1- Semelhanças e diferenças entre a Páscoa Hebraica e Páscoa Cristã
2- O Ovo como símbolo da Fertilidade e da Renovação
3- O Coelho como símbolo da Páscoa
4- Como se propagaram ambos os símbolos no mundo cristão
4.1- Os ovos pintados
4.2- Dos ovos de galinha pintados aos ovos de Fabergé
4.3- Tradição do Coelho com os seus ovos de Páscoa
Bibliografia
1- Semelhanças e diferenças entre a Páscoa Hebraica e Páscoa Cristã
Embora se diga que a Páscoa Cristã revitaliza a Páscoa Hebraica, será bom esclarecer que nem tudo na segunda corresponde exactamente aos usos e costumes da primeira. Existem, sim, semelhanças, mas essas são ultrapassadas, de longe, pelas diferenças.
Se, por um lado, a Páscoa Cristã se apresenta como a celebração da passagem da escravidão para o estado da libertação, à semelhança da Páscoa Hebraica, o cordeiro imolado desta última foi substituído, por uma única vez, pela sacrifício de Jesus Cristo, constituindo este facto a maior diferença entre ambas essa Páscoas.
Outras semelhanças existem no que respeita à Refeição comemorativa dessa “Passagem”. Enquanto na Páscoa Hebraica a Refeição comemorava a saída, à pressa, do Egipto, a Refeição da Páscoa Cristã chamou-se a Última Ceia por comemorar a última refeição que Jesus tomou com os seus discípulos e que, por sinal, teve lugar no período da comemoração da Páscoa Hebraica. Também aqui existem semelhanças, na fracção do pão e na participação do mesmo cálice de vinho, que foram ultrapassadas pelas diferenças porquanto a Última Ceia foi consagrada onde o pão e o vinho passaram a significar o corpo e o sangue de Cristo na Eucaristia.
Outras semelhanças e diferenças podem encontrar-se entre ambas as Páscoas no que diz respeito à verdade da Renovação da Natureza. Se a Páscoa Hebraica era celebrada por volta do Equinócio da Primavera em comemoração do início da nova Estação –, renascendo com ela a Natureza –, a Páscoa Cristã é igualmente celebrada nessa mesma altura e dá-se-lhe a significação de uma nova vida – a Ressurreição de Cristo.
Perante estas semelhanças e diferenças não é de admirar que também fossem adoptados no Cristianismo, os usos e os símbolos que eram mais comuns na Páscoa Hebraica, como o uso dos Ovo e do coelho, realidades aliás utilizados igualmente noutras civilizações antigas como símbolos da fertilidade e da renovação.
2- O Ovo como símbolo da Fertilidade e da Renovação
Percorrendo a literatura dos povos antigos vamos encontrar o uso do Ovo como símbolo do Renascimento da vida. Vejamos o seu uso nalguns povos anteriores ao Cristianismo.
Começando pela tradição hebraica, podemos dizer que, uma vez que o ovo não perde a sua forma, mesmo depois de cozido, como acontece com os outros alimentos, ele foi escolhido como símbolo do Povo de Israel, sendo por isso, que na Ceia Pascal o chefe da família se levanta em determinado momento e diz esta frase: “"O povo de Israel é como esse ovo, que, quanto mais cozido na dor e no sofrimento, mais preserva sua unidade e a sua identidade"[1].
Segundo Juan-Eduardo Cirlot[2], o ovo é o símbolo da imortalidade, sendo usado “na escrita hieroglíficas dos egípcios, por ser considerado como contendo em si o que é potencial, o princípio da geração, o mistério da vida. Por esta mesma razão tem sido utilizado pelos alquimistas. Enfim, o ovo é o símbolo cósmico na maioria das tradições, desde a Índia até aos druidas celtas.
Assim, para os Egípcios, o deus Re, nasceu de um ovo, enquanto para os Indus, Brahma surgiu de um ovo de ouro – Hiranyagarbha, fazendo da casca o Universo. Na Índia considera-se ainda que o ovo cósmico, nascido das águas primordiais, foi chocado pela gansa chamada Hamsa e que o que nasceu desse ovo é o Espírito, ou Sopro divino que se separou em duas metades para formarem o Céu e a Terra, sendo este facto a polarização do Andrógino[3] ou do Hermafrodita. Por isso, “na tradição tântrica e hindu, Shiva, um ser andrógino, é frequentemente representado abraçado a Shakti, a sua própria potência e essência feminina eleita a divindade” (…), passando o andrógino a ser “sinónimo de totalidade, tanto no princípio como no fim dos tempos, reunindo em si a plenitude, roubada pela divisão dos sexos que a união do casamento volta a reunir”. Exemplo da androginia encontra-se nas antigas mitologias de “Adónis, Castor e Pólux”, assim como de “outras divindades que em geral têm uma natureza bissexual, reproduzindo-se a partir de si mesmas, dado que encerram em si as naturezas feminina e masculina”[4].
O mito grego de Castor e Pólux narra o nascimento estes dois personagens como fruto de ovos "postos" por Leda, rainha de Esparta[5], ao ser seduzida por Zeus, que lhe apareceu sob a forma de um cisne[6]. Além do nascimento destes dois personagens, outros ovos da mesma Leda “deram origem aos deuses Dióscoros, usando cada um deles um toucado semi-esférico”[7] . O ovo era, na verdade, considerado por diversos povos antigos, como a origem dos humanos[8].
Segundo a mesma fonte[9], “o Yin-yang chinês, polarização da Unidade primeira, apresenta um símbolo idêntico nas suas duas metades, negra e branca”[10]. Seguindo esta mentalidade muitos heróis chineses foram considerados como gerados a partir de ovos fecundados pelo Sol, ou a partir da ingestão pelas suas mães de ovos de aves[11] e P’an Ku, nasceu de um ovo cósmico[12].
Na antiguidade os ovos, símbolos da renovação da natureza eram enterrados nas terras de cultivo pelos agricultores na esperança de obterem uma boa colheita e existiu igualmente o costume de alguns serem pintados para serem oferecidos entre amigos e familiares[13].
3- O Coelho como símbolo da Páscoa
Já no antigo Egipto, o coelho (ou a lebre) era símbol da fertilidade devido à sua incrível capacidade de procriação.
Quanto ao coelho da Páscoa, parece ter a sua origem na lebre sagrada da deusa Eastra (Harek), uma deusa germânica da Primavera[14].
Era ela, a lebre ou coelho, que trazia os ovos. Noutras regiões, como na Westphalia (Alemanha), tal papel era exercido pela "raposa da Páscoa". Na Macedónia (Grécia) essa função cabia à "Paschalia" que significava o "Espírito do dia"[15].
Efectivamente, em várias regiões, a lebre é considerada uma divindade. Ela está relacionada com a deusa lunar Hécate na Grécia; e, além da deusa Eastra, tem-se o seu equivalente que é a deusa Harek[16] dos germanos, que era acompanhada por lebres[17], consideradas como símbolos da fertilidade, devido à grande capacidade de se reproduzir. Segundo os anglo-saxões e também os chineses, o coelho ou a lebre encontra-se associada à Primavera, embora segundo a tradição bíblica (Deuteronómio, 14:7), este animal seja considerado um animal imundo[18].
Por essa razão a mitologia egípcia dá “o aspecto de lebre ou coelho ao grande iniciado Osíris que é despedaçado e deitado nas águas do Nilo como garantia da regeneração periódica”. É curioso notar que ainda nos nossos dias os camponeses Xiitas da Anatólia explicam a proibição alimentar em relação à lebre dizendo que este animal é a reencarnação de Ali (o verdadeiro intercessor entre Alá e os Crentes)[19].
Na Índia “pode citar-se a Sheshajataka onde o Bodhissattva aparece sob a forma duma lebre para se lançar em sacrifício no fogo”[20].
No Taoismo, a Lua e a lebre morrem para renascerem, tornando-se esta imagem na teologia taoista, a preparadora do o elixir da imortalidade, sendo a “lebre representada a trabalhar à sombra duma figueira, a moer ervas num almofariz”[21].
4- Como se propagaram ambos os símbolos no mundo cristão
4.1- Os ovos pintados
Como a Páscoa Cristã comemorava a morte e a ressurreição de Cristo, isto é a passagem da morte à vida e calhava mais ou menos no fim do Inverno e princípios da Primavera, tomou-se tanto esse rito, como a festa pagã correspondente e cristianizaram-se, uma vez que o ovo poderia muito bem simbolizar a morte e a ressurreição (vida nova) de Cristo.
O costume de pintar os ovos no cristianismo, à imitação dos Egípcios, começou no Oriente, sendo os Ortodoxos os grandes especialistas dessa arte. Parece ter-se propagado, primeiro na Rússia, passando deste país, depois, para a Grécia, vindo a predominar as cores vermelhas.
4.2- Dos ovos de galinha pintados aos ovos de Fabergé
Na Bulgária existe a luta do ovo. Cada jogador toma ovos nas mãos e luta, tentando chegar ao fim da luta com eles intactos. Quem ganhar será o mais feliz durante o ano que aí começa e finda na Páscoa seguinte.
A tradição da oferta de ovos passou à Inglaterra, onde Eduardo I oferecia aos seus protegidos ovos banhados a ouro
Em França Luís XIV introduziu o costume de oferecer ovos de madeira, porcelana, metal nos quais introduzia surpresas. Por exemplo, Luís XV presenteou a sua amante Madame du Barry com um ovo onde estava pintado a estátua de Cupido.
Estas tradições inspiraram Peter Carl Fabergé a criar os famosos “Ovos Fabergé” que são decorados com desenhos cheio de detalhes e crivados de pedras preciosas, sendo todos eles criados para a família imperial russa, medindo cada um cerca de 13 centímetros.
Os ovos podiam ser feitos de prata, ouro e cobre ou de pedras semi-preciosas encontradas na região, como o quartzo,o jade e a lápis-lázuli. No século XIX, poucas cores eram utilizadas e a esmaltação translúcida era uma técnica muito apreciada.
Fabergé criou mais de 140 tonalidades. Sobre a base do ovo era feito um desenho, que era coberto de muitas pedras preciosas, principalmente diamantes. Eram jóias muito sofisticadas e de enorme valor, feitas em ouro, diamantes e pedras preciosas, aludindo aos tradicionais ovos de Páscoa.
A tradição dos ovos de Fabergé começou em 1885, quando Alexandre III, czar da Rússia, procurou o mais famoso joalheiro da corte, Peter Carl Fabergé[22] e encomendou um ovo de Páscoa para dar de presente a imperatriz Marie Feodorovna.
No ano seguinte fez a mesma coisa e assim continuou fazendo até sua morte. Fabergé era a mais importante joalheira existente na Rússia ao final do século XIX e início do século XX.
A essa joalheira, os czares russos encomendavam a confecção de ovos de Páscoa para serem oferecidos por ocasião da festa.
Os ovos Fabergé foram todos criados para os czares Alexandre III e seu filho, Nicolau II, no período de 1885 a 1917, sendo oferecidos durante a Páscoa entre os membros da família real. O último dos ovos foi feito em 1917, visto que o imperialismo russo estava a atingir o seu termo. Uma vez que as greves e revoltas populares anunciavam a queda do czar Nicolau II, Fabergé decidiu encerrar a sua joalharia, em 1916, poi que ela era considerada pelos revolucionários como um símbolo da riqueza pervertida do imperialismo czarista. Efectivamente, a 15 de Março de 1917 o Czar Nicolau II abdicou, sendo preso e levado com a família para a Sibéria, deixando encomendados ainda dois ovos cujas temáticas ficaram conhecidas por “Madeira de Karelia” e “Constelação”, mas que nunca vieram a ser terminados[23].
Actualmente são jóias raríssimas, e quando alguma peça destas aparece num leilão de arte chegaa atingir o belo montante de cinco milhões de dólares americanos, ou seja, cerca de 3.759.398 €[24]
Actualmente, a Casa Fabergé está representada na França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e Brasil. Mas os artistas de agora reproduzem os desenhos dos originais do século XIX e inícios do século XX, mas em séries limitadas[25].
4.3- Tradição do Coelho com os seus ovos de Páscoa
Como no antigo Egipto o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida e nalguns povos da antiguidade era símbolo da Lua, do amor e da fertilidade[26] é possível que este animal se tenha tornado símbolo pascal devido ao facto de a Lua determinar a data da Páscoa.
Este animal tornou-se popular na Alemanha, como símbolo da Páscoa. As crianças esperavam que os coelhos lhes trouxessem os ovos da Páscoa e esta convicção propagou-se na América do Norte e no Brasil, através dos alemães que para ali emigraram, entre os finais do século XVII e inícios do século seguinte[27].
Ao contrário das crianças alemãs, as crianças checas esperam que os presentes pascais lhes sejam trazidos pelas cotovias[28] (aves muito comum também em Portugal) e as crianças Suíças esperam que os ditos presentes lhes sejam ofertados pelos cucos, não fossem estas aves utilizadas para anunciarem as horas do dia por meio dos célebres “relógios cuco”!
NotasEmbora se diga que a Páscoa Cristã revitaliza a Páscoa Hebraica, será bom esclarecer que nem tudo na segunda corresponde exactamente aos usos e costumes da primeira. Existem, sim, semelhanças, mas essas são ultrapassadas, de longe, pelas diferenças.
Se, por um lado, a Páscoa Cristã se apresenta como a celebração da passagem da escravidão para o estado da libertação, à semelhança da Páscoa Hebraica, o cordeiro imolado desta última foi substituído, por uma única vez, pela sacrifício de Jesus Cristo, constituindo este facto a maior diferença entre ambas essa Páscoas.
Outras semelhanças existem no que respeita à Refeição comemorativa dessa “Passagem”. Enquanto na Páscoa Hebraica a Refeição comemorava a saída, à pressa, do Egipto, a Refeição da Páscoa Cristã chamou-se a Última Ceia por comemorar a última refeição que Jesus tomou com os seus discípulos e que, por sinal, teve lugar no período da comemoração da Páscoa Hebraica. Também aqui existem semelhanças, na fracção do pão e na participação do mesmo cálice de vinho, que foram ultrapassadas pelas diferenças porquanto a Última Ceia foi consagrada onde o pão e o vinho passaram a significar o corpo e o sangue de Cristo na Eucaristia.
Outras semelhanças e diferenças podem encontrar-se entre ambas as Páscoas no que diz respeito à verdade da Renovação da Natureza. Se a Páscoa Hebraica era celebrada por volta do Equinócio da Primavera em comemoração do início da nova Estação –, renascendo com ela a Natureza –, a Páscoa Cristã é igualmente celebrada nessa mesma altura e dá-se-lhe a significação de uma nova vida – a Ressurreição de Cristo.
Perante estas semelhanças e diferenças não é de admirar que também fossem adoptados no Cristianismo, os usos e os símbolos que eram mais comuns na Páscoa Hebraica, como o uso dos Ovo e do coelho, realidades aliás utilizados igualmente noutras civilizações antigas como símbolos da fertilidade e da renovação.
2- O Ovo como símbolo da Fertilidade e da Renovação
Percorrendo a literatura dos povos antigos vamos encontrar o uso do Ovo como símbolo do Renascimento da vida. Vejamos o seu uso nalguns povos anteriores ao Cristianismo.
Começando pela tradição hebraica, podemos dizer que, uma vez que o ovo não perde a sua forma, mesmo depois de cozido, como acontece com os outros alimentos, ele foi escolhido como símbolo do Povo de Israel, sendo por isso, que na Ceia Pascal o chefe da família se levanta em determinado momento e diz esta frase: “"O povo de Israel é como esse ovo, que, quanto mais cozido na dor e no sofrimento, mais preserva sua unidade e a sua identidade"[1].
Segundo Juan-Eduardo Cirlot[2], o ovo é o símbolo da imortalidade, sendo usado “na escrita hieroglíficas dos egípcios, por ser considerado como contendo em si o que é potencial, o princípio da geração, o mistério da vida. Por esta mesma razão tem sido utilizado pelos alquimistas. Enfim, o ovo é o símbolo cósmico na maioria das tradições, desde a Índia até aos druidas celtas.
Assim, para os Egípcios, o deus Re, nasceu de um ovo, enquanto para os Indus, Brahma surgiu de um ovo de ouro – Hiranyagarbha, fazendo da casca o Universo. Na Índia considera-se ainda que o ovo cósmico, nascido das águas primordiais, foi chocado pela gansa chamada Hamsa e que o que nasceu desse ovo é o Espírito, ou Sopro divino que se separou em duas metades para formarem o Céu e a Terra, sendo este facto a polarização do Andrógino[3] ou do Hermafrodita. Por isso, “na tradição tântrica e hindu, Shiva, um ser andrógino, é frequentemente representado abraçado a Shakti, a sua própria potência e essência feminina eleita a divindade” (…), passando o andrógino a ser “sinónimo de totalidade, tanto no princípio como no fim dos tempos, reunindo em si a plenitude, roubada pela divisão dos sexos que a união do casamento volta a reunir”. Exemplo da androginia encontra-se nas antigas mitologias de “Adónis, Castor e Pólux”, assim como de “outras divindades que em geral têm uma natureza bissexual, reproduzindo-se a partir de si mesmas, dado que encerram em si as naturezas feminina e masculina”[4].
O mito grego de Castor e Pólux narra o nascimento estes dois personagens como fruto de ovos "postos" por Leda, rainha de Esparta[5], ao ser seduzida por Zeus, que lhe apareceu sob a forma de um cisne[6]. Além do nascimento destes dois personagens, outros ovos da mesma Leda “deram origem aos deuses Dióscoros, usando cada um deles um toucado semi-esférico”[7] . O ovo era, na verdade, considerado por diversos povos antigos, como a origem dos humanos[8].
Segundo a mesma fonte[9], “o Yin-yang chinês, polarização da Unidade primeira, apresenta um símbolo idêntico nas suas duas metades, negra e branca”[10]. Seguindo esta mentalidade muitos heróis chineses foram considerados como gerados a partir de ovos fecundados pelo Sol, ou a partir da ingestão pelas suas mães de ovos de aves[11] e P’an Ku, nasceu de um ovo cósmico[12].
Na antiguidade os ovos, símbolos da renovação da natureza eram enterrados nas terras de cultivo pelos agricultores na esperança de obterem uma boa colheita e existiu igualmente o costume de alguns serem pintados para serem oferecidos entre amigos e familiares[13].
3- O Coelho como símbolo da Páscoa
Já no antigo Egipto, o coelho (ou a lebre) era símbol da fertilidade devido à sua incrível capacidade de procriação.
Quanto ao coelho da Páscoa, parece ter a sua origem na lebre sagrada da deusa Eastra (Harek), uma deusa germânica da Primavera[14].
Era ela, a lebre ou coelho, que trazia os ovos. Noutras regiões, como na Westphalia (Alemanha), tal papel era exercido pela "raposa da Páscoa". Na Macedónia (Grécia) essa função cabia à "Paschalia" que significava o "Espírito do dia"[15].
Efectivamente, em várias regiões, a lebre é considerada uma divindade. Ela está relacionada com a deusa lunar Hécate na Grécia; e, além da deusa Eastra, tem-se o seu equivalente que é a deusa Harek[16] dos germanos, que era acompanhada por lebres[17], consideradas como símbolos da fertilidade, devido à grande capacidade de se reproduzir. Segundo os anglo-saxões e também os chineses, o coelho ou a lebre encontra-se associada à Primavera, embora segundo a tradição bíblica (Deuteronómio, 14:7), este animal seja considerado um animal imundo[18].
Por essa razão a mitologia egípcia dá “o aspecto de lebre ou coelho ao grande iniciado Osíris que é despedaçado e deitado nas águas do Nilo como garantia da regeneração periódica”. É curioso notar que ainda nos nossos dias os camponeses Xiitas da Anatólia explicam a proibição alimentar em relação à lebre dizendo que este animal é a reencarnação de Ali (o verdadeiro intercessor entre Alá e os Crentes)[19].
Na Índia “pode citar-se a Sheshajataka onde o Bodhissattva aparece sob a forma duma lebre para se lançar em sacrifício no fogo”[20].
No Taoismo, a Lua e a lebre morrem para renascerem, tornando-se esta imagem na teologia taoista, a preparadora do o elixir da imortalidade, sendo a “lebre representada a trabalhar à sombra duma figueira, a moer ervas num almofariz”[21].
4- Como se propagaram ambos os símbolos no mundo cristão
4.1- Os ovos pintados
Como a Páscoa Cristã comemorava a morte e a ressurreição de Cristo, isto é a passagem da morte à vida e calhava mais ou menos no fim do Inverno e princípios da Primavera, tomou-se tanto esse rito, como a festa pagã correspondente e cristianizaram-se, uma vez que o ovo poderia muito bem simbolizar a morte e a ressurreição (vida nova) de Cristo.
O costume de pintar os ovos no cristianismo, à imitação dos Egípcios, começou no Oriente, sendo os Ortodoxos os grandes especialistas dessa arte. Parece ter-se propagado, primeiro na Rússia, passando deste país, depois, para a Grécia, vindo a predominar as cores vermelhas.
4.2- Dos ovos de galinha pintados aos ovos de Fabergé
Na Bulgária existe a luta do ovo. Cada jogador toma ovos nas mãos e luta, tentando chegar ao fim da luta com eles intactos. Quem ganhar será o mais feliz durante o ano que aí começa e finda na Páscoa seguinte.
A tradição da oferta de ovos passou à Inglaterra, onde Eduardo I oferecia aos seus protegidos ovos banhados a ouro
Em França Luís XIV introduziu o costume de oferecer ovos de madeira, porcelana, metal nos quais introduzia surpresas. Por exemplo, Luís XV presenteou a sua amante Madame du Barry com um ovo onde estava pintado a estátua de Cupido.
Estas tradições inspiraram Peter Carl Fabergé a criar os famosos “Ovos Fabergé” que são decorados com desenhos cheio de detalhes e crivados de pedras preciosas, sendo todos eles criados para a família imperial russa, medindo cada um cerca de 13 centímetros.
Os ovos podiam ser feitos de prata, ouro e cobre ou de pedras semi-preciosas encontradas na região, como o quartzo,o jade e a lápis-lázuli. No século XIX, poucas cores eram utilizadas e a esmaltação translúcida era uma técnica muito apreciada.
Fabergé criou mais de 140 tonalidades. Sobre a base do ovo era feito um desenho, que era coberto de muitas pedras preciosas, principalmente diamantes. Eram jóias muito sofisticadas e de enorme valor, feitas em ouro, diamantes e pedras preciosas, aludindo aos tradicionais ovos de Páscoa.
A tradição dos ovos de Fabergé começou em 1885, quando Alexandre III, czar da Rússia, procurou o mais famoso joalheiro da corte, Peter Carl Fabergé[22] e encomendou um ovo de Páscoa para dar de presente a imperatriz Marie Feodorovna.
No ano seguinte fez a mesma coisa e assim continuou fazendo até sua morte. Fabergé era a mais importante joalheira existente na Rússia ao final do século XIX e início do século XX.
A essa joalheira, os czares russos encomendavam a confecção de ovos de Páscoa para serem oferecidos por ocasião da festa.
Os ovos Fabergé foram todos criados para os czares Alexandre III e seu filho, Nicolau II, no período de 1885 a 1917, sendo oferecidos durante a Páscoa entre os membros da família real. O último dos ovos foi feito em 1917, visto que o imperialismo russo estava a atingir o seu termo. Uma vez que as greves e revoltas populares anunciavam a queda do czar Nicolau II, Fabergé decidiu encerrar a sua joalharia, em 1916, poi que ela era considerada pelos revolucionários como um símbolo da riqueza pervertida do imperialismo czarista. Efectivamente, a 15 de Março de 1917 o Czar Nicolau II abdicou, sendo preso e levado com a família para a Sibéria, deixando encomendados ainda dois ovos cujas temáticas ficaram conhecidas por “Madeira de Karelia” e “Constelação”, mas que nunca vieram a ser terminados[23].
Actualmente são jóias raríssimas, e quando alguma peça destas aparece num leilão de arte chegaa atingir o belo montante de cinco milhões de dólares americanos, ou seja, cerca de 3.759.398 €[24]
Actualmente, a Casa Fabergé está representada na França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e Brasil. Mas os artistas de agora reproduzem os desenhos dos originais do século XIX e inícios do século XX, mas em séries limitadas[25].
4.3- Tradição do Coelho com os seus ovos de Páscoa
Como no antigo Egipto o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida e nalguns povos da antiguidade era símbolo da Lua, do amor e da fertilidade[26] é possível que este animal se tenha tornado símbolo pascal devido ao facto de a Lua determinar a data da Páscoa.
Este animal tornou-se popular na Alemanha, como símbolo da Páscoa. As crianças esperavam que os coelhos lhes trouxessem os ovos da Páscoa e esta convicção propagou-se na América do Norte e no Brasil, através dos alemães que para ali emigraram, entre os finais do século XVII e inícios do século seguinte[27].
Ao contrário das crianças alemãs, as crianças checas esperam que os presentes pascais lhes sejam trazidos pelas cotovias[28] (aves muito comum também em Portugal) e as crianças Suíças esperam que os ditos presentes lhes sejam ofertados pelos cucos, não fossem estas aves utilizadas para anunciarem as horas do dia por meio dos célebres “relógios cuco”!
[1][On-line] [ Consult 26-03-2012] Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/por-que-o-ovo-e-o-coelho-sao-simbolos-da-pascoa.
[2] Dicionário de Símbolos, p. 435
[3] Chevalier et Gheerbrant, 1994, p. 497
[4] [On-line] [ Consult 27-03-2012] Disponível em: http://www.infopedia.pt/$androgino
[5] Fontana, 2004, p. 145
[6] Dicionário de Símbolos, p. 435.
[7] Chevalier et Gheerbrant, 1994, p. 497
[8] "Páscoa: que significa realmente?" in Jornal da Tarde, 7 de Abril de 1982.
[9] Ibidem
[10] Chevalier et Gheerbrant, 1994, p. 497
[11] Ibidem.
[12] "Os ovos" in "Homem Mito e Magia" da Ed. Três, v. III, pag.718.
[13] "PÁSCOA" in Enciclopédia Delta Universal, v.11, pag. 6125 (ed.80).
[14] "Os ovos" in "Homem Mito e Magia"...
[15] Ibidem
[16] “Na mitologia, Hécate era filha dos titãs Perseu (masc.) e Asteria - (fem. Gr.: Ἀστερία, "das estrelas, a estrelada”) (…) Como Diana, a caçadora, Hécate pertence à classe das deidades portadoras de archote (…) Embora os cães fossem os animais mais sagrados para ela, Hécate estava associada às lebres na antiga Grécia, como a sua equivalente germânica, a deusa lunar Harek. Na arte, Hécate é muitas vezes representada como uma mulher com três cabeças, com serpentes sibilantes entrelaçadas em seu pescoço. Por essa razão, ela é chamada de Triforme — símbolo que pode estar ligado aos três níveis. Nascimento, Vida e Morte (representando o Passado, o Presente e o Futuro) e à trindade da Deusa Tripla: Virgem, Mãe e Anciã [http://www.astrologosastrologia.com.pt/hecate_RitualInvocacaoHecate.htm].
[17] "Lebre" in "Dicionário de Símbolos" de Cirlot, pag. 337.
[18] "Páscoa, comemoração universal" in Shopping News-City News-Jornal da Semana, 26 de Março de 1989, pag.43. Cf. [On-line] [ Consult 26-03-2012] Disponível em http://www.angelfire.com/in/zadoque/peschah.html.
[19] Chevalier et Gheerbrant, 1994, p. 403.
[20] Ibidem.
[21] Ibidem.
[22] Peter Karl Fabergé, nasceu em 18/05/1846 em São Petersburgo, Rússia e teria como nome de baptismo Karl Gustavoich Fabergé.
[23] [On-line] [ Consult 26-03-2012] Disponível em: http://virtualia.blogs.sapo.pt/43173.html.
[24] (1€=1.33UsaD cotação de 27 de Março de 2012).
[25] [On-line] [Consult 26-03-2012] Disponível em: http://www.girafamania.com.br/europeu/materia_russia-faberge.html
[26] Fontana, 2004, p. 158.
[27] [On-line] [ Consult 26-03-2012 ] Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Coelhinho_da_P%C3%A1scoa.
[28] “A cotovia-de-poupa é uma espécie que se encontra bem distribuída por toda a Europa. Tem um bico castanho claro, comprido e encurvado e uma cauda curta arruivada na parte exterior. A parte superior do corpo é malhada de castanho e castanho amarelado, sendo o peito e o abdómen mais claros. Chega a medir 17 cm de comprimento, e voa sozinha ou em grupos que não ultrapassam os 10 indivíduos. Alimenta-se de sementes e insectos e nidifica entre Abril e Junho numa cova no chão. Põe entre 3 a 5 ovos de cor branco sujo com manchas castanho avermelhadas, que são incubados pela fêmea durante 12/13 dias” [http://www.bragancanet.pt/patrimonio/faunacotovia.htm].
Bibliografia
Chevalier, Jean et Cheebrant, Alain (1994). Dicionário dos Símbolos. Mitos, Sonhos, Costumes, Gestos, Formas, Figuras, Core, Números. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. Lisboa: Editorial Teorema.
Cirlot, Juan Eduardo (1997). Diccionario de Simbolos. Edição/reimpressão: 1997. Páginas: 480. Editor: SIRUELA. Idioma: Espanhol.
Enciclopédia Delta Universal, 15 volumes, Rio de Janeiro, Editora Delta. SA., 1932.
Fontana, David (2004). A Linguagem dos Símbolos – Uma chave ilustrada para os Símbolos e seus Significados. Lisboa: Editorial Estampa.
Shopping News-City News-Jornal da Semana, 26 de Março de 1989, pag.43.
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