Conteúdo
1- Nome
Mersopotâmia (Μεσοποταμία) é um
termo que provém da língua grega por justaposição de μεσο/meso, meio, e
ποταμός/potamós, rio, ou seja, "terra entre dois rios", sendo
aplicado a uma região de interesse histórico e geográfico, não só bíblico como
também profano.
Esta região encontra-se situada no planalto de origem vulcânica que, por sua vez, se encontra na Médio Oriente e se vê circunscrito por dois grandes rios: o Eufrates e Tigris que vão desaguar no Golfo Pérsico. Toda esta região que faz parte do Crescente Fértil, porque muito fértil em produtos agrícolas, fica circundada por desertos.
Mapa da Antiga
Mesopotâmia[1]
2- Divisão da Mesopotâmia
A Mesopotâmia divide-se em duas
partes bem distintas: o Norte que equivale à Alta Mesopotâmia que corresponde à
Síria e ao Sudeste da actual Turquia e se caracteriza pelas suas montanhas,
deserto e zonas agrestes com poucas pastagens; o Sul, ou Baixa Mesopotâmia[2] que
corresponde, ao actual Iraque e se caracteriza pela sua forte produção agrícola
que é devida aos rios que nascem nas montanhas do Norte, hoje pertencentes à
Arménia. Esta região sul, frequentemente também conhecida pelo nome de Caldeia[3] foi a
pátria dos Sumérios, Acádios e Babiloneses, sendo hoje conhecida pelo nome de Mossul.
Alta e Baixa Mesopotâmia[4]
3- A Mesopotâmia a caminho da civilização
3.1- Cultura Kalaat Jarmo
Em Maio de 1948, descobriram-se,
a leste de Kirkuk, os vestígios de um estabelecimento sedentário que foram
considerados os testemunhos a favor do mais antigo estabelecimento sedentário
até hoje conhecido. Trata-se da aldeia conhecida pelo nome de Kalaat Jarmo.
Considerou-se o mais antigo
povoamento uma vez que pelos dados do Carbono 14 remontaria aos anos 6750, ou
seja, ao VII Milénio a. C. Com efeito, as escavações puseram a descoberto umas
“vinte casas de paredes de lama, o que albergariam cerca de 150 pessoas. As
escavações puseram a descoberto também algumas sepulturas, vasos de pedra,
fragmentos de obsediana, figurinhas de animais e de “deusas-mães” em argila”. É
de salientar que os utensílios são líticos e nota-se a ausência de cerâmica como
serão encontrados nas Culturas Hassuniana e Halfafiana, próprias ao VI e V.
milénios a.C., respectivamente.
Primeiras aldeias
mesopotâmicas[5]
Outras descobertas encontradas em
Kalaat Jarmo foram numerosas ossadas de cabras, carneiros, bois, porcos
e cães o que demonstra a técnica já utilizada da domesticação desses animais. O
mesmo se diga da descoberta de grãos de trigo e cevada testemunhos do
conhecimento e utilização da agricultura[6].
3.2- Cultura Hassuna
No VI Milénio a.C. desenvolveu-se
a Cultura Hassuna, nome que lhe adveio da aldeia assim chamada situada no vale
do Tigris, a Sul de Mossul e que se situa a 22 milhas ou seja, 35,200km, ao Sul
do Iraque.
Localização aproximada das Culturas Samarra,
Hassuna e Halaf[7]
Esta Cultura conheceu e
desenvolveu a arte da cerâmica que era feita à mão, de cor vermelha-escura ou
preta, utilizando a argila crua ou cozida que era também utilizada para o fabrico
de tijolos, esculturas e material de escritura. Com temas decorativos
simples, inspiravam-se em objectos não figurativos. As construções eram feitas
de taipa.
Os utensílios encontrados, tais
como: foices, machados, raspadeiras, buris, essencialmente feitos de osso ou de
pedra demonstram a importância dada à agricultura e à arte de criar animais,
tanto para os utilizar na agricultura como na sustentabilidade dos próprios
habitantes.
3.3- Cultura de Samarra
Ao mesmo VI Milénio pertence
igualmente a civilização de Samarra, nome que lhe advém do local de mesmo nome
que se situa a Norte de Bagdad. Esta civilização foi descoberta em 1912, vindo
a ser reencontrada igualmente em Ninive, em Baghuz, no Eufrates médio e,
inclusive, nas planícies de Antioquia. Este nome Antioquia vem do grego Αντιόχεια,
do nome próprio Αντίοχος. Talvez proceda
de αντι: em lugar de, igual a, em comparação de + οχειον:
garanhão) e foi uma cidade antiga erguida na margem esquerda do rio Orontes e
corresponde à cidade moderna de Antakya, na Turquia.
As construções utilizam tijolos
grandes; a cerâmica é monocromática e o tom varia do vermelho ao violáceo. Os
seus motivos, ao contrário dos da cerâmica Hassuniana, são figurativos, amando
a esquematização e a abstracção[8].
Antakaia / Antioquia
Sob o ponto de vista agrícola a
Dupla Mesopotâmia seguia as mesmas características do da Dupla Terra do Nilo.
Ela era fecundada pelos seus dois grandes rios, o Tigris e o Eufrates que
anualmente, de Março a Junho se enchiam e transbordavam, inundado as planícies,
sendo necessário, corrigir os seus cursos com diques e canais de irrigação de
modo a que as populações não ficassem submersas por
catástrofes diluviana[9].
A cerâmica encontrada em Hassuna
caracterizava-se por listras vermelhas sobre um creme argiloso colorido. A
louça era decorada com a forma de espinha de arenque. Usavam igualmente
carimbos a acompanhar a cerâmica para indicar quer os conteúdos, quer os donos
desses mesmos.
Segundo Lloyd, Seton, Fuad Safar,
and Robert J. Braidwood[10], foram encontrados também
outros objectos de olaria de cor cinzento-queimada que talvez tenham origem fora da região de Hassuna e que ali tenham chegado através do comércio. Também foram
encontrados em níveis mais antigos de Hassuna contas ou bolinhas de cordões,
pendentes e outras pequenas peças de joalharia.
No que concerne à religião, foram
encontrados alguns objectos em Tell Hassuna que nos podem indicar a crença
na vida para além da morte terrena. Efectivamente, foi encontrada uma dúzia
de jarrões funerários reservados aos restos mortais de crianças e ainda
outros que continham comida e bebida que se supunham necessárias para o
sustento dessas crianças para além desta vida terrena.
Foi também encontrada uma
figurinha de argila, representando a deusa-mãe, o que manifesta claramente a
crença na divindade[11].
Vaso de Hassuna[12]
Estatuetade Hassuna[13]
O vaso com cinzeladura
decorativa[14]
3.4- Cultura Halaf
A Cultura Halaf é apanágio de
toda a região que ocupa tanto os vales do grande rio Tigre onde sobressaem as
cidades Arpatchiya e Ninive, como os vales do afluente Habur, onde se encontram
as povoações de Tell Brak, Chagar Bazar e Tell Halaf, estendendo-se ao longo do
Eufrates, onde sobressai Karkemish.
Toda esta zona é representativa de uma civilização que, embora se suponha
ter começado por volta do 7º Milénio (a. C atingiu o seu desenvolvimento mais complexo e
elevado somente no V Milénio (a. C.)[15] .
Esta cultura influenciou ainda tanto
Rãs Shamra no Mediterrâneo e a Cilícia, no Oeste, como o Sudeste do Iraque e
toda a região de Lago Van.
A Cultura Halaf passou a ser melhor
conhecida a partir das escavações que foram feitas em Arpatchiya, perto de
Mossul, onde foram encontrados vários edifícios circulares (conhecidos por
tholoi), alguns dos quais se encontravam precedidos de vestíbulos rectangulares.
A palavra Tholos (ou tholoi
no plural), em grego θόλος ou θόλοi, tinha a forma circular. Em Atenas era a sede
do governo cidade, dita Πόλiς que se chamava Πρυτανεiον, Prytaneion como se
poder encontrar na New World Encyclopedia, site: http://www.newworldencyclopedia.org/entry/beehive_tomb.
Tholoi
Corte transversal
Em Portugal, encontramos algo parecido,
em Citânia de Briteiros, situada no alto do Monte de São Romão, na freguesia de Salvador
de Briteiros, concelho de Guimarães (a pouco mais ou menos 15 km de
distância a Noroeste desta cidade). Ali se encontra uma estância arqueológica
cujos edifícios datam da Idade do Ferro.
Bandeja rasa com desenhos florias das
escavações Arpatchiya, Cultura Halaf, 6000-5700 a.C. [16].
Parte
das escavações em Tell Halaf[17]
Embora se tenha pensado que esses
ditos tholoi possam ter sido fortalezas, celeiros, fornos, túmulos ou
santuários, desconhece-se, até ao presente, qual tenha sido o seu destino
verdadeiro. São, no entanto, uma característica particular da Cultura Halaf.
Também não é certo que tenham servido de puras habitações a seres humanos
vivos.
A arte do barro apresenta um
desenvolvimento bastante aperfeiçoado com temas naturalistas ou abstractos. São
de salientar também motivos novos como bucrânicos[18] e
duplos machados, continuando o tema da deusa-mãe.
Os materiais utilizados são
diversificados: campânulas de argila, sinetes de pedra de tipo diversificada, o
que revela um comércio variado; continuação do uso do osso para fabricação de
utensílios. A grande novidade desta cultura parece ter sido a invenção de
processos para a fundição do cobre e do chumbo[19].
Figurinha da Deusa-Mãe
da Cultura Halaf[20]
4- Mesopotâmia na Bíblia
Existem algumas passagens na Bíblia, referentes à
Mesopotâmia[21]
1- Gênesis 24,10: E, tendo tomado dez
camelos do rebanho de seu senhor, partiu, levando as mãos cheias das riquezas
de Abraão. E pôs-se a caminho, andando para a Mesopotâmia, para a cidade de
Nacor.
2- Deuteronômio 23,4: Nem nunca
jamais, porque não quiserem sair ao vosso encontro no caminho com pão e água,
quando saísses do Egipto, e também porque assalariaram contra ti Balaão, filho
de Beor, de Fetor, na Mesopotâmia, para que te amaldiçoasse.
3- Juízes 3,8: A ira do Senhor inflamou-se
contra Israel, e ele entregou-os nas mãos de Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia,
a quem ficaram sujeitos durante oito anos.
4- Juízes 3,10: O Espírito do Senhor
desceu sobre ele: ele julgou Israel e saiu para a guerra. O Senhor entregou-lhe
Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, e sua mão triunfou sobre ele.
5- I Crônicas 19,6: Viram os amonitas
que se tinham tornado odiosos a David. Então Hanon e os filhos de Amon enviaram
mil talentos de prata para assalariar carros e cavaleiros entre os sírios da
Mesopotâmia, de Maaca e de Soba.
6- Judite 2,14: Passando o Eufrates pela
segunda vez, penetrou na Mesopotâmia e arrasou todas as fortalezas do país,
desde a torrente de Caboras até o mar.
7- Judite 3,1: Então os reis e os
príncipes de todas as cidades e de todas as províncias, da Síria, da
Mesopotâmia, da Síria de Sobal, da Líbia e da Cilícia, enviaram seus delegados
a Holofernes para lhe dizerem…
8- Judite 3,14: Ele, atravessando a Síria
de Sobal, toda a Apameia e toda a Mesopotâmia, chegou aos idumeus, na terra de
Gabaa.
9- Judite
5,7: habitaram primeiramente na Mesopotâmia, porque recusavam
seguir os deuses de seus pais que estavam na Caldeia.
10- Salmos 59,2: quando guerreou contra os
sírios da Mesopotâmia e os sírios de Soba e quando Joab, voltando, derrotou
doze mil edomitas no vale do Sal. ()
11-Atos dos Apóstolos 7,2:
Respondeu ele: Irmãos e pais, escutai. O Deus da glória apareceu a nosso pai
Abraão, quando estava na Mesopotâmia, antes de ir morar em Harã.
[3]A Caldeia (do latim Chaldaeus, do grego Χαλδαῖος
e do acádio kaldû, tgraduzido em Hebraico por. כשדים Kaśdîm) situava-se no Sul da
Mesopotâmia, de modo especial na margem oriental do rio Eufrates. Este termo
era muitas vezes usado para significar toda a planície mesopotâmica. A Tribo
dos Caldeus parece ter vindo da Arábia, viveu no litoral do Golfo Pérsico e
pertenceu ao Império Babilónico.
A Bíblia Hebraica (AT) No cita frequentemente os Caldeus como tendo sido
aqueles que sob o império de Nabucodonosor II destruíram Jerusalém e levaram o
povo judeu para o cativeiro de Babilónia onde permaneceram durante 70 anos, até
à derrota do império babilónico e a instauração do império persa por Ciro, o
Grande (550-331).
[4] http://www.escolar.com/avanzado/historia005.htm
[5] http://www.historia.templodeapolo.net/civ.asp?civ=Civilização%20Suméria#topo
(18-07-2012)
[8] Ibidem.
[9] Idem, p. 22
[10] "Tell Hassuna Excavations by the Iraq
Government." Journal of Near Eastern Studies 4.4 (Oct. 1945): 255-289
[11] Atlas de Arqueologia, 1994, p.99 e ainda: http://wikimapia.org/1877943/Tel-Hassuna
[12] http://www.rudelle.info/images/divers/cours/proche_orient/hassuna5.jp
[13]
ttp://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.iianthropology.org/sitebuilder/images/gradeshnitsa2.1-224x267.png&imgrefurl=http://www.iianthropology.org/hassunaandthebalkans.html&h=267&w=224&sz=134&tbnid=uHyM2vHcuQ99dM:&tbnh=113&tbnw=95&prev=/search%3Fq%3DHassuna%26tbm%3Disch%26tbo%3Du&zoom=1&q=Hassuna&usg=__avjTztSxhICfzlNOIszI5po4jxY=&hl=pt-PT&sa=X&ei=ol7jT_iKIrCW0QXyiNm2Aw&ved=0CB8Q9QEwAw e g
[14]
http://www.zazzle.pt/o_vaso_com_cinzeladura_decorativa_de_diz_hassuna_capas_speck-176157568733985800
[15] http://www.waa.ox.ac.uk/XDB/tours/mesopotamia3.asp
(30-06-2012)
[18] Do grego boukránion, «cabeça de boi», pelo latim bucranĭu-,
«idem»). Trata-se de figurações de cabeças descarnadas de bois, que
serviam de ornato nas construções gregas e romanas.
[21] http://www.bibliacatolica.com.br/busca/01/1/Mesopotamia#.UEtp0K5l-t8
Sem comentários:
Enviar um comentário