6- Bibliografia
Preâmbulo
A criação pode ser concebida e
tratada em duas secções distintas, pois nela se considera; 1. a criação do
universo, que chamaremos cosmogonia; 2. a criação da humanidade que
será chamada antropogonia.Tanto uma como outra apresentam
algumas particularidades diferentes, consoante procedem do Sul ou do Norte dessa
mesma região entre rios.
Diagrama: Cosmogonia vs Antropogonia
1- Cosmogonia Suméria
Devido a estas particularidades,
os historiadores das religiões entendem que se deve falar dessas diferenças,
utilizando a nomenclatura de Modelos,
ou seja, o:
- Modelo do Norte;
- Modelo do Sul, conhecido, também, sob o nome de Modelo de Eridu (idade célebre pelo seu Templo dedicado ao deus EN KI);
- Modelo de Gilgamesh, que foi aquele que, talvez, se propagou melhor em todas as cidades da Mesopotâmia e do exterior;
- Modelos diversos, inerentes a outras cidades ou regiões.
1.1- Modelo do Norte
Segundo este modelo, a matéria-prima da qual procederam todas as
criaturas do Cosmo foi a dupla CÉU – TERRA,
que foi simbolizada pela mesma figura que no Sul davam a ENGUR (ou ABSU – ÁGUAS
DOCES das profundezas da terra – em oposição às águas celestes e às águas
salgadas do Golfo Pérsico). O seu símbolo incluía um peixe e uma cabra que
vieram a ser fundidas no Capricórnio do círculo Zodíaco. Deu-se, aqui, uma
apropriação do símbolo de Engur, princípio criador da cosmogonia do Sul.
Ora, na cosmogonia do Norte, a
dupla CÉU-TERRA não ocupa o primeiro lugar na ordem da criação, pois umas vezes
é a Terra que está no início das gerações, outras vezes é o Céu. Por exemplo,
na Lista dos deuses é a Terra que, possuindo os dois elementos gerativos
masculino (Nuras) e feminino (Ninhuras) gera ANU, o mesmo acontecendo na
Genealogia de Enlil, embora, neste caso, se fale do aparecimento da agricultura
ese enfatize o elemento feminino da Terra. Mas quando se fala do
aparecimento da cárie dos dentes, supõe-se que esta tenha sido originada pelo Céu,
sendo este, portanto, considerado o primeiro ser da criação: "Depois de Anu ter criado os céus, o céu criado a terra, a terra criado os rios, os rios
criado os canais, os canais, criado os pântanos, os pântanos criado as minhocas..."[1].
1.2- Modelo do Sul ou de Eridu
Este modelo tem como primeiro
princípio criador o ABSU/APSU, nome dado às Águas Doces subterrâneas, em oposição às Águas Celestes doces do firmamento e as Águas salgadas do
Golfo Pérsico.
Na verdade, para os habitantes do
Sul, habituados a que a fertilidade dos campos se devia à água doce dos rios
Tigris e Eufrates e, ainda, à água doce das fontes que jorravam das profundezas
da terra, não podiam atribuir essa fertilidade senão a uma força divina
existente nessas mesmas águas. Daí considerarem essas águas uma divindade que,
mais tarde, denominariam ENGUR, passando a simbolizá-la por
meio de uma cabra, representante
da terra e de um peixe,
representante da água.
Ao nome, ENGUR, seria, depois,
adicionado o nome de NAMU sendo-lhe atribuída a função de primeira
mãe de todo o universo, devido ao facto de considerarem que ela
possuía os dois elementos geradores, que nós chamamos masculino (NURAS) e
feminino (NINURAS), como já foi referido.
Diagrama da Terra fecunda
Concluindo, podemos dizer que,
segundo este modelo, o ABSU revolveu-se em si próprio, dele surgindo o primeiro
ser criador que foi ENGUR, sendo esta que gerou a TERRA dotada dos dois
princípios geradores (masculino e feminino) dos quais nasceu o primeiro ser,
ANU.
Passou-se
do UNO ao TRINO,
uma vez que foi da unicidade do ABSU que surgiu a TERRA
e esta gerou o CÉU, o que poderemos representar, por meio do
triângulo isósceles, ou pirâmide:
Passagem do Uno ao Trino
Este mesmo diagrama poderá ser
representado por um outro o qual melhor representará as faculdades
reprodutoras de que estava dotada a Mãe-Terra, pois que ela se encontrava
dotada dos dois elementos reprodutores:
2º Diagrama:
1.3- Modelo de Gilgamesh (ou de Babilónia)
No poema de Gilgamesh supõe-se
que o Cosmo foi produzido de uma massa primordial que era constituída pelo CÉU
e pela TERRA, cuja criação era atribuída a ENGUR/NAMU. Neste modelo, porém,
nada se diz como apareceu ENGUR/NAMU. Era, pura e simplesmente, suposta a sua
força geradora pré-existente.
Eis o texto cosmogónico do poema Gilgamesh:
Nos primeiros
dias, nos distantes primeiros dias, nas primeiras noites, nas distantes
primeiras noites, nos primeiros anos, nos distantes primeiros anos. Nos dias de
outrora, quando tudo o que era vital foi trazido à existência, nos dias de
outrora, quando tudo o que tinha vida era bem criado. Quando o pão era degustado
nos templos desta terra, Quando o pão era cozido nos fogões desta terra, Quando
o Céu se havia separado da Terra,
Quando o nome do homem [e da mulher] foi fixado, Quando Anu carregou consigo
os céus, e Enlil carregou consigo a Terra[2].
Portanto, o Céu e a Terra são considerados como uma Massa única e não como duas entidades separadas. Na verdade, para os Mesopotâmicos, essas duas entidades não constituíam domínios separados, mas eram duas partes de UM MESMO TODO. Ambos eram apresentados como complementares, dependendo um do outro, sendo ambos igualmente importantes.
Na tradição Semita sobre o mito da criação tem muito de semelhante, uma vez que para estes últimos, foram as Águas primordiais pré-existentes que deram origem a MUMU (Namu), como se pode deduzir de uma lista dos deuses sumérios na qual se atribui a NAMU a maternidade do CEU, denominado (ANU) e da TERRA, denominada (Ki) de cuja união foram gerados os GRANDES DEUSES, os ANUNAKI (deuses menores, para auxiliarem os primeiros) cujo primogénito, ENLIL (o deus do Ar), ordenou, não só o céu e a terra, separando um do outro, mas também todas as forças do cosmo que deram vida a tudo o que existe e tornou-se o Senhor da Mãe-Terra[3].
1.4- Criação da Vida Vegetal
As energias atómicas dessa
primeira criação (do CÉU, da TERRA e do primeiro Deus, ANU) transformaram-se em
energias sexuais, de modo a que se produzissem o ornamento da Terra, como a
vegetação, constituída por inumerável variedade de espécies e cores, como o descreve
poeticamente J. Van Dijk
"A Grande Terra fez-se
gloriosa, seu corpo floresceu com pastagens verdes. A Terra Ampla adornou-se
com ornamentos de prata e lápis-lazúli, diorite, calcedónia, cornalina e
diamantes. O Céu cobriu as pastagens com irresistível atracção sexual, e
apresentou-se em toda majestade. A jovem terra, deusa e mulher mostrou-se para
o puro Céu, e o vasto Céu copulou com a Terra. As sementes dos heróis Madeira e
Junco o Céu derramou no útero da Terra. Que recebeu a semente do Firmamento
dentro de si (...)"[4].
Porém, esta cosmogonia não
ficaria completa se não se desse conta da existência de uma outra realidade
conhecida pela experiência humana: as ÁGUAS CELESTIAIS. Assim chegaram à
conclusão que existia um OCEANO CELESTIAL, como é descrito pelo
mesmo autor:
"Acima da cúpula dos
céus havia uma outra massa de águas, o oceano celestial, que suportava a
cúpula dos céus e a mantinha firme em seu lugar, para que não quebrasse e
caísse tal qual enchente sobre a Terra. Do lado de baixo da cúpula, as estrelas
tinham os seus cursos, e o deus da Lua seguia o seu caminho. Na cúpula, ainda,
havia dois portais, um ao Leste e o outro a Oeste, para uso do deus Sol"[5].
2- Criação da Humanidade (Antropogonia)
2.1- Criação da humanidade: Uma Necessidade para o bem da divindade
Ambas as
narrações existentes sobre este assunto afirmam que a criação dos homens e
mulheres ficou devida à necessidade que os deuses sentiram de encontrar alguém
que os substituísse nos seus trabalhos quotidianos:
"Quando os deuses agiam como homens, eles faziam todo o trabalho, e muito labutavam. O trabalho era enorme, grande o esforço, pois os deuses do céu, os Anunaki, faziam os Igigi, os deuses mais jovens da Terra, carregar uma carga sete vezes maior"[6].
2.2- Modo da Criação da humanidade
Existem, pelo menos duas narrações e dois modos da criação a
este respeito.
2.2.1-1ª Narração: Da argila molhada
Cansados de
tanto trabalho, e sendo os deuses menores os mais afectados, estes ameaçaram
revoltar-se e isso não aconteceu porque NAMU, a mãe de ENKI pediu ao filho para
que resolvesse criar um substituto para realizar os trabalhos dos deuses. Este
aceitou e, através da sua magia e de seus ajudantes, entre as quais estava
NINHURSAG predispôs-se a criar os seus substitutos.
Para isso,
chamou IMMA-EN e IMMA-SHAR e colocou-as à sua frente. De seguida, estendeu sobre
elas o seu braço. A partir desse gesto criador, gerou-se um feto no seio dessas
duas ajudantes e, pouco a pouco, esse feto foi crescendo de acordo com o que
ele tencionara.
Depois ENKI chamou por NAMU e
pediu-lhe para molhar a argila do APSU do qual tinham nascido todos os deuses.
ENKI
colocou nessa argila molhada, os fetos que se desenvolveram e saíram, a seu tempo, um homem e uma
mulher. Foi assim que a humanidade foi criada por NAMU[7].
2.2.2- 2ª Narração: Da argila amassado com o sangue de um deus
Ao ser chamado
para dar origem aos homens e mulheres, com a ajuda de NINTU (NINHURSAG), ENKI
responde:
No
primeiro, no sétimo e no décimo quinto dia do mês, devo fazer um ritual de
purificação por lavagem (18) Então, um deus deverá ser sacrificado. E os deuses
poderão ser purificados por imersão. NINTU deverá então misturar a argila com a
carne e sangue [deste deus]. Então, homem e deus irão existir juntos na argila.
Que o rufar dos tambores seja ouvido para sempre, que o espírito venha a
existir a partir da carne do Deus, que a deusa proclame então este ser
como um símbolo vivo dela mesma. Que a deusa ensine ao ser que viver desta
grande dádiva. E que para tal fato jamais seja esquecido, que o espírito
permaneça para sempre[8]”
Portanto, segundo esta passagem o homem e a mulher foram criados do
corpo sacrificado do deus e a alma, que existiria para sempre, deveria servir a
um propósito maior do que a um mero substituto dos deuses na função do
trabalho.
É de notar, também, a imortalidade da alma, pois se diz
que ela viverá para sempre. Com efeito, o vocábulo “Espírito”
pode corresponder a dois termos muito parecidos: etammu (fantasma) ou temmu (inteligência). Mas, tanto um termo, como o outro podem
muito bem ser utilizados para descreverem o espírito. O “fantasma” (etammu) é usado para descrever o ESPÍRITO sem corpo de homens e de mulheres que
sobrevive à morte, o que noutras civilizações e culturas vem a ser a ALMA.
Portanto o
homem e a mulher foram criados, física e espiritualmente, do sangue da
divindade e da argila fertilizada pelas águas doces das profundezas da terra.
São, pois constituídos por um corpo (perecível) e uma alma (imortal) para
servir os deuses e os seus irmãos[9].
3- Criação segundo o livro do Génesis (cp.1,1-31)
3.1- Génesis 1 em português e em hebraico
Texto Português[10] |
Texto Hebraico |
1. No
princípio, Deus criou os céus e a terra.
2. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. 3. Deus disse: "Faça-se a luz!" E a luz foi feita. 4. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. 5. Deus chamou à luz DIA, e às trevas NOITE. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o primeiro dia. 6. Deus disse: "Faça-se um firmamento entre as águas, e separe ele umas das outras". 7. Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam debaixo do firmamento daquelas que estavam por cima. 8. E assim se fez. Deus chamou ao firmamento CÉUS. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o segundo dia. 9. Deus disse: "Que as águas que estão debaixo dos céus se ajuntem num mesmo lugar, e apareça o elemento árido." E assim se fez.
10. Deus chamou ao elemento árido TERRA, e ao
ajuntamento das águas MAR. E Deus viu que isso era bom.
11. Deus disse: "Produza a terra plantas, ervas que contenham semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie e o fruto contenha a sua semente." E assim foi feito. 12. A terra produziu plantas, ervas que contêm semente segundo a sua espécie, e árvores que produzem fruto segundo a sua espécie, contendo o fruto a sua semente. E Deus viu que isso era bom.
13. Sobreveio a tarde e depois a
manhã: foi o terceiro dia.
14. Deus disse: "Façam-se
luzeiros no firmamento dos céus para separar o dia da noite; sirvam eles de
sinais e marquem o tempo, os dias e os anos,
15. e resplandeçam no firmamento
dos céus para iluminar a terra". E assim se fez.
16. Deus fez os dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; e fez também as estrelas. 17. Deus colocou-os no firmamento dos céus para que iluminassem a terra, 18. Presidissem ao dia e à noite, e separassem a luz das trevas. E Deus viu que isso era bom. 19. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o quarto dia. 20. Deus disse: "Pululem as águas de uma multidão de seres vivos, e voem aves sobre a terra, debaixo do firmamento dos céus."
21. Deus criou os monstros
marinhos e toda a multidão de seres vivos que enchem as águas, segundo a sua
espécie, e todas as aves segundo a sua espécie. E Deus viu que isso era bom.
22. E Deus os abençoou: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra." 23. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o quinto dia. 24. Deus disse: "Produza a terra seres vivos segundo a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo a sua espécie." E assim se fez.
25. Deus fez os animais
selvagens segundo a sua espécie, os animais domésticos igualmente, e da mesma
forma todos os animais, que se arrastam sobre a terra. E Deus viu que isso
era bom.
26. Então Deus disse:
"Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre
toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra."
27. Deus criou o homem à sua
imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher.
28. Deus os abençoou: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra." 29. Deus disse: "Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento. 30. E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus, a tudo o que se arrasta sobre a terra, e em que haja sopro de vida, eu dou toda erva verde por alimento." E assim se fez. 31. Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia. |
1 בְּרֵאשִׁ֖ית בָּרָ֣א אֱלֹהִ֑ים אֵ֥ת
הַשָּׁמַ֖יִם וְאֵ֥ת הָאָֽרֶץ׃
וְהָאָ֗רֶץ הָיְתָ֥ה תֹ֙הוּ֙
וָבֹ֔הוּ וְחֹ֖שֶׁךְ עַל־פְּנֵ֣י תְהֹ֑ום וְר֣וּחַ אֱלֹהִ֔ים מְרַחֶ֖פֶת
עַל־פְּנֵ֥י הַמָּֽיִם׃ 3 וַיֹּ֥אמֶר
אֱלֹהִ֖ים יְהִ֣י אֹ֑ור וַֽיְהִי־אֹֽור׃ 4 וַיַּ֧רְא
אֱלֹהִ֛ים אֶת־הָאֹ֖ור כִּי־טֹ֑וב וַיַּבְדֵּ֣ל אֱלֹהִ֔ים בֵּ֥ין הָאֹ֖ור
וּבֵ֥ין הַחֹֽשֶׁךְ׃ 5 וַיִּקְרָ֨א
אֱלֹהִ֤ים ׀ לָאֹור֙ יֹ֔ום וְלַחֹ֖שֶׁךְ קָ֣רָא לָ֑יְלָה וַֽיְהִי־עֶ֥רֶב
וַֽיְהִי־בֹ֖קֶר יֹ֥ום אֶחָֽד׃ פ
6 וַיֹּ֣אמֶר אֱלֹהִ֔ים יְהִ֥י רָקִ֖יעַ
בְּתֹ֣וךְ הַמָּ֑יִם וִיהִ֣י מַבְדִּ֔יל בֵּ֥ין מַ֖יִם לָמָֽיִם׃ 7 וַיַּ֣עַשׂ
אֱלֹהִים֮ אֶת־הָרָקִיעַ֒ וַיַּבְדֵּ֗ל בֵּ֤ין הַמַּ֙יִם֙ אֲשֶׁר֙ מִתַּ֣חַת
לָרָקִ֔יעַ וּבֵ֣ין הַמַּ֔יִם אֲשֶׁ֖ר מֵעַ֣ל לָרָקִ֑יעַ וַֽיְהִי־כֵֽן׃ 8 וַיִּקְרָ֧א
אֱלֹהִ֛ים לָֽרָקִ֖יעַ שָׁמָ֑יִם וַֽיְהִי־עֶ֥רֶב וַֽיְהִי־בֹ֖קֶר יֹ֥ום
שֵׁנִֽי׃ פ
9 וַיֹּ֣אמֶר אֱלֹהִ֗ים יִקָּו֨וּ
הַמַּ֜יִם מִתַּ֤חַת הַשָּׁמַ֙יִם֙ אֶל־מָקֹ֣ום אֶחָ֔ד וְתֵרָאֶ֖ה הַיַּבָּשָׁ֑ה
וַֽיְהִי־כֵֽן׃ 10 וַיִּקְרָ֨א
אֱלֹהִ֤ים ׀ לַיַּבָּשָׁה֙ אֶ֔רֶץ וּלְמִקְוֵ֥ה הַמַּ֖יִם קָרָ֣א יַמִּ֑ים
וַיַּ֥רְא אֱלֹהִ֖ים כִּי־טֹֽוב׃ 11 וַיֹּ֣אמֶר
אֱלֹהִ֗ים תַּֽדְשֵׁ֤א הָאָ֙רֶץ֙ דֶּ֔שֶׁא עֵ֚שֶׂב מַזְרִ֣יעַ זֶ֔רַע עֵ֣ץ
פְּרִ֞י עֹ֤שֶׂה פְּרִי֙ לְמִינֹ֔ו אֲשֶׁ֥ר זַרְעֹו־בֹ֖ו עַל־הָאָ֑רֶץ
וַֽיְהִי־כֵֽן׃ 12 וַתֹּוצֵ֨א
הָאָ֜רֶץ דֶּ֠שֶׁא עֵ֣שֶׂב מַזְרִ֤יעַ זֶ֙רַע֙ לְמִינֵ֔הוּ וְעֵ֧ץ
עֹֽשֶׂה־פְּרִ֛י אֲשֶׁ֥ר זַרְעֹו־בֹ֖ו לְמִינֵ֑הוּ וַיַּ֥רְא אֱלֹהִ֖ים
כִּי־טֹֽוב׃ 13 וַֽיְהִי־עֶ֥רֶב
וַֽיְהִי־בֹ֖קֶר יֹ֥ום שְׁלִישִֽׁי׃ פ
14 וַיֹּ֣אמֶר אֱלֹהִ֗ים יְהִ֤י מְאֹרֹת֙
בִּרְקִ֣יעַ הַשָּׁמַ֔יִם לְהַבְדִּ֕יל בֵּ֥ין הַיֹּ֖ום וּבֵ֣ין הַלָּ֑יְלָה
וְהָי֤וּ לְאֹתֹת֙ וּלְמֹ֣ועֲדִ֔ים וּלְיָמִ֖ים וְשָׁנִֽים׃ 15 וְהָי֤וּ
לִמְאֹורֹת֙ בִּרְקִ֣יעַ הַשָּׁמַ֔יִם לְהָאִ֖יר עַל־הָאָ֑רֶץ וַֽיְהִי־כֵֽן׃ 16 וַיַּ֣עַשׂ
אֱלֹהִ֔ים אֶת־שְׁנֵ֥י הַמְּאֹרֹ֖ת הַגְּדֹלִ֑ים אֶת־הַמָּאֹ֤ור הַגָּדֹל֙
לְמֶמְשֶׁ֣לֶת הַיֹּ֔ום וְאֶת־הַמָּאֹ֤ור הַקָּטֹן֙ לְמֶמְשֶׁ֣לֶת הַלַּ֔יְלָה
וְאֵ֖ת הַכֹּוכָבִֽים׃ 17 וַיִּתֵּ֥ן
אֹתָ֛ם אֱלֹהִ֖ים בִּרְקִ֣יעַ הַשָּׁמָ֑יִם לְהָאִ֖יר עַל־הָאָֽרֶץ׃ 18 וְלִמְשֹׁל֙
בַּיֹּ֣ום וּבַלַּ֔יְלָה וּֽלֲהַבְדִּ֔יל בֵּ֥ין הָאֹ֖ור וּבֵ֣ין הַחֹ֑שֶׁךְ
וַיַּ֥רְא אֱלֹהִ֖ים כִּי־טֹֽוב׃ 19 וַֽיְהִי־עֶ֥רֶב
וַֽיְהִי־בֹ֖קֶר יֹ֥ום רְבִיעִֽי׃ פ
20 וַיֹּ֣אמֶר אֱלֹהִ֔ים יִשְׁרְצ֣וּ
הַמַּ֔יִם שֶׁ֖רֶץ נֶ֣פֶשׁ חַיָּ֑ה וְעֹוף֙ יְעֹופֵ֣ף עַל־הָאָ֔רֶץ עַל־פְּנֵ֖י
רְקִ֥יעַ הַשָּׁמָֽיִם׃ 21 וַיִּבְרָ֣א
אֱלֹהִ֔ים אֶת־הַתַּנִּינִ֖ם הַגְּדֹלִ֑ים וְאֵ֣ת כָּל־נֶ֣פֶשׁ הַֽחַיָּ֣ה ׀
הָֽרֹמֶ֡שֶׂת אֲשֶׁר֩ שָׁרְצ֨וּ הַמַּ֜יִם לְמִֽינֵהֶ֗ם וְאֵ֨ת כָּל־עֹ֤וף
כָּנָף֙ לְמִינֵ֔הוּ וַיַּ֥רְא אֱלֹהִ֖ים כִּי־טֹֽוב׃ 22 וַיְבָ֧רֶךְ
אֹתָ֛ם אֱלֹהִ֖ים לֵאמֹ֑ר פְּר֣וּ וּרְב֗וּ וּמִלְא֤וּ אֶת־הַמַּ֙יִם֙
בַּיַּמִּ֔ים וְהָעֹ֖וף יִ֥רֶב בָּאָֽרֶץ׃ 23 וַֽיְהִי־עֶ֥רֶב
וַֽיְהִי־בֹ֖קֶר יֹ֥ום חֲמִישִֽׁי׃
24 וַיֹּ֣אמֶר אֱלֹהִ֗ים תֹּוצֵ֨א הָאָ֜רֶץ
נֶ֤פֶשׁ חַיָּה֙ לְמִינָ֔הּ בְּהֵמָ֥ה וָרֶ֛מֶשׂ וְחַֽיְתֹו־אֶ֖רֶץ לְמִינָ֑הּ
וַֽיְהִי־כֵֽן׃ 25 וַיַּ֣עַשׂ
אֱלֹהִים֩ אֶת־חַיַּ֨ת הָאָ֜רֶץ לְמִינָ֗הּ וְאֶת־הַבְּהֵמָה֙ לְמִינָ֔הּ וְאֵ֛ת
כָּל־רֶ֥מֶשׂ הָֽאֲדָמָ֖ה לְמִינֵ֑הוּ וַיַּ֥רְא אֱלֹהִ֖ים כִּי־טֹֽוב׃
26 וַיֹּ֣אמֶר אֱלֹהִ֔ים נַֽעֲשֶׂ֥ה אָדָ֛ם
בְּצַלְמֵ֖נוּ כִּדְמוּתֵ֑נוּ וְיִרְדּוּ֩ בִדְגַ֨ת הַיָּ֜ם וּבְעֹ֣וף
הַשָּׁמַ֗יִם וּבַבְּהֵמָה֙ וּבְכָל־הָאָ֔רֶץ וּבְכָל־הָרֶ֖מֶשׂ הָֽרֹמֵ֥שׂ
עַל־הָאָֽרֶץ׃ 27 וַיִּבְרָ֨א
אֱלֹהִ֤ים ׀ אֶת־הָֽאָדָם֙ בְּצַלְמֹ֔ו בְּצֶ֥לֶם אֱלֹהִ֖ים בָּרָ֣א אֹתֹ֑ו
זָכָ֥ר וּנְקֵבָ֖ה בָּרָ֥א אֹתָֽם׃ 28 וַיְבָ֣רֶךְ
אֹתָם֮ אֱלֹהִים֒ וַיֹּ֨אמֶר לָהֶ֜ם אֱלֹהִ֗ים פְּר֥וּ וּרְב֛וּ וּמִלְא֥וּ
אֶת־הָאָ֖רֶץ וְכִבְשֻׁ֑הָ וּרְד֞וּ בִּדְגַ֤ת הַיָּם֙ וּבְעֹ֣וף הַשָּׁמַ֔יִם
וּבְכָל־חַיָּ֖ה הָֽרֹמֶ֥שֶׂת עַל־הָאָֽרֶץ׃ 29 וַיֹּ֣אמֶר
אֱלֹהִ֗ים הִנֵּה֩ נָתַ֨תִּי לָכֶ֜ם אֶת־כָּל־עֵ֣שֶׂב ׀ זֹרֵ֣עַ זֶ֗רַע אֲשֶׁר֙
עַל־פְּנֵ֣י כָל־הָאָ֔רֶץ וְאֶת־כָּל־הָעֵ֛ץ אֲשֶׁר־בֹּ֥ו פְרִי־עֵ֖ץ זֹרֵ֣עַ
זָ֑רַע לָכֶ֥ם יִֽהְיֶ֖ה לְאָכְלָֽה׃ 30 וּֽלְכָל־חַיַּ֣ת
הָ֠אָרֶץ וּלְכָל־עֹ֨וף הַשָּׁמַ֜יִם וּלְכֹ֣ל ׀ רֹומֵ֣שׂ עַל־הָאָ֗רֶץ
אֲשֶׁר־בֹּו֙ נֶ֣פֶשׁ חַיָּ֔ה אֶת־כָּל־יֶ֥רֶק עֵ֖שֶׂב לְאָכְלָ֑ה וַֽיְהִי־כֵֽן׃
31 וַיַּ֤רְא
אֱלֹהִים֙ אֶת־כָּל־אֲשֶׁ֣ר עָשָׂ֔ה וְהִנֵּה־טֹ֖וב מְאֹ֑ד וַֽיְהִי־עֶ֥רֶב
וַֽיְהִי־בֹ֖קֶר יֹ֥ום הַשִּׁשִּֽׁי׃
|
3.2- Deus é anterior à criação do Céu e da Terra
Texto hebraico
|
Texto português
|
1בְּרֵאשִׁ֖ית בָּרָ֣א אֱלֹהִ֑ים אֵ֥ת הַשָּׁמַ֖יִם וְאֵ֥ת
הָאָֽרֶץ׃
|
1. No princípio, Deus criou os Céus e a Terra.
|
2 וְהָאָ֗רֶץ הָיְתָ֥ה תֹ֙הוּ֙ וָבֹ֔הוּ וְחֹ֖שֶׁך עַל־פְּנֵ֣י תְהֹ֑ום וְר֣וּחַ אֱלֹהִ֔ים מְרַחֶ֖פֶת
|
2. E a terra estava informe e vazia; as
trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.
|
4- Pressupostos das Antropogonias hebraica e suméria
As duas antropogonias supõem que:
Cosmogonia Hebraica
|
Comentários
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Cosmogonia Suméria
|
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Cosmogonia
Hebraica
|
Cosmogonia Suméria
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||
אֱלֹהִ֑ים (Deus)
criou (בָּרָ֣א)
Céu e a Terra
|
Antes dessa criação, nada existia,
Nem a
Terra,
Nem o Céu,
Nem o Absu.
Preexistia Deus (אֱלֹהִ֑ים)
|
O aparecimento dos deuses, segundo a cosmogonia suméria, teve o seu começo quando o Abismo/Caos sem forma, se enrolou em si mesmo e se auto criou como deusa-mãe, NAMMU. |
A deusa Nammu auto criou-se a partir do ABSU
Nammu, possuindo o duplo
princípio: masculino e feminino criou por si própria sem o concurso de nenhum
outro ser:
AN (ou Céu, chamado também ANU
ENKI, o deus do abismo aquático ou Asbu que controlava
também os “decretos sagrados”, chamados ME através dos quais
orientava não só as “coisas básicas, como a física , como as coisas
complexas, ou seja a ordem social e a lei”.
|
Existia um Deus, ou deuses anterior (es) ao Céu e à
Terra
|
Preexistia
o ABSU informe
|
O deus preexistente era o Absu/Apsu ou seja:
as Águas Doces
|
|
וַיֹּ֥אמֶר
אֱלֹהִ֖ים
|
Segundo a cosmogonia hebraica Deus criou por meio da
PALAVRA.
|
Noutra narração mitológica, foi a Terra que, tendo
os dois princípios generativos, criou o CÉU
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A cosmogonia hebraica é diferente da cosmogonia suméria, como o admite Neves (1967, col. 331-332) nestes termos: a cosmogonia hebraica «em contraste com as ditas cosmogonias, vê-se que ela é absoluta Marduk, no poema cosmogónico de Enuma Elis, primeiro experimenta a sua força produzindo e destruindo uma peça de vestuário (…) “a acção do Criador é omnipotente (…) Deus disse (…) e foi feito (…) indicando o poder supremo de chamar à existência só pela Palavra proferida – que não é palavra mágica, a evocar forças acaso latentes como no Oriente Antigo, mas a palavra autónoma, expressão de uma Vontade Todo-Poderosa)».
4.1. Criação de Adão (Génesis 1,26):
Adão fói criado no sexto dia da
Criação.
O verbo (bara) בָּרָ֣א do capítulo 1, contrasta com a criação de Adão e
Eva, no capítulo 2, onde se utiliza não o verbo bara, mas o verbo que se
traduz por “diferenciar/separar ou atribuir uma função ou papel “masculino e
feminino”. Criação de Adão e Eva: (Gén. 1:26—2:17.
Génesis 1, 26
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Texto hebraico
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Texto português
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וַיֹּ֣אמֶר אֱלֹהִ֔ים נַֽעֲשֶׂ֥ה
אָדָ֛ם בְּצַלְמֵ֖נוּ כִּדְמוּתֵ֑נוּ
וְיִרְדּוּ֩ בִדְגַ֨ת הַיָּ֜ם וּבְעֹ֣וף הַשָּׁמַ֗יִם וּבַבְּהֵמָה֙ וּבְכָל־הָאָ֔רֶץ וּבְכָל־הָרֶ֖מֶשׂ הָֽרֹמֵ֥שׂ עַל־הָאָֽרֶץ׃ |
Então Deus disse: "Façamos
o homem à nossa imagem e semelhança.
Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os
animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se
arrastem sobre a terra”.
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O
termo hebraico אדם tem a ver, tanto com a
palavra adamá (terra vermelha ou barro vermelho), quanto com as palavras adom
("vermelho") e dam ("sangue").
Desta forma o homem, segundo a
tradição hebraica encontra o seu parentesco na antropogonia suméria segundo a
qual a humanidade é fruto do sangue dos deuses e do lodo da terra, ideia que se
reproduzirá nas tradições judaico-crista e islâmica onde também o homem é
considerado moldado da terra pelas mãos de Deus e animado pelo seu espírito.
וַיֹּ֣אמֶר
אֱלֹהִ֔ים
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E Deus disse:
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נַֽעֲשֶׂ֥ה
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Façamos
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אָדָ֛ם
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o homem
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בְּצַלְמֵ֖נוּ
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à nossa imagem
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כִּדְמוּתֵ֑נוּ
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e semelhança
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4.3- Problema do texto hebraico:
4.3.1- Utilização do substantivo אֱלֹהִ֑ים
O problema que coloca o texto
hebraico é a palavra אֱלֹהִ֑ים (Elohim-deuses) que é o plural de אֱל (deus).
Trata-se de um nome genérico da Divindade, e é
atribuído quer ao Deus de Israel, quer aos deuses de outros povos
circunvizinhos. No livro do Génesis aparece várias vezes e contrasta com a
expressão Elohim YHWH, "Deus YHWH", que será introduzido no
capítulo 2 do mesmo livro sacro.
4.3.2- Utilização da forma verbal בָּרָ֣א
Mas a forma verbal בָּרָ֣א está no singular e no masculino, o que, em português, é
traduzido por “ele criou”, embora no hebraico não existam os pronomes ele, nem
ela. Este verbo tem uma
particularidade na Bíblia hebraica: é utilizado para indicar a acção
criativa divina, dando a entender que só a divindade tem o poder de
criar. O problema acerca do monoteísmo/politeísmo não é fácil de resolver, uma
vez que, o sujeito gramatical אֱלֹהִ֑ים, é uma forma no plural enquanto בָּרָ֣א é uma forma verbal no
singular.
4.3.3- Utilização das expressões” à nossa imagem e semelhança ( בְּצַלְמֵ֖נוּ כִּדְמוּתֵ֑נוּ)
Relativamente
às palavras בְּצַלְמֵ֖נוּ
כִּדְמוּתֵ֑נוּ “à nossa
imagem e semelhança”, parece que se podem aplicar mais aos casais de divindades
sumérias do que à unicidade do Deus dos hebreus, a não ser que elas se entendam
no sentido de um Ser Divino com o poder reprodutivo ou criador aplicando a
forma majestática ou a forma idiomática, muitas vezes utilizadas na língua
portuguesa “façamos” no sentido de convinha que fosse feito, ou convém
que seja feito um ser que se pareça com a pessoa que está criando
e falando.
Que será o
mesmo que dizer: “façamos”, “à nossa imagem e semelhança”, um par de seres que
sejam de diferente sexo com as faculdades de se poderem reproduzir com as mesma
características e poderes reprodutivos.
Diagrama da criação do homem
Diagrama da criação 1
Este diagrama poderá ser continuado para dar conta do embelezamento do cosmo.
4.3.4- Embelezamento do cosmo
Os adornos oferecidos ao cosmo consistiram:
a). Na distinção entre:
- Sol, Lua e
Astros;
- Luz
e Trevas;
- Dia
e Noite
b). No povoamento da cúpula celeste e da terra com:
- Aves de
toda a espécie com o poder e de se reproduzirem;
c). No povoamento dos mares e oceanos com:
- Seres vivos
de toda a espécie (inclusive dos monstros marinhos) com o poder e ordem de se
reproduzirem;
- Seres vivos de toda a
espécie sobre a terra,
- Vegetação
e animais de toda a esp´cies e com o poder reprodutivo,
- O homem bisexuado com o poder e
ordem de se reproduzir.
e). Na superintendência do homem relativa a toda a criação.
Toda esta actividade terminou no sexto dia, sendo reservado
o sétimo dia ao descanso.
4.4.2- Reflexão sobre o texto
Na verdade por Zoe entende-se um ser humano que é caracterizado pela sua natureza emotiva e protectora, sempre tendente a exprimir-se por meio dos ornatos, das relações humanas e da vida no lar. Ama a reciprocidade, a amizade e gosta de ser apreciada. Bios, pelo contrário, significa propriamente a vida física ou o espírito que faz mover os seres criados (cf. Actos dos Apóstolos, 17:28).
Na Bíblia Eva foi criada da costela de Adão. Esta criação, porém, não se deve entender à letra, mas figurativamente. Segundo a tradição rabínica[11] o facto consistiu no seguinte: a criação de Eva deu-se da seguinte forma:
Não houve, portanto, nenhuma operação cirúrgica, mas, tão somente, uma distinção sexual entra ambos, ou seja, Deus criou o ser humano (Adam) bissexuado: Adam macho e Adam fêmea de cuja união se reproduzisse o género humano.
4.4- Criação de Eva'
4.4.1- Texto bíblico em português
20. O homem pôs nomes a todos os animais, a todas as aves dos céus e a todos os animais dos campos; mas não se achava para ele uma ajuda que lhe fosse adequada.
21. Então o Senhor Deus mandou ao homem
um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou
com carne o seu lugar.
22. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem.
23. “Eis agora aqui, disse o homem, o
osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher,
porque foi tomada do homem.”
24. Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne.
25. O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam.
4.4.2- Reflexão sobre o texto
Com o versículo
20 que refere o Homem a impor o nome aos animais domésticos e do campo e a
todas as dos céus o autor deseja inculcar a ideia de que ao homem cabe o poder
e a responsabilidade sobre toda a criação. Só poder dar o nome a um ser aquele
que possui autoridade sobre esse ser.
Os versículos
21 a 24 relatam, de maneira catequética, uma teologia da criação dos dois seres
humanos: ser masculino com o elemento inseminador e ser feminino com o elemento
fecundante, gestante e germinador.
O nome Eva,
provém da palavra hebraica חַוָּה,
que, transliterando-o daria AUA ou AVA e EVA. A primeira consoante (ח) tem o som há gutural,
enquanto o Wau (וָּ)
soam como um U que se modificou em V, ficando o ה final com o som UA VA,
som que é perceptível devido à vogal que se encontra sobreposta à consoante Wau
(וָּ).
Em árabe diz-se حواء , cuja transliteração pode ser Hawwaa, enquanto em Etiópico (Ge’ez) se
diz ሕይዋ, palavra esta que, transliterada, dá Hiywan. E o seu significado é o de “vivente”, o que, em grego,
foi traduzido por Zoe, o que é muito diferente de da palavra “bios”.
Na verdade por Zoe entende-se um ser humano que é caracterizado pela sua natureza emotiva e protectora, sempre tendente a exprimir-se por meio dos ornatos, das relações humanas e da vida no lar. Ama a reciprocidade, a amizade e gosta de ser apreciada. Bios, pelo contrário, significa propriamente a vida física ou o espírito que faz mover os seres criados (cf. Actos dos Apóstolos, 17:28).
Na Bíblia Eva foi criada da costela de Adão. Esta criação, porém, não se deve entender à letra, mas figurativamente. Segundo a tradição rabínica[11] o facto consistiu no seguinte: a criação de Eva deu-se da seguinte forma:
“A Torá relata que Eva foi criada a partir de uma
costela de Adão. Ensina o Midrash que D’us[12] não
encontrou em toda a sua Criação uma companheira ideal para o primeiro homem.
Portanto, fez com que Adão adormecesse e criou a primeira mulher a partir de
seu corpo. Isso explica o amor e a paixão entre o homem e a mulher: quando
foram criados, constituíam um corpo só. Desde então, nascendo em corpos
separados, homem e mulher buscam a reunificação física e espiritual com sua
outra parte”.
Não houve, portanto, nenhuma operação cirúrgica, mas, tão somente, uma distinção sexual entra ambos, ou seja, Deus criou o ser humano (Adam) bissexuado: Adam macho e Adam fêmea de cuja união se reproduzisse o género humano.
5- “Mulher sem cabeça, sem mãos e sem pés”[13]
Segundo notícia de 11 de Fevereiro de 2013 do “Diário de Notícias”, a Pintura chamada "A Origem do Mundo" que se encontra no Museu d'Orsay e que é representada por uma mulher nua, mas sem rosto, causou celeuma acirrada, tendo obrigado o Museu a vir defender a verdade histórica.
'A Origem do Mundo', a famosa pintura de Gustave Courbet
Jean-Jacques Fenier, autor do catálogo 'raisonne'
de Gustave Courbet (1819-1877), defendeu recentemente que o quadro que mostra o
sexo de uma mulher é apenas uma parte de um nu maior. E acredita que encontrou
o rosto dessa pintura.
Por seu lado, O Museu d'Orsay considera
"fantasista" essa tese divulgada e diz que “não acredita que o quadro
tenha "perdido a sua cabeça". Por isso o mesmo Museu emitiu um
comunicado para explicar que o quadro pintado em 1866 "é uma composição
acabada e não um fragmento de uma obra maior". Este facto foi confirmado
pelos testemunhos do século XIX. 'A Origem do Mundo' foi visto em casa do
diplomata Khalili Bey (seu primeiro proprietário) e era "uma mulher nua,
sem pés e sem cabeça".
Ora bem. Este retrato original, conhecido pelo
nome de 'A Origem do Mundo’, representada por "uma mulher nua, sem pés e
sem cabeça", está de acordo com o mito da criação do Sul da Mesopotâmia,
segundo o qual a origem do cosmo procede da fecundidade feminina, denominada
NAMU, cujo rosto, mãos e pés ninguém conheceu.
Este retrato de Gustave Courbet não é um nu
pornográfico, mas frisa apenas a característica fundamental da primeira mãe que
é a fecundidade da qual procede, não apenas o homem, mas o cosmo. É muito
provável que o diplomata Khalili Bey, representante da cultura Turca e
Egipcíaca tivesse essa ideia quando o mandou fazer a Gustave Courbet. Pelo
menos, ele deveria conhecer esse mito mesopotâmico.
[2] S.N. Kramer, From the Poetry of
Sumer : Creation,
Glorification Adoration, p. 23
[3] S. N. Kramer,
Sumerian Mythology, p. 39
[4] J. Van Dijk,
"The Birth of Wood and Reed", Acta Orientaliia 28 I, p.45
[5] Id pg. 31
[6] Jean
Bottéro, Mesopotamia: Witing, Reasoning, and The
Gods, p. 222
[7] Id at p.156-157
[8] “Stephanie Dalley, Myths From Mesopotamia, p.15,
note-se, entretanto, que alterei as últimas três linhas, substituindo a
tradução de Moran de 1970, pois creio que tal ato protege a integridade do
sentido desta parte da passagem de forma mais efectiva e correcta”.
[9] O desenvolvimento do mito da criação é uma adaptação de “Religião Suméria” de
ADAPA (TWIN RIVERS RISING, 1995-1997) encontrado no site: http://www.angelfire.com/me/babiloniabrasil/relig.html.
[11] http://www.morasha.com.br/edicoes/ed42/adao.asp
[12] Em vez de usarem o nome “Deus”
utilizam D’us.
[13] http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=3045011&seccao=Artes%20Pl%E1sticas
[13] http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=3045011&seccao=Artes%20Pl%E1sticas