quinta-feira, 14 de março de 2013

Capítulo 20 Religião na Fenícia (Fenícia (I)




Conteúdo
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1- Situação geográfica da Fenícia

1.1- Nome

O nome 'Fenícia' deriva do grego Φοινίκη: Phoiníkē; em Arabe: بنيكنعان) (“terra das palmeiras”, ou segundo outros autores, "terra da púrpura"). Na Bíblia, parte dessa região recebe o nome de Canaã que deriva da palavra semita kena'ani que significa  mercador. Quanto ao modo de os identificar, Rodrigues[1] recorda que na versão grega dos 70 do Antigo Testamento (LXX) se utiliza o nome de “fenícios”, enquanto no Novo Testamento se prefere o nome de “cananeu”.

1.2- Localização da Fenícia

A Fenícia, segundo Matias (2010, p. 129), situava-se “sur la cote méditerranéenne (…) alors constituée par les villes: Ugarit[2], Kadesh, Tripoli, Byblos, Sidon, Tyr, Acre, Dor et (…) aujourd’hui peuvent correspondre, plus au moins, au Liban et à une partie de la Syrie”[3], isto é, uma estreita faixa que se estendia desde Ugarit, ao norte, até ao Monte Hermon, também conhecido, entre a população árabe, por Djabal el-Sheikh , ao sul, ou seja, como o prefere Rodrigues[4] “situada ao longo da região costeira mediterrânica da Ásia Anterior, entre o Monte Carmelo e o rio Elueteros (ou Golfo de Alexandreta)”.

Monte Hermon ou Djabar el-Sheikh e Monte Carmelo (a baixo de Haifa)
Era, portanto, uma região com 10 cidades de relativa importância comercial, e banhada por dois rios: o Orontes (em gr. Ορóντης), a Norte e o Litani ou Leontes (Λέοντες - "leões"), a Sul.

Mapa da Fenícia[5]
Assim, entre as cordilheiras Libanos e Anti-Libanos ficava o fecundo Vale Bekaa que era formado pela bacia do Orontes, onde os romanos construíram um templo a Baco, visto essa região ser boa produtora de vinhos de boa casta, abundando, também, nos seus montes, famosos cedros de que tento se fala na Bíblia hebraica, ficando famosos por terem sido utilizados na construção do templo salomónico de Jerusalém.
  Rio Litanin  (Λέοντες)                         Bacia do rio Orontes (Οροντης) [6] [7]
Convém recordar que o nome “Canaan” na qual se incluía a Fenícia era constituída por toda a região que ocupava toda a área incluída “entre o sul da Síria e a Palestina, sendo habitada também por outros povos, como os hebreus e os filisteus”.

Efectivamente, antes não havia fronteiras a delimitar o que hoje chamamos países, pelo menos até 1200 a.C. Até essa data não poderemos falar rigorosamente de uma civilização puramente fenícia, mas sim, de uma civilização Sírio-palestina na zona que, posteriormente, se veio a chamar “Fenícia” após se ter chegado ao sistema de cidades-estados, como o defendeu o historiador, arqueólogo e linguista italiano Sabatino Moscati[8].

Tanto isto é verdade, que, no mapa referente ao Reino de Herodes, o grande[9] (portanto já no tempo dos romanos), publicado por Lemaire e Baldi(1964, p. 211[10] ), se dá o nome de Syro Phoenice à região da Fenícia.

Na mesma obra de Lemaire-Baldi[11] encontra-se uma bela descrição histórico-geográfica de toda a região que fica entre o Mediterrâneo e o Oceano Índico e à qual eles dão o nome de L’area geográfica della civiltà antica. Essa descrição reza assim:

 «L’area geográfica della civiltà più antiche, secondo una tradizionale e legitima consuetudine, si poneva, fino a poco tempo fa, tra la vallata del Nilo da una parte e il grande tavoliere alluvionale del Tigri e dell’Eufrate dall’altra. Questi, oltre che i limiti estremi, ne constituivano i paesi de maggiore sviluppo, collegati, como via di transito, da un lembo di terra chiuso fra il mare e il deserto. La catena libica e il Mediterraneo ad ovest, il massiccio dell’Asia Minore e del’Armenia a nord, l’altipiano dell’Iran ad est e finalmente i due lunghi bracci dell’Oceano Indiano (Mar Rosso e Golfo Pérsico) a sud sembrano offrire una delimitazione sufficientemente precisa. L’altipiano desertico che si spinge profondamente verso il nord (deserto siro-arabico), dava a tuta l’area l’aspetto di una immensa mezzaluna, che fu detta «la fertile mezzaluna».
Canaã do Velho Testamento[12]
A origem dos Fenícios não é pacífica, visto haver várias opiniões acerca deste assunto. Se há quem defenda serem de origem semita[13], Heródoto (Ἡρόδοτος)[14], no entanto, sustenta que vieram do Mar Vermelho o que, na antiguidade, significava Golfo Pérsico e Oceano Índico. Baseados, portanto, na opinião deste historiador grego, muitos autores defendem que vieram do Golfo Pérsico, enquanto outros  os têm como vindos de um grupo muito mais alargado, chamado “Cananeu” (devendo eles próprios chamar-se, “Cananeus”) e que, muitos anos antes, haviam habitado a Anatólia (actual Turquia) e o Egipto”[15]. Em suma, a tese mais aceite é aquela que supõe descenderem eles dos primeiros Cananeus que habitaram a região costeira.

É certo que nas tabuinhas de Amarna[16] se encontra uma menção feita aos povos vindos do mar, e que eles atribuíam a si próprios o nome de Kenaani ou Kinaani. Este apelativo, na verdade, parece aparentar-se com o nome de Cananeus. Estas tabuinhas, porém, são anteriores, pelo menos um século à tal invasão dos povos do mar.

No sexto século (a. C.), Hecataeus de Mileto escrevia que os Fenícios, anteriormente, se chamavam Xna, nome latinizado de Khna do qual procederia, sendo este nome mais tarde adoptado por Filão de Biblos na sua História da Fenícia, quando tratou da mitologia fenícia, aplicando-o como epónimo de fenícios[17].

Efectivamente, o nome de “Fenícia” é o nome grego aplicado à maior região cananeia que possuía os maiores portos marítimos[18], entre os quais Arvad, Biblos, Sidon e Tiro, aos quais se acercavam as caravanas mercantis que percorriam o Crescente Fértil.
Cidade de Athen (Amarna)[19]

2.1- Antiguidade do comércio fenício

2.1.1- Com o Egipto

O comércio fenício, sobretudo o de madeira de cedro é muito antigo e parece ter já existido com certa regularidade no ano 2550, entre essa região e o Egipto, como se pode comprovar por dois barcos que foram encontrados enterrados debaixo da grande pirâmide do Egipto. Mas, mesmo antes dessa data, cerca de 650 anos, os fenícios tinham comercializado com a cidade de Hieracómpolis (Kom el-Ahmar "montículo vermelho")[20] , como se depreende de certos vestígios arqueológicos ali detectados, como por exemplo a Tumba 100, pertencente ao período Gerzeense que se tornou famosa devido a uma pintura mural descoberta nos finais do século XIX, presentemente destruída, na qual se representavam cenas de navegação, um cortejo funerário de barcas, cenas de caça e de luta, segundo dados recolhidos na internet[21].
Hieracómpolis (em árabe Kom el-Ahmar)

Tais relações comerciais entre o Egipto e a Fenícia encontram provas cabais em Biblos cujos obeliscos pertencentes ao Templo se encontram ornados de estelas que foram oferecidos pelo Faraó egípcio.

Também com os gregos eles fizeram comércio. Por exemplo, por volta do ano 2000 a.C. existiam já relações comerciais entre as costas mediterrânicas, sobretudo entre a Fenícia e as ilhas de Creta e, bem assim, com os povos de toda a costa do mar Egeu. O próprio Homero fez referência, por volta do ano 800 (a. C.), aos barcos fenícios que saíam de Creta para Pylos (gr. Πύλος), isto é Mesene (ou Messina, hoje sítio arqueológico da Grécia, nas montanhas do Peloponeso) e para Sidónia, verdade que foi corroborada por Tucídedes[22], que sustenta também terem os gregos chegado à Sicília, onde encontraram entrepostos comerciais fenícios.
Peloponeso (a azul)
A Grécia, antes da guerra do Peloponeso (431 a.C.)[23] 
Grécia durante as Guerras Mmédicas (550-479 .a.C)[24]

 2.1.3- Com Roma

Os próprios romanos, depois de se libertarem do rei etrusco em 509, a primeira coisa que fizeram (na expectativa de incrementarem o seu próprio comércio), foi estabelecerem um tratado comercial com os fenícios[25].

3- Tipos de transporte da antiguidade

Os Povos das bordas de água são, naturalmente, solicitados às incursões nas águas, sejam elas do mar sejam elas dos rios que os circundam ou banham. Assim, tanto o Egipto e Fenícia, como os gregos e romanos viram-se atraídos pelo mar que nestas circunstâncias se denominava Mediterrâneo (no meio da terra).

3.1- Entre os Egípcios

Com efeito, os Egípcios, por exemplo, cedo começaram (pelo menos há seis mil anos) a sulcar as águas do Nilo por meio de barcos construídos à base de hastes de junco e ou de papiro, passando, mais tarde (não se sabe bem quando), a utilizar madeira, principalmente quando quiseram sulcar as águas salgadas do Mediterrâneo e do Mar Vermelho. Na verdade, parece que essas primeiras incursões datam, pelo menos do ano 3000 antes de Cristo, pois, é sabido que, já “em 2600 a.C., o faraó, Snofru, da quarta dinastia (c.2540-2450 a. C.), enviou quarenta barcos para Biblos, na Fenícia (actual Líbano), de onde regressaram com rico carregamento de cedro”[26]. Lemaire e Baldi[27] referem que o faraó, Sahû-Re (2487 e 2475 a.C.), da V Dinastia (c. 2500 a. C. c. 2350 a. C) “deixou monumentos insignes das suas expedições asiáticas. Além das costumadas inscrições no Sinai, fez figurar na sua tumba, o regresso triunfal da frota egípcia, que trazia da Ásia, prisioneiros, madeira, vasilhame, azeite de oliveira, ursos”.
Foto da Nave do Faraó, Sahu-Re [28]


Por seu, lado, os Fenícios desenvolveram um intenso comércio em todas as costas do Mediterrâneo, o que terá começado, pelo menos no ano 4000 a.C., exportando sobretudo, madeira de cedro numa primeira fase, e tecidos purpúreos, numa fase posterior, utilizando como meio de transporte, embarcações construídas à base de madeira, uma vez que eram ricos nessa matéria-prima.
Para o transporte de mercadorias possuíam embarcações, chamadas galés (do grego γαλέα), que, embora de raiz, signifique qualquer barco movido a remos, podem ser-lhe adicionados mastros e velas, ao mesmo tempo, como o afirma Lionel Casson (p. 57 – 58)[29].
Birreme Fenícia[30]
Mas inventaram um tipo, mais ligeiro, chamado birreme, utilizado principalmente na guerra e era constituído por duas filas de remes ao longo das embarcações, tipo este que, mais tarde, seria aperfeiçoado pelos gregos e romanos com mais uma terceira fileira, vindo a chamar-se trirreme[31]. O autor do artigo “Pré-história e História da Navegação[32] oferece-nos uma  descrição sumária da estrutura das birremes fenícias, com estas palavras:

“As famosas birremes fenícias usadas na guerra, primeiras embarcações com fileiras de remos sobrepostos de que se tem notícia, tinham o casco formado, talvez, por um tronco de grandes dimensões, acabando em pontudo esporão. Sobre o tronco, um corredor, onde ficavam os soldados. Uma fileira de remadores sentava-se em plataformas laterais e outra, abaixo dos militares. O único mastro ficava próximo ao centro da embarcação, equipado com uma vela quadrada, e era erguido apenas quando havia ventos favoráveis., um corredor, onde ficavam os soldados. Uma fileira de remadores sentava-se em plataformas laterais e outra, abaixo dos militares. O único mastro ficava próximo ao centro da embarcação, equipado com uma vela quadrada, e era erguido apenas quando havia ventos favoráveis”.
Birreme fenício[33]
Relevo Assírio que mostra uma birreme fenícia. A cabeça do nível dos remadores aparece entre as vigas que sustêm a coberta superior. Sobre a coberta superior estão colocados os escudos como protecção. Este tipo de birreme não possui velas, nem mastro.

Moeda fenícia com um barco de guerra e um Hipocampo[34]

3.3- Entre os Gregos

Também os Gregos tinham o seu tipo de embarcações para serem utilizadas no comércio, através do Mediterrâneo e Mar Egeu. O tipo mais comum foi a Galera (γαλέα) do tipo trirreme que apareceu no século V a.C. e foi, depois, utilizada pelos Romanos. As suas principais características eram os remos em três fiadas, chegando a medir de comprimento entre 4 a 4,5 metros, e a utilização da vela como poderoso auxiliar.
Tipo de Birreme ou Galé mediterrânica[35]
Este tipo que parece ter sido inventado pelos Fenícios, foi muito utilizado entre os Gregos que o aperfeiçoaram e o desenvolveram em trirreme.
Modelo em madeira de um trirreme grego[36]

3.4- Entre os Romanos

O trirreme era utilizado tanto na guerra como nos transportes marítimos. Mas os romanos desenvolveram este tipo, chegando a guarnição a atingir o número de 100 homens, enquanto o dos gregos não ultrapassava o número de 30.

Além disso os Romanos guarneceram essas embarcações com escudos defensivos, protegendo os remadores e archeiros[37].

Trirreme grega[38]

4- A púrpura fenícia

Os Fenícios eram conhecidos em Roma e Grécia pelos seus tecidos de púrpura que, entre os gregos, tinha o nome de πορφύρα, porphyra e entre os latinos púrpura, constituindo um tecido muito utilizado na confecção dos mantos reais.
O tecido de púrpura provinha da imersão de um tecido escolhido numa dissolução feita à base de uma substância dissolúvel que se retirava de certas espécies de caracóis marítimos da família dos muricidas (de murex[39]) que são constituídos preponderantemente por caracóis, muitos dos quais gostam de se agarrar às rochas.
Muricidas (Murex)

Chicoreus virgineus (Roding, 1798) Virgin Murex

Púrpura fenícia

Os maiores produtores destes caracóis foram, para os fenícios, as Ilhas Purpúreas de Mogador, em Marrocos, onde se encontravam as melhores castas de Hexaples trunculus também conhecidos pelo nome mais antigo Murex trunculus (Linnaeus, 1758). Estas espécies encontravam-se nas costas da Europa e África, sobretudo em Marrocos, Espanha, Portugal e Ilhas Canárias, existindo ainda nos nossos dias. Eis uma entre outras razões pelas quais esses navegadores mercantilistas cruzaram o Mediterrâneo para delapidar as costas Marroquinas, espanholas e portuguesas.
Solução a partir de Hexaplex trunculus[40]
Tecido de lã depois de mergulhado num vaso com a solução
à base de Hexaplex trunculus e exposto ao sol toma a cor azul.

5-  Expansão fenícia

Neste mapa visionam-se bem as zonas da expansão fenícia:
Expansão fenícia[41]
1º. As Zonas de Expansão da própria Fenícia são destacadas a vermelho carregado: vermelho;
2º As grandes metrópoles da Fenícia nos inícios são: Biblos e Tiro, sendo seguidas por Sidon, Arvad, Berytos ou Arados;
3º Cidades e entrepostos: em toda a costa de Chipre, Sicília, Sardenha, Norte de África, Sul de Espanha e de Portugal até Alcácer do Sal, pelo menos, sendo eles assinalados por bolinhas negras.

As cidades amuralhadas eram Biblos, Tiro, Sidon e Arvad[42]. Destas quatro cidades faremos uma pequena resenha histórica, adicionando ao estudo destas um estudo semelhante à cidade de Ugarit, devido à sua importância histórico-biblica. 

6- As quatro cidades principais da Antiga Fenícia
 Fenícia Mapa da Palestina e Líbano)[43]

6.1- Biblos (βύβλος – (Β ύ Β Λ Ο Σ – BYBLOS)

Biblos deverá ser a cidade mais antiga da Fenícia e já no IV milénio (a. C.) fornecia madeira, cobre e papiro aos egípcios e dela se faz menção nas cartas de Amarna[44]. O seu nome original era o de Gubla que deu Gebal, continuando, hoje, a chamar-se em árabe Jubayl que tem a sua raiz num étimo cananeu[45]. O nome de Byblos foi-lhe dado pelos gregos, por ser dessa cidade que os egípcios importavam o papiro e o exportavam para a Grécia.
Ao longo da história, passou por várias fases de anexação, quer pelos egípcios, no III milénio e pelos Hicsos no século XVIII (a.C.), quer pelos “povos do mar” no século XIII e, mais tarde (até aos século VII) pelos Assírios, Persas (537/538), quer, ainda, por Alexandre Magno[46], pelos Árabes no século VII e XIII (d.C.).
Relativamente à religião que era seguida nessa cidade, sabe-se que as divindades principais eram:
1ª A deusa Ba’alat Gebal (também venerada no Egipto), como se pode demonstrar por meio das ruínas de um templo que foram encontradas em escavações levadas a cabo no século XX da nossa era[47];
2ª O deus herói grego Adónis que (nascido do incesto cometido por Cíniras[48], rei de Chipre com sua filha, Mirra[49] e amado por Perséfone (filha de Zeus e de Deméter, deusa da agricultura e irmã de Pluto[50]) e por Afrodite (Vênus)[51] devido à sua extrema formosura ), se tornou o símbolo da beleza masculina[52].
3ª O deus guerreiro cananeu, Resheph - Hebr. רֶשֶׁף - (muito mais tarde), cujo templo foi destruído na época helenista, após a chegada vitoriosa de Alexandre Magno, em 323 a.C.[53].

A partir das escavações, iniciadas entre 1921 e 1924 por Pierre Montet[54], foram descobertos dois templos: um egípcio, pertencente ao III milénio (a. C.) que era dedicado a Ba’alat, padroeira de Biblos e que terá sido destruído por volta do ano 2200 (a.C.) e o outro, fenício, um pouco mais recente, dedicado à mesma divindade. Por esta razão a UNESCO, em 1984, declarou toda essa zona Património da Humanidade[55].

6.2- Tiro (Τύρος) ΤΥΡΟΣ ΑΡΚΑΔ

A cidade de Tiro Τύρος Τύρος, Τύρου, ἡ (hebraico: צוֹר Tzorצור  ou צֹר; procedente do Aramaicoοטוּר, "ο rochedo", uma vez que a cidade original foi construída sobre um rochedo, vindo a tornar-se uma cidade lendária que deu origem à Europa e a Elissa, ou seja, Dido, considerada a fundadora e primeira rainha da cidade de Cartago.
Tiro[56]

Se dermos crédito a Heródoto (II, 44) que se refere aos sacerdotes de Melkart, o principal deus de Tiro, a sua fundação recua até aos tempos do 28º século (a. C.). O próprio profeta Isaías que teria vivido entre 765 AC e 681 a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, refere, no cap. 23,7, que esta cidade era muito antiga.

Segundo os autores citados por Flávio Josefo (Ant. Jud., VIII, iii, 1) e segundo São Justino (Hist., xviii, 3) a sua fundação data do século XII a. C., o que deve ser um erro histórico, pois esta cidade aparece já nas cartas de Amarna sob o nome de Sour-ri que datam, elas mesmas, do período compreendido entre os anos 1385 e 1368 a. C., conforme se encontra na Revue Biblique, 1908, 511, o que também é corroborado pela New Advent Catholic Encyclopedia[57].

6.3- Sidónia (Sidon - Σιδών)

Sidónia (hoje, Ṣaydā em língua Árabe, Sayda em língua Turca e צִידֹן em língua hebraica) era uma grande cidade comercial e célebre por possuir duas indústrias importantes: a da tinturaria cujo máximo expoente era a púrpura e a do vidro. Esta última indústria foi descoberta no século I a.C., encontrando-se inclusive, alguns nomes de artesãos gravados nos próprios artefactos.
Vista panorâmica de Sayda (antiga Sidon)[58]
Sidónia é mencionada na Bíblia Hebraica pelos profetas Isaías (23:2,4,12), Jeremias (25:22, 27:3, 47:4), Ezequiel (27:8, 28:21, 32:30) e Joel (3,4) e no Novo Testamento em Mateus (11,21-22 e 15:21), Marcos (7:24, 3,8) e Lucas (6,17). E continuou a ser um lugar de suporte aos Apóstolos, pois foi dali que Paulo partiu, via marítima, para Roma (Actos dos Apóstolos, 27,3-4)[59].

Como Biblos, a cidade de Sidónia também foi subjugada por Assírios, Babilónios, Persas, Gregos e Romanos.
Detalhe do sarcófago de Echmunazaar de Sidónia (século VI a.C.)[60]

6.4- Arvad

 Arvad (אַ‏רְוָ‏ד, em hebreu e Άραδο, em grego), também chamada Ilha Ruad é uma cidade que ocupa a única ilha habitada da hodierna Síria. Encontra-se no Mediterrâneo e dista 3 km da cidade de Tartus.

Começando por ser habitada pelos Hurritas, nos inícios do II milénio a. C., foi também habitada pelos Cananeus e, por volta do anoc.1600 a.C., os habitantes de Arvad fundaram a cidade de Amrita, tornando-a sua dependente. De seguida, mas ainda nesse mesmo milénio, Arvad foi ocupada pelos Fenícios, chegando a constituir uma cidade-estado ou reino independente, tendo-lhe sido dado o nome fenício de Aynook que, depois, passou a chamar-se Arvad (ou Jazirat que significa, precisamente, “ilha”)[61]

O comércio de Arvad desenvolveu-se tanto que a sua fama levou o próprio Tiglath-pileser I a vangloriar-se de ter velejado até essa cidade, por volta do ano 1200 a.C.

Mais tarde, quando o exército de Alexandre Magno invadiu a Síria, em 332, submeteu-a, pacificamente, uma vez que o seu rei, Strato, se tornou seu vassalo e especial aliado na tomada de Tiro. Mais tarde essa cidade tornar-se-ia igualmente uma aliada especial dos Reis Selêucidas, vindo, inclusivamente, a gozar do direito de asilo prestado aos fugitivos políticos.
Líbano, Síria, Turquia e Iraque
 Também no tempo dos Cruzados, esta ilha teria sido o seu último reduto, depois da queda de Acre quando da retirada frente aos muçulmanos, em 1291 (d.C), em direcção a Chipre[63].

6.5- Ugarit (Ras Šamra)

Ugarit e o seu porto, actualmente Ras Shamra[64] e Minet el Beida constituíram o centro de uma grande rede comercial e cultural que se estendia por todo o Levante e ia até à Anatólia e à Grécia[65]. A sua civilização remonta, ao que tudo indica, à idade do Bronze III do Próximo Oriente que teve os seus começos cerca do ano 3300 a.C. e que é uma liga metálica que resulta da mistura do cobre com o estanho. 
Mapa de Ugarit[66]
Embora fosse uma cidade amuralhada que possuía uma terra fértil, bem irrigada e uma floresta, foi incendiada e destruída durante a invasão dos povos do mar, no início do século XII.

Foi célebre, não apenas pelas caravanas de burros, vindas da Síria, Mesopotâmia e da Anatólia, mas também pelos barcos vindos de Chipre, Creta e do mar Egeu, para trocarem os seus produtos com os mercadores de Canaã e do Egipto[67].

O seu comércio incluía inúmeras indústrias tais como: artesanato, cerâmica, madeira, marfins, metais, têxteis entre outras mais. Dos estudos que foram feitos a navios dos séculos XIV e XIII (a. C.) descobriu-se que, entre os produtos transportados por estes navios se encontravam âmbar, cerâmica, cobre, colares de faiança, estanho jóias, marfim, tecidos, vidro, inclusive, gado e ainda diferentes medidas de peso.

As cartas de Amarna já falavam de Rãs Shamra e no 2º milénio já se sentia a influência cultural egípcia, mantendo relações comerciais com os povos vizinhos. Foi invadida pelos Hurritas em 1800 a.C. e pelos povos egeo-minóicos em 1200 a.C., atingindo o seu auge no tempo do rei Nigmadu II, na segunda metade do 2º milénio., isto é, entre os anos 1440-1360 a.C.

Alfabeto Ugarítico cuneiforme


Relativamente à religião particular de Ugarit sabe-se que existia uma corte divina chamada ‘lhm ou ‘Elohim (deuses), cujo deus principal era ‘El ou ‘Ilu, tido pelo “Pai da Humanidade”. ‘El era representado como o deus “de idade avançada, com cabelos brancos, sentado em um trono”, sendo substituído por Ba’al que era o seu vizir na terra[68], sendo deste que se fala na Bíblia hebraica. 

Havia ainda uma segunda classe de deuses entre os quais se destacavam: Yam (ou "Mar", o deus do Caos Primordial, das tempestades e da destruição em massa), Hadad, o rei dos Céus, Athirat ou Asserá (familiar aos leitores da Bíblia) e Mot (deus da "morte”).

Numa terceira classe contavam-se ainda divindades relacionadas com a vida quotidiana dos cidadãos, como: Shahar, o deus do "amanhecer" e Shalim, o deus do "anoitecer"; Kothar-wa-khasis, o deus "hábil e esperto", assim chamado por ser considerado artesão, Reshef, o deus da "cura", e ainda os deuses Tirosh (hebr. תִּירוֹשׁ, lit. Sumo de uva), ou seja, o deus do vinho e ainda Horon, ou o deus da dança (do grego Χορός (Horos).


 Referências
 
[1] Rodrigues, Manuel Augusto, (1969, Vol. 8, col. 542)

[2] Embora Ugariti não faça parte integrante da Fenícia, considero-a como tal devido à sua importância histórico-bíblica.

[3] 2010, Vol 1, Number 2, p. 129):

[4] Idem, col. 542)



[7] http://es.wikipedia.org/wiki/R%C3%ADo_Litani

[8] Sabatino Moscati (1922-1997) em I Fenici e Cartagine, UTET, Torino 1972, capítulo sobre “Os Fenícios”. 

[9]Ἡρῴδης, filho do idumeu Antipatro e da nabateia, Cipros,  nasceu por volta do ano 73 a.C. e morreu em Jericó no ano 4 a.C. ou 1 a.C.), sendo sepultado no Herodium onde ele mandou construir um grandioso palaácio para nele passar as férias.. Tornou-se judeu porque na época e reinado de João Hircano a Idumeia foi conquistada pelos judeus e toda a sua gente foi obrigada a converter ao budismo..

[10] Lemaire, P. Paulin e Baldi, P. Donato (1964). Atlante Bíblico. Storia e geografia della Bibia. Marietti. Roma

[11] Baldi, 1964, p. 19

[12] http://scriptures.lds.org/pt/biblemaps/9


[14] Hēródotos foi um geógrafo e historiador grego, continuador de Hecateu de Mileto e parece ter vivido ,  entre os anos 485?-420 a. C., em Halicarnasso (cujo nome hodierno é Bodrum, na Turquia.


[16] Amarna que, embora seja mais conhecido, erradamente, pelo nome de Tel el-Amarna,
é um largo campo arqueológico egípcio, ao longo do Nilo e representa  os restos da cidade  que foi construída pelo Faraó Akhenaten da 18ª dinastia, por volta do ano 1353 a. C para servir de nova capital do império monoteísta, mas que foi abandonada pouco depois da sua morte. Este Faraó tentou im+plantar uma nova religião – Monoteísta – cujo deus único seria Athon/Athen, ou seja, o Deus Sol. O nome que lhe deram os egípcios foi o de Akhetaten ou Akhetaton e que significa “Horizonte de Athen. Essa estância arqueológica encontra-se na província de Minya a cerca de 58 km ao sul da cidade al-Minya e a 312 km a sul do Cairo e a 402 a norte de Luxor.

[17] Acerca da vida e obra deste Filo de Biblos, também conhecido por Herênio Filão (em latim: Herennius Philon; c. 64-141 d.C.) encontra-se um sumário no site http://pt.wikipedia.org/wiki/Filo_de_Biblos, onde se faz referência às citações defeituosas que dele fez Eusébio de Cesareia na sua Historia Ecclesiastica.

[18] http://en.wikipedia.org/wiki/Phoenicia


[20] Hieracómpolis foi o centro do culto prestado a Horus, deus tutelar dos faraós das primeiras dinastias. Os monarcas consideravam-se a encarnação dessa divindade que também se manifestava no Nilo. (cfhttp://es.wikipedia.org/wiki/Hierac%C3%B3mpolis.

[22] Tucídides, em gr.  Θουκυδίδης, Transliterado: Thukydídēs, foi um historiador ateniense que viveu entre os anos 460-400 a.C. Escreveu, como testemunha coeva, a História da Guerra do Peloponeso (entre Esparta e Atenas) em oito volumes.

[23] http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro: Map_Peloponnesian_War_431_BC-fr.svg

[24] As guerras médicas são as que se travaram entre gregos e persas  durante o século V a.C. pela disputa sobre a região da Jónia na Ásia Menor (cf. http://www.infoescola.com/historia/guerras-medicas/



[27] Op. Cit. P. 509

[28] Lemaire, P. Paulin e Baldi, P. Donato (1964, p. 62.

[29] Casson, Lionel. Ships and Seamansships in the Ancient World. The Johns Hopkins University Press. p.


[31] http://www.areamilitar.net/DIRECTORIO/nav.aspx?nn=98 e ainda em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trirreme



Cf. também http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipocampo_%28mitologia%29, onde define o que seja um Hipocampo: “ “O Hipocampo (Grego: hippos = cavalo, kampi = monstro) é uma criatura mitológica partilhada pela mitologia Fenícia e Grega. Tem tipicamente sido descrito como cavalo na parte anterior do seu corpo como peixe na parte posterior como a cauda de um peixe escamoso, como um cavalo-marinhoNa mitologia grega, o hipocampo servia de companhia e montaria às nereidas e de animal de tracção ao carro de Poseidon. Seres com características semelhantes aparecem na arte de outras culturas, inclusive a Mesopotâmia e a Índia. Também foi representado em bronzes, prataria e pinturas da Antiguidade romana ao período barroco”.





[39] “Murex pecten é um gastrópode da família Muricidae  , nativa das águas do Indo-Pacífico. A concha deste gastrópode é única devido ao arranjo perfeito dos seus mais de cem espinhos afiados”. Cf. site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Murex_pecten; Para conhecer melhor as famílias e sub famílias dos muricidas confira-se site: http://shells.tricity.wsu.edu/ArcherdShellCollection/Gastropoda/Muricidae.html.


[42] http://www.libano.org.br/olibano_historia_fenicios.html

[43] http://www.libano.org.br/olibano_historia_fenicios.html



[46] Em 333 a.C. Alexandre Magno derrotou o rei persa Dário III (c. 380 – Julho 330 a. C.) na batalha de ISSUS, subjugando todas as cidades fenícias, à excepção de Tiro que veio a ser destruída, um ano depois, após Alexandre ter ordenado a construção de um pontão que ligou Tiro à terra firme, através do qual o exército de Alexandre pôde atingi-la e vencê-la, após ter destruído, primeiro, as suas muralhas defensivas.
 (http://www.libano.org.br/olibano_historia_fenicios.html).

[47] Nessas escavações foram encontrados também, além de altares e de um anfiteatro romano, o sarcófago do rei Ahiram, algumas tumbas e, inclusive um anfiteatro romano. Este sarcófago, assim como outras tumbas foram descobertas, em 1923 pelo arqueólogo francês Pierre Montet, na 5ª tumba da necrópole real em Jbeil, (a antiga Byblos). (cf. http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/libano/pontos-turisticos-do-libano.php; e ainda em: http://en.wikipedia.org/wiki/Ahiram




[51] http://www.recantodasletras.com.br/biografias/1791313; http://www.algosobre.com.br/mitologia/adonis.html



[54] Os resultados destas escavações foram publicados pelo autor, em 1928 no seu escrito Byblos et l’Égypte «http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Pierre_Montet»; cf. também: http://www.infopedia.pt/$biblos-(fenicia

[55] http://www.infopedia.pt/$biblos-(fenicia

[56] http://pt.wikibooks.org/wiki/Ficheiro:Siege_of_Tyre_332BC_plan.jpg


[58] http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f7/Panorama_of_Sidon_from_the_castle.jpg

[59] Wayne Blank: http://www.keyway.ca/htm2001/20010416.htm


[61] Krahmalkov, Phoenician Punic Dictionary, p. 47.  e ainda em: http://www.historyfiles.co.uk/KingListsMiddEast/CanaanArvad.htm

[62] http://www.worldatlas.com/webimage/countrys/asia/sy.htm


[64] A sua descoberta arqueológica data dos anos 1928/1929 iniciadas por uma missão francesa e liderada pelo arqueólogo Claude F.A. Schaeffer devido ao qual se encontraram e decifraram, não só a primeira linha do alfabeto, mas também informação preciosa sobre a religião cananeia muito relacionada com a Bíblia Hebraica e com os estudos bíblicos « http://www.sacred-destinations.com/syria/ugarit».

[65] Convém recordar que por Mesopotâmia se incluem os modernos estados de Iraque e Irão; por Levante se incluem os modernos estados de Israel, Líbano, Síria e os Territórios ocupados pelos Palestinos e por Anatólia se inclui parte do moderno estado da Turquia.

[66] http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d3/Ugarit_mapa.jpg

[67] http: //www.infopedia.pt/$ugarit (22-07-2012).

[68] http://pt.wikipedia.org/wiki/Ugarit.

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[1]Sanconíaton (em grego  antigo: Σαγχουνιάθων, transliterado como angkhouniáthōn; sendo o seu genitivo Σαγχουνιάθωνος, Sangkhouniáthōnos) é um antigo fenício, suposto autor de três obras escritas originalmente na lín gua fenícia e que sobreviveram na forma de paráfrases e sumários numa tradução para o grego feita por Filo de Biblos, de acordo com Eusébio de Cesareia. Estes poucos fragmentos abrangem a mais extensa fonte literária a abordar a religião fenícia em grego ou latim; as fontes fenícias, juntamente com toda a literatura fenícia, foram perdidas com os pergaminhos sobre os quais foram escritas «http://pt.wikipedia.org/wiki/Sancon%C3%ADaton»
 

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