de serpente, tal como as hidras da mitologia
grega clássica”[65]
Na religião
celta dá-se um grande valor ao zoomorfismo e ao totemismo[66], sinal
de que essa concepção seria muito antiga. No entanto, o animal tem apenas um
valor simbólico e não divino. Assim “o javali simboliza a função sacerdotal, o
urso a função real; o corvo é o animal de Lug. O cisne ou a ave em geral, é o
mensageiro do Outro Mundo. O cavalo é psicopompo, etc.”. (Ibidem)
Segundo Al
Mada ‘Ini (autor árabe do século IX) citado por Rouf, 233 que serviu de
citação a Chevalier-Gheerbrant (Ibidem) os turcos tinham o costume de exigirem
aos guias dos exércitos, as qualidades próprias de dez animais: “a bravura do
galo, a castidade da galinha, a coragem do leão, a agressividade do javali, a
astúcia da raposa, a perseverança do cão, a vigilância da grulla, a prudência
do corvo, o ardor no combate do lobo, a gordura do yagru, animal que, apesar de
toda a pena e de todo o esforço permanece sempre gordo”[67].
Chevalier-Gheerbrant
(Ibidem) refere igualmente o simbolismo dos animais bíblicos aos quais Adão
impôs um nome. Esses animais simbolizariam, na óptica de Filão de Alexandria
(Leg. All., 2, 9-11) “as paixões humanas que devem ser domadas”. Cita
igualmente uma passagem do mesmo Filão, mas, desta vez, da obra Questiones
in Genesim 3,3), onde explica o que cada animal simboliza:
“A natureza destes animais apresenta um
parentesco com as partes do universo: o boi com a terra, como trabalhador e
cultivador; a cabra com a água, porque é um animal colérico e que a água é
agitada e impetuosa, tal como o testemunham as correntes dos rios e as marés; o
carneiro assemelha-se ao ar pela sua violência e também porque não há nenhum
animal mais útil ao homem, pois ele fornece-lhe as suas roupas; quanto às aves,
o elemento que se lhes aparenta é o céu, dividido em diferentes esferas;
podemos relacionar os planetas com a pomba, pois é um animal doce e os planetas
são-nos propícios: as estrelas com a rola, pois ela gosta da solidão. Também
podemos acrescentar que as aves são aparentadas às estrelas pois o seu voo
parece-se com o movimento das estrelas e o seu canto com a música das esferas”.
Por sua vez, Juns[68]
acrescenta: “A abundância dos símbolos animais nas religiões e artes de todos
os tempos não sublinha apenas a importância do símbolo. Mostra também até que
ponto é importante para o homem integrar na sua vida o conteúdo psíquico do
símbolo, quer dizer, o instinto... O animal, que, é no homem a sua psique
instintiva, pode chegar a ser perigoso quando não é reconhecido e integrado na
vida do indivíduo. A aceitação da alma do animal é a condição da unificação do
indivíduo e da plenitude da sua bizarria”.
4.2.2- O Cão e suas funções
Chevalier-Gheerbrant[69] ao
falarem da simbologia do cão afirmam categoricamente:
“Não há, sem dúvida, mitologia alguma que não
tenha associado o cão Anubis, T’ien-K’uan, Xolotl, Garm, etc. à morte, aos
infernos, ao mundo debaixo, aos impérios invisíveis que regem as divindades
telúricas, ctónicas ou selénicas. O símbolo muito complexo do cão está,
portanto, à primeira vista, ligado à trilogia dos elementos terra, água, lua da
qual se conhece o significado oculto, femeal, ao mesmo tempo que vegetativo,
sexual, adivinhatório, fundamental, tanto no que se refere ao conceito de
inconsciente como ao de subconsciente”.
Assim pode
dizer-se que o cão, na mitologia antiga, exercia as seguintes funções:
- A Função psicopompa[70], isto é, a de guia do homem na noite da morte, depois de ter sido seu companheiro na vida. Por exemplo, para os Egípcios o cão tem a missão de encarcerar ou destruir os inimigos da luz e guardar as portas dos lugres sagrados; para os Germânicos o terrível cão (chamado Garm), guarda a entrada do Niflheim, ou seja, o “reino dos mortos, país do gelo e das trevas”; para os Mexicanos da antiguidade, segundo Girard[71] o cão estava desatinado a acompanhar e a guiar os mortos no outro mundo, sendo, por isso, enterrado com o cadáver humano “um cão de cor de leão – quer dizer, de sol – que acompanhava o defunto como Xolotl (o deus-cão), tinha acompanhado o Sol na sua viagem para o interior da terra”.
Xolotl (o deus da luz), irmão gémeo de Quetzalcoátl
Segundo os Astecas[72]
Este costume
mexicano equivalia a sacrificar um cão sobre a tumba do defunto. Talvez seja
por isso, que ainda hoje, na Guatemala, se colocam estatuetas de cães nos quatro
cantos das tumbas.
A décima
terceira e última constelação do antigo Zodíaco mexicano formava a constelação
do cão; ela introduz as ideias de morte, de fim, de mundo subterrâneo, mas também
de iniciação, de renovação, segundo o verso de Nerval que diz que: “La
decimotercera... es aún la primera”.
- A Função Intercessora entre este mundo e o mundo do além.
4.2.3- A Função de mensageiro
- Função de guardião dos infernos, emprestando ainda a sua forma aos seus amos humanos. Chevalier-Gheerbrant[73], diz que na mitologia grega “Hecate, divindade das trevas, podia tomar a forma de égua ou de cão; frequentava as encruzilhadas, sendo seguida de uma “jauria” (matilha) infernal. De igual modo, os Xamãs do Altai (ou do Xamanismo Siberiano)[74] ao contarem as suas viagens órficas[75] afirmam que encontraram um cão às portas da morada do senhor dos infernos”.
- Função Medicinal: O cão é associado aos deuses da medicina, como, por exemplo ao deus grego Asclépio e ao deus latino Esculápio.
- Função civilizadora: O cão é o herói civilizador: devido ao seu conhecimento tanto deste como do outro mundo, é tido como um herói civilizador, quase sempre senhor e conquistador do fogo e igualmente como antepassado mítico, o que enriquece o seu simbolismo com uma significação sexual.
- Por isso os Bambaras (habitantes do Mali e também da Guiné, Burkina Faso e Senegal) comparam o cão ao pénis do homem e empregam o nome “cão” para designá-lo eufemisticamente. “Esta associação proviria, segundo Chevalier-Gheerbrant, da analogia que eles estabelecem entre a cólera do pénis a erecção diante da vulva, e o latido do cão diante de um estranho…”.
- O cão é considerado como um ladrão pirogenético que roubou o fogo para o entregar aos homens, o que representa a antecâmara da vida, confundindo-se com esta mesma. Assim, entre “os Chiluks do Nilo Branco e de toda a região do Alto Nilo era tido como aquele que roubou o fogo à serpente, ao arco-íris, às divindades celestes ou ao Grande Espírito para o trazer (aos homens) na sua cauda”[76]; “entre os Igbos, Ijos[77] e outras populações do Biafra foi também o cão que roubou o fogo do céu para o oferecer aos homens”[78].
Grupos étnico da Nigéria
- No mundo Celta “o cão é associado ao mundo dos guerreiros”. Contrariamente ao que sucedia entre os greco-romanos, o cão é entre os celtas objecto de comparações lisonjeiras. O herói, Cúchulainn, é o cão de Culann, pois matou o cão mau do jardim de Culann para se defender e ficou de guarda, em seu lugar. Por isso comparar um homem a um cão era honrá-lo como sendo um grande herói.
Cu Chulann[79]
- Ao contrário, o maior castigo que se podia dar-lhe era obrigá-lo a comer carne de cão[80].
Podemos dizer,
portanto, que:
1º. Os
aspectos da simbólica atribuídos ao cão são os de herói civilizador,
antepassado mítico, potência sexual, plenitude, sedutor, incontinência,
transbordante de vitalidade.
2º. No Japão
goza, também, de uma consideração favorável. É tido como um companheiro leal e,
por isso, a sua efígie protege as crianças, facilitando, igualmente, o parto às
mulheres.
3º. Na vizinha China
é, também, um fiel companheiro, de qualquer defunto, inclusive, das Grandes
Figuras Imortais ou Imortalizadas. Por essa razão, ele encontrava-se junto ao Grande
Venerável que apareceu no monte T’ai-che,
durante o reinado do imperador Wu ao qual tinha aparecido sob a forma
de um cão amarelo preso à trela, conforme reza a tradição chinesa. Já o
cão de Han-tse tornou-se vermelho
como o cão celeste, tendo-lhe crescido as asas e obtido a imortalidade. O
alquimista Wei-Po-Yung é descrito como sendo acompanhado, também por
esse cão celeste.
Este cão
celeste, chamado T’ien.K’uan, é tão famoso entre os chineses que é
comparado ou mesmo identificado com a tempestade e um meteoro. Ele ribomba como
o trovão e brilha como o relâmpago. Ele é vermelho como o fogo[81].
4º. Este
significado positivo do cão encontra-se igualmente entre os Persas, para os
quais é o animal sagrado da divindade Ahura-Mazda,
desempenhando um papel preponderante na antiga religião persa, uma vez que ele
era considerado como o “caçador dos maus espíritos”.
De uma maneira
geral, nessas culturas “o cão é um símbolo propício, representando lealdade,
vigilância, coragem e habilidade na caça”[82].
5º. Há, no
entanto outras civilizações onde o cão tem um valor depreciativo, como nas sociedades
muçulmanas nas quais o cão é símbolo de avidez, gulodice, impureza. Matar um
cão entre estes, portanto, deixa o homem impuro. Entre estas sociedades
acredita-se que o cão tem sete vidas. O cão que guarda os Sete Dormentes na sua
caverna[83] é
mencionado nos amuletos[84].
6º. “No Extremo
Oriente, o cão é ambivalente: benéfico, pois é companheiro do homem e o
guardião que vigia a sua morada; maléfico, pois aparentado com o lobo e o
chacal, aparece como um animal impuro e indesejável”[85].
7º. Por sua
vez, no Tibete “ (…) o cão é o signo, tanto do apetite sexual e da sexualidade,
como, simultaneamente, dos ciúmes”. Por essa razão Buda dizia que “aquele que
vive como um cão, com a dissolução do corpo, após a morte, irá juntar-se aos
cães (Majihima-nikkaya, 1,387) ”[86].
Devido a esta
dupla vertente relativamente à simbólica do cão, Chevalier-Gheerbrant[87]
conclui com o pensamento de Jean-Paul Roux[88],
segundo o qual “entre os povos asiáticos, o cão simboliza uma dualidade:
a de espírito protector e benéfico e a de suporte da
maldição divina”. Sob este último aspecto, ele é considerado por
excelência o Anjo Caído.
8º. Relativamente ao cão que se encontra gravado no topo da
pedra do Calvário de Lameiras deve simbolizar, ele poderá simbolizar:
a-
O Guia do homem na noite da
morte, depois de ter sido seu companheiro na vida,
b-
O Intercessor entre o seu senhor
(deste mundo) e o Senhor do mundo do além,
c-
O mensageiro que vai à frente do
seu amo para apresentar junto de Deus, as suas preces intercessoras.
4.2.4- Simbologia do Lagarto
Jean Chevalier e
Alain Gheerbrant[89] consideram que o
simbolismo do lagarto nada tem a ver com o da serpente, como, à primeira vista,
poderia parecer. Segundo a sua opinião, “Ao contrário da serpente (rival do
homem), o lagarto, pelo menos no que diz respeito às culturas mediterrânicas, é
um familiar e portanto um amigo da razão”.
Remontando à
cultura egípcia, esses mesmos autores consideram que, também, entre essa foi
escolhida a imagem do lagarto para significar a benevolência, sendo que,
também, em África o lagarto é utilizado na arte, onde é apresentado como “ (…) um
herói civilizador, um intercessor ou mensageiro das divindades (…)”.
Lagarto ou sardão
A própria
literatura bíblica refere-se ao lagarto de maneira positiva. Por exemplo, o livro
dos Provérbios refere que os lagartos, apesar de pequenos são mais sábios
do que os próprios sábios (capítulo 30:24) e que, embora possam ser apanhados à
mão, penetram nos palácios reais (cap.30:28) o que permite concluir que existe
“familiaridade com o homem e indiferença pelas hierarquias terrestres” Daqui,
concluírem[90] que as suas longas horas
de imobilidade ao Sol são o símbolo de um “êxtase contemplativo” e que
esse réptil “simboliza a alma que procura humildemente a luz, em contraste com
a ave que, observa Gregório Magno, possui asas para voar em direcção aos
cumes".
Conclusão:
Enquanto o cão do topo da pedra do calvário de Lameiras simboliza um guia, um
intercessor e um mensageiro que segue à frente do seu senhor, enquanto o
lagarto simboliza a alma que procura a luz com humildade intensa.
A intensidade
sua humildade do senhor defunto é manifestada pela multiplicidade de lagartos
esculpidos no topo dessa pedra cuja repetição, à maneira hebraica, lhe confere o
significado de “muito”, “intensivamente” ou o superlativo “muitíssimo”.
4.2.5-- Significação do Cubo (= Quadrado do quadrado)
A partir do seu
formato – um cubo – e da sua formação natural (quatro quadrados) a pedra
central pode sugerir um mundo material e criado e, ao mesmo tampo, um mundo
limitado, inscrevendo-se, por tais características, no tempo e no espaço.
Cubo
Esta mesma
ideia vai ser reforçada e clarificada pelo facto de, no mesmo cubo, existirem 6
quadrados, sendo o quadrado a figura do espaço e a espiral que, por sua vez,
simboliza o tempo.
Efectivamente, o
cubo, mais ainda do que o quadrado, simboliza a solidez, a estabilidade,
a detenção do desenvolvimento cíclico, porque determina e fixa o espaço nas
suas três dimensões. Por esta razão, o Islamismo deu a forma cúbica ao Santo
dos Santos que foi erigido no centro da grande Mesquita de Meca, chamada Masjid
al-Haram, sendo nesse Santo dos Santos, chamado Qabah ou (=
quadrado) que se encontra a “pedra negra”, tida por todos os crentes do Islão
como tendo sido dada a Abraão pelo Arcanjo Gabriel. Para os Muçulmanos, a
Ka’aba, em forma de cubo, representa o cubo terrestre que suporta a cúpula celeste[91].
Cubo muçulmano
Mesquita de Meca, Masjid al-Haram[92]
Os Pitagóricos, segundo
Plutarco[93] afirmavam que o quadrado
reunia os poderes de Rea, de Afrodite, de Deméter, de Hestia e de Hera. Por seu
lado, Meunier, ao explicar esta passagem, afirma que o quadrado indicava na
antiguidade que a mãe dos deuses, a grande Rea (considerada a Fonte da duração
do tempo) se manifestava através das modificações dos quatro elementos (Água,
Fogo, Terra e Ar) que eram simbolizados, respectivamente, por Afrodite, Hestia,
Deméter e Hera.
O mesmo
Plutarco[94] na sua obra As Vidas
dos Homens Ilustres Gregos e Romanos, ao falar de Teseu, deixou entrever
que Isis, ao exercer a sua função de mãe e criadora, era representada com o instrumento
musical chamado sistro e com um cubo numa das mãos, simbolizando as inundações
do Nilo.
Sistro[95]
Sistro de arco em madeira e liga de cobre (entrada da
tumba de
Tutankhamon (Museu egípcio do Cairo)[96]
Por sua vez, o
Cristianismo primitivo, baseando-se no sentido místico que o cubo encerra: símbolo
da sabedoria, da verdade e da perfeição moral[97]
escolheu a forma de cubo para descrever a Nova Jerusalém.
Mesmo antes dos
muçulmanos, foi o evangelista, São João, o primeiro a introduzir no seu
Apocalipse a simbologia do Cubo, quando aplica essa forma à nova cidade de
Jerusalém que deverá ser construída para o novo reino messiânico.
Efectivamente, no capítulo 21, verso 16 desse livro apocalíptico, dá a essa
cidade a forma cúbica para lhe conferir as ideias
da sabedoria, verdade, perfeição moral e
estabilidade.
Nesse capítulo
21, São João descreve a visão do mundo novo e da nova cidade de Jerusalém,
seguindo estes passos e parâmetros:
- Nos versos 1 e 2 apresenta o desaparecimento do primeiro céu, da primeira terra e do primeiro mar, para surgir uma nova Jerusalém, que será uma cidade santa a descer de junto de Deus, tornando-se a esposa, bem ataviada, para ser apresentada ao seu noivo;
- os versos 3 e 4 descreve a voz de Deus que promete ser construído, nessa nova cidade, o novo tabernáculo onde Ele deverá habitar;
- Nos versos 5-8 Deus promete mudar a situação terrena: de um vale de lágrimas passar-se-á a um local onde jorrará uma fonte de água vivificante e perene;
- Nos versos 9 a 14 João descreve o esplendor e a riqueza dessa nova cidade santa. Estará situada num Alto Monte, será rodeada de um muro alto, com doze portas (3 portas a Oriente, 3 a Setentrião (Norte), 3 ao Meio-dia (ou Sul, Meridião; e 3 a Ocidente); nos muros estavam os nomes dos 12 Apóstolos; em cada uma das portas estava um Anjo. Esta cidade estava de tal modo iluminada que a sua luz brilhava como uma pedra preciosa[98].
- Nos versos 15-16 apresenta a construção (em jaspe) e a medição da cidade, das portas e do muro. A cidade é quadrangular com iguais medidas quanto à largura, comprimento e altura, sendo as suas medidas 12 mil estádios; o muro, construído de pedra de jaspe, tinha 144 côvados[99], sendo os seus 12 fundamentos ornados de toda a qualidade de pedras preciosas (respectivamente: jaspe, safira, calcedónia, esmeralda, sardónica, sárdio, crisólito, berilo, topázio, crisópraso, jacinto, ametista).
A “Nova Jerusalém renascida”[100]
[1] O tyet é um antigo símbolo da
deusa mitológica egípcia.
[2] http://www.touregypt.net/featurestories/tyet.htm
[3] http://www.baderancientart.com/products/tyet-amulet
[4] Do grego ἕξ "seis" e ἕδρα
"assento" é um poliedro de seis faces, sendo também conhecido por
“cubo”., pois que as suas faces são iguais quanto à suas medidas.
[5] Caldas Aulet, 1948, Dicionário Contemporâneo da
Língua Portuguesa, 3ª edição, Vol. II, p. 1201. Cf também a forma de Suta
em: http://www.eloforte.com/v2/components/com_virtuemart/shop_image/product/Suta_mecanica001.jpg
[6] “Instrumento de ferro encabado, em forma de cunha, de
que usam os canteiros para cortarem ou alisarem a pedra” (Cândido de Figueiredo
(1952). (3ª ed.). Dicionário da Língua Portuguesa. Vol. II, p. 695. Lisboa: Sociedade Industrial de
Tipografia LDA.
[7] Sobre este assunto tive, no dia 25/03/2010, às 17:45h,
uma conversa telefónica com o Rev. Padre Paulo da Costa Afonso que foi pároco
de Lameiras durante muitos anos, indo, depois paroquiar a Freguesia dos Foios.
Nesta conversa, disse-me que as três pedras formaram, originariamente o
Calvário, representando as outras duas pedras os dois ladrões, mas que um
“diabinho” as separou, metendo uma no forno para ser queimada e outra na Fonte
do Lameiro para ser afogada. Esta, acrescentou ele, era a história que o povo
contava e continua a contar”. Mais me disse: "A pedra do forno foi
retirada deste, por volta de 1971, quando o então presidente da Junta, Horácio Farinha
Beirão procedeu à remodelação do forno antigo, oferecendo a dita pedra ao Museu
Municipal de Pinhel, vindo a ser levada novamente para Lameiras em 1974”.
[8] Espira (do lat. “Spira”), em geometria é
cada uma das voltas ou arcos da espiral, correspondente a uma variação de
ângulo polar igual a 360º. Pode definir-se também como “Cada uma das voltas de uma espiral, de uma hélice”.
“Parte elementar de um enrolamento elétrico cujas extremidades estão, em geral, muito aproximadas uma da outra”. “Rosca do parafuso” (http://www.dicio.com.br/espira/)
“Parte elementar de um enrolamento elétrico cujas extremidades estão, em geral, muito aproximadas uma da outra”. “Rosca do parafuso” (http://www.dicio.com.br/espira/)
[9] Aulet, Caldas, 1948, Vol. I, pp.
1120-1121)
[14] Chevalier-Gheerbrant Idem, p. 305,
[15] Fontana,2004, p. 125.
[16] Chetwynd, (2004, p. 27)
[17] Vórtice, (do latim vortex, -ticis) significa, segundo
o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de
Lisboa, Vol. 2, p. 3782 a ‘disposição em círculos concêntricos, ou em hélice de
certos elementos, ou órgãos” normalmente à volta de um eixo fixo.
[18] Idem, p. 28
[19] Idem, p. 32
[20] Idem, p. 171
[21] Idem, p. 212.
[22] O Livro Ilustrado dos Signos e Símbolos, ed. Livros e
Livros, p. 105). (Sobre as espirais, cf. Pedra de Soleira. New Grange, Irlanda,
II/IV Milénio antes de Cristo.
[24]
Chevalier-Gheerbrant, Ibidem.
[25] Este nome
Torah
tornou-se o termo técnico e sagrado para denominar os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica
(Gnésis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio).
[26] [on-line] Consult. 10-08-2008] Disponível em: http://img.terra.com.br/i/2009/08/06/1286709-1361-in.jpg.
[27] [on-line] Consult. 10-08-2008] Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Khamsa_pendant.jpg.
[28] [on-line] Consult. 10-08-2008] Disponível em: http://www2.fcsh.unl.pt/iem/
investigar-estudos/PDF-estudos/PDF-estudo-fatima.pdf.
[30] Edmond Doutté, 1984, Magie &
religion dans l'Afrique du Nord [texte imprimé]
J. Maisonneuve : P. Geuthner,
pp. 325-326 e nº 1.
[31] Chevalier-Gheerbrant
1994, p.p. 484-486.
[34] Por “ mudras”
entendem-se os gestos simbólicos que são associados aos Budas.
Esses gestos são muito utilizados na iconografia hindu e budista. ...
[36]
http://www.thebigview.com/buddhism/mudra.html
[38] Segundo a mitologia da criação japonesa, do caos os
deuses superiores geraram Izanagi e sua irmã Izanami.
Depois pegaram numa lança incrustada de pedras preciosas e com ela agitaram o
mar de água salgada que estava por baixo deles, sobre a ponte flutuante
celestial. Ao levantarem a lança as gotas de água que caíram formaram a
primeira ilha que foi chamada de Onogoro, a primeira terra firme. DA
primeira cópula nasceu uma criança mal-formada, chamada Hiruko (criança
parasita). Esta foi metida num cestito de junco e lançado ao mar para que
perecesse. Da segunda cópula nasceram os deuses do vento, as árvores, as
montanhas e o arquipélago japonês (on line: http://pt.wikipedia.org/wiki/Izanagi.
[40] Idem, p. 485.
[41] (Ibidem)
[42] Quando este olho se inscreve num triângulo … é um
símbolo ao mesmo tempo maçónico e cristão.
[43] Chevalier-Gheerbrant-Gheerbrant, 1994, p. 485
[44] Idem, p. 485
[45] Ibidem
[46] Idem, p. 486
[47] (1994, p. 201-202),
[48] Ibidem.
[49] (Idem, p. 201-2902
[50] 2004, p. 168
[51] (Chevalier-Gheerbrant, 1994, p. 202)
[52] (Narrativa do Chefe Espada, Xamã Dakota em Alexander
Harley Burr (1962, p. 22); e Chevalier-Gheerbrant, 1994,p. 302).
[53] Chevalier-Gheerbrant, 1994,p. 182)
[54] Ibidem
[55] Ibidem.
[57] Chevalier- Gheerbrant, 1994, p. 69
[58] 1994, p. 70)
[59] Por zoolatria (do gr. Zoon ‘animal’ + -latria
‘culto’) entende-se “adoração ou culto prestado aos animais (DLPCACL, Vol II,
p. 3806)
[60] Chevalier- Gheerbrant, 1994, p. 70.
[61] Posner, 1959, 15b
[68] 1964, 238-239
[69] 1994, p. 152
[70] Psic(o) do gr. Psikei ‘alma’ (pelo qual se exprime a
ideia de alma, ou espírito) + pompa (do gr. Pompei ‘cortejo’).
[71] 1954, p. 161
[74] Altai ou Altai é o nome dado aos montes Siberianos
onde se supões habitarem os Espíritos que devem ser adorados através da música
através da qual os crentes chegam até ao conhecimento e à visão do Xamã..
[75] Adj. Relativo a Orfeu. / Diz-se dos
dogmas, mistérios, princípios e poemas filosóficos atribuídos a Orfeu < http://www.dicio.com.br/orficas/>.
[76] Chevalier-Gheerbrant, 1994, p. 153
[77] Grupos étnicos da Nigéria e Biafra.
[78] Chevalier-Gheerbrant, 1994, p. 154
[79]
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRolZOTqizV-4ZpJi3nUFvrF9AV_2zjDtwezAT0xoj1jHEEN_bZTvWFZed1DyETYBn7ImZ5gH2M_PEmcsbCp9trFFMGuhq-z_-yYkT0iraTXTDQX9wrE3NsZbJ8DKxMpnfLfOO0VrQYbW2/s400/cuchulainn1.jpg
[80] Ogac, 1948, pp.11,213-215 e Chevalier-Gheerbrant,
1994, p. 154
[81] Chevalier-Gheerbrant, 1994, p. 154
[82] Fontana 2004, p. 139.
[83] Alcorão Sagrado, Versão portuguesa de 1943, p.
333, Surata 18, verso 18.
[84] Chevalier-Gheerbrant, 1994, p. 154.
[85] Idem, p. 155.
[86] Ibidem
[87] Ibidem
[88] Jean-Paul Roux, 1966, p. 83
[89] Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, 1994, p. 397
[90] Ibidem
[91] Chevalier-Gheerbrant
1994, p. 251
[92] http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/images/1337_hajj/4133353_meca1.jpg&imgrefurl=http://www.bbc.co.uk
[93] Isis, 106
[94] Vol. VI: Isis e Osiris cap.63
[95] Era muito utilizado nas
festas religiosas do Antigo Egipto, de quem copiaram-no os romanos. Foi considerado um
atributo da deusa Hathor, e também estava relacionado com as deusas Isis, Bat e Bastet cf. http://pt.wikilingue.com/es/Sistro
e ainda: http://www.consciencia.org/teseu-vidas-dos-homens-ilustres-de-plutarco.
[96]
http://www.egiptologia.com/mujer-en-el-antiguo-egipto/365-el-sistro-sonajero-sagrado.html
[97] Chevalier-Gheerbrant,
1994, p 251
[98] Para melhor nos situarmos, verifiquemos a
Rosa-dos-ventos ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Rosa_dos_ventos
ou ainda em: http://www.cne-escutismo.pt/recursos/orientacao/orient_rosadosventos.htm)
[100] “Foi a igreja abacial de São Pedro de Cluny, mais
conhecida como Cluny III, pois foi a terceira de uma série construída,
uma após a outra, no mosteiro de Cluny, na Borgonha‒França. Cluny foi a maior, a mais deslumbrante, poderosa e
influente abadia da Era da Luz”. http://catedraismedievais.blogspot.pt/2011/01/cluny-jerusalem-celeste-encarnada-1.html.
Por essa razão lhe chamaram a “Nova Jerusalém renascida”.
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