Conteúdos
1- Origem do nome
2- O xamã pode ser homem ou mulher
3- Objectivos do Xamanismo
4- Testemunhos através da Arte Rupestre
5- O Xamanismo – Uma Religião de Ecologia Espiritual
6- Ritual de Passagem
7- Práticas Xamânicas
Bibliografia
1- Origem do nome
Esta palavra “Xamã” ou Chaman (e o seu derivativo “Xamanismo” ou “Chamanismo”) teve a sua origem na Sibéria e é utilizada para caracterizar ou “descrever as práticas religiosas universais, sendo um legado do Mundo Espiritual a favor da Humanidade” [1]. E foi a palavra que os antropólogos inventaram para “definir um conjunto de crenças ancestrais relativas à busca do conhecimento.
Alguns antropólogos julgam que o Xamanismo encontra as suas raízes em tempos muito recuados, estimando alguns que possivelmente se situem para além de 40.000 ou mesmo 50.000 anos, na Idade da Pedra.
“É considerado uma filosofia de vida que visa o reencontro do homem com os ensinamentos e fluxo da natureza e com o seu próprio mundo interior (…). A sua origem não tem raízes históricas ou geográficas; na realidade é um conjunto de ensinamentos milenares que, através da tradição de tribos indígenas do mundo todo, foram sendo passadas até aos dias de hoje. Esses ensinamentos são baseados na observação da natureza e seus sinais: sol, lua, Terra, Água, Fogo, Ar, Animais, Plantas, Vento, Ciclos, etc.”[2].
Por essa mesma razão o mesmo autor acrescenta que
“Pode-se considerar o xamanismo como a verdadeira arte de viver”.
2- O xamã pode ser homem ou mulher
O termo xamã é um termo genérico que foi adoptado para englobar o que antes, no Ocidente, desempenhava as funções de: “bruxo, feiticeiro, curandeiro, mago, mágico, vidente, sacerdote, pajé[3], homem da medicina, o terapeuta, o conselheiro, o contador de estórias, o líder espiritual e outros”. Por isso o Xamanismo é considerado como “um conjunto de crenças ancestrais que estabelecem contato com uma realidade oculta, ou estados especiais (alterados) de consciência, a fim de obter conhecimento, poder, equilíbrio saúde para si mesmo e para as pessoas”.
Chega-se a ser Xamã, não por autoproclamação, mas sim por um reconhecimento público da comunidade xamânica, depois de um longo estudo e práticas no seio de uma espécie de Escola onde instrutores habilitados ensinam o cerimonial xamanista. Após um período mais ou menos longo de aprendizagem, o neófito recebe “autorização espiritual”para conduzir cerimónias próprias ao Xamanismo. Algo parecido ao que se processa com o sacerdócio cristão.
Os seu objectivos do Xamanismo[4] são diversificados contando-se alguns entre os principais os seguintes
· Re-ligação do ser com a sua sabedoria interior,
· Conexão com a “multidimensionalidade” do ser humano,
· Ancoragem do poder pessoal,
· Conexão com seres espirituais,
· Limpeza dos corpos físicos e subtis,
· Limpeza e harmonização de ambientes,
· Harmonização plena do ser,
· Consciencialização do aspecto espiritual de cada um e de sua inter- relação com a natureza e com o planeta a que pertence,
· Activação das habilidades de coragem, força e sabedoria para lidar com questões generalizadas,
O Xamanismo tem sido estudado nas Américas (do Norte, Central e do Sul), na África, nos aborígenes da Austrália, nos Esquimós, na Indonésia, na Malásia, no Senegal, Patagónia, Sibéria, Bali, Inglaterra, Europa, Tibete, etc. e chegou-se à conclusão que esta religião é universal.
Têm sido apresentados vários artefactos rupestres que são considerados exemplares de arte Xamânicas e como esses artefactos se encontram em diversos sítios do globo presume-se que os Xamanes tenham passado de país para país e neles tenham espalhado as suas crenças. Por exemplo:
Nos princípios do sec. XX foram encontradas pinturas rupestres pré-históricas, no Sul da França, de figuras semi-humanas, semi-animais entre animais comuns, que foram consideradas como representando xamãs e que conduziram a suposição de que o xamanismo foi a religião humana original e primordial.
Uma dessas gravuras mostra um bisonte e um ser humano, deitado de costas, com o pénis erecto (falo); a sua cabeça parece ter a forma de uma ave; ao seu lado vê-se uma ave. Todas estas características levaram os antropólogos a pensar que esse homem seria a representação de um Xamã em transe. Esta interpretação foi divulgada nos anos 60 por Lommel, num livro bem ilustrado intitulado Shamanism:The Beginnings Of The Art.
Piers Viebsky em "O xamã", cita que em 1991 foi encontrado o corpo mumificado de um homem preservado sob as neves dos Alpes Austríacos.
Nos Pirenéus franceses foi encontrada na Gruta “Les Trois Frères”[6] encontrou-se uma figura rupestre muito especial a que deram o nome de Feiticeiro Dançante.
Olhando, atentamente, para esta figura notam-se os seguintes pormenores:
· Parece uma figura masculina de perfil;
· Olha de frente, para quem o contempla,
· Todo o corpo parece ser o de um animal, (orelhas de lobo, chifres de veado, rabo de cavalo, e patas de urso)
· Mas, o efeito geral é notoriamente humano.
Pode pensar-se tratar-se ou de um símbolo do Xamanismo ou de um Espírito, Senhor dos animais, personificando simultaneamente a essência de todos os animais[7].
Segundo esse autor[8] « (…) les interprétations successives l'ont désigné comme un sorcier pratiquant un rite magiqu[2], ou un dieu des animaux dit le « dieu cornu », ou encore comme un chaman en transe ».
Enquanto as grandes religiões actuais se preocupam muito com a vida eterna, o Xamanismo preocupa-se com a salvaguarda do nosso Planeta, transformando-se, portanto, num administrador do Universo, isto é: tanto do homem como de todos os outros seres vivos. Esta religião pode, por conseguinte, sintetizar-se em poucos axiomas concernentes às funções de todo e cada um dos Xamãs, tais como:
· 1- Aos Xamãs são atribuídas as seguintes particularidades:
o Ser capaz de buscar por estados Alterados de Consciência, o Voo da Alma / Êxtase; Este voo mágico é um dos fundamentos do xamanismo;
o A capacidade de actuar como instrumento oficial do tratamento e da cura das diversas doenças;
o O poder curativo das plantas, das aves e da das pedras;
o O conhecimento dos espíritos dos animais e de todos os seres da natureza;
o A característica de especialista e de mestre de viagens estáticas;
o A capacidade de viajar em espírito, assumindo a forma de um animal ou ave ou directamente através daquilo a que chamaríamos de experiência fora-do-corpo;
o Estas viagens são realizadas pelos reinos paralelos dos Espíritos bons e maus, invisíveis à realidade ordinária.
o Estas viagens têm o objectivo de guiar os homens e obter conhecimento espiritual;
· À Religião Xamanista são atribuídas as seguintes especialidades:
o A devoção à Criação, ao Sol, à Lua, às Estrelas;
o O reconhecimento da presença de Deus em todas as manifestações do Universo;
o A interacção com os espíritos da natureza;
o A utilização de instrumentos de poder para provocar o transe/estados alterados de consciência (por meio de tambores, maracás, etc);
o O conhecimento das propriedades do fogo, da água e do ar;
o A utilização de drogas, plantas enteógenas, medicinais e magnéticas no intuito de ser alcançada a purificação;
o O uso de canções consideradas dotadas de Poderes mágicos;
o O uso de Danças tendentes à preparação do transe, etc.
o A utilização de componentes ou plantas apropriadas à cura de doenças respiratórias e a várias dietas;
o O hábito não apenas de recitar ou narrar histórias, como também de apresentar dissertações.
Eis algumas das características mais marcantes de todos os rituais Xamânicos[10], que se verificam no filme “Floresta Esmeralda”, de 1985, baseado em factos reais e realizado por John Boorman (o mesmo de “Excalibur”):
Comunhão com a Natureza e as suas forças vivas;
o O uso de plantas (algumas alucinogénicas) ou cogumelos;
o A presença do Xaman-Guia, que conduz o candidato;
o A fogueira, onde é preparada a substância facilitadora do estado de transe;
o O estado de transe em si, semelhante a um sono (e sonho) profundo e consciente;
o Os tambores e o ritmo em cadente imparável;
o A sintonia com uma animal/elemento – forma; a maior parte das vezes racionalizado como um animal.
Os xamãs recorrem “a animais de poder; aos espíritos auxiliares; às plantas mágicas, aos elementos, às pedras sagradas.
Na prática do xamanismo contactam-se os animais que não são animais físicos que habitam o nosso planeta, mas sim forças espirituais das quais os mesmos procedem e que representam o que é conhecido como alma-grupo, ou seja esse ser representa toda uma espécie e possui poderes e qualidades que nos ajudam de forma muito significativa no nosso trabalho de auxílio àqueles que esqueceram quem realmente são.
Este fenómeno aplica-se também às plantas e às pessoas que possuem igualmente a sua alma-grupo, qualidades e poderes que são características pertinentes a cada espécie que elas representam”[11] .
NOTAS
[1] [On line] [Consult 02-10-2011] Disponível em: http://www.xamanismo.com.br/Universo/SubUniverso1186617496.
O período da “pedra” é o período da Pré-História durante o qual a tecnologia mais avançada consistiu na utilização da pedra, com a qual se fizeram os instrumentos de percussão. Apesar de se utilizarem cornos, cestos, cordas, ouro, a pedra, especialmente o sílex, o quartzo, o quartzito e a obsidiana, formam os mais utilizados.
É muito discutido o começo e muito mais, o fim deste período, pois prece que varia de lugar para lugar ou de civilização para civilização. Quando ainda a Grã-bretanha se encontrava nesse período, já Roma, o Egipto e a China usavam os metais e a escrita. Crê-se que, por exemplo, na África os primeiros instrumentos humanos feitos em pedra remontam a cerca de 2,5 milhões de anos, seguindo-se logo o período calcolítico (ou idade do Cobre e do bronze) que ocorreu entre os anos 6.000 e 2.500 a.C. Segundo estudos modernos O HOMEM surgiu há cerca de 46 milhões de anos: [On line] [Consult 02-10-2011] Disponível em: http://www.syntonia.com/textos/textosecologia/homemunicoanimalracional.htm. Cf. também:
[2] [On line] [Consult 02-10-2011] Disponível em: http://www.netfenix.com.br/adonai/pagina.asp?p=65.
[3] “Pajé” é segundo o Dicionário Aurélio uma “palavra de origem tupi, adoptada como termo das disciplinas antropologia e etnologia brasileira que designa o especialista ritual que, nas comunidades indígenas brasileiras, tem a atribuição ou o suposto poder referido e de comunicar-se com as diversas potências e seres não humanos (espírito de animais, de pessoas mortas, etc.) tendo como sinonímia os termos: xamã, manda-chuva, benzedor e curandeiro” ou, segundo o Dicionário da Língua portuguesa contemporânea da as de Lisboa , (2001, p. 2717) de “1. Um chefe religioso, entre as comunidades indígenas, misto de sacerdote, feiticeiro e curandeiro, ou 2. Benzedor; curandeiro”.
[4] Para um conhecimento mais profundo sobre as “Bases do Zamanismo” vide site seguinte: [On line] [Consult 02-10-2011] Disponível em: http://www.netfenix.com.br/adonai/pagina.asp?p=66.
[5] O conceito básico das curas Xamânicas é que " Ninguém cura o outro. A cura está dentro de cada um"([On line] [Consult 02-10-2011] Disponível em: http://www.netfenix.com.br/adonai/pagina.asp?p=65).
[6] O nome da Gruta deve-se aos três filhos (Max, Jacques e Louis) do Henri Bégouën que descobriu a sua entrada a 20 ou 21 de Julho de 1914. Cf. http://fr.wikipedia.org/wiki/Grotte_des_Trois-Fr%C3%A8res).
[7] Ibidem.
[8] [Consult 02-10-2011] Disponível em: http://fr.wikipedia.org/wiki/Grotte_des_Trois-Fr%C3%A8res
[10] http://ihshi.com/wp/archives/1316
Bastide, Roger. Candomblé da Bahia, rito Nagô. São Paulo , Companhia Editora Nacional, 1961. 370 p. (Brasiliana, v. 313).
Bruce, Albert. “O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia política da natureza”, in: Albert, Bruce & Ramos, Alcida R. 2002 Pacificando o Branco. Cosmologias do contato no norte amazônico, São Paulo: Editora UNESP
Coelho, Vera Penteado, Os alucinógenos e o mundo simbólico. SP, EPU Ed.USP, 1976
Deise, Lucy. "Mbaraka': música e xamanismo guarani. Tese de Mestrado USP
Dicionário Aurélio (versão popular do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Trata-se de um glossário do idioma português, lançado originalmente no Brasil em fins de 1975
Dicionário da Língua portuguesa contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa. (2001). Lisboa: Ed. Verbo)
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